quarta-feira, 5 de março de 2025

Síntese da Mensagem para a Quaresma de 2013

Síntese da Mensagem para a Quaresma de 2013

                            “A caridade suscita a caridade”

Em sua mensagem para a Quaresma de 2013, o Papa Bento XVI nos convidou a crer que “a caridade suscita caridade”, inspirado na passagem bíblica - «Nós conhecemos o Amor que Deus nos tem, pois cremos n’Ele» (1 Jo 4, 16).

Vivíamos o Ano da Fé, e a Mensagem aprofunda a inseparável relação entre fé e caridade: “entre o crer em Deus, no Deus de Jesus Cristo, e o Amor, que é fruto da ação do Espírito Santo e nos guia por um caminho de dedicação a Deus e aos outros”.

Nesta relação das virtudes teologais, a fé é uma resposta ao Amor de Deus, e vida cristã é a expressão do encontro pessoal com Jesus Cristo, que marcou definitivamente a vida daquele que O encontrou:

«No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. (...) Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10), agora o amor já não é apenas um “mandamento”, mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro» (Deus Caritas Est, 1).

Este encontro com Deus Amor envolve não só o coração, mas também o intelecto: «O reconhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim da nossa vontade à d’Ele une intelecto, vontade e sentimento no acto globalizante do amor. Mas isto é um processo que permanece continuamente a caminho: o amor nunca está "concluído" e completado» (ibid., 17).

O Mandamento do Amor a Deus não é algo imposto a fé, porque é fruto deste encontro com o Senhor e, assim, o cristão é uma pessoa conquistada pelo Amor de Cristo, movida por este amor - «Caritas Christi urget nos» (2 Cor 5, 14) - , está aberto de modo profundo e concreto ao amor do próximo (cf. ibid., 31 e 33).

Amados, perdoados e servidos pelo Senhor, que Se inclina para lavar os pés dos Apóstolos, e Se oferece a Si mesmo na Cruz para atrair a humanidade ao Amor de Deus. Também somos impelidos à mesma coisa fazer.

A fé, que toma consciência do Amor de Deus revelado no coração trespassado de Jesus na Cruz, suscita por sua vez o amor, de modo que os cristãos são distinguidos pelo «o amor fundado sobre a fé e por ela plasmado» (ibid., 7).

Em seguida nos falou da caridade como vida na fé; toda a vida cristã consiste em responder ao Amor de Deus: Deus nos ama, nos atrai e nos transforma: “Deus não Se contenta com o nosso acolhimento do Seu Amor gratuito; não Se limita a amar-nos, mas quer atrair-nos a Si, transformar-nos de modo tão profundo que nos leve a dizer, como São Paulo: Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim (cf. Gl 2, 20)”, e dando espaço ao Amor de Deus, tornamo-nos semelhantes a Ele, participantes da Sua própria caridade.

Conceituando a fé, ele diz:

“A fé é conhecer a verdade e aderir a ela (cf. 1 Tm 2, 4); a caridade é ‘caminhar’ na verdade (cf. Ef 4, 15). Pela fé, entra-se na amizade com o Senhor; pela caridade, vive-se e cultiva-se esta amizade (cf. Jo 15, 14-15).

A fé faz-nos acolher o Mandamento do nosso Mestre e Senhor; a caridade dá-nos a felicidade de pô-lo em prática (cf. Jo 13, 13-17).

Na fé, somos gerados como filhos de Deus (cf. Jo 1, 12-13); a caridade faz-nos perseverar na filiação divina de modo concreto, produzindo o fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22). A fé faz-nos reconhecer os dons que o Deus bom e generoso nos confia; a caridade fá-los frutificar (cf. Mt 25, 14-30)”.

Retomou e aprofundou o entrelaçamento indissolúvel de fé e caridade, que não se contrapõem, e, portanto, não podemos incorrer no fideísmo e tão pouco no ativismo moralista:

“A existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e a força que daí derivam, para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio Amor de Deus”.

Entretanto, não se pode reduzir a caridade à solidariedade ou simples ajuda, mas esta se revela precisamente como evangelização, ou seja, o «serviço da Palavra», com a promoção integral da pessoa humana.

Viver a caridade é ser movido pelo amor, porque, essencialmente, tudo parte do Amor e tende para o Amor, e este Amor gratuito de Deus nos é dado a conhecer por meio do anúncio do Evangelho.

Citando o Apóstolo Paulo, aprofundou a relação entre fé e obras de caridade:

«É pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque nós fomos feitos por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas acções que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos» (Ef 2, 8-10).

Afirmou que “uma fé sem obras é como uma árvore sem frutos: estas duas virtudes implicam-se mutuamente”, como nos ensina a Palavra de Deus, e assim, a Quaresma se torna um tempo fecundo para:

- Alimentarmos a nossa fé, com uma escuta mais atenta e prolongada da Palavra de Deus;
- Participação nos Sacramentos;
- Crescimento na caridade, no amor a Deus e ao próximo, através do jejum, da penitência e da esmola.

Concluiu a mensagem destacando a prioridade da fé e a primazia da caridade:

Enquanto dom e resposta, a fé leva-nos a conhecer a verdade de Cristo como Amor encarnado e crucificado, adesão plena e perfeita à vontade do Pai e infinita misericórdia divina para com o próximo.

A fé radica no coração e na mente a firme convicção de que precisamente este Amor é a única realidade vitoriosa sobre o mal e a morte.

A fé também nos convida a olhar o futuro com a virtude da esperança, na expectativa confiante de que a vitória do Amor de Cristo chegue à sua plenitude.

Quanto à caridade, ela nos faz entrar no Amor de Deus manifestado em Cristo, com adesão pessoal e existencial, doação total e sem reservas de Jesus ao Pai e aos irmãos.

Pela caridade em nós infundida pelo Espírito Santo, tornamo-nos  participantes da dedicação própria de Jesus, vivendo uma relação filial em relação a Deus e fraterna em relação a cada ser humano (cf. Rm 5, 5).

Fez uma analogia entre a fé e a caridade, Batismo e Eucaristia:

“O Batismo (‘Sacramentum Fidei’) precede a Eucaristia (‘Sacramentum Caritatis’), mas está orientado para ela, que constitui a plenitude do caminho cristão. De maneira análoga, a fé precede a caridade, mas só se revela genuína se for coroada por ela.

Tudo inicia do acolhimento humilde da fé (‘saber-se amado por Deus’), mas deve chegar à verdade da caridade (‘saber amar a Deus e ao próximo’), que permanece para sempre, como coroamento de todas as virtudes (cf. 1 Cor 13, 13)”, e neste sentido nos convida para vivermos a Quaresma:

- Como tempo de preparação para celebração do evento da Cruz e da Ressurreição, no qual o Amor de Deus redimiu o mundo e iluminou a história.

- Como tempo do reavivamento da fé em Jesus Cristo, e assim “entrar no Seu próprio circuito de Amor ao Pai e a cada irmão e irmã que encontramos na nossa vida” .



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