sábado, 2 de novembro de 2024

Misericórdia e vida eterna

Misericórdia e vida eterna

"...Somente a misericórdia nos serve de companheira..."

Reflexão sobre a misericórdia e a vida eterna, o desprendimento das riquezas e o horizonte da eternidade, escrito por Santo Ambrósio (séc. IV), Bispo e Doutor da Igreja, a partir da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 12,13-21).

“Já que todas as coisas que são do mundo permanecem nele, e nos abandona tudo aquilo que entesouramos para os nossos herdeiros; e, na realidade, deixar de ser nossas todas essas coisas que não podemos levar conosco.

Somente a virtude acompanha aos falecidos, somente a misericórdia nos serve de companheira, essa misericórdia que atua em nossa vida como norte e guia até as mansões celestiais, e busca conseguir para os falecidos, em troca do desprezível dinheiro, os tabernáculos eternos”. (1) 

Quando a morte de alguém que amamos acontece, sentimo-nos impotentes, tristes e com sentimentos de que esta tristeza será para sempre. Nada tem mais sentido, beleza, luminosidade.

Parece-nos terem roubando nosso chão e, como pássaros com as asas quebradas, não temos como voar, e mesmo que asas ainda tivéssemos, não conseguiríamos alçar voo.

Bem afirmou Santo Ambrósio: “somente a misericórdia nos serve de companheira” rumo à eternidade. De fato, exortados pelo Papa Francisco, na Bula da “Misericordiae Vultus”, vivamos as obras de misericórdia corporais e espirituais.

Nada levaremos, quando desta vida partirmos, a não ser a misericórdia vivida, que nos acompanhará para na passagem definitiva: nem dinheiro, nenhum bem, nem título, nem glória humana alguma alcançada, absolutamente nada que se possa tocar.

Sendo assim, que não sejamos tardios, morosos e jamais adiemos qualquer ação misericordiosa em favor de nossos irmãos.

Quantas vezes nos apegamos aos bens como se fossem capazes de nos eternizar e nos garantir a felicidade plena eterna. Ledo engano, no qual não podemos incorrer, sobretudo se professamos a fé no Deus que nos ama e quer que tão apenas usemos os bens que passam e abracemos os que não passam; aqueles que não se pode tocar, mas nos permitem tocar, um dia, o chão da eternidade, na glória da imortalidade.

Lá nada precisaremos. Aqui, por vezes, nos consumimos e nos devoramos com ambições desmedidas, cobiças que geram fome, miséria e tantos sofrimentos.

Que jamais nos enganemos com falsas ilusões de felicidade e eternidade: a salvação somente nos vem de Deus e na prática da misericórdia que nos acompanha até o último suspiro no tempo presente, para se prolongar na eternidade.


1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pág. 686

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG