sábado, 2 de novembro de 2024

A boa morte: a passagem de tudo!

                                                          

A boa morte: a passagem de tudo!

“Por isto não te assuste a palavra morte, 
mas os benefícios da boa passagem te alegrem. 
Pois, que é a morte a não ser
a sepultura dos vícios, 
o despertar das virtudes?”

Reflitamos parte do Tratado sobre o benefício da morte, do Bispo Santo Ambrósio (Séc. IV), em que nos exorta a levar sempre em nós a morte de Cristo para que alcancemos a glória da Ressurreição.

“Disse o Apóstolo: ‘Para mim o mundo está crucificado, e eu, para o mundo’ (Gl 6,14). Para que saibamos, por fim, que nesta vida há morte e boa morte, exorta-nos a que ‘levemos a morte de Jesus em nosso corpo’ (cf. 2Cor 4,10).
  
Pois quem tiver em si a morte de Jesus, precisa também ter em seu corpo a vida do Senhor Jesus. Atue, portanto, a morte em nós, para que também possa agir a vida. Vida excelente depois da morte, isto é, vida excelente depois da vitória, vida excelente, terminado o combate.

Nela a lei da carne já não luta contra a lei do espírito, não há mais em nós peleja  da morte contra o corpo, mas no corpo, a vitória sobre a morte. E francamente não sei qual tem maior força, esta morte ou a vida. É claro que atendo à autoridade do Apóstolo que diz:

‘Portanto a morte age em nós, mas a vida, em vós’ (2Cor 4,12). A morte de um só a quanta gente faz crescer a vida! Por isto ensina ser desejável esta morte aos que ainda estão nesta vida, para que refulja em nossos corpos a morte de Cristo, aquela ditosa pela qual se destrói o ser exterior, ‘a fim de ser renovado nosso homem interior’ (cf. 2Cor 2,16) ‘e se desfaça nossa habitação terrena’ (cf. 2Cor 5,1), abrindo-se assim para nós a habitação celeste.

Imita, portanto, a morte, que se separa da união com esta carne e desata os laços de que fala o Senhor mediante Isaías: ‘Desata as cadeias iníquas, solta os laços das altercações violentas, deixa livres os oprimidos, rompe todo limite injusto’(Is 58,6).

O Senhor aceitou sujeitar-Se à morte para que a culpa desaparecesse. Mas, para não ser de novo a morte o fim da natureza humana, foi-lhe dada a Ressurreição dos mortos, para que pela morte se apagasse a culpa, pela Ressurreição se perpetuasse a natureza.

Por isso, a morte é a passagem de tudo. É preciso que passes continuamente; passagem da corrupção para a incorrupção, da condição mortal à imortalidade, das perturbações para a tranquilidade.

Por isto não te assuste a palavra morte, mas os benefícios da boa passagem te alegrem. Pois, que é a morte a não ser a sepultura dos vícios, o despertar das virtudes? Por isto disse Ele:

‘Morra minha alma nas almas dos justos’ (Nm 23,10), quer dizer, seja consepultada para depor seus vícios, assumir a graça dos justos, que trazem no corpo e na alma a morte de Cristo. ”

O Apóstolo Paulo também afirma:“Mas se morremos com Cristo, acreditamos que também viveremos com Ele, cientes de que Cristo, ressuscitado dos mortos, não morre mais; a morte já não tem domínio sobre Ele.” (Rm 6,8-9).

É preciso que esperemos pacientemente até o tempo oportuno, e então a alegria da vida eterna será nossa recompensa, e, de fato, a morte será a passagem de tudo.

Evidentemente, não se trata aqui do culto à morte, mas o olhar de fé sobre ela, que a transcende. Ninguém deve procurar a morte, ao contrário, lutamos contra ela a cada instante, mas ela não tem a última palavra.

Não se faz apologia da morte pela violência, fome, injustiças, perseguições, dependência de drogas, falta de atendimento médico e de recursos que a evitariam, ou a quaisquer outras situações.

Seja, de fato, a morte, uma “boa passagem”, um processo natural, não por imposição externa, intervenção das condições sociais as quais somos submetidos.

Também seja como o processo natural de um grão de trigo que se submete à morte, para não ficar só, mas morrendo produz muitos frutos, como  nos falou o Senhor – “Se o grão de trigo, ao cair na terra, não morrer, ficará sozinho. Mas, se morrer, produzirá muito fruto. Quem tem apego à sua própria vida, vai perdê-la; quem despreza a própria vida neste mundo, vai guardá-la para a vida eterna” (Jo 12,24-25).

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