Conservemos
a mansidão necessária
Sejamos
enriquecidos pelos escritos de Diádoco de Foticeia (séc. V), que nos ajuda no
caminho do aperfeiçoamento espiritual.
“O
autêntico conhecimento consiste em discernir sem erro o bem do mal; quando se
alcança isto, então o caminho da justiça, que conduz a alma para Deus, Sol de
justiça, introduz aquela mesma alma na luz infinita do conhecimento, de modo
que, doravante, vai segura após a caridade.
Convém
que, embora no meio de nossas lutas, conservemos a paz do espírito, para que a
mente possa discernir os pensamentos que a atacam, guardando na dispensa de sua
memória aqueles que são bons e possuem sua origem em Deus, e lançando deste
depósito natural aqueles que são maus e procedem do demônio.
O
mar, quando está calmo, permite aos pescadores enxergarem até o fundo dele e
descobrir onde se encontram os peixes; mas, quando está agitado, fica turvado e
impede aquela visibilidade, tornando inúteis todos os recursos dos quais os
pescadores se utilizam.
Somente
o Espírito Santo pode purificar o nosso espírito. Se Ele não entra, como o mais
forte do Evangelho, para vencer o ladrão, nunca lhe poderemos arrebatar sua
presa.
Convém,
portanto, que em toda ocasião o Espírito Santo Se encontre à vontade em nossa
alma pacificada, e assim teremos sempre acesa em nós a luz do conhecimento; se
ela sempre brilha em nosso interior, não somente serão reveladas as influências
nefastas e tenebrosas do demônio, mas também se debilitarão enormemente ao
serem surpreendidas por aquela luz santa e gloriosa.
Por
isto diz o Apóstolo: Não extinguis o
Espírito, isto é, não O entristeçais com as vossas más obras e pensamentos,
não aconteça que deixe de auxiliar-vos com a Sua luz.
Não
é que nós possamos extinguir o que existe de eterno e vivificante no Espírito
Santo, mas sim que podemos contristá-Lo, ou seja, ao ocasionar este
distanciamento entre Ele e nós, nossa alma fica privada de Sua luz e envolvida
em trevas.
A
sensibilidade do Espírito consiste em um ‘paladar apurado’, que nos dá o
verdadeiro discernimento. Da mesma forma que, pelo sentido corporal do paladar,
quando desfrutamos de boa saúde, apetece-nos aquilo que é agradável,
discernindo sem erro o bom do mau; assim também nosso espírito, desde o momento
em que começa a possuir plena saúde e a prescindir de preocupações inúteis,
torna-se capaz de experimentar a abundância da consolação divina e de reter em
sua memória a lembrança de seu sabor, por obra da caridade, para distinguir e
ficar com o melhor, conforme o que diz o apóstolo: E esta é a minha oração: que vosso amor continue crescendo mais e mais
em compreensão e em sensibilidade para apreciar os valores. (cf. Fl 1,9-11).”(1)
Supliquemos
a Deus que mantenhamos a mansidão necessária em todos os momentos em nossos
relacionamentos, sobretudo nos espaços de nossa comunidade eclesial
missionária, como discípulos missionários do Senhor, com a luz do Santo
Espírito.
De tal modo que não entristeçamos o Espírito, com o qual fomos
marcados como um selo no dia de nosso Batismo, e que nossa alma seja verdadeiramente
pacificada. Amém.
(1)
Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pág.
646-647
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