sexta-feira, 7 de março de 2025

Em defesa da sacralidade da vida e da pessoa humana

Em defesa da sacralidade da vida e da pessoa humana

As últimas Campanhas da Fraternidade têm insistido na defesa da vida, desde sua concepção ao seu declínio natural. Também têm insistido na sacralidade da qual toda a vida é portadora. Vida como dom divino, portanto, não submetida à manipulação de toda ordem.

Coincidentemente, estamos acompanhando a intensa discussão sobre o lamentável fato acontecido em Alagoinhas – PE, o abuso sexual sofrido pela menina de nove anos, que ficou grávida de gêmeos, cujos pais foram forçados à prática do aborto como não foi divulgado na mídia.

Retomamos a palavra do Secretário-geral da CNBB, D. Dimas Lara Barbosa - “Mais lamentável ainda é o fato de que não se trata de um caso isolado. Infelizmente, temos no Brasil inúmeras denúncias de exploração sexual e até de tráfico de crianças. Alguns dos nossos bispos estão sendo ameaçados no Pará por denunciar esse tipo de prática de exploração contra crianças e adolescentes”, em entrevista coletiva à imprensa realizada na sede da CNBB, em Brasília.

Nesta mesma entrevista, D. Geraldo Lyrio Rocha, Presidente da CNBB reiterou que não se pode reduzir a violência ocorrida com a menina de Alagoinha à questão da excomunhão.

Lembrou que a recente nota da CNBB manifesta, em primeiro lugar, solidariedade à família da criança que está passando por um constrangimento enorme e condena o estuprador que deve pagar pelo crime segundo a justiça.

Há que se pensar na situação da mãe desta criança e nos demais familiares. É um enorme sofrimento, uma coisa repugnante, uma humilhação, ter uma criança explorada sexualmente pelo padrasto, desde os seis anos de idade.

A imprensa enfatizou exaustivamente a excomunhão e procurou tirar os dividendos em clara prática pró-aborto, que paira em tantos programas, artigos, jornais, como política internacional planejada.

Quanto à excomunhão, ao contrário do que queiram deixar transparecer, não é sinônimo de condenação ao inferno, mas trata-se de um ato disciplinar da Igreja: "A excomunhão existe para chamar atenção para a gravidade do ato. O aborto traz consigo essa pena porque está se diluindo a gravidade do aborto até mesmo entre os cristãos. Quem viola isto, se coloca fora da comunidade eclesial, conforme cânone n.º 1398 do Código de Direito Canônico: ’Quem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão late sententiae’” (=automaticamente).

A gravidade do estupro é de consciência de todos, e dispensa a advertência. A excomunhão para a prática do aborto e quem dele participa não tira o peso da gravidade do pecado do estupro.

A excomunhão não é tão apenas para punição, mas como advertência para que se tome consciência de sua gravidade e se busque a reconciliação.

Fatos como este se repetem todos os dias e nos obrigam a  enfatizar a importância de uma sadia educação; intensificar absoluta reprovação de toda e qualquer prática de exploração sexual como mencionado acima; criar possibilidades para que as crianças possam crescer num clima familiar sadio, impregnando-se de valores irrenunciáveis: valor da vida, respeito ao corpo como templo de Deus, educação para uma sexualidade sadia e amadurecida.

Quanto ao fato do aborto, antes deveria ser feito todo esforço, investido todos os recursos para que a gravidez pudesse chegar ao seu sexto mês, para que o parto ocorresse, pois também carece de veracidade a ameaça de morte da vida da menina. O caminho mais fácil abre a porta para sua repetição sem maiores empenhos e constrangimentos...

E agora, quem vai acompanhar esta criança? Como está? Haverá da mídia e de tantos quantos tenham defendido a prática do aborto o mesmo acompanhamento, a mesma “solidariedade”.

Como praxe, a mesma Igreja que se opôs ao aborto, carregará com compaixão a cruz, tendo passado o alarde, a exploração midiática…

As vozes que se levantaram contra a Igreja neste lamentável fato são, de modo geral,  as mesmas vozes que promovem a banalização da vida; a exploração do corpo do homem e da mulher; a erotização precoce das crianças; “o sexo livre bom e sadio desde que se use a camisinha”; a pornografia nos diversos meios de comunicação; a prostituição...

 “Estas vozes são daqueles que demonstram lamentavelmente egoísmo, egocentrismo e falta de respeito  com a vida em detrimento da dignidade do homem, o ser mais importante do universo e ao qual todos os valores devem ser submetidos.

Estas atitudes procedem inversamente submetendo o homem às falácias e afirmações maldosas e mentirosas em favor da vida”, diz o Bispo da Diocese de Guarulhos, Dom Luiz Gonzaga Bergonzini. 

A Igreja, para além de seus pecados, que são amplamente explorados, não deixa de ter sua autonomia como voz em defesa da vida, contra todo tipo de violação da vida: estupro, aborto, extermínios, tráfico de droga, corrupção, extorsão, práticas espúrias que desviam os recursos do povo não promovendo o bem comum etc.

Dentro e fora dela, a Igreja não revogará jamais a Palavra de Deus que diz: “Não matarás!”, como encontramos no Livro do Êxodo (20,13).
  

PS: Texto para a Redação do Jornal Folha Diocesana - publicado na  Edição de Abril de 2009 -

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG