quinta-feira, 31 de julho de 2025

“Cuidemos de nossa casa comum”

 



“Cuidemos de nossa casa comum”
 
Em 2016, a Igreja no Brasil realizou a IV Campanha da Fraternidade Ecumênica, com um tema extremamente atual, complexo e desafiador: “Casa comum, nossa responsabilidade”, e o Lema: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24).
 
Retomamos a temática com a Campanha da Fraternidade deste ano (2025), com o tema - "fraternidade e Ecologia Integral", e com o lema -"Deus viu que tudo era muito bom" (cf. Gn 1,31).
 
Oportuno retomar os sete “erres” que, cada vez mais, devem fazer parte de nossa vida:
 
Repensar os nossos hábitos de consumo e comportamentos. Vejamos onde podemos economizar e evitar a produção de lixo; 

Reduzir o consumo e o uso de embalagens e produtos não recicláveis; 

Reaproveitar materiais, papéis, embalagens etc., que muitas vezes vão para o lixo, mas que poderiam continuar sendo usados ou doados para outras pes­soas; 

Reciclar, fazendo a separação/coleta seletiva do lixo; reciclá-lo ou doá-lo para quem o recicla (muitas pessoas ganham o próprio sustento e da família com este trabalho); 

Recusar produtos descartáveis como plásticos e outros produtos que prejudicam o ecossistema; 

Reparar produtos, prolongando sua vida útil; 

- Reintegrar restos de alimentos e outros materiais orgânicos à natureza, através da compostagem.

Com estas ações, que não exigem grande esforço, ao mesmo tempo em que cuidamos do Planeta, estaremos fazendo bem a nós mesmos e aos outros, e, com isto, exercitando a caridade fraterna.
 
Cuidemos do nosso Planeta, nossa Casa Comum, com a consciência de que devemos preservá-lo para as gerações que virão. Se não nos convertermos no uso das coisas, na relação com elas, estaremos comprometendo não somente o futuro, mas já também o presente, haja vista os acidentes e tragédias ambientais que vemos nos noticiários e bem perto de nós.
 


O Senhor revigora a nossa fé

                                                     

O Senhor revigora a nossa fé
 
Reflexão à luz da passagem da Carta de São Pedro (1Pd 1,6-9):
 
“Isto é motivo de alegria para vós, embora seja necessário que agora fiqueis por algum tempo aflitos, por causa de várias provações. Deste modo, a vossa fé será provada como sendo verdadeira – mais preciosa que o ouro perecível, que é provado no fogo – e alcançará louvor, honra e glória, no dia da manifestação de Jesus Cristo. Sem ter visto o Senhor, vós O amais. Sem O ver ainda, n’Ele acreditais. Isso será para vós fonte de alegria indizível e gloriosa, pois obtereis aquilo em que acreditais: a vossa salvação”
 
A Carta é dirigida aos cristãos das cinco províncias romanas da Ásia menor, e tem como objetivo a exortá-los para que vivam a fidelidade ao Senhor, apesar de toda provação, perseguição e incompreensão.
 
O discípulo missionário não está livre de aflições e provações, como o próprio Senhor já alertara no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os aflitos porque serão consolados” (Mt 5,5); “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-Aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim” (Mt 5,10-11).
 
A autenticidade, solidez, luminosidade e fecundidade da fé somente são alcançadas quando ela for provada, e assim se torna “mais preciosa que o ouro perecível, que é provado no fogo” (1Pd 1,7), e como também podemos ler no Livro do Eclesiástico: “Meu filho, se te ofereceres para servir o Senhor, prepara-te para a prova. Endireita teu coração e sê constante, não te apavores no tempo da adversidade. Une-te a Ele e não separes a fim de seres exaltado no teu último dia. Tudo o que te acontecer, aceita-o, e nas vicissitudes que te humilharem sê paciente, pois o ouro se prova no fogo, e os eleitos, no cadinho da humilhação” (Eclo 2,1-5).
 
