sábado, 17 de fevereiro de 2024

O deserto que atravessei...

 

  O deserto que atravessei...

 

“Catedral” Quem não conhece esta belíssima canção? Inspirado nela, há algum tempo, escrevi esta reflexão. Desejo que não sejam apenas palavras, mas um convite para retomarmos o fôlego em nossa travessia do deserto de cada dia, em tempo de grandes dificuldades sociais, econômicas, políticas etc.

 

Um homem moderno se perdeu no deserto e, durante dias arrastou-se, desorientado pelas dunas da areia. A inclemência do sol ardente foi desidratando seu corpo...

 

De repente, a certa distância, avistou um oásis - “Ah, disse a si próprio: esta é uma miragem que quer me enganar!”

 

Aproxima-se do oásis, que não desapareceu. Diante de seus olhos irritados surgiram tamareiras, pedaços de relva verde e, sobretudo uma nascente de água murmurante – “Isto não passa de fantasias produzidas pela fome, e de alucinações auditivas”, dizia para si o andante exausto, “Como é cruel a natureza!”.

 

Pouco tempo depois, dois beduínos o encontraram morto. “Você entende uma coisa dessas?” Perguntou um ao outro. “As tâmaras praticamente estavam ao alcance de sua boca, havia uma nascente ao lado dele, e ele morreu de fome e de sede! Como isso é possível?” “Bem, respondeu o outro, ele era um homem moderno”.

 

Diante de tantas incredulidades e credulidades caducas, precisamos saber em quem confiar: sem dúvida a Fonte de Água Viva habita em cada um de nós (Jo 4,14), e a nossa Verdadeira Comida é o próprio Cristo Jesus Ressuscitado, que Se fez Bebida e Comida para fortalecer nossa caminhada na travessia do deserto da vida.

 

Quantas vezes nossa vida parece uma travessia no deserto que não tem mais fim. As dificuldades parecem ser mais fortes que nossas forças. É preciso que saibamos recorrer à pessoa certa para refazer nossas forças. Esta Pessoa é Jesus, Que jamais nos deixará morrer de fome e cansados: “Eu sou o Pão da Vida, quem vem a mim nunca mais terá fome, e quem crer em Mim nunca mais terá sede” (Jo 6,34).

 

No Evangelho de São Mateus, Ele mesmo nos diz: “Vinde a Mim vós que estais cansados e abatidos, porque o meu fardo é leve e o meu jugo é suave” (Mt 11,30).

 

Esta mensagem muito nos inspira na luta, na caminhada, na travessia do deserto de cada dia.

 

Saciando nossa sede e fome em Jesus, poderemos ser:

 

“Vida, para fazer nascer os que estão morrendo... 

Sol, para fazer brilhar os que não possuem Lua... 

Luz, para iluminar os que vivem na escuridão... 

Chuva, para correr toda a terra e molhar os campos secos e devastados... 

Lágrima, para fazer chorar os corações insensíveis... 

Voz, para fazer falar os que sempre se ocultaram... 

Canto, para alegrar os que vivem na tristeza... 

Luar, para brilhar na noite dos amores incompreendidos... 

Flor, para enfeitar os jardins no outono...

Silêncio, para fazer calar as vozes que atordoam o coração do homem... 

Sino, para repicar nos Natais dos que possuem recordação amarga...

Grito, para gritar a dor dos que sofrem no silêncio... 

 

Olhos, para fazer enxergar os cegos de verdade... 

Força, para fugir dos que a utilizam para o mal. 

Sorriso, para encantar os lábios dos amargurados... 

Sonho, para colorir o sono dos realistas petrificados... 

Veículo, para trazer de volta os que partiram deixando saudades... 

Amanhecer, para fazer um dia a mais de felicidade sobre a Terra...

Noite, para acalentar os que lutam durante o dia... 

Amor, para unir as pessoas e lhes dizer que sou apenas uma delas”. (1)

 

Urge continuarmos firmes em nossa missão, renovando, a cada dia, o ardor missionário; procurando caminhos que melhor contribuam nesta caminhada de Evangelização.

 

Quaresma é o Tempo do fecundo silêncio, recolhimento para rever pensamentos, sentimentos, atitudes, para mais configurados a Cristo Jesus e ao Mistério de Sua Paixão, renovemos a fidelidade no carregar da cruz, para que um dia a alegria Pascal possamos celebrar e no coração senti-la transbordar, acenando para o destino de todos nós: a glória que passa pela cruz.

 

Por enquanto, em meio ao deserto, oásis de amor, revigoramento de nossas forças, Deus na Sua infinita misericórdia não nos deixa faltar.

 

Viver é como se tornar oásis na vida do outro,

bem como o outro na nossa própria.

Nisto Deus Se revela e conosco caminha!

 

(1) Autor desconhecido

 

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