Apascentados
pelo Bom Pastor
Sejamos
enriquecidos pelo comentário sobre o Cântico dos Cânticos, escrito pelo Bispo São
Gregório de Nissa (Séc. IV), em que nos apresenta uma Oração ao Bom Pastor.
“Onde apascentas, ó Bom
Pastor, que carregas nos ombros todo o rebanho? (pois uma é a ovelha, a
natureza humana que puseste sobre os ombros). Mostra-me o lugar da quietude,
leva-me à erva boa e nutritiva, chama-me pelo nome e, assim, eu que sou ovelha,
ouvirei Tua voz; e por causa de Tua voz, dá-me a vida eterna. Mostra-me a mim o
amado de minha alma (Ct 1,6 Vulg.).
Chamo-Te com esta
expressão, porque Teu nome supera todo outro nome e todo entendimento e nem a
natureza racional toda inteira pode dizê-lo ou compreendê-lo. Por isto Teu
nome, pelo qual se conhece Tua bondade, é o bem-querer de minha alma para
contigo. Como não Te amar a Ti que amaste minha alma, embora ainda manchada, a
tal ponto que deste a vida pelas ovelhas que apascentas? Impossível imaginar
maior amor que o trocar Tua vida por minha Salvação.
Ensina-me onde
apascentas (cf. Ct 1,7). Encontrando o campo saudável, tomarei o Alimento Celeste;
porque quem dele não se nutre não pode entrar na vida eterna. Correrei à fonte,
beberei da água divina que Tu proporcionas aos sedentos. Igual à fonte, deixas
correr água de Teu lado, veio aberto pela lança; para quem beber, ela se
tornará fonte de água a jorrar para a vida eterna (Jo 4,14).
Se me apascentares
deste modo, far-me-ás deitar ao meio-dia, quando, dormindo logo na paz,
repousarei na luz sem sombras. O meio-dia não tem sombra, o sol cai a pino;
nesta luz, fazes deitar aqueles que alimentaste, ao pores Teus filhos contigo
no quarto.
Ninguém será
considerado digno deste repouso meridiano, se não for filho da luz e filho do
dia. Quem se separa igualmente das trevas vespertinas e matutinas, quer dizer,
de onde começa e de onde termina o mal, está no meio-dia e, para nele
deitar-se, ali o colocará o Sol da Justiça.
Mostra-me, pois,
como repousar e ser apascentada e qual é o caminho para a quietude meridiana.
Não aconteça que, escapando-me da guia de tua mão, pela ignorância da verdade,
venha a reunir-me com rebanhos estranhos aos Teus.
Falou assim,
solícita pela beleza que lhe veio de Deus e desejosa de entender de que modo e
para sempre a felicidade existe.”
Esta
oração ao Bom Pastor é oportuna, considerando os momentos difíceis porque
passamos, com conflitos e guerras no mundo todo, e uma pandemia que persiste e
nos inquieta e nos desafia em sua superação, e ainda a crueldade da fome, que
condena bilhões à pobreza, enquanto há concentração da riqueza nas mãos de
poucos.
Também
outras questões próprias em nossas famílias, comunidades, e no âmbito sócio-político
podem nos inquietar.
Coloquemo-nos confiantes diante do Bom Pastor, procurando o
reencontro da paz e da serenidade, que não podem ser exiladas das entranhas de
nosso coração.
Confiantes, rezemos o Salmo 23: – O Senhor é o Pastor que nos conduz, ontem, hoje e sempre. Amém.
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