domingo, 3 de novembro de 2024

Formação permanente dos padres: Fé e Cultura


Formação permanente dos padres: Fé e Cultura 

Aconteceu, de 03 a 06 de novembro de 2014, em Campos do Jordão - SP, a Formação permanente do Presbitério da Diocese de Guarulhos, com o tema “Fé e cultura”, e assessoria do Prof. Dr. Francisco Borba Ribeiro Neto – PUC - SP.

Introduzindo o tema, a relação fé e cultura, citou o papa São João Paulo II: “Uma fé que não se torna cultura é uma fé que não é plenamente aceita e totalmente pensada, nem fielmente vivida”.

A fé se torna cultura, em primeiro lugar, como mentalidade, uma forma de ver e julgar a realidade e, a partir desta, há a formação da cultura cristã.

A fé que se torna cultura no coração da pessoa, se dá na resposta ao contínuo chamado do cristão a viver a memória e a esperança: viver entre a memória de um encontro amoroso com Jesus Cristo, que mudou o existir de quem O encontrou, e assim o viver de uma história nascida deste encontro, na espera do pleno cumprimento da promessa feita naquele encontro.

O papa Bento XVI assim se expressou de forma emblemática: “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Deus Caritas Est 1). 

A promoção da Pastoral da Cultura não é a promoção de uma pastoral de eruditos e nem dos bens culturais da Igreja, nem pastoral para artistas, pois, muito antes, a Pastoral da Cultura é uma pastoral de mentalidades, de modo que é a primeira pastoral que todos fazem. 

Pastoral da Cultura é diálogo e discernimento; análise de tudo, ficando com o que é bom, como falou o Apóstolo Paulo (1Ts 5,21), de modo que a experiência de fé se torna cultura. 

O próprio Papa Francisco reconhece que o cristianismo se incultura em realidades culturais diferentes e o magistério deve levar em conta essas realidades: a especificidade da inculturação em cada contexto. 

Há algumas marcas que são próprias do cristianismo, dentre elas destacam-se: não há uma cultura cristã que não parta da crença em Deus, assim como não existe cultura cristã sem respeito à vida e à dignidade humana. 

Podemos nos apoiar em quatro pilares básicos para o discernimento cristão, para darmos razões de nossa fé: a atenção aos sinais que Deus põe no mundo; oração, como pedido e resposta ao diálogo que Deus começa conosco através destes sinais; Deus se comunica, em primeiro, lugar através de fatos – uma ação de Deus no mundo –; o estudo da doutrina, não como regras a serem aplicadas; a presença da comunidade cristã por meio do diálogo, da correção fraterna, da direção espiritual e da obediência à autoridade eclesial. 

Ao longo do Encontro, o assessor desenvolveu outras questões muito pertinentes nesta relação da fé e cultura, partindo da fé que se torna cultura no coração da pessoa e da sociedade: o desafio da fé na cultura pós-moderna; a fé e a cultura urbana; a questão moral, religião e cultura juvenil; a cultura e o magistério do Papa Francisco, sobretudo a partir dos seus discursos na realização da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro (2013); a fé e a explicitação cultural (a caridade e a verdade, a caridade e a beleza, a caridade e as obras sociais). 

Na conclusão do encontro, lembrou-nos que, como a comunidade de Éfeso, não podemos esquecer o primeiro amor:  “Conheço tuas obras, teu trabalho e tua paciência: não podes suportar os maus, puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são e os achaste mentirosos. Tens perseverança, sofreste pelo meu nome e não desanimaste. Mas tenho contra ti que esqueceste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, donde caíste. Arrepende-te e retorna às tuas primeiras obras. Senão, virei a ti e removerei o teu candelabro do seu lugar, caso não te arrependas” (Ap 2,2-5). 

Se quisermos falar de fé e cultura, tudo aquilo que fizermos com sinceridade para documentar o nosso primeiro amor, se formos cristãos autênticos, se tornará cultura cristã, se tornará obra de amor, se manifestará como beleza que atrai o mundo. 

Toda vez que tentarmos realizar uma obra no plano pastoral e cultural que se afaste do primeiro amor, poderemos construir coisas magníficas, mas não a Igreja de Jesus Cristo; construiremos um lugar para nós mesmos: “De que vale ganhar o mundo inteiro e perder a alma”, disse o Senhor. 

É preciso que o coração seja pleno de um amor que se manifeste no mundo, somente então a nossa fé se fará cultura, a cultura do encontro e da solidariedade, e não mais a cultura do individualismo, do descarte e da morte.

  

PS: Publicado no jornal Folha Diocesana – Guarulhos – Edição nº217. Reeditado para o blog.

 

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