domingo, 11 de agosto de 2024

“Ó abismo de indizível caridade!”

“Ó abismo de indizível caridade!”


Sejamos enriquecidos por este trecho do “Diálogo sobre a Divina Providência”, escrito por Santa Catarina de Sena (séc. XIV):

“Meu dulcíssimo Senhor, volta complacente Teus misericordiosos olhos para este povo e para o Corpo místico de Tua Igreja; porque maior glória advirá a Teu santo nome por perdoar a tamanha multidão de Tuas criaturas do que só a mim, miserável, que tanto ofendo a Tua majestade.

Como poderei eu consolar-me, vendo-me possuir a vida, se Teu povo está na morte? E vendo em Tua diletíssima Esposa as trevas dos pecados brotadas de minhas faltas e das outras criaturas Tuas?

Quero, pois, e para cada um peço aquela inestimável caridade que Te levou a criar o ser humano à Tua imagem e semelhança. Que coisa ou pessoa foi o motivo de colocares o ser humano em tão grande dignidade? Sem dúvida, só inapreciável amor que Te fez olhar em Ti mesmo Tua criatura de quem Te enamoraste. Mas reconheço abertamente que pela culpa do pecado com justiça perdeu a dignidade que lhe deras.

Tu, porém, movido pelo mesmo amor, desejando por graça reconciliar contigo o gênero humano, nos deste a Palavra de Teu Filho Unigênito. Verdadeiro reconciliador e mediador entre Ti e nós e também nossa justiça, que castigou e carregou em si todas as nossas injustiças e iniquidades, em obediência ao que Tu, Pai eterno, lhe ordenaste, ao determinar-lhe assumir nossa humanidade.

Ó abismo de indizível caridade! Que coração há tão duro que continue impassível sem se partir por ver a máxima sublimidade descer à máxima baixeza e abjeção, que é a nossa humanidade?

Nós somos Tua imagem e Tu, nossa imagem, pela união que realizaste com o ser humano, velando a eterna Divindade com a mísera nuvem e infecta matéria da carne de Adão.

Donde vem tudo isto? Unicamente Teu inefável amor está em causa. É, pois, por este inestimável amor que humildemente imploro Tua majestade, com todas as forças de minha alma, que concedas gratuitamente às Tuas miseráveis criaturas Tua misericórdia.”

Com a Doutora da Igreja, contemplamos o abismo de indizível caridade a nós revelado por Jesus que vive na plena comunhão Trinitária de amor, com o Pai e o Espírito Santo.

Não apenas contemplamos, mas por meio de Jesus, nosso Senhor, também fomos inseridos e mais que isto, mergulhados neste mar infinito de misericórdia, por Sua Morte e Ressurreição, e por meio desta nos foi comunicando Seu Espírito, com aquele sopro que nos descreve o Evangelista João.

Contemplamos e suplicamos, que Deus nos conceda, a nós reconhecidamente miseráveis criaturas, a infinita misericórdia, porque tão somente por esta enriquecidos e envolvidos, poderemos também sermos misericordiosos como o Pai (Lc 6,36).

Oportuno para que também aprofundemos sobre as obras de misericórdia corporais (Dar de comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar pousada aos peregrinos; assistir aos enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos); espirituais(Dar bom conselho; ensinar os ignorantes; corrigir os que erram; consolar os aflitos; perdoar as injúrias; sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo; rogar a Deus por vivos e defuntos.).

Num mundo marcado por guerras, conflitos, violências, é preciso redescobrir, anunciar e estabelecer relações de misericórdia, para que, como miseráveis criaturas, reaprendamos sempre a construir a civilização da misericórdia, que se notabilizará concretamente em relações expressivas de amor e respeito à vida humana e de todo o planeta. 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG