domingo, 8 de setembro de 2024

Perdão vivido, expressão de maturidade cristã (XXIIIDTCA)

 


Perdão vivido, expressão de maturidade cristã

Assim rezamos na Oração que o Senhor nos ensinou: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

Sejamos enriquecidos pelos parágrafos 2842-2845 do Catecismo da Igreja Católica sobre esta súplica.

Este “como”, assim lemos, “não é único no ensinamento de Jesus”. Vejamos outros:

-  Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48);

- “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36);

-  Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 13, 34).

Observar o mandamento do Senhor é impossível, quando se trata de imitar, do exterior, o modelo divino.

Isto somente se torna possível quando se tratar de uma participação vital, vinda “do fundo do coração”, na santidade, na misericórdia e no amor do nosso Deus.

Tendo de Jesus os mesmos sentimentos (Fl 2,1.5), podemos perdoar-nos mutuamente como Deus nos perdoou em Cristo (Ef 4, 32), pois para o Senhor, o perdão é o amor que ama até ao extremo do amor (Jo 13,1).

A parábola do servo desapiedado conclui o ensinamento do Senhor sobre a comunhão eclesial, termina com estas palavras: “Assim procederá convosco o meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão do fundo do coração” (cf. Mt 18,23-35).

De fato, é “no fundo do coração”, que tudo se ata e desata, e deste modo, não se encontra em nosso poder deixar de sentir e esquecer a ofensa; mas o coração que se entrega ao Espírito Santo muda a ferida em compaixão e purifica a memória, transformando a ofensa em intercessão. 

O perdão estende-se até aos inimigos (Mt 5,43-44), e quando vivido, transfigura o discípulo, configurando-o com o seu Mestre.

O perdão é o cume da oração cristã, e dom da oração só pode ser recebido num coração em sintonia com a compaixão divina.

Perdão vivido é “...testemunha também que, no nosso mundo, o amor é mais forte que o pecado. Os mártires de ontem e de hoje dão este testemunho de Jesus. O perdão é a condição fundamental da reconciliação ((2 Cor 5,18-21) dos filhos de Deus com o seu Pai e dos homens entre si”.

Quanto ao limite e medida para o perdão, não existem, pois reflete o perdão divino, que é ilimitado e imensurável; de modo que somos eternos devedores do amor de uns para com os outros, como nos falou o Apóstolo Paulo aos Romanos (Rm 13,8), e a comunhão da Santíssima Trindade é a fonte e o critério da verdade de toda a relação (1Jo 3,19-24), que por sua vez, é vivida na oração, sobretudo na Eucaristia (Mt 5,23-24).

O Catecismo conclui citando São Cipriano, bispo e mártir do séc. III:

“Deus não aceita o sacrifício do dissidente e manda-o retirar-se do altar e reconciliar-se primeiro com o irmão: só com orações pacíficas se podem fazer as pazes com Deus. O maior sacrifício para Deus é a nossa paz, a concórdia fraterna e um povo reunido na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

Concluindo, é sempre tempo de perdoar e ser perdoado, e tão somente, podemos perdoar o outro, porque antes, amados e perdoados por Deus o fomos, de modo ilimitado e imensurável.

Perdão assim vivido, fará com que cresçamos na maturidade cristã, e contribui para a construção de relações mais fraternas e partícipes da cultura da paz, pois assim nos falou o Senhor Jesus: – “Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG