"Enquanto o amor humano tende
a apossar-se do bem que encontra no seu objeto,
o Amor Divino cria o bem na criatura amada" .
Com a Liturgia do 6º Domingo do Tempo Comum (Ano A) refletimos um desdobramento do Sermão da Montanha, apresentado nos primeiros versículos no quinto capítulo do Evangelho de Mateus.
Vemos que Deus tem um Projeto de Salvação para a humanidade, mas somente na fidelidade a Ele e aos Seus Mandamentos é que alcançaremos vida plena e feliz.
Na passagem da primeira Leitura (Eclo 15, 16-21) encontramos uma mensagem clara e incontestável: Deus nos concede liberdade para escolhas. Se escolhermos Sua proposta, no cumprimento de Seus Mandamentos, teremos vida e felicidade. Porém, bem diferente será o que alcançaremos se d’Ele e de Sua Lei nos afastarmos, encontraremos o pecado e a morte.
O Povo de Deus, no século a. C, vivia um contexto de abandono da fé, com fortes influências da cultura helênica. O autor sagrado exorta a fidelidade a Deus e à Sua Palavra para que não perca a sua identidade, e com isto o afastamento da felicidade.
É explícito o tema: temos sempre que fazer escolhas: ou o caminho da vida e da felicidade, ou o caminho da morte, da desgraça (orgulho, egoísmo, autossuficiência, isolamento...).
Fomos criados por Deus e Ele nos concedeu o livre arbítrio, temos que saber escolher. Somos eternamente responsáveis pelas nossas escolhas, pela proximidade ou afastamento de Deus que elas trarão.
Reflitamos:
- De que modo usamos a liberdade que Deus nos concedeu?
Quais são nossas escolhas? Serão elas acertadas, conforme a vontade de Deus?
- Qual caminho trilhamos: da fidelidade ou indiferença à Proposta de Deus?
- Quais são as consequências de nossas escolhas?
- Somos capazes de assumi-las sem atribuir culpas a Deus, em caso de resultados adversos?
Na passagem da segunda Leitura (1 Cor 2,6-10), mais uma vez o Apóstolo nos exorta a viver nossa fidelidade ao Senhor que, por amor sem medida, não evitou a Cruz. Nela Jesus viveu a doação total, o Amor que ama até o fim.
É na Cruz de Nosso Senhor Jesus que se encontra a mais bela história de Amor, em que Ele, o Filho Amado, vai até o extremo de Sua doação e Amor por nós; e como discípulos missionários do Senhor, haveremos de fazer o mesmo caminho.
Abraçar a Cruz, por amor, consiste na verdadeira sabedoria divina, infinitamente superior à sabedoria humana.
A verdadeira sabedoria vem, paradoxalmente, da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Apóstolo é convicto de que Jesus Cristo é o único Mestre e que a verdadeira sabedoria não é aquela que nasce do brilho e elegância das palavras, nem mesmo pela coerência dos sistemas filosóficos.
Na identificação total com Cristo, é o Espírito que nos anima e nos conduz, para que jamais recuemos na vida de fé, mas avancemos sempre para as águas mais profundas, na travessia do mar da vida.
A prática de Jesus nos revela que Deus não força ninguém a esta identificação, não força ninguém a segui-Lo, mas se quisermos segui-Lo, é preciso renúncias quotidianas, tomando a cruz e pondo-nos a caminho, na fidelidade total aos Mandamentos Divinos que nos conduzem nesta opção, sempre enamorados e apaixonados por Ele, Jesus, Nosso Senhor.
O cristianismo não é um conjunto de ideias, mas o encontro pessoal com Jesus Cristo que transformou a nossa vida para sempre. Quem se encontrou com o Senhor, de fato, nunca mais será a mesma pessoa, e se torna impossível viver sem Ele e o Seu Amor.
Na passagem do Evangelho (Mt 5,17-37), Jesus com Seus ditos nos exorta à prática das Bem-Aventuranças, com seus desdobramentos no quotidiano.
Não será o cumprimento das regras externas que nos levará ao alcance da felicidade e de uma religião a Deus agradável, mas antes a atitude de adesão interior a Deus e à Sua Proposta.
O Missal Dominical afirma que “o amor é querer o bem do amado”. E com esta expressão sintetizamos a mensagem do Evangelho deste Domingo.
Viver as Bem-Aventuranças, e ser sal da terra e luz do mundo, é viver um amor que quer e cria o bem do amado. Isto nos remete a dois grandes Santos da Igreja, São Tomás de Aquino e São João da Cruz que, respectivamente, assim disseram:
“Enquanto o amor humano tende a apossar-se do bem que encontra no seu objeto, o amor divino cria o bem na criatura amada" .
"O afeto e o apego da alma à criatura torna-a semelhante a esta mesma criatura. Quanto maior a afeição, maior a identidade e semelhança, porque é próprio do Amor, tornar aquele que Ama semelhante ao amado."
Por isto, Jesus dá quatro exemplos em que o amor verdadeiro e puro tem que falar mais alto, se sobrepondo a qualquer sentimento de ódio, indiferença, ira, posse, condenação, falsidade...:
1 - As relações fraternas e a contínua necessidade da reconciliação;
2- O adultério e a necessidade de conversão, vendo no outro a imagem e templo de Deus;
3 - A confirmação da aliança indissolúvel do matrimônio, desde a criação, ratificando, assim, o Plano de Deus.
4 - A importância de nos relacionarmos na sinceridade e na confiança, tornando os relacionamentos sadios e edificantes.
Em resumo, a questão essencial é: para quem quiser viver na dinâmica da Boa Nova do Reino de Deus, não basta o cumprimento rigoroso e escrupuloso da Lei, seguindo a casuística das regras da Lei.
É preciso que se tenha uma atitude interior nova, que revele um compromisso verdadeiro com Deus, envolvendo a pessoa toda, transformando seu coração, suas escolhas, seus relacionamentos, sua postura diante do Criador e Suas criaturas: em relação a Deus sejamos filhos e filhas, em relação ao próximo sejamos fraternos e solidários.
Reflitamos:
- Cumprimos os Mandamentos da Lei Divina por medo ou amor?
- Para Jesus, “não matar” é evitar tudo aquilo que cause dano ao próximo (egoísmo, prepotência, autoritarismo, injustiça, indiferença...). O que podemos evitar para que sejamos fiéis ao Senhor?
- Fazemos dos Mandamentos Divinos sinais indicadores no caminho que conduz à vida plena?
- Em que as afirmações dos Santos da Igreja, citadas acima, nos ajudam para que vivamos as Bem-Aventuranças e sejamos sal da terra e luz do mundo?
O Sermão de Nosso Senhor foi e continua sendo ouvido na montanha, mas é preciso que desçamos à planície do quotidiano. Eis o grande desafio para todos nós.
Temos a missão de ser sal da terra e luz do mundo. Por isto, se faz necessária a invocação da Sabedoria Divina, a Sabedoria do Santo Espírito, para que sejamos uma Igreja no coração do mundo, e ao mesmo tempo homens e mulheres do mundo no coração da Igreja.
Somente assim não seremos sal insípido, sem gosto, que para nada serve, como já nos alertara o Senhor.
Somente assim não seremos sal insípido, sem gosto, que para nada serve, como já nos alertara o Senhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário