quarta-feira, 5 de março de 2025

Síntese da Mensagem para a Quaresma de 2012

Síntese da Mensagem para a Quaresma de 2012

Na Mensagem Quaresmal do Papa Bento XVI, notava-se sua preocupação na construção de uma Igreja mais fiel ao Senhor, numa amadurecida e frutuosa comunhão, que passa indispensavelmente pela reconciliação e amor fraterno, tornando o Evangelho verdadeiramente uma Boa-Nova para toda a humanidade, a fim de que as comunidades sejam mais fiéis a Jesus Cristo.

Inspirou-se num breve texto bíblico extraído da Carta aos Hebreus: “Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras” (Hb 10, 24).

Iniciou acenando para a Quaresma, como o tempo da graça para a reflexão sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito, é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o caminho pessoal e comunitário de fé, marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria Pascal.

“O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da fé» (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24).”

O Santo Padre apresentou a Mensagem sob três aspectos da vida cristã:

“1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.
Refere-se ao convite de «prestar atenção»: o verbo grego usado é “katanoein”, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Assim como Jesus que convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e, todavia são objetos de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41).

Se este olhar de fraternidade for cultivado, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão, e encontraremos o remédio para um mundo enfermo, como já dizia O Servo de Deus Paulo VI em sua Carta Encíclica “Populorum progressio” (n. 66).

A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem.

Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19).

2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.
O fato de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de considerá-la na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a atual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã!

Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade e solicitude de uns para com os outros, (1Cor 12,25): a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam.

3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.
Somos impelidos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efetivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus.

É preciso vencer a tentação de sufocar o Espírito, não omitir-se em «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua.

Ter como inspiração as virtudes de alguns cristãos exemplares (bem aventurados e santos) que a Igreja, na sua sabedoria, reconhece e nos apresenta. Imitando-os adiantamo-nos na mútua estima» (Rm 12, 10).”

Há sempre um longo caminho a percorrer, com firmes propósitos de conversão, maior fidelidade no carregar da cruz, num renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, para que possamos celebrar a riqueza da Liturgia Pascal e o transbordamento da verdadeira alegria.

Não podemos recuar jamais na caminhada de fé, como o Papa bem nos lembrou. Portanto, é preciso avançar no amor, fortalecendo os laços de amizades, à luz da Palavra Divina, para que prefiguremos e levedemos o mundo com a Lógica Eucarística, que se traduz em partilha e solidariedade para com o próximo.

Viver o amor no Banquete Eucarístico celebrado, e na vida prolongado, até que possamos vivê-lo plenamente na eternidade.


PS: Publicado no jornal “Folha Diocesana” - Guarulhos - Ed. nº186.   

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