A graça do Batismo
Esta reflexão de São João Damasceno, doutor da Igreja (séc. VIII), nos enriquece no aprofundamento sobre o Batismo de Jesus que consiste no cume dos batismos bíblicos, precedido por outros sete.
“O primeiro batismo, o do dilúvio, foi para a aniquilação do pecado. O segundo, através do mar e da nuvem, sem dúvida é um símbolo: a nuvem, do Espírito, e o mar, da água.
O terceiro é legal: porque todo homem impuro se banhava com água, e também eram lavadas as vestes, e assim entravam no acampamento.
O quarto é o de João. Existia como introdução, pois trazia à conversão aqueles que se batizavam para que cressem em Cristo. Dizia: ‘Eu batizo com água, mas Aquele que vem depois de mim batizará no Espírito e no fogo. Assim, João preparava com água em antecipação do Espírito’.
O quinto é o Batismo do Senhor, aquele com o qual Ele foi batizado. Mas Ele Se batiza não porque necessite de purificação, mas para ganhar a minha purificação, para esmagar as cabeças dos dragões sob a água, para lavar o pecado e sepultar sob a água o velho Adão inteiro, para santificar o batismo, para cumprir a Lei, para revelar o Mistério da Santa Trindade e para tornar-Se tipo e modelo em relação com o batizar-se.
Ademais, também nós somos batizados no perfeito Batismo do Senhor, naquele que se realiza mediante a água e o Espírito. Porém, se diz que Cristo batiza com fogo, já que derramou sobre os Apóstolos a graça do Espírito em forma de línguas de fogo, como afirma o próprio Senhor: ‘João batizou com água, vós, porém, sereis batizados no Espírito Santo e no fogo dentro de poucos dias’. Ou é um Batismo através do fogo futuro.
O sexto, verdadeiramente trabalhoso, é através da conversão e das lágrimas. O sétimo é aquele através do Sangue e do Martírio, no qual foi batizado o próprio Cristo por nossa causa. De modo que é um Batismo muito venerável e feliz enquanto não se suja com segundas manchas.
O oitavo e último, que não é Salvador, mas destruidor da maldade, porque a maldade e o pecado já não têm direito de cidadania. Ao contrário, o castigo sem fim.” (1)
Reflitamos sobre a graça do Batismo que recebemos, e aquele memorável dia em que fomos marcados com o Selo do Espírito Santo.
Marcados por este Selo não nos falta a comunicação de dons, para que vivamos conforme os desígnios de Deus o Batismo recebido.
Marcados e enriquecidos pela presença do Espírito, nos tornamos Seus sagrados templos, ainda que não o mereçamos, vivendo concretamente as obras de misericórdia corporais e espirituais, a fim de que misericordiosos como o Pai sejamos (cf. Lc 6,36).
(1) Lecionário Patrístico Dominical - pp. 699-700 - Editora Vozes
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