O deserto que atravessei...
“Catedral” Quem não conhece esta belíssima canção? Inspirado nela, há algum
tempo, escrevi esta reflexão. Desejo que não sejam apenas palavras, mas um
convite para retomarmos o fôlego em nossa travessia do deserto de cada dia, em
tempo de grandes dificuldades sociais, econômicas, políticas etc.
Um homem moderno
se perdeu no deserto e, durante dias arrastou-se, desorientado pelas dunas da
areia. A inclemência do sol ardente foi desidratando seu corpo...
De repente, a certa distância, avistou um
oásis - “Ah, disse a si próprio: esta é uma miragem que quer me enganar!”
Aproxima-se do oásis, que não desapareceu.
Diante de seus olhos irritados surgiram tamareiras, pedaços de relva verde e,
sobretudo uma nascente de água murmurante – “Isto não passa de fantasias
produzidas pela fome, e de alucinações auditivas”, dizia para si o andante
exausto, “Como é cruel a natureza!”.
Pouco tempo depois, dois beduínos o
encontraram morto. “Você entende uma coisa dessas?” Perguntou um ao outro. “As
tâmaras praticamente estavam ao alcance de sua boca, havia uma nascente ao lado
dele, e ele morreu de fome e de sede! Como isso é possível?” “Bem, respondeu o
outro, ele era um homem moderno”.
Diante de tantas
incredulidades e credulidades caducas, precisamos saber em quem confiar: sem
dúvida a Fonte de Água Viva habita em cada um de nós (Jo 4,14), e a nossa
Verdadeira Comida é o próprio Cristo Jesus Ressuscitado, que Se fez Bebida e Comida
para fortalecer nossa caminhada na travessia do deserto da vida.
Quantas vezes
nossa vida parece uma travessia no deserto que não tem mais fim. As
dificuldades parecem ser mais fortes que nossas forças. É preciso que saibamos
recorrer à pessoa certa para refazer nossas forças. Esta Pessoa é Jesus, Que
jamais nos deixará morrer de fome e cansados: “Eu sou o Pão da Vida, quem vem a mim nunca
mais terá fome, e quem crer em Mim nunca mais terá sede” (Jo 6,34).
No Evangelho de São
Mateus, Ele mesmo nos diz: “Vinde a
Mim vós que estais cansados e abatidos, porque o meu fardo é leve e o meu jugo é
suave” (Mt 11,30).
Esta mensagem
muito nos inspira na luta, na caminhada, na travessia do deserto de cada dia.
Saciando nossa
sede e fome em Jesus, poderemos ser:
“Vida, para
fazer nascer os que estão morrendo...
Sol, para
fazer brilhar os que não possuem Lua...
Luz, para
iluminar os que vivem na escuridão...
Chuva, para
correr toda a terra e molhar os campos secos e devastados...
Lágrima, para fazer
chorar os corações insensíveis...
Voz, para
fazer falar os que sempre se ocultaram...
Canto, para
alegrar os que vivem na tristeza...
Luar, para
brilhar na noite dos amores incompreendidos...
Flor, para
enfeitar os jardins no outono...
Silêncio, para
fazer calar as vozes que atordoam o coração do homem...
Sino, para
repicar nos Natais dos que possuem recordação amarga...
Grito, para
gritar a dor dos que sofrem no silêncio...
Olhos, para
fazer enxergar os cegos de verdade...
Força, para
fugir dos que a utilizam para o mal.
Sorriso, para encantar os lábios dos amargurados...
Sonho, para
colorir o sono dos realistas petrificados...
Veículo, para trazer de volta os que partiram
deixando saudades...
Amanhecer, para fazer um dia a mais de felicidade
sobre a Terra...
Noite, para
acalentar os que lutam durante o dia...
Amor, para
unir as pessoas e lhes dizer que sou apenas uma delas”. (1)
Urge continuarmos
firmes em nossa missão, renovando, a cada dia, o ardor missionário; procurando
caminhos que melhor contribuam nesta caminhada de Evangelização.
Quaresma é o Tempo
do fecundo silêncio, recolhimento para rever pensamentos, sentimentos,
atitudes, para mais configurados a Cristo Jesus e ao Mistério de Sua Paixão,
renovemos a fidelidade no carregar da cruz, para que um dia a alegria Pascal
possamos celebrar e no coração senti-la transbordar, acenando para o destino de
todos nós: a glória que passa pela cruz.
Por enquanto, em
meio ao deserto, oásis de amor, revigoramento de nossas forças, Deus na Sua
infinita misericórdia não nos deixa faltar.
Viver é como se tornar oásis na vida do
outro,
bem como o outro na nossa própria.
Nisto Deus Se revela e conosco caminha!
(1) Autor desconhecido
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