“Grande é a glória que acompanha a
tribulação”
O
Bispo São João Crisóstomo (séc. IV) nos enriquece com uma de suas Homilias
sobre os sofrimentos e a glória dos mártires.
“Consideremos a
sabedoria de Paulo. Que diz ele? Eu entendo que os sofrimentos do tempo
presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós
(Rm 8,18). Por que, exclama, me falais das feridas, dos tormentos, dos altares,
dos algozes, dos suplícios, da fome, do exílio, das privações, dos grilhões e
das algemas?
Ainda que
invoqueis todas as coisas que atormentam os homens, nada podeis mencionar que
esteja à altura daqueles prêmios, daquelas coroas, daquelas recompensas. Pois
as provações cessam com a vida presente, ao passo que a recompensa é imortal,
permanecendo para sempre.
Também isto
insinuava o Apóstolo em outro lugar, quando dizia: O que no presente é
insignificante e momentânea tribulação (cf. 2Cor 4,17). Ele diminuía a
quantidade pela qualidade, e alivia a dureza pelo breve espaço de tempo.
Como as tribulações
que então sofriam eram penosas e duras por natureza, Paulo se serve de sua
brevidade para diminuir-lhe a dureza, dizendo: O que no presente é
insignificante e momentânea tribulação, acarreta para nós uma glória eterna e
incomensurável.
E isso acontece,
porque voltamos os nossos olhares para as coisas invisíveis e não para as
coisas visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é
eterno (cf. 2Cor 4,17- 18).
Vede como é
grande a glória que acompanha a tribulação! Vós mesmos sois testemunhas do que
dizemos. Antes mesmo que os mártires tenham recebido as recompensas, os
prêmios, as coroas, enquanto ainda se vão transformando em pó e cinza, já
acorremos com entusiasmo para honrá-los, convocando uma assembleia espiritual,
proclamando o seu triunfo, exaltando o sangue que derramaram, os tormentos, os
golpes, as aflições e as angústias que sofreram. Assim, as próprias tribulações
são para eles uma fonte de glória, mesmo antes da recompensa final.
Tendo refletido
sobre estas coisas, irmãos caríssimos, suportemos generosamente todas as
adversidades que sobrevierem. Se Deus as permite, é porque são úteis para nós.
Não percamos a esperança nem a coragem, prostrados pelo peso dos sofrimentos,
mas resistamos com fortaleza e demos graças a Deus pelos benefícios que nos
concedeu.
Deste modo,
depois de gozarmos dos seus dons na vida presente, alcançaremos os bens da vida
futura, pela graça, misericórdia e bondade de nosso Senhor Jesus Cristo. A Ele
pertencem a glória e o poder, com o Espírito Santo, agora e sempre e pelos
séculos. Amém.”
Ser
discípulo missionário do Senhor é graça e missão de ser sal da terra e luz do
mundo, e pode ocorrer, na realização desta,
adversidades, tribulações, incompreensões, perseguições, como o próprio
Jesus nos falou ao apresentar as Bem-Aventuranças no Sermão da Montanha (Mt
5,1-12).
Revigoremos nossa
fé, fortaleçamos nossos passos na fidelidade ao Senhor, para que jamais se extinga
nossa esperança, e tão somente assim será mantida viva a caridade que nos
impele a seguir na missão que o Senhor nos confia.
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