A Liturgia da Palavra do 7º Domingo do Tempo Comum (ano B) reflete sobre o Projeto de Salvação que Deus tem para toda a humanidade, e que se viu realizado na Pessoa de Jesus.
Entretanto, é preciso acolher este Projeto com fé. Por meio de Jesus – Caminho, verdade e vida – a humanidade pode se voltar novamente para Deus (reconciliação).
Em cada um de nós existe uma profunda necessidade de libertação do exílio de nós mesmos, das nossas múltiplas paralisias, do nosso afastamento de Deus (pecado).
O tema dominante da Liturgia é o perdão dos pecados, a verdadeira doença da humanidade que Jesus combate e derrota ao cuidar da pessoa humana em sua totalidade.
A passagem da primeira Leitura (Is 43,18-19.21-22.24b-25) faz parte do “Livro da Consolação”. Retrata a fase final do Exílio da Babilônia (entre 550-539). O povo de Deus exilado experimenta a frustração, a desorientação e, aparentemente, Deus parece ter dele Se esquecido.
O Profeta se dirige a um povo já extenuado pela experiência do exílio e anuncia a libertação como uma nova criação e um novo êxodo por intervenção divina, mas este povo precisará fazer um caminho de conversão, abandonando toda indiferença e infidelidade que o levou a tal desolação.
É preciso sempre reconhecer as faltas cometidas, as infidelidades multiplicadas. É preciso trilhar um caminho de conversão e renovação para acolher a libertação que Deus tem a nos oferecer.
É necessária a paciência para perceber a ação libertadora de Deus que não demora em atuar, mas não atua segundo a medida de nosso tempo e vontade. Crer no Deus cheio de solicitude e Amor que caminha com Seu povo se faz imperativo.
Somente Deus pode realizar algo completamente novo e atuar em qualquer situação, mesmo nas mais desesperadoras, como era a do exílio em que há muito tempo o povo se encontrava.
Para o Profeta, a lembrança do passado será válida para alimentar a esperança na preparação de um futuro novo. Isto vale para qualquer tempo em nossa vida.
A lembrança do passado só tem sentido se nos impulsiona para o novo que Deus sempre nos prepara. Aquele que crê tem que superar a instalação, o comodismo, ir sempre além, imprimindo um dinamismo para ser um Homem Novo, um Povo de Deus que ao Amor Divino corresponda.
Reflitamos:
- Somos capazes de olhar para trás, reconhecer os erros e dar passos largos na construção de um novo tempo, de uma nova realidade, de novos relacionamentos?
Na passagem da segunda Leitura (2Cor 1,18-22), o Apóstolo nos ensina pelo seu testemunho, ainda que não compreendido, a viver uma vida coerente com o Evangelho, marcada pela sinceridade, compromisso e desprovida de quaisquer subterfúgios ou outras motivações a não ser a pregação da Boa Nova do Evangelho de Jesus.
O Apóstolo foi acusado de volúvel e oportunista, mas tem consciência de que é fiel aos princípios verdadeiros e eternos do Evangelho. Aproveita a ocasião para afirmar a estabilidade de sua doutrina que não é flexível, flutuante, vulnerável, pois anuncia o Evangelho de Jesus Cristo pelo qual dá a própria vida.
Ele não se dobrou a verdades passageiras, ao modismo de seu tempo. Invoca o testemunho de Deus com serenidade, falando do seu testemunho e coerência vivida. Ele viveu adesão total a Cristo e tinha impresso no coração o penhor do Espírito.
O Apóstolo morreu na fidelidade ao Senhor, fiel ao Projeto de Salvação que Deus lhe confiou: coerente, sincero, verdadeiro. Morreu porque em seus olhos brilhava e reluzia a verdade. Ao cristão Paulo deixa uma mensagem: Ele deve fazer este mesmo caminho da coerência, fidelidade e sinceridade.
Reflitamos:
- É este o caminho que percorremos?
- É este o caminho que percorremos?
- O que o testemunho do Apóstolo nos questiona?
- Se animadores de comunidade, temos as marcas da coerência, sinceridade na vivência do Evangelho que anunciamos e que temos que dar testemunho?
