domingo, 3 de novembro de 2024

Sejamos pobres em espírito

                                                           

 Sejamos pobres em espírito

Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o Reino dos Céus”(Mt 5,3)

O Papa São Leão Magno (séc. V) nos enriquece com o Sermão sobre as Bem-aventuranças. Trata-se do início do mesmo.

Através deste Sermão, compreendemos melhor as Bem-Aventuranças que foram impressas em nosso íntimo, para que sejamos pobres em espírito, de fato.

“Nosso Senhor Jesus Cristo, caríssimos, ia pregando o Evangelho do Reino, curando as enfermidades por toda a Galileia, e a fama de Seus prodígios se espalhava pela Síria inteira.

Grandes multidões, vindas da Judeia, afluíam ao médico celeste. Lenta é para a ignorância humana a fé em crer no que não vê e esperar o que não conhece. Foram precisos, a fim de firmar na doutrina divina, os benefícios corporais e o estímulo dos milagres patentes.

Pela experiência de Seu tão benigno poder não duvidariam que Sua doutrina traz a salvação. Para passar das curas exteriores aos remédios interiores e depois da cura dos corpos à saúde das almas, o Senhor separou-Se das turbas que O cercavam, subiu à solidão do monte vizinho.

Chamou os Apóstolos para formá-los com mais elevadas instruções do alto da cátedra mística. Pelo próprio lugar e qualidade do ato, significava ser o mesmo que se dignara outrora falar com Moisés.

Lá na mais apavorante justiça, aqui com a mais divina clemência. Eis que vêm dias, diz o Senhor, e firmarei com a casa de Israel e a casa de Judá um pacto novo. Depois daqueles dias, Palavras do Senhor, porei minhas leis no seu íntimo e as escreverei em seus corações (cf. Jr 31,31.33; cf. Hb 8,8).

Aquele, pois, que falara a Moisés, falou aos Apóstolos. E nos corações dos discípulos, a mão veloz do Verbo escrevia os decretos da nova Aliança. Sem nenhuma escuridão de nuvens envolventes, sem sons terríveis e relâmpagos.

Sem estar o povo afastado do monte pelo terror, mas na límpida tranquilidade de uma conversa com os circunstantes atentos, a fim de remover a aspereza da lei pela brandura da graça e tirar o medo de escravo pelo espírito de adoção.

Qual seja a doutrina de Cristo, suas santas sentenças o demonstram. Elas dão a conhecer os degraus da jubilosa ascensão àqueles que desejam chegar à eterna beatitude. Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos céus (Mt 5,3).

Seria talvez ambíguo a que pobres se referia a Verdade, se dissesse: Bem-aventurados os pobres, sem acrescentar nada sobre a espécie de pobres, parecendo bastar a simples indigência, que tantos padecem por pesada e dura necessidade, para possuir o Reino dos céus.

Dizendo, porém: ‘Bem-aventurados os pobres em espírito’, mostra que o Reino dos céus será dado àqueles que mais se recomendam pela humildade dos corações do que pela falta de riquezas”.

Enriquecedor retomarmos este Sermão, sobretudo quando o Papa Francisco na Exortação Apostólica “Gaudete Et Exsultate” (19/3/18), sobre a chamada à Santidade no mundo atual, nos convida a viver a santidade a partir das Bem-Aventuranças (Mt 5,1-12).

Oremos:

Ó Deus, pedimos-Vos a graça de ter impressas em nossos corações as Bem-Aventuranças, que Vosso Filho nos apresentou no alto da montanha, para serem vividas na planície com a assistência do Vosso Espírito.

Pedimos-vos a fim de vivermos a vocação de discípulos missionários, sermos pobres em espírito, vivendo com humildade e fazendo resplandecer a Vossa onipotência de misericórdia e bondade, e assim sal da terra e luz seremos.

Firmai, ó Deus, nossos passos para trilharmos o Caminho de Santidade, no tempo presente, para que um dia mereçamos contemplar-Vos plenamente. Por N.S.J.C. Amém.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG