Marcados pelo Selo do Espírito
“Em Cristo, também vós, tendo ouvido a Palavra da verdade –
o Evangelho da vossa Salvação – e nela tendo crido, fostes
selados pelo Espírito da promessa” (Ef 1,13-14)
Sejamos enriquecidos pelo escrito do Bispo São Cirilo, extraído “Das Catequeses de Jerusalém” (séc. IV), que nos fala sobre a unção do Espírito Santo que acontece no dia do Batismo.
“Batizados em Cristo e revestidos de Cristo, vós vos tomastes semelhantes ao Filho de Deus.
Com efeito, Deus que nos predestinou para a adoção de filhos tornou-nos semelhantes ao corpo glorioso de Cristo.
Feitos, portanto, participantes do corpo de Cristo, com toda razão sois chamados 'cristãos', isto é, ungidos; pois foi de vós que Deus disse: Não toqueis nos meus ungidos (Sl 104,15).
Tomastes-vos 'cristãos' no momento em que recebestes o selo do Espírito Santo; e tudo isto foi realizado sobre vós em imagem, uma vez que sois imagem de Cristo.
Na verdade, quando Ele foi batizado no rio Jordão e saiu das águas, nas quais deixara a fragrância de Sua divindade, realizou-se então a descida do Espírito Santo em pessoa, repousando sobre Ele como o igual sobre o igual.
O mesmo aconteceu convosco: depois que subistes da fonte sagrada, o Óleo do Crisma vos foi administrado, imagem real daquele com o qual Cristo foi ungido, e que é, sem dúvida, o Espírito Santo.
Isaías, contemplando profeticamente este Espírito, disse em nome do Senhor: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para dar a Boa-Nova aos humildes (Is 61,1).
Cristo jamais foi ungido por homem, seja com óleo ou com outro unguento material. Mas o Pai, ao predestiná-Lo como Salvador do mundo inteiro, O ungiu com o Espírito Santo.
É o que nos diz Pedro: Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo (At 10,38).
E o Profeta Davi cantava: Vosso trono, ó Deus, é eterno, sem fim; Vosso cetro real é sinal de justiça: Vós amais a justiça e odiais a maldade. É por isso que Deus vos ungiu com Seu óleo, deu-vos mais alegria que aos vossos amigos (Sl 44,7-8).
Cristo foi ungido com o óleo espiritual da alegria, isto é, com o Espírito Santo, chamado óleo de alegria, precisamente por ser o autor da alegria espiritual.
Vós, porém, fostes ungidos com o óleo do Crisma, tornando-vos participantes da natureza de Cristo e chamados a conviver com Ele.
Quanto ao mais, não julgueis que este Crisma é um óleo simples e comum. Depois da invocação já não é um óleo simples e comum, mas um dom de Cristo e do Espírito Santo, tornando-se eficaz pela presença da divindade.
Simbolicamente unge-se com ele a fronte e os outros membros. E enquanto o corpo é ungido com óleo visível, o homem é santificado pelo Espírito que dá a vida”.
Ressalto alguns aspectos desta Catequese:
“Tomastes-vos ‘cristãos’ no momento em que recebestes o selo do Espírito Santo”.
Somos remetidos, primeiramente, às palavras de São Paulo (Ef 1,13-14):
– “Em Cristo, também vós, tendo ouvido a Palavra da verdade – o Evangelho da vossa Salvação – e nela tendo crido, fostes selados pelo Espírito da promessa, o Espírito Santo, que é o penhor da nossa herança, para a redenção do povo que ele adquiriu, para o Seu louvor e glória”.
Depois ao Catecismo da Igreja Católica, que assim define o Batismo, fundamentado na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja:
«Este banho é chamado iluminação, porque aqueles que recebem este ensinamento [catequético] ficam com o espírito iluminado...» (São Justino). Tendo recebido no Batismo o Verbo, «luz verdadeira que ilumina todo o homem» (Jo 1, 9), o batizado, «depois de ter sido iluminado» (Hb 10,32), tornou-se «filho da luz» (1Ts 5,5) e ele próprio «luz» (Ef 5, 8):
«O Batismo é o mais belo e magnífico dos dons de Deus [...] Chamamos-lhe dom, graça, unção, iluminação, veste de incorruptibilidade, banho de regeneração, selo e tudo o que há de mais precioso.
‘Dom, porque é conferido àqueles que não trazem nada: graça, porque é dado mesmo aos culpados: Batismo, porque o pecado é sepultado nas águas; unção, porque é sagrado e régio (como aqueles que são ungidos); iluminação, porque é luz irradiante; veste, porque cobre a nossa vergonha; banho, porque lava; selo, porque nos guarda e é sinal do senhorio de Deus’». (1)
Consista, portanto, o Tempo Pascal para nós, tempo do transbordamento da alegria, como nos diz com propriedade o Prefácio da Missa neste Tempo.
Renovemos a alegria de viver o Sacramento do Batismo, com a unção e a força do Espírito Santo que em nós habita, como templos sagrados de Deus.
Vivendo o Batismo, com alegria, esperança e coragem, seremos para o mundo testemunhas desejáveis e credíveis do Ressuscitado.
(1) Parágrafo n. 1216 do Catecismo da igreja Católica, e a citação é de São Gregório Nazianzo, Oratio 40, 3-4: SC 358, 202-204 (P. 36, 361-364).
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