“A força do amor vence o temor da morte”
À luz dos Tratados sobre
o Evangelho de São João, do Bispo Santo Agostinho (Séc. V), reflitamos sobre a
força do amor que vence o temor da morte.
“O Senhor interroga
sobre o que já sabia, não só uma vez, mas duas e três vezes: se Pedro o ama. De
todas as vezes, ouve uma só resposta, que Pedro o ama. E, em todas elas, confia
a Pedro o pastoreio de suas ovelhas.
A tríplice confissão
apaga a tríplice negação, para que a língua não sirva menos ao amor do que ao
temor; e não pareça que a iminência da morte o obrigou a falar mais do que a
presença da vida. Seja serviço de amor apascentar o rebanho do Senhor, como foi
prova de temor negar o pastor.
Quem apascenta as
ovelhas de Cristo como se fossem suas, não ama a Cristo mas a si mesmo.
Contra esses, que também
o Apóstolo censura dizendo que procuram os próprios interesses e não os de
Cristo, estas palavras que o Senhor repete insistentemente são uma séria
advertência.
Então que quer dizer: Tu
me amas? Apascenta as minhas ovelhas (Jo 21,17) senão: Se me amas, não penses
em te apascentar a ti mesmo, mas as minhas ovelhas; apascenta-as, considerando
minhas, não tuas; procura nelas minha glória, não a tua; meus interesses, não
os teus; não sejas daqueles que nos tempos de perigo só amam a si mesmos e tudo
o que deriva deste princípio, que é a raiz de todo mal.
Os que apascentam as
ovelhas de Cristo, não amem a si mesmos; não as apascentem como sendo próprias,
mas como pertencentes a Cristo.
O defeito que mais devem
evitar os que apascentam as ovelhas de Cristo consiste em procurar os próprios
interesses e não os de Jesus Cristo, destinando ao proveito próprio aqueles por
quem Cristo derramou o seu sangue.
O amor de Cristo deve
crescer até atingir tal grau de ardor espiritual naquele que apascenta as suas
ovelhas, que supere até mesmo o natural medo da morte, que nos leva a não
querer morrer, ainda que queiramos viver com Cristo.
Contudo, por maior que
seja o temor da morte, deve vencê-lo a força do amor com que se ama Aquele que,
sendo nossa vida, quis sofrer até a morte por nós.
Na verdade, se não
houvesse ou fosse insignificante o mal da morte, não seria tão grande a glória
dos mártires. Mas, se o Bom Pastor, que deu a vida por suas ovelhas, suscitou
tantos mártires entre as suas ovelhas, quanto mais não devem lutar pela verdade
até à morte, e até o sangue, contra o pecado, aqueles que receberam o encargo
de apascentá-las, isto é, de instruí-las e dirigi-las?
Por este motivo, diante
do exemplo da paixão de Cristo, e ao pensar em tantas ovelhas que já o
imitaram, quem não compreende que os pastores devem ser os primeiros a imitar o
Pastor? Na verdade, os mesmos pastores são também ovelhas do único rebanho,
governado pelo único Pastor. De todos nós ele fez suas ovelhas, por todos nós
padeceu; para padecer por todos nós, ele mesmo se fez ovelha”.
“A tríplice confissão
apaga a tríplice negação”, assim aconteceu com Pedro. Também
nós precisamos permanentemente declarar nosso amor pelo Senhor, superando
possível “negação”, com nossas infidelidades e pecados.
Vivamos o Tempo do
Advento, neste propósito de rever nossos caminhos, palavras, pensamentos e
atitudes, para que na vigilância e na oração, estejamos melhor
preparados para celebrar a vinda do Salvador, na tão esperada Noite de Natal.
Renovemos em nós a força
do amor que vence o temor da morte, bem como a nossa fé no Senhor, que conosco
caminha, ainda que não percebamos.
A exemplo
de Pedro, renovemos em nós a chama do primeiro amor, para vencermos as
dificuldades e tentações do quotidiano, em plena fidelidade ao Senhor, como
rezamos na oração que Ele mesmo nos ensinou:
“Pai
Nosso, que estais nos céus... Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos
do mal. Amém.”
PS: Liturgia das Horas ao celebrar a Memória de São Nicolau, no dia 06 de dezembro. Bispo de Mira, na Lícia (hoje Turquia). Morreu em meados do século IV e, sobretudo a partir do século X, é venerado em toda a Igreja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário