sábado, 2 de novembro de 2024

Grande é a tua dor, eu sinto...

Grande é a tua dor, eu sinto...

“Ó morte que separa  os casados e, tão dura e
dura e cruelmente,  também separa amigos” (São Bráulio de Saragoça (séc VII)

Grande é a tua dor, eu sinto,
Porque grande foi o teu amor, eu creio.
Sinto-me impotente neste momento ápice,
Quando se despede provisoriamente
De quem tanto amou, tão intensamente.

Mas o que é a vida se não encontros e despedidas?
Encontros não programados, por Deus pensados.
Encontros não esperados, por Deus possibilitados.
Encontros que se entretecem em tramas de carinho,
Atenção, desejo, relacionamento, ou até Sacramento.

Despedidas que são possíveis retornos, reencontros.
Despedidas que são para sempre, a morte no tempo.
Despedidas para outra margem, que ficarão a espera
Para um novo reencontro, mas não mais como aqui,
Plenitude de amor, comunhão, alegria, paz e luz: céu.

Grande é a tua dor, eu sinto,
Mas uma dor suportável, por ter sido amada
Ainda que por um tempo, dias, meses, anos.
Assim é esta dor: de crescimento proporcional
Ao quanto se amou e ao quanto se foi amada.

Existe alegria e sofrimento no amor?
Quanto mais forte o amor, maior é a dor.
O amor suporta tudo, descortina uma nova possibilidade.
Vive-se de amor, morre-se de amor, por que não?
Assim é o existir, complexo e inesgotável mistério.

Sim, há uma ferida exposta na alma.
Parece que nada mais tem sentido.
Mas não pode ser assim definitivamente,
Há que se levantar a cabeça, firmar os passos.
Levanta-te e come! Ficará para sempre o amor.

A ferida, a lembrança, o tempo, a saudade,
A ausência, o vazio, a quase perda de sentido,
Coração “azul” pelas lágrimas vertidas. É assim mesmo.
Coração escurecido, pela dor, mergulho no escuro: luto.
Mas a fé aponta para uma longa jornada.

Crer na ressurreição, vitória da vida sobre a morte,
Crer na promessa do Ressuscitado que sempre ressoa:
“quem crer e viver em mim, ainda que morto, viverá.”
Chorar com Marta e Maria, não o choro dos desesperados,
Mas o choro da solidariedade, da esperança: Ressurreição.

Grande é a tua dor, eu sinto.
Que estas poucas linhas sejam como bálsamo,
Coragem para continuar a longa travessia.
As velas de nossas naus estão levantadas,
Mas, ele já chegou do outro lado. Continuemos a nossa...

Grande é a tua dor, porque grande foi teu amor.
Que Deus o acolha na eternidade, porque assim creu.
Que a fortaleça na provisoriedade da existência,
Suportando a dor cruenta da ausência,
Amenizada com a doce e gostosa lembrança.

Grande é a tua dor, porque grande foi teu amor.

Nenhum comentário:

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG