quarta-feira, 26 de junho de 2024

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O coro dos Profetas

                                                          

O coro dos Profetas

A Liturgia da quarta-feira da 12ª semana do Tempo Comum apresenta a passagem do Evangelho (Mt 7,15-20), que nos remete à reflexão sobre o verdadeiro e o falso profeta.

O verdadeiro Profeta é aquele que, lendo a História e a interpretando à luz da Palavra de Deus, consegue provocar a conversão das pessoas com quem estabelece relacionamentos, através das palavras e ações o acompanham, e que podem ser traduzidas em frutos, conforme nos fala o Evangelho.

Assim lemos no Lecionário Comentado:

“É muito humana e viva a imagem do falso profeta, que se apresenta com garbo e agrado, procurando obter a complacência das massas para lhes contentar as aspirações mais baixas.

E é também muito atual: os meios de comunicação social, que manipulam as mentes e os comportamentos dos seus utentes, servem-se da ‘captatio benevolentiae’, conseguindo obter consensos e sequazes e modelando a sociedade.

Mais fácil é seguir os falsos profetas, os magos, os adivinhos e os corruptores dos costumes, os quais, servindo-se das pulsões mais baixas da pessoa, satisfazem-lhes as necessidades superficiais, estimulam-lhes as ambições, as falsas seguranças, e não as ajuda a crescer.

A vida cristã não se constrói sobre as seguranças humanas, pelo contrário, comporta aceitar o risco, a aventura, a aposta na única Palavra eficaz e vencedora.” (1)

De fato, vivemos numa sociedade em que existem profetas que falam o que as pessoas gostam de ouvir, e, felizmente, temos também Profetas que falam o que deve ser dito.

Devemos sempre ficar atentos e vigilantes para os falsos profetas, pois sua palavra não provoca mudança de vida, não produz fruto algum, ao contrário, condena as pessoas à solidificação de uma espiritualidade estéril; vivendo em conformidade com a situação que for mais favorável e realizadora das satisfações e interesses próprios.

Urge que se multipliquem entre nós os verdadeiros Profetas, para que, com coragem, com o discernimento do Espírito, falemos o que precisa ser ouvido para alcançarmos mutuamente a conversão, mudança de vida, numa verdadeira metanoia, produzindo frutos que permaneçam.

Urge, também,  entre nós Profetas que não se conformem com a situação atual, quando marcada por privilégios e pecados, mas com ânsia de transformação desta, porque têm interesse de que o Reino de Deus aconteça, com um modo de viver marcado por novas relações, fundadas e alicerçadas nos valores da fraternidade, da comunhão, da alegria, da solidariedade, da paz.

A História da Humanidade nos apresenta inúmeros Profetas, e o último deles foi João Batista, o maior de todos os homens nascidos de mulher, segundo o próprio Jesus; o maior de todos os Profetas, João Batista, que apontou Aquele que anunciou, e, vivendo sua missão, levou muitos à conversão, ainda que fosse uma voz solitária clamando no deserto.

Sendo a nossa vida uma grande travessia no deserto, urge que nossa voz se una a de João, para também anunciarmos a Vida Nova que o Senhor Jesus veio nos trazer.

É preciso que cresça o número do coro dos Profetas que plantem sementes de um mundo novo, enquanto é dia, sonhem acordados também enquanto seja dia, e continuem sonhando na noite da história, até acordar num novo, belo e indescritível amanhecer da chegada do Reino, de um novo céu e de uma nova terra, porque as coisas antigas já terão passado.  


(1) Lecionário Comentado - Editora Paulus - pp. 590-591.

Vivamos a Palavra do Senhor

                                                            

Vivamos a Palavra do Senhor

“Por seus frutos podereis conhecê-los.”
(Mt 7,15-20)

Ressoem, Senhor, em nosso coração as palavras do Vosso Apóstolo:

"Ponde em prática a Palavra! Não vos contenteis só de ouvir; para não vos enganardes a vós mesmos. Se alguém se limita a ouvir a Palavra sem a pôr em prática, assemelha-se a alguém que se mira ao espelho, depois sai e se esquece de sua fisionomia” (Tg 1,22-23).

Oremos:

Senhor, concedei-nos a divina sabedoria para redescobrirmos sempre a força e luminosidade de Vossa Palavra no caminho a ser trilhado.

Não permitais que vivamos uma “religião do livro”, porém da fidelidade à Vossa Palavra e Pessoa que muda nossa vida, dando-lhe novo sentido, horizontes se alargam.

Ajudai a nos colocarmos sempre em comunicação com a Vossa Pessoa, configurando plenamente nossa vida, pensamentos, palavras e ação a Vós.

Enviai sobre nós Vosso Espírito, para que façamos da Sagrada Escritura não apenas um livro, mas o indispensável Livro da Vida, Palavra de Vida.

Não permitais que releguemos a Sagrada Escritura ao nível de cultura, erudição, conhecimento estéril, ou simples audição, esvaziando sua natureza íntima, sem o acompanhamento de frutuosa prática.

Não permitais que reduzamos nossa fé cristã a um cristianismo de tão apenas doutrina, que se deve conhecer, mas uma nova forma de viver, de modo que sejamos, de fato, sal, fermento e luz.

Senhor, que ao pôr em prática Vossa Palavra, tenhamos coragem de nos pormos em crise necessária, como expressão de discernimento e corajosa decisão de Vos amar, temer e, com fidelidade, seguir.

Iluminai os ângulos mais ocultos de nossa alma, aclarai com a Divina Luz do Vosso Espírito, a fim de que sejam mais serenas e autênticas nossas relações com nosso próximo.

Enfim, Senhor, por Vós e Vossa Palavra, pelo Espírito Santo conduzidos, assistidos e iluminados, tenhamos coragem de lançar fora os ídolos de tantos nomes que nos desviam do Deus Vivo e Verdadeiro, Vosso Pai que nos revelastes.


Livre adaptação do Missal Cotidiano - Editora Paulus - pp. 940-941.943 

Jônatas, modelo de amigo verdadeiro! Existirá ele em minha vida?

                                                                 

Jônatas, modelo de amigo verdadeiro!
                           Existirá ele em minha vida?

Reflitamos sobre a amizade de Jônatas e Davi, retratada no Tratado sobre a amizade espiritual, pelo Beato Abade Elredo (séc. XII).

“Jônatas, jovem de grande nobreza, sem olhar para a coroa régia nem para o futuro reinado fez um pacto com Davi, igualando assim, pela amizade, o súdito ao senhor. Deu preferência a Davi, mesmo quando este foi expulso por seu pai o rei Saul, tendo de se esconder no deserto, como condenado à morte, destinado à espada. Jônatas então se humilhou para exaltar o amigo perseguido. Que espelho estupendo da verdadeira amizade! (...) 

Quando Saul pronunciou sentença de morte contra Davi, Jônatas não abandonou o amigo. Por que deve morrer Davi? Que culpa tem? Que fez ele? Tomou sua vida em suas mãos e feriu o filisteu e tu te alegraste. Por que então irá morrer? A tais palavras, louco de cólera, o rei tentou transpassar Jônatas, com a lança contra a parede, ameaçando aos gritos: Filho de mãe indigna, bem sei que gostas dele para vergonha tua, confusão e infâmia de tua mãe. Depois vomitou todo o veneno sobre o coração do jovem, acrescentando incentivo à sua ambição, alimento a inveja, estímulo à rivalidade e a amargura... 


Jônatas, o moço cheio de afeição, guardou o pacto da amizade, forte contra as ameaças, paciente contra o furor, desprezou o reino por causa da amizade, esquecido das glórias, bem lembrado da graça. Tu serás rei e eu serei o segundo depois de ti. Esta é a verdadeira, perfeita, estável e eterna amizade, aquela que a inveja não corrompe, suspeita alguma diminui, não se desfaz pela ambição. Assim provada, não cede; assim batida não cai; assim sacudida por tantas censuras, mostra-se inabalável e, provocada por tantas injúrias, permanece imóvel. ‘Vai, então, e faze tu o mesmo’ ”.

É na Sagrada Escritura que encontramos uma amizade assim, que  encanta os olhos e alegra o coração, pois, ela, embora alguns não acreditem, é possível! 
Foi o amor que moveu Jônatas a por sua vida em risco em favor de seu amigo Davi, e assim, preferiu a sua amizade a posse do Reino. 
Foi o amor que moveu Jônatas a deixar interesses pessoais para cuidar dos interesses do objeto de seu amor, e nos remete às palavras do Apóstolo Paulo na Carta aos Coríntios quando diz: “O amor não procura os seus interesses...” (1 Cor 13,4-5).
Ficamos sensibilizados com a declaração de amizade de Davi para com Jônatas: “Que sofrimento tenho por ti, meu irmão Jônatas, tu tinhas para mim tanto encanto, a tua amizade me era mais cara do que o amor das mulheres” (2 Sm 1,26).
Jônatas amou Davi como a sua própria alma! Uma amizade Verdadeira firmada no Sincero Amor, portanto, um modelo de amigo verdadeiro.

De fato a amizade é bem maior encontrado, mas quem de nós seria capaz de quantificar, avaliar uma verdadeira amizade? 

Amizade que não pode ser palavra esvaziada de conteúdo, amarelada pelos desencantos, esvaecida pela incredulidade, inexistente como realidade.

Amizades inautênticas evaporam como orvalho da manhã; são como nuvem que passa; cristal fino e belo que se quebra ao cair no chão; uma planta bela e viçosa ao amanhecer, murcha e seca no próximo ou mais breve crepúsculo de um dia!
Amizades autênticas não podem ser ditas como quimeras, fantasias impossíveis, inexequíveis, porque elas são, desde sempre, o desejo mais profundo de todos nós, pois são possuidoras da semente da eternidade no tempo presente uma plausível realidade.
Amizades são aventuras incansáveis porque, do contrário, viver não teria razão de ser, fazendo com que o viver seja criação de laços indestrutíveis de amizades, vínculos incorruptíveis que asseguram, amenizam e fundamentam a existência.  
Amizades que se edificam, acrisolam, reluzem na mútua ajuda, na compreensão, correção e perdão, em respeito à liberdade absoluta do outro, do contrário seria indesejável possessão, egoísmo.
Amizades verdadeiras ampliam a liberdade do outro, numa reciprocidade inexaurível, na mútua ajuda no enfrentamento dos desafios, com mais alegria e encantamento lutar.
Não há nada mais tristonho e extenuante que lutar sozinho, não há nada mais amargo do que a solidão,
O abandono, o desencontro, o sentimento da não comunhão. Da mão que não se alcançou, da mão que não se vislumbrou, porque um amigo de verdade não se encontrou.

Diante de tão bela amizade, conclui-se que toda comunidade deve ser espaço do aprendizado do amor fraternal com a promoção da paz, respeito, sinceridade, transparência...

Comunidade como espaço de verdadeiras amizades que sorriem na alegria, são suaves alívios na dor, eternizando-se em Deus!

Jesus, mais do que ninguém, Se relacionou como Amigo, como nosso Verdadeiro e mais Autêntico Amigo:

“Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que seu senhor faz; mas vos chamo amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai Vos dei a conhecer” (Jo 15,15).

Todos desejamos que haja “Jônatas” em nossa vida! Mas não basta querer a amizade de Jônatas, antes, é preciso empenhar-se em ser Jônatas na vida de alguém.

- Quem é Jônatas em minha vida?
- Há mais de um Jônatas em minha vida?

- Sinto-me Jônatas na vida de alguém?
- Caso não tenha e não o seja, o que há de errado?

- Caso haja e seja, rezemos por eles...

Amizades não são como pacotes belos e enfeitados, tampouco são plantas que já deram seus frutos e nada mais se espera, ou um solo extenuado e exaurido condenado à esterilidade.

Amizades renascem sempre num Mistério Pascal de Morte e ressurreição. Amizades são sempre sementes plantadas e cultivadas com a Oração, paciência, mansidão, caridade..., para que possam germinar sempre frutos novos como manifestação do Espírito Santo de Deus!

Em todo tempo, ponhamo-nos sempre em riquíssima aventura divina de construir amizades verdadeiras, que são laços indestrutíveis e criam vínculos incorruptíveis, que se eternizam nos céus!

Encerro com um versículo do Livro dos Provérbios:“Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão”  (Pv 17, 17).

Fortaleçamos, em todo o tempo, os vínculos das sagradas amizades.

PS: oportuno para a reflexão sobre a passagem do Primeiro Livro de Samuel (1 Sm 18,6-9;19-1-7)

terça-feira, 25 de junho de 2024

Discípulos do Divino Mestre em busca da perfeita sintonia

                                                    

 

Discípulos do Divino Mestre em busca da perfeita sintonia
 
Sejamos iluminados pelo Tratado sobre a verdadeira imagem do cristão, escrito pelo bispo São Gregório de Nissa (séc. IV).
 
“São três as coisas que manifestam e distinguem a vida cristã: a ação, a palavra e o pensamento. Das três, tem o primeiro lugar o pensamento. Em seguida, a palavra, que nos revela o pensamento concebido e impresso no espírito.
 
Depois do pensamento e da palavra vem, na ordem, a ação, realizando por fatos o que o espírito pensou.
 
Portanto, se alguma coisa na vida nos induz a agir ou a pensar ou a falar, é necessário que o nosso pensamento, a nossa palavra e a nossa ação sejam orientadas para a regra divina daqueles nomes que descrevem a Cristo, de modo a nada pensarmos, nada dizermos e nada fazermos que se afaste do seu alto significado.
 
Então, o que terá de fazer aquele que se tornou digno do grande nome de Cristo, a não ser examinar diligentemente os próprios pensamentos, palavras e ações, julgando se cada um deles tende para Cristo ou se lhe são estranhos?
 
De muitas maneiras operamos este magnífico discernimento. Tudo quanto fazemos, pensamos ou falamos com alguma perturbação, de nenhum modo está de acordo com Cristo, mas traz a marca e a figura do inimigo, que mistura a lama das perturbações à pérola da alma para deformar e apagar o esplendor da joia preciosa.
 
O que, porém, está livre e puro de toda afeição desordenada, relaciona-se com o Autor e Príncipe da tranquilidade, o Cristo.
 
Quem d’Ele bebe, como de Fonte pura e não poluída, as suas ideias e os seus sentimentos, revelará em si a semelhança com o princípio e a origem, tal como a água na própria fonte é igual a que corre no límpido regato e á que brilha na jarra.
 
De fato, é uma só e mesma a pureza de Cristo e a que se encontra em nossos espíritos. Mas a pureza de Cristo brota da fonte, enquanto a nossa dela flui e chega até nós, trazendo consigo a beleza dos pensamentos para a vida.
 
Portanto, a coerência do homem interior e do exterior aparece harmoniosa, quando os pensamentos que provêm de Cristo guiam e movem a modéstia e a honestidade de nossa vida”. (1)
 
Reflitamos sobre a nossa vida cristã autêntica, para encontramos a perfeita sintonia entre pensamento, palavra e ação, de tal modo que reavivemos e consolidemos nossa vocação e eleição.
 
Procuremos sempre esta perfeita sintonia, de tal modo que quanto maior for, mais autêntica vida cristã, e ressoando as palavras do Bispo, que a “lama das perturbações” não se misture à pérola de nossa alma, apagando o esplendor divino que em nós habita.
O Cardeal Martini (Vida Pastoral nº 266) nos apresenta quatro atitudes que, se verdadeiramente vividas, realizarão a premente necessidade de sintonia   entre o pensar, falar e agir, assegurando-nos criatividade e autenticidade como discípulos missionários de Jesus Cristo:
 
I. A Leitura orante da Bíblia – diariamente, nutrir-se pela Palavra de Deus, para que os pensamentos, por ela, sejam iluminados, expressos em palavras e gestos. O maior bem que se possa desejar e alcançar.
 
II. O autocontrole – a vontade de Deus há de prevalecer sobre as próprias vontades, com disciplina, renúncia, acrisolamento, amadurecimento, despojamento, desprendimento; alcançando o amadurecimento no discipulado, afastando toda possibilidade de esgotamento e vazio existencial.     
 
III. O Silêncio – Mais do que nunca, é necessário afastar-se da insana escravidão do barulho e das conversas, muitas vezes, inúteis e desnecessárias. Dedicar, ao menos, meia hora por dia para o silêncio e meio-dia a cada semana para pensar em si mesmo, refletir e rezar. Aparentemente inviável e impossível, mas é preciso dar o primeiro passo.
 
IV. A Humildade – O Espírito Santo é o verdadeiro protagonista da Evangelização. Há de se ter a consciência de que sem o sopro do Espírito nada somos e nada podemos. Dele procedem todos os dons e a graça para que consigamos viver o que falamos, falar o que pensamos e pensar o que rezamos.
 
A credibilidade da Igreja está relacionada ao seu testemunho do indizível Amor divino, sem incoerências execráveis, na mais perfeita fidelidade Àquele que é a Perfeitíssima Coerência: Cristo Jesus, Nosso Senhor; entranhados em Seu coração e envolvidos pelos laços de Sua indispensável ternura. 
 
A triplicidade vivida é fundamental para o alcance da autêntica felicidade, de modo que, a sua ausência abre espaço para incoerências, infidelidades, contratestemunhos e escândalos, enfraquecendo o conteúdo da Palavra Divina que anunciamos, do Projeto do Reino que acreditamos e do Mistério que celebramos.    
 
Reflitamos:
- Como alcançá-la?
- Qual o caminho para encurtar eventuais distanciamentos entre o que pensamos, falamos e fazemos?
 
Concluo: quer pensemos, quer falemos, quer façamos qualquer coisa, façamos em nome do Senhor Jesus. 
 
A vida cristã será cada vez mais autêntica, quanto mais encurtemos a distância entre o que pensamos, falamos e agimos, sempre dentro dos propósitos do Evangelho, para melhor correspondermos ao que Deus espera de cada um de nós. Amém!
 
  

(1) Liturgia das Horas – Vol. III – pp.354-355.

Falar com sabedoria, ensinar com amor

                                                 


Falar com sabedoria, ensinar com amor 

Ó Deus, fortalecei nossa paciência e tolerância, como discípulos do Vosso Filho, com a presença do Santo Espírito, na espera da Parusia, do novo céu e da nova terra, comprometidos com um mundo mais fraterno, justo e solidário, em que não haverá mais dor, luto, morte e sofrimento. 

Concedei-nos a graça de sermos sábias e corajosas testemunhas da Vossa Misericórdia e compaixão, que recompensa os pacientes e perseverantes no carregar da cruz de cada dia, com suas renúncias necessárias.

Dai-nos o dom da perseverança para o testemunho de uma fé adulta, edificando uma comunidade marcada pelas relações fraternas, superando todas as sombras de murmurações e lamentações de uns contra os outros.

Ajudai-nos a viver uma caridade operosa, com dedicação e alegria, assim como fizeram Vossos profetas e amigos, Jeremias, Jó e tantos outros, ao longo de toda a História da Salvação.

Concedei-nos a mansidão para não nos lamentarmos uns dos outros, pois quem julga e condena será por sua vez julgado e condenado, e o juiz está à porta, Vosso Filho, que veio, vem e virá gloriosamente.

Inspirai-nos para falarmos com sabedoria e ensinarmos com amor (cf. Pr 31,26), com sinceridade e clareza e necessária transparência na vida comunitária, no testemunho de cada palavra pronunciada.

Iluminai nossas palavras e o diálogo, pois são os instrumentos mais oportunos para construir relações verdadeiras e duradouras, mas que podem, também, destruir aquilo que se construiu com muito tempo e muito sacrifício.

Conduzi-nos, para que a verdade de nossas palavras e ações dispensem os juramentos, de modo que quem ouvir um “sim” ou um “não” saberá que nada há a ser acrescentado, tirado ou subentendido, como já nos alertara o Vosso Amado Filho (Mt 5,33-38). Amém. 

 

Fonte inspiradora: Carta de São Tiago (Tg 5,9-12)

Entre o caos e o êxtase

                                                             

Entre o caos e o êxtase

É possível pensar e viver o eterno caos?
É possível e desejável o eterno êxtase?
Nem um nem outro!

A vida oscila entre o caos e o êxtase, em sua exata medida, de modo que o excesso de alguma coisa pode ser tão ruim quanto a sua falta.

Não suportaríamos um caos absoluto, bem como não haveria possibilidade do eterno êxtase, logo, viver é buscar este equilíbrio necessário em nossa vida.

Há muitas coisas que acontecem que chamamos de caos, que parecem ser intransponíveis.

Quantas vezes ouvimos ou mesmo dizemos: “Minha vida está um caos!”
Mas aqui está a grandeza da vida: uma situação caótica clama sempre por superação, ainda que parcial, sem a pretensão de se chegar ao êxtase... 

Caos relacionamento conjugal pede o diálogo, a luz divina, a reconciliação, o perdão, a superação... 
Busca da felicidade possível: entre o caos e o êxtase.

Relacionamento caótico prolongado e/ou êxtase contínuo num casamento é impensável e, muitas vezes, insuportável.

Caos numa relação de amizade pede maior proximidade, maior sinceridade, dedicação, expressão de carinho, avaliação, ponderação, maior atenção com aquele a quem chamamos de amigo.
Reforçar o laço de amizade: entre o caos e o êxtase.

Caos na vivência comunitária pede a proximidade, liberdade, intimidade, solidariedade, amor e verdade.
Fortalecimento da verdadeira comunhão querida: entre o caos e o êxtase.

Caos pela partida abrupta e violenta de uma pessoa pela morte, com suas cicatrizes, que somente com o tempo se tornam suportáveis e superáveis.

A morte muitas vezes se apresenta como caos para quem fica. A sensação de nunca mais a felicidade, de nunca mais o sorriso, a alegria… Mas o mistério da vida comporta a superação da morte. Somente o êxtase vivido em alguns momentos daquele relacionamento é que se tornará fonte para a continuidade do existir.
Viver entre o caos da morte e o êxtase que a vida pode proporcionar.

Caos na vida profissional pede revisão, aperfeiçoamento, novas janelas, novas portas, novas experiências, novos contatos, a busca daquilo que possa, de fato, a pessoa como profissional, realizar: qualificação e realização profissional, na exata medida, entre o caos e o êxtase.

Caos econômico mundial pede a tomada de consciência de que recursos são escassos, economia tem seus limites, há limites para o capital e seu nefasto estrangulamento da vida de pobres e inocentes. 
Uma economia globalizada e solidária: entre o caos e o êxtase.

Caos político que multiplica atentados, bombas, vidas destruídas, restos de construções, dores e profundas desolações. Lágrimas de crianças inocentes em capas de jornais estremecem nosso coração.
E, nos perguntamos: "até quando o caos?"

Não creio que o êxtase do relacionamento entre os povos e nações seja possível, pois muitos são os interesses em jogo, radicalismos exacerbados…
Mas no mundo um clamor: convivência na harmonia possível entre o caos e êxtase.

Caos planetário  agrotóxicos, queimadas, ocupações não planejadas, monoculturas de solos destruidoras, camada de ozônio, aquecimento global… superexploração dos recursos finitos pedem – nova mentalidade, nova postura, novos modos de se relacionar com a criação.

Uma nova mentalidade ecológica há que se fortalecer entre o caos e o êxtase da primeira criação.

E a vida tem seus mistérios, seus encantos e desencantos, encontros e desencontros, buscas e perdas, altos e baixos, luzes e sombras, sonhos e pesadelos, ausências e presenças, ausência de sentido e sua eterna busca, coerências e contradições, enfrentamentos e superações, louvores e lamentações…

A vida é, por isto, um livro a ser escrito, página por página, em que o fio condutor é a busca da felicidade, entre o caos e o êxtase, o percorrer de caminhos, às vezes tenebrosos e algumas vezes, ainda que poucas, veredas ensolaradas.

Com a inesgotável luz divina acolhida quotidianamente, vamos procurando o equilíbrio entre o caos e o êxtase.

Sejamos cumulados com a luz divina para que nossos sonhos se tornem perceptíveis no caos, pois sem ela, nossos sonhos teriam contornos e conteúdos de pesadelos.

Sejamos cumulados, também,  de gratidão divina, para que o êxtase, ou o seu próximo alcance, não nos faça vítimas da arrogância, onipotência, e indiferença do que merece toda a honra, glória e louvor.

Nem caos que nos desmorone e nos roube perspectivas, pedimos ao Senhor, nem êxtase que nos faça indiferentes à Sua imprescindível ação e presença. Amém.

Sem lamentações inúteis

                                                                

Sem lamentações inúteis

Cada tempo tem suas dificuldades e provações, portanto, o Bispo Santo Agostinho (séc. V), em seu Sermão, nos convida a perseverar até o fim, pois assim alcançaremos a salvação, conforme também diz as Sagradas Escrituras.

“Qualquer angústia ou tribulação que sofremos é para nós aviso e também correção. As Sagradas Escrituras não nos prometem paz, segurança e repouso; o Evangelho não esconde as adversidades, os apertos, os escândalos; mas quem perseverar até o fim, esse será salvo (Mt 10, 22). Que de bom teve jamais esta vida desde o primeiro homem, desde que mereceu a morte e recebeu a maldição, maldição de que Cristo Senhor nos libertou?

Não há então, irmãos, por que murmurar, como alguns deles murmuraram, como disse o Apóstolo, e pereceram pelas serpentes (1Cor 10,10). Que tormento novo sofre hoje o gênero humano que os antepassados já não tenham sofrido? Ou quando saberemos nós que sofremos o mesmo que eles já sofreram?

No entanto, encontras homens a murmurar contra seu tempo como se o tempo de nossos pais tivesse sido bom. Se pudessem retroceder até os tempos de seus avós, será que não murmurariam? Julgas bons os tempos passados porque já não são os teus, por isto são bons.

Se já foste liberto da maldição, se já crês no Filho de Deus, se já estás impregnado ou instruído das Sagradas Escrituras, admiro-me de que consideres bons os tempos de Adão. Esqueces que teus pais traziam consigo o mesmo Adão? Aquele Adão a quem foi dito: No suor de teu rosto comerás teu pão e lavrarás a terra donde foste tirado; germinarão para ti espinhos e abrolhos (cf. Gn 3,19 e 18). Mereceu isto, aceitou-o, como vindo do justo juízo de Deus.

Por que então pensas que os tempos antigos foram melhores que os teus? Desde aquele Adão até o Adão de hoje, trabalho e suor, espinhos e cardos. Caiu sobre nós o dilúvio? Vieram os difíceis tempos de fome e de guerra, que foram escritos para não murmurarmos agora contra Deus?

Que tempos aqueles! Só de ouvir, só de ler, não nos horrorizamos todos? Mais razões temos para nos felicitar que para murmurar contra o nosso tempo.”

Evidentemente que o Bispo não desmerece ou desconsidera as dificuldades, sofrimentos e provações que fazem parte de nossa história, em todos os âmbitos.

Mas o que não podemos é mergulhar num falso saudosismo de que os dias foram melhores, e que hoje tudo é mais difícil. Cada tempo tem suas marcas, seus desafios, e cabe a nós buscarmos, com sabedoria, a melhor forma de enfrentá-los, e de encontrar as respostas e saídas possíveis.

Sem recuos, lamentos inúteis, mas a perseverança se faz necessária, para que não somente encontremos a saída, mas encontremos e passemos pela porta estreita que nos conduz à salvação.

Troquemos lamentos por confiança, perseverança, esperança, fidelidade e coragem, no viver dos sagrados compromissos que abraçamos desde o dia memorável de nosso Batismo, em que acolhemos em nós o mais belo Hóspede, o Espírito Santo que em nós faz morada, acompanhando-nos e nos assistindo em todos os momentos, com os dons necessários.

Com o Bom Jesus, sigamos em frente


 

Com o Bom Jesus, sigamos em frente

 

“O amor de Cristo nos impele”

 (2 Cor 5,14)

Jubileu vivido, beleza da vida contemplada

Na obra da criação e suas criaturas,

Vida da Fonte de nossa plena existência, adorado,

Jesus, o Amado Senhor Bom Jesus.