É preciso nas contrariedades do cotidiano, sobretudo se inevitáveis, manter a esperança, confiar no amor de Deus, que nos envolve e nos impulsiona, para que jamais recuemos no testemunho da fé, no revigoramento da caridade, virtudes divinas que nos movem, permanentemente, na fidelidade ao Senhor, com a força e presença do Espírito Santo, dom de Deus, e todos os dons que possam nos enriquecer.
 
Vivamos na solidariedade, alegria, coerência e fidelidade na adesão feita ao Cristo Ressuscitado, em total identificação com Aquele a quem amamos, mesmo sem ter visto, pois Ele é o Cristo que, por amor, Se entregou ao Pai em favor de todos nós.
 
Nisto consiste a fé: crer no poder e presença do Senhor, ainda que não O tenhamos visto, mas n’Ele acreditamos, como também nos disse o Senhor, quando Se manifestou aos discípulos, dirigindo a Tomé estas palavras: “Porque viste creste. Felizes os que não viram e creram!” (Jo 20,29).
 
Tão somente deste modo, beberemos de uma fonte genuína e inesgotável de alegria, que é o próprio Senhor Jesus Cristo, que nos ama e nos garante vida plena e feliz, a salvação, e com Ele, chegaremos à glória da Ressurreição.
 
Concluamos com as palavras do Salmista: “O Senhor nos sacia com a fina flor do trigo. E nos farta com o mel que sai da rocha” (cf. Sl 81,17), e assim, satisfeitos e felizes somos, não obstante às provações e dificuldades que tenhamos que enfrentar e superar.



PS: oportuno para a reflexão da passagem do Livro do Eclesiástico (Eclo 2,1-3) (gr. 1-11)

A esperança da vida plena e feliz



A esperança da vida plena e feliz

Sejamos iluminados pelo início da chamada Carta de Barnabé (Séc. II), em que nos fala da esperança da vida como o início e o fim de nossa fé.

“Saúdo-vos na paz, filhos e filhas, em nome do Senhor que nos ama.
Por serem grandes e preciosas as liberalidades que Deus vos concedeu, mais que tudo e intensamente me alegro por vos saber felizes e esclarecidos. Pois assim acolhestes a graça do dom espiritual, enxertada na alma. Por isto ainda mais me felicito com a esperança de ser salvo, ao ver realmente derramado sobre vós o Espírito vindo da copiosa fonte do Senhor.

Estou plenamente convencido e consciente de que ao falar convosco vos ensinei muitas coisas, porque o Senhor me acompanhou no caminho da justiça; e sinto-me fortemente impelido a amar-vos mais do que a minha vida, porque são grandes a fé e a caridade que existem em vós pela esperança da vida.

Tendo em consideração que, se é de meu interesse por vossa causa partilhar convosco algo do que recebi, será minha paga servir a tais pessoas. Decidi, então, escrever-vos poucas palavras, para que, junto com a fé, tenhais perfeita ciência.

São três os preceitos do Senhor: a esperança da vida, início e fim de nossa fé; a justiça, início e fim do direito; caridade alegre e jovial, testemunho das obras de justiça.

Pelos profetas, o Senhor fez-nos conhecer as coisas passadas, as presentes e deu-nos saborear as primícias das futuras. Ao vermos tudo acontecer por ordem, tal como falou, devemos nós, mais ricos e seguros, assimilar o Seu temor.

Quanto a mim, não como mestre, mas como um de vós, mostrarei alguns poucos pontos, pelos quais vos alegrareis nas circunstâncias atuais.

Nestes dias maus, Ele mostra Seu poder; empenhemo-nos, pois, de coração em perscrutar os Mandamentos do Senhor. Nossos auxiliares são o temor e a paciência; apoiam-nos a generosidade e a continência que, aos olhos do Senhor, permanecem castas, no convívio da sabedoria, inteligência, ciência e conhecimento.

