A perfeita coerência dai-nos, Senhor!
A Liturgia do 31º Domingo do Tempo Comum (ano A) nos apresenta algumas exigências do ser cristão: seriedade, verdade, coerência e o irrenunciável compromisso com o Reino.
À luz da primeira Leitura (Ml 1,14b-2,1-2.8-10), refletimos sobre as dramáticas consequências quando se dá o divórcio entre o Povo e Deus; quando aqueles que deveriam zelar pelo bem do primeiro em fidelidade ao segundo não o fazem o resultado é sofrimento, injustiça, cultos abomináveis e idolátricos.
Malaquias que significa “O meu mensageiro” retrata com preciosidade esta realidade do período pós-exílio (primeira metade do século V - 480/450 a.C.).
O Profeta intervém contra o resfriamento da fé, o desleixo dos sacerdotes e dos fiéis nas celebrações litúrgicas e contra a decadência moral que sofre a comunidade.
O Profeta intervém contra o resfriamento da fé, o desleixo dos sacerdotes e dos fiéis nas celebrações litúrgicas e contra a decadência moral que sofre a comunidade.
Trata-se de um quadro com marcas de apatia religiosa, falta de confiança em Deus, o desleixo do culto e o enfraquecimento da ética, a banalização do nome e o respeito aos compromissos para com Deus. Abandonaram o “Primeiro Amor” e a tristeza marcava os cultos.
Como mensageiro de Deus, exige o Profeta a conversão do povo e a reforma cultural e não deixa de fazer perceber os primeiros culpados desta realidade: “os sacerdotes do templo” que falsificam o culto, bem como a Palavra de Deus. Além de se desviarem de sua missão fazem o povo vacilar e o trata com indiferença.
O Profeta vê saídas, mas desde que todos se coloquem num processo contínuo de conversão e fidelidade , de modo especial as lideranças se colocando em postura de dedicação, entusiasmo, doação e entrega aos compromissos a que foram chamados em fidelidade a Deus e compromisso com o Povo que a Ele pertence.
É preciso tomar consciência da condição de criaturas que nos torna iguais. Deixarmo-nos amar pelo Senhor, que como Criador e Pai quer fazer de nós Sua amada família.
Na segunda Leitura (1 Ts 2,7b-9.13), encontramos o perfil de um verdadeiro missionário que tem amor nas entranhas de seu ser, com isto acompanha a humildade, simplicidade, doação, entrega de si mesmo em favor do outro em fidelidade total e incondicional a Deus.
Mais uma vez refletimos sobre a comunidade de Tessalônica onde se acolheu com alegria a Palavra do Missionário, apesar das dificuldades, provações. Era notável a sua fé ativa, caridade esforçada e a firmeza de sua esperança; sempre acompanhados de gestos de acolhida, fidelidade e solidariedade.
O coração de Paulo transborda de alegria e agradecimento para com esta comunidade, a ponto de se dirigir a ela falando que a mesma nasceu do esforço missionário feito com “ternura de Mãe” e com autenticidade ao anúncio. A corrente de amor que se criou entre o Apóstolo e os fiéis foi crescendo em intensidade e qualidade.
Paulo não se tornou um peso para as comunidades, pois sobreviveu de seu trabalho, objetivando única e exclusivamente a salvação de todos. Paulo fala de uma comunidade que escuta, acolhe e vive a Palavra.
Reflitamos:
- Somos testemunhas alegres, vivas entusiastas, generosas, uma comunidade onde se vive a gratuidade e o amor para com Deus e com o próximo ou contratestemunhamos, sendo amargos, egoístas, agressivos, cansados e desanimados?
- Quais são as características principais da comunidade que participamos?
- Deixamo-nos interpelar pela Palavra de Deus?
- Pregamos a Palavra de Deus ou a nós mesmos?
Com a passagem do Evangelho (Mt 23,1-12), somos questionados sobre possíveis posturas farisaicas que podem estar presentes em nosso discipulado: domínio e monopólio da verdade, incoerência, exibicionismo e insensibilidade ao amor e à misericórdia.
Notável o confronto de Jesus e o farisaísmo: Jesus reconhece que são sérios e bem intencionados, mas são fundamentalistas no cumprimento da Lei, acompanhado do desprezo do próximo. Esqueciam o essencial, o amor e a misericórdia. Os fariseus detinham em suas mãos a interpretação e a aplicação da Lei, mas pelo viver transparecia a sua incoerência. A escravidão à Lei os desqualifica diante dos pequenos. O exibicionismo próprio dos fariseus lhes manchava a imagem e a honra.
Afastando-se do essencial, afastam-se da verdadeira fraternidade, não vivem o amor e o serviço que devem consistir todo o existir daquele que a Deus teme, pois passam a tratar o outro com diferenças e esvaziam uma verdade tão bela: somos todos iguais em dignidade diante dAquele que nos criou.
Reflitamos:
Ø Os fariseus falavam muito bem e nada faziam. Quais são os erros farisaicos presentes em nossas comunidades?
Ø Como eliminar o espírito farisaico que pode se fazer presente em nossas relações comunitárias e até mesmo sociais?
Ø O que fazer para recuperar a alegria e a serenidade no testemunho de nossa fé cristã?
Ø Impomos ou somos uma carga pesada sobre o outro com quem nos relacionamos e convivemos, a exemplo dos fariseus no Evangelho mencionado?
Concluo com esta citação do Lecionário Comentado:
“Os profissionais do sagrado estão sempre expostos a uma tentação: ter na Igreja uma competência doutrinal; tratar continuamente das coisas de Deus, mas chegar tarde ao encontro com o próprio Senhor; enfeitar a moldura e não olhar para o Seu rosto... O obstáculo a superar é uma certa familiaridade com a fé e com os Sacramentos, que não é aquela de quem adora ama e encontra o Senhor no terreno fértil da humildade e do assombro perante o Seu Mistério infinito, mas é a familiaridade alterada pela superficialidade, pelo desinteresse, quando se trata de testemunhar, pela indiferença perante o tesouro escondido num campo e a pérola de grande valor, que não nos surpreendem já como antes (Mt 13,44-46)". (1)
Voltemo-nos ao “Primeiro Amor”!
(1)Lecionário Comentado - Tempo Comum – Vol. II - 2011 - Giuseppe Casarin - Paulus - Portugal
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