 

Com Ele, encontro envolvente e indizível,

Na Palavra proclamada e na Eucaristia,

No silêncio, nos cantos e louvores,

E no coração de cada irmão e irmã.

 

A noite escreveu mais uma página,

O sol desponta no alto do céu no horizonte,

Seus raios rasgam a escuridão novamente,

E vou seguir em frente, não posso parar.

 

Há mares a atravessar, ventos contrários,

Naufrágios aparentes e medo no coração,

Com a presença serena do Senhor, confiar

Com Sua Palavra, coragem e necessária travessia.

 

Meio do dia, sol a pino, as horas vão se passando,

Cada um pode ter na face o brilho das lágrimas,

E seus reflexos, revelam os revezes por que possamos passar,

Peçamos que o calor da ternura do Bom Jesus às seque.

 

Em todo o tempo, o Senhor conhece nossas fraquezas,

Compreende nossas quedas, e dores da alma cortantes,

Pois viveu em tudo, como nós, a condição humana,

Exceto o pecado, redimindo-nos para sempre.

 

Ao cair da tarde, o sol se põe atrás das verdes montanhas,

E a cada instante, cenários indizíveis com cores e contrastes,

Com a promessa de que no outro dia, sem dúvida, voltará,

Brindando-nos com sua luz, brilho e calor.

 

O cair da tarde, também em nossas vidas se repete,

Deixando na memória seus cenários,

Com paisagens de ternas lembranças ou não,

Mas em todas elas o Bom Jesus conosco compartilhou.

 

Já é noite, não há mais a luz do sol,

A noite com o luar e o brilho das estrelas,

Tempo do recolhimento necessário com sonhos e sonos

Descanso, forças a recuperar, para um novo dia recomeçar.

 

No céu, sol posto, mas em todo o tempo o Sol Nascente,

O Senhor Bom Jesus nos envolve com Sua ternura,

E com Ele, um novo dia poderemos sempre contar

E Seu amor, luz, alegria e paz ao mundo testemunhar.


PS: 237º Jubileu do Santuário Bom Jesus de Matosinhos - Conceição de Mato Dentro - MG. - de 13  a 24 de junho de 2024.

Consagração ao Bom Jesus

                                                               


Consagração ao Bom Jesus

“Dulcíssimo Jesus, que a todos ensinastes o caminho da vida e por todos expirastes no alto da Cruz. Volvei para o mundo ingrato os olhos de Vossa divina misericórdia.

Visto que a todos nos conquistastes pelo preço infinito de Vosso sangue. Vossos somos e Vossos queremos ser agora e sempre.

Nós vos oferecemos nossos pensamentos para que os santifiqueis, nossas palavras e ações para que, segundo à Vossa vontade, sejam retas e puras; nossos sentidos, para que sejam por Vós refreados e dirigidos para o bem.

Nós Vos entregamos de modo absoluto e perpétuo, nossas almas e nossos corpos, suas potências e seus sentidos, nossos negócios e nossas intenções, nossas alegrias e nossas mágoas, o presente e o futuro, nossa vida e nossa morte.

Exterminai, Senhor, em nós, todos os vícios e aumentai todas as virtudes, defendei-nos contra as insídias dos inimigos visíveis e invisíveis e acendei em nossos corações o fogo do Vosso santo amor.

Continuai, ó amantíssimo Jesus, a amparar com Vossa especial proteção todos aqueles que visitam Vosso santuário, pela piedade dos fiéis, erguido no cabeço de formosa colina e por tantas e tamanhas maravilhas da Vossa bondade e onipotência distinguido.

Em Vós ó Bom Jesus, depomos toda nossa confiança e toda nossa esperança, pois Vos escolhemos para nossa única riqueza e nosso único tesouro no tempo, para termos a ventura de Vos gozar e louvar na eternidade. Assim seja”.


P S: Oração ao Bom Jesus – Santuário de Matozinhos – Conceição do Mato Dentro – Diocese de Guanhães - MG

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