quarta-feira, 19 de março de 2025

Grandeza e santidade de um carpinteiro de Nazaré chamado José

                                                    


Grandeza e santidade de um carpinteiro de Nazaré chamado José

“Dize-me, José, quando conheceste Maria? Terá sido em uma manhã de primavera, quando ela voltava da fonte do vilarejo com seu cântaro na cabeça e a mão na cintura, esbelta como um lírio? Ou em um dia de sábado, enquanto conversava à parte com as jovens de Nazaré sob o arco da sinagoga? Ou ainda em uma tarde de verão, em um campo de trigo, enquanto, abaixando seus esplêndidos olhos para não revelar o pudor da pobreza, se afanava na humilde tarefa da colheita? Ou quando te retribuiu o sorriso e te tocou a cabeça com sua primeira carícia, que talvez tenha sido sua primeira aceitação, e tu não o sabias (e, à noite, encharcaste teu travesseiro com lágrimas de felicidade...)? Ela te escrevia cartas de amor?

Talvez, sim (e o sorriso que acompanha o movimento de teus olhos para o armário de tintas e vernizes dá-me a entender que, em um desses frascos vazios, que já não se abrem, ainda guardas uma daquelas cartas).

Então, uma noite, te revestiste de coragem e te aproximaste de sua janela, perfumada com manjericão e menta, e lhe cantaste suavemente os versos do Cântico dos Cânticos: "Levanta-te, minha amada, formosa minha, vem a mim! Vê o inverno: já passou! Olha a chuva: já se foi! As flores florescem na terra, o tempo da poda vem vindo e o canto da rolinha se faz ouvir em nosso campo. Despontam figos na figueira e a vinha florida exala perfume.

Levanta, minha amada, formosa minha, vem a mim! Pomba minha, que se aninha nos vãos do rochedo, pela fenda dos barrancos... Deixa-me ver teu rosto, deixa-me ouvir tua voz, pois teu rosto é tão formoso e tão doce tua voz!" (2,10-14). E tua amada, tua pomba, tua formosa se levantou de verdade. Saiu ao teu encontro, fazendo-te estremecer. Tomou tua mão na sua, e enquanto o coração te estalava no peito, te confiou ali, sob as estrelas, um grande segredo. Só tu, sonhador, podias entendê-la. Falou-te do Deus de Israel.

De um anjo do Senhor. De um mistério escondido pelos séculos e agora escondido em seu ventre. De um projeto maior que o universo e mais alto que o firmamento que se estendia sobre ti e ela.

Então, pediu-te que saísses de sua vida, que lhe dissesses adeus e a esquecesses para sempre. Foi aí que a estreitastes junto a teu coração pela primeira vez, e lhe dissestes com tremor: "De minha parte, renuncio voluntariamente a meus planos.

Quero partilhar os teus, Maria, contanto que me deixes estar contigo". Ela te respondeu que sim, e tu lhe tocaste o ventre com uma carícia: foi tua primeira benção para a Igreja nascente (...). 

E penso que tiveste mais coragem para partilhar o projeto de Maria do que ela, inicialmente, para partilhar o Projeto do Senhor. Ela apostou tudo na onipotência do Criador, mas tu apostaste tudo na fragilidade de uma criatura. Ela teve mais fé, mas tu tiveste mais esperança. E a caridade fez o resto, em ti e nela”.

 

PS:  Texto de Dom Tonino Bello para reflexão, no ano que de São José, declarado pelo Papa Francisco; iniciado em 08 de dezembro de 2020, e a ser encerrado no dia 08 de dezembro de 2021.

Texto completo, em italiano, encontra-se em: La carezza de Dio: lettera a Giuseppe. Molfetta: Meridiana | Luce e Vita, 2021.

Antonino Bello (mais conhecido como Dom Tonino).

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