- Quais são os valores que nos moldam, nos impulsionam? Serão os valores do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo?
Na passagem do Evangelho (Mc 2,1-12), contemplamos Jesus, a manifestação da bondade, da misericórdia e do Amor divino que liberta o homem de toda paralisia, de todo pecado.
Começa a ser desenhado um conflito que o levará à Cruz, por ação e rejeição das autoridades constituídas.
Começa a ser desenhado um conflito que o levará à Cruz, por ação e rejeição das autoridades constituídas.
Lembramos que Marcos não faz uma reportagem jornalística. Trata-se de uma autêntica catequese sobre a pessoa e a missão de Jesus, que deverá ser por sua vez a missão de todo aquele que O seguir.
Um paralítico é levado por quatro homens e introduzido pelo telhado na casa onde Jesus Se encontrava. Ele será liberto e perdoado manifestando o poder que Jesus possuía, pelo Pai confiado.
Quatro homens significa a humanidade solidária com quem sofre, e vai ao encontro d'Aquele que tem a última Palavra, a resposta, a libertação.
O paralítico sem nome é a mesma humanidade sedenta de vida, liberdade, movimento, dinamismo, enfim, de uma nova possibilidade.
Também revela que a Salvação de Jesus não é somente para a comunidade judaica, mas para a humanidade inteira. Os esforços feitos para que o paralítico chegasse até Jesus retratam os esforços que devemos fazer para chegarmos até Jesus.
Nada pode impedir nosso encontro com a Fonte da Vida e da Liberdade. Tudo se torna nada, para conhecê-Lo, encontrá-Lo. Os esforços são a revelação da ânsia por libertação. Normalmente Jesus Se revela precisamente em nossas fraquezas, temores, cansaços, incertezas.
Ele tem a Palavra e a resposta. Ele é a própria Palavra que cura, liberta, perdoa, porque a plena manifestação do Amor de Deus.
O perdão que Jesus nos concede, a oportunidade do começo de uma nova vida, ao mesmo tempo revela o poder divino que possui, pois é Deus, e somente Deus pode perdoar (aqui o grande conflito: as autoridades reagem dizendo tratar-se de blasfêmia).
A grande mensagem catequética do Evangelista: Jesus tem autoridade para trazer a vida em plenitude.
A humanidade que percorre diariamente as estradas de sofrimento e angústia encontra em Jesus uma resposta, uma palavra de Libertação e Vida plena. Somente Ele pode colocar a humanidade numa órbita de vida nova, e sem Ele nada pode ser feito: por meio de palavras e gestos Jesus ama, salva, perdoa, liberta.
O pecado redimido deixa a lembrança no coração do pecador perdoado, não para imobilizá-lo, mas para que relembre sempre a história de um amor vivenciado, de uma nova oportunidade encontrada. Recorda-se como uma História de Salvação, como que um sigilo de um amor que foi e continua a ser maior do que qualquer enfermidade, qualquer pecado, quaisquer deslizes ou infidelidades.
O perdão purifica e renova. No coração de quem foi perdoado, por um pecado cometido, fica a lembrança do amor vivido; força impulsionadora para um novo modo de ser e agir, para a não repetição indesejável das mesmas faltas.
Reflitamos:
- Quem nós conduzimos até Jesus?
- Quem recebe da Igreja a solidariedade necessária para o encontro da vida digna e plena?
- Quem recebe da Igreja a solidariedade necessária para o encontro da vida digna e plena?
- Procuramos superar a cada instante o perigo de uma forma de vida cômoda, instalada, medíocre?
- Testemunhamos nossa fé no Senhor, com coragem para a transformação em todos os níveis?
- Quais são as paralisias que nos roubam o compromisso com a construção do Reino?
- Quais são os pecados assumidos, para que confessados diante da misericórdia de Deus mereçam o perdão?
- Antes de nosso pedido de perdão chegar até Deus, quais são os esforços que fazemos para alcançá-lo?
Concluindo, afirmamos que a Face misericordiosa de Deus Se revela em Sua ternura, solidariedade, fidelidade, perdão, liberdade e vida plena para todos.
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