terça-feira, 29 de outubro de 2024

"Vivemos no tempo e temos tempo"

"Vivemos no tempo e temos tempo"

O que mais nos difere dos Santos, segundo Raniero Cantalamessa:

"A maior diferença entre nós e os Santos está exatamente aqui: nós vivemos no tempo e temos tempo. E isso eles não têm mais. Se os Santos pudessem desejar algo e nos invejar, eis do que eles teriam inveja em relação a nós: o tempo.

O tempo para amar mais, para se purificar mais, para se tornar mais semelhantes ao Cordeiro sem mancha. Nós possuímos o tempo; não sabemos quanto, não sabemos até quando. Cabe a nós decidir o que queremos fazer: deixá-lo simplesmente passar ou utilizá-lo como o maior dos talentos. 'Caminhai enquanto tendes luz' (cf. Jo 12,35: esta Palavra de Jesus pode ser traduzida também da seguinte maneira: enquanto tendes tempo!"

De fato, vivemos no tempo e temos tempo, mas não um tempo infinito. Enquanto temos tempo é preciso vivê-lo com intensidade, sem perda alguma. Lembrando um trecho de uma música: "Cada hora que passa envelhecemos dez semanas..."

E quem são os Santos? São exatamente aqueles que viveram no tempo e não precisam mais do tempo, como nós concebemos. Estão vivendo na plenitude do tempo; vivem os dias sem ocasos, na plena luminosidade divina, envolvidos pelo amor de Deus, na alegria celestial.

Tiveram a coragem, vindo da grande tribulação, lavaram e alvejaram as suas roupas, com fidelidade constante, no Sangue do Cordeiro. Combateram o bom combate da fé, e estão diante do Trono do Senhor, louvando-O, glorificando-O, como expressou o autor do Livro do Apocalipse (cf. Ap 7,2-4.9-14).

Viveram no tempo que lhes foi próprio: foram os pobres em espírito, choraram, sofreram, tiveram fome e sede de justiça, foram misericordiosos como o Pai, foram puros de coração, trabalharam pela paz e foram perseguidos por causa da justiça, de Jesus e do Reino, que Ele anunciou, pelo qual deu a vida.

Contemplam Jesus, Aquele que não somente nos anunciou as Bem-Aventuranças, mas as viveu plenamente e no-las apresentou como um Projeto de vida, um Programa a ser vivido, dia pós dia, até que possamos viver na plena alegria do céu.

Os Santos e as Santas não vivem mais no tempo em que vivemos, mas com eles, estamos unidos, em comunhão professamos, como professamos no Creio.

Nós temos o tempo. Quanto? Quem o sabe? Importa, pois, não perder tempo com futilidades ou quaisquer outras coisas que não valham a pena.

Tempo é sagrado, é graça divina, saibamos viver intensamente cada segundo que o Senhor nos concede em maior correspondência ao Seu querer a nosso respeito.

É o tempo de descermos a montanha e, na planície, viver o Sermão das Bem-Aventuranças, e tão somente assim felizes seremos, e, no caminho da santidade, os passos firmamos.



(1) O Verbo Se faz Carne - Editora Ave Maria - 2013 - p.856

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG