Quando o Senhor foi batizado
O memorável Sermão de São Proclo (séc V) nos remete ao indescritível momento em que o Senhor foi batizado e, também, ao dia em que fomos batizados.
“Cristo manifestou-Se ao mundo e, pondo ordem onde havia desordem, encheu-o de beleza e alegria. Tirou o pecado do mundo e do mundo expulsou o inimigo. Santificou as fontes das águas e iluminou os corações dos homens. Aos milagres acrescentou milagres ainda maiores. Hoje a terra e o mar repartiram entre si a graça do Salvador, e o mundo inteiro encheu-se de alegria.
Este dia nos apresenta maior profusão de milagres que a solenidade anterior. De fato, na precedente 'Festa do Nascimento do Salvador', a terra se alegrava por ter o Senhor no presépio; mas neste dia das Teofanias é o mar que exulta e estremece de jubilo, por que recebeu a benção santificadora por meio do rio Jordão.
A Solenidade passada nos apresentava uma criança frágil, atestando nossa imperfeição. Na Festa de hoje, porém, vemos um homem perfeito, que de modo velado, nos manifesta a perfeição Daquele que procede do Ser perfeito. Da primeira vez, o Rei vestia a púrpura do corpo humano; agora as águas do rio envolvem qual manto Aquele que é a fonte.
Considerai, pois, e vede estes novos e estupendos milagres: O sol da justiça que Se banha no Jordão, o fogo mergulhado na água, Deus santificado pelo ministério de um homem. Hoje toda a criação entoa hinos e proclama: Bendito o que vem em nome do Senhor (Salmo 117,26). Bendito o que vem em todo o tempo, pois não é esta a primeira vez que veio.
E quem é Ele? Dize-nos mais claramente, peço-te, santo Davi: O Senhor é o Deus que nos ilumina (Salmo 117,27). Não foi só o profeta Davi que disse; também o apóstolo Paulo confirmou o seu testemunho com estas palavras: A graça de Deus se manifestou trazendo a Salvação para todos os homens, ela nos ensina (Tito 2,11).
Não somente para alguns, mas para todos. Sim, para todos, para os judeus e para os gregos, a salvação é dada por meio do Batismo, que oferece a todos um benefício universal. Prestai atenção, contemplai o novo e admirável dilúvio, maior e mais poderoso que o do tempo de Noé.
No primeiro dilúvio, a água fez perecer o gênero humano; agora, porém, a água do Batismo, pelo poder d’Aquele que foi batizado por João, chama os mortos para a vida.
No primeiro dilúvio, uma pomba, trazendo no bico um ramo de oliveira, anunciava o odor de suavidade do Cristo; agora, o Espírito Santo, vindo em forma de pomba, mostra-nos o Senhor cheio de misericórdia”. (1)
Muitas vezes celebramos a Festa do Batismo do Senhor e também celebramos e participamos do Batismo sem tempo para saborear a grandiosidade e preciosidade que é este Sacramento por Jesus instituído.
Reflitamos sobre a graça que nos foi concedida no dia de nosso Batismo, sobre aquele memorável dia, que todos devemos saber qual foi.
Naquele dia fomos banhados na água que nos santifica, marcados pelo selo do Espírito, iluminados, ungidos Profetas, Reis, Sacerdotes e Pastores.
Enfim, divinizados com Sua presença, como templos divinos...
Enfim, divinizados com Sua presença, como templos divinos...
(1) Sermão do Bispo São Proclo de Constantinopla, século V, para a reflexão no dia da Festa do Batismo do Senhor– cf. Liturgia das Horas Vol. I - pp. 538-540.
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