quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Síntese da Mensagem do Papa Francisco para o IV Dia Mundial Dos Pobres (2020)



Mensagem para o IV Dia Mundial Dos Pobres 

“Estende a tua mão ao pobre”
(Eclo 7, 32).

Uma síntese da Mensagem do Santo Padre Francisco, para o IV dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado dia 15 de novembro de 2020, que tem como inspiração bíblica, a passagem do Livro do Eclesiástico – “Estende a tua mão ao pobre” (Eclo 7, 32).

Na superação das barreiras da indiferença, é preciso concentrar o olhar no essencial, sobretudo nos diferentes rostos da pobreza, nos quais encontramos o Senhor Jesus, que revelou estar presente nos seus irmãos mais frágeis (Mt 25, 40).

Inspira-se no Livro do Eclesiástico (AT), no qual encontramos as palavras de um mestre de sabedoria que viveu cerca de duzentos anos antes de Cristo, e andava a procura do dom da saberia para tornar os homens melhores, e Deus não lhe concedeu esta ajuda.

É um convite a manter a fidelidade a Deus, sobretudo nos tempos de infortúnio, sem jamais Dele se afastar: “Aceita tudo o que te acontecer e tem paciência nas vicissitudes da tua humilhação, porque no fogo se prova o ouro, e os eleitos de Deus no cadinho da humilhação. Nas doenças e na pobreza, confia n’Ele. Confia em Deus e Ele te salvará, endireita os teus caminhos e espera n’Ele. Vós que temeis o Senhor, esperai na Sua misericórdia, e não vos afasteis, para não cairdes» (Eclo 2, 2-7).

Deste modo, inseparáveis a oração a Deus, a solidariedade com os pobres e enfermos são inseparáveis.

É sempre atual sua mensagem que convida a prática da generosidade que apoia o vulnerável, consola o aflito, alivia os sofrimentos, devolve dignidade a quem dela está privado, é condição para uma vida plenamente humana:

“Esta opção de atenção aos pobres, às suas muitas e variadas carências, não pode ser condicionada pelo tempo disponível ou por interesses privados, nem por projetos pastorais ou sociais desencarnados...”

Reafirma os compromissos como nos anos anteriores, tendo os pobres sempre presente conosco, para nos ajudar a acolher a companhia de Cristo na existência do dia a dia (Jo 12,8), com renovados compromissos impelidos pela caridade divina.

É preciso estar atento ao clamor silencioso dos pobres, dando-lhes voz, e solidarizando com eles face a tanta hipocrisia e tantas promessas não cumpridas, para os convidar a participar da vida comunidade.

Apresenta-nos duas questões pertinentes, diante do encontro com uma pessoa em condições de pobreza:

- “Como podemos contribuir para eliminar ou pelo menos aliviar a sua marginalização e o seu sofrimento?”

- “Como podemos ajudá-la na sua pobreza espiritual?”

A Igreja não tem soluções globais, mas pode dar testemunho com gestos de partilha:

“Estender a mão leva a descobrir, antes de tudo a quem o faz, que dentro de nós existe a capacidade de realizar gestos que dão sentido à vida. Quantas mãos estendidas se veem todos os dias! Infelizmente, sucede sempre com maior frequência que a pressa faz cair num turbilhão de indiferença, a tal ponto que se deixa de reconhecer todo o bem que se realiza diariamente no silêncio e com grande generosidade”.

Os Parágrafos sexto e novo merecem ser citados na íntegra, sendo o primeiro o reconhecimento de mãos que promovem a vida, e o segundo o contrário:

- “Estender a mão é um sinal: um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor. Nestes meses, em que o mundo inteiro foi dominado por um vírus que trouxe dor e morte, desconforto e perplexidade, pudemos ver tantas mãos estendidas! A mão estendida do médico que se preocupa de cada paciente, procurando encontrar o remédio certo. A mão estendida da enfermeira e do enfermeiro que permanece, muito para além dos seus horários de trabalho, a cuidar dos doentes. A mão estendida de quem trabalha na administração e providencia os meios para salvar o maior número possível de vidas. A mão estendida do farmacêutico exposto a inúmeros pedidos num arriscado contacto com as pessoas. A mão estendida do sacerdote que, com o coração partido, continua a abençoar. A mão estendida do voluntário que socorre quem mora na rua e a quantos, embora possuindo um teto, não têm nada para comer. A mão estendida de homens e mulheres que trabalham para prestar serviços essenciais e segurança. E poderíamos enumerar ainda outras mãos estendidas, até compor uma ladainha de obras de bem. Todas estas mãos desafiaram o contágio e o medo, a fim de dar apoio e consolação”. (n.6)

- “ ‘Estende a mão ao pobre» faz ressaltar, por contraste, a atitude de quantos conservam as mãos nos bolsos e não se deixam comover pela pobreza, da qual frequentemente são cúmplices também eles. A indiferença e o cinismo são o seu alimento diário. Que diferença relativamente às mãos generosas que acima descrevemos! Com efeito, existem mãos estendidas para premer rapidamente o teclado dum computador e deslocar somas de dinheiro duma parte do mundo para outra, decretando a riqueza de restritas oligarquias e a miséria de multidões ou a falência de nações inteiras. Há mãos estendidas a acumular dinheiro com a venda de armas que outras mãos, incluindo mãos de crianças, utilizarão para semear morte e pobreza. Existem mãos estendidas que, na sombra, trocam doses de morte para se enriquecer e viver no luxo e num efémero desregramento. Existem mãos estendidas que às escondidas trocam favores ilegais para um lucro fácil e corruto. E há também mãos estendidas que, numa hipócrita respeitabilidade, estabelecem leis que eles mesmos não observam”. (N.9).

Em relação à pandemia, afirma o Papa que ela chegou de improviso e nos apanhou impreparados, dando-nos uma grande sensação de desorientação e impotência, interpelando-nos a intensificar a prática da misericórdia.

O tempo que vivemos colocou-nos em crise muitas certezas, e nos sentimo-nos mais pobres e mais vulneráveis, porque experimentamos a sensação da limitação e a restrição da liberdade, com a presença do medo, a exigência do amadurecimento de uma nova fraternidade.

Urge a superação da degradação moral da vida social, da globalização da indiferença, pois não poderemos ser felizes enquanto estas mãos que semeiam morte não forem transformadas em instrumentos de justiça e paz para o mundo inteiro.

Finalizando recorda-nos a nossa condição de finitude, e a exigência de termos um projeto a realizar e um caminho a percorrer sem se cansa, com multiplicados gestos de amor e partilha, feito com alegria.

Tenhamos presente conosco e na oração, Maria, “...a Mãe dos pobres, pois ela conhece de perto as dificuldades e os sofrimentos de quantos estão marginalizados, porque Ela mesma Se viu a dar à luz o Filho de Deus num estábulo. Devido à ameaça de Herodes, fugiu, juntamente com José, seu esposo, e o Menino Jesus, para outro país e, durante alguns anos, a Sagrada Família conheceu a condição de refugiados”

Seja a oração à Mãe dos pobres a gerar comunhão com os pobres, seus prediletos filhos e todos que os servem em nome de Cristo, transformando a mão estendida num abraço de partilha e reconhecida fraternidade.


Se desejar, leia a mensagem na integra:

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