Todos os profetas nos revelaram não ter Ele necessidade de sacrifícios nem de holocaustos nem de oblações, dizendo: ‘Que tenho a ver com a multidão de vossos sacrifícios? diz o Senhor. Estou farto de holocaustos, de gorduras dos cordeiros; não quero o sangue de touros e de cabritos, mesmo que venhais à minha presença. Quem exige isto de vossas mãos? Não pisareis mais em meus átrios. Trazeis oblações de farinha? Será em vão. O incenso me é abominável; vossos novilúnios e solenidades, não as suporto (cf. Is 1,11-13)”.

Como discípulos missionários do Senhor, empenhemo-nos em viver os três preceitos do Senhor que Barnabé nos apresenta:

- “a esperança da vida, início e fim de nossa fé”;
- “a justiça, início e fim do direito”;
- “a caridade alegre e jovial, testemunho das obras de justiça”.

Oremos:

Ó Deus de bondade, ajudai-nos a fazer progresso no temor de Vós, com a paciência necessária para que vejamos florir e frutificar frutos de amor e justiça no mundo em que vivemos.

Concedei-nos a generosidade e a continência, e que elas permaneçam puras, vivendo com sabedoria, inteligência, ciência e conhecimento dos Vossos desígnios, ontem, hoje e sempre.

Fortalecei a esperança da vida plena e feliz, que é o início e o fim de nossa fé, quando parecer não mais haver sinais de esperança, e não tenha a última palavra a cultura da morte.

Ajudai-nos a buscar primeiro o Vosso Reino e a justiça, e tudo o mais nos será acrescentado, fiéis à fé que professamos e à Doutrina que nos conduz.

Revigorai em nossos corações a caridade alegre e jovial, a fim de que elas sejam testemunhos credíveis das obras de justiça dentro e fora da Igreja, em todos os âmbitos, na fidelidade a Jesus e com o Santo Espírito. Amém.

"Salve, Rainha”

                                                           


"Salve, Rainha”

“Salve, Rainha”, uma oração milenar de súplica a Nossa Senhora. Com expressões pouco comuns ao nosso vocabulário, retrata situações de dor, solidão, dificuldades enfrentadas em todos os âmbitos.

É também uma homenagem a Maria, que veneramos como Rainha do Céu, da humanidade e da paz, ressaltando algumas de suas virtudes, conforme relatos dos Evangelhos: doçura, misericórdia, clemência e piedade.

“Salve, rainha, mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa! Salve!”
“Salve”! Saudamos a ti, ó Mãe e Rainha do céu e de todo o mundo, de toda a humanidade, em todos os tempos e lugares.

Estás acima de todas as mulheres, mas não distante de nós, porque nos amas como Mãe, e tens amor especial pela vida de todos nós, porque foste e serás sempre sinal de “doçura” e “esperança”, como vimos, sobretudo, ao visitar tua prima Isabel.

Tu és a Mãe que podemos procurar em todos os momentos de nossa vida, sempre pronta a nos socorrer com amor e misericórdia, como fizeste no primeiro sinal de Jesus em Caná da Galileia.

“A vós bradamos, os degredados filhos de Eva.”
A ti bradamos, pedimos socorro, suplicamos em todos os momentos, porque sabemos que estás junto do teu amado Filho e sempre pronta a caminhar com os “degredados” da história, os que são privados da liberdade, afastados de sua gente, de seu país, migrantes, desterrados, por inúmeros fatos, em realidades de flagelo, fome, miséria, dor, enfermidades e morte.

Tu, que disseste “sim” a Deus para ser a Mãe do Salvador, teu Filho, Jesus Cristo, que nos recuperou a filiação que havíamos perdido no Paraíso, pela desobediência de Eva, mãe de todos os viventes, e Adão, o primeiro da criação, o primeiro casal humano criado por Deus.

“A vós suspiramos, gemendo e chorando, neste vale de lágrimas.”
A ti continuamos suplicando, já não mais com palavras, mas com suspiros, gemidos e choros e lágrimas, porque muitas são as dificuldades, dores, tentações a serem enfrentadas e vencidas cotidianamente, na fidelidade ao teu Filho, para que tenhamos vida plena e feliz.

“Eia, pois, advogada nossa...”
Contigo, sempre avante, pois ao te contemplarmