Peregrinos
da esperança e a necessária coerência da vida cristã
Sejamos
enriquecidos pelo Comentário ao Evangelho de São Lucas, escrito por São Cirilo
de Alexandria, Bispo e Doutor da Igreja (séc. V)
“Um discípulo não é maior que o seu mestre,
mas quando terminar a aprendizagem será como o mestre. Os bem-aventurados
discípulos estavam chamados a serem os iniciadores e mestres do mundo inteiro.
Por
isso era conveniente que se avantajassem aos demais em uma sólida formação
religiosa: necessitavam conhecer o caminho da vida evangélica, serem mestres
consumados em toda boa obra, repartir aos seus alunos uma doutrina clara, sã e
vinculada às regras da verdade; como aqueles que já tinham fixado seu olhar na
Verdade e possuíam uma mente ilustrada pela luz divina. Somente assim evitariam
de se converterem em cegos, guias de
cegos.
De
fato, aqueles que estão envoltos nas trevas da ignorância não poderão conduzir
ao conhecimento da verdade aqueles que se encontram em idênticas e calamitosas
condições. Pois de tentá-lo, ambos acabarão caindo no fosso das paixões.
A
seguir, e para cortar pela raiz a tão difundida doença da vanglória, de maneira
que em nenhum momento tentem superar o prestígio dos mestres, acrescenta: Um discípulo não é maior que o seu mestre.
E se alguma vez ocorresse que alguns discípulos alcançassem tais progressos,
que chegassem a se equiparar em mérito aos seus antecessores, mesmo assim devem
permanecer dentro dos limites da modéstia dos mestres e tornarem-se seus
imitadores.
É
o que assegura Paulo, dizendo: Segui o
meu exemplo, como eu sigo o de Cristo. Portanto, se o mestre se abstém de
julgar, por que tu estabeleces sentenças? Realmente, Ele não veio para julgar o mundo, mas para usar de misericórdia com ele.
Cujo sentido é este: Ele diz ‘se eu não
julgo, tu também não julgues, sendo discípulo como és’. E se por acréscimo
és mais culpável que aquele a quem julgas, como tua cara não se encherá de
vergonha? O Senhor esclarece isto mesmo com outra comparação: Diz: Por que vês o cisco no olho do teu irmão?
Com
silogismos sem volta trata de persuadir-nos de que nos abstenhamos de julgar
aos outros; examinemos antes nossos corações e tratemos de expulsar as paixões
que se aninham neles, implorando o auxílio divino. O Senhor cura os corações
destroçados e nos liberta das indisposições da alma. Se tu pecas mais e
gravemente que os outros, por que lhes reprovas seus pecados esquecendo-te dos
teus? Assim, este preceito é necessariamente salutar para todo aquele que
deseje viver piedosamente, porém o é sobretudo para aqueles que têm recebido o
encargo de instruir aos demais.
E
se forem bons e capazes, apresentando-se a si mesmos como modelos da vida
evangélica, então sim poderão repreender com liberdade aqueles que não querem
imitar sua conduta, como àqueles que, aderindo aos seus mestres, não demonstram
um comportamento religioso.” (1)
Os
discípulos são chamados a serem os iniciadores e mestres do mundo inteiro, para
que tenha credibilidade no anúncio da Palavra.
Humildade
e vigilância para a haja coerência entre o que se vive e se prega, e deste
modo, são instigantes as palavras do Bispo:
“De fato, aqueles
que estão envoltos nas trevas da ignorância não poderão conduzir ao
conhecimento da verdade aqueles que se encontram em idênticas e calamitosas
condições. Pois de tentá-lo, ambos acabarão caindo no fosso das paixões.”
Oremos:
Ó Deus, dai-nos a perfeita coerência cristã, e que
ela seja visibilizada pela ação que reflete o que se fala; fala-se o que se pensa;
e se pensa o que se reza.
Senhor
Deus, enviai-nos Vosso Santo Espírito para que fiéis no seguimento do Vosso
Filho, transformemos em fé viva o que lemos, ensinemos o que cremos, e
procuremos realizar tudo o que ensinarmos, a fim de que não sejamos meros
ouvintes e pregadores de Vossa Palavra.
Dai-nos, ó Deus, perfeita coerência, Vós que sois
Perfeitíssima Coerência, para que não sejamos guias cegos caindo com quem nos
foi confiado no fosso das paixões. Amém!
(1)
Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pág.
643-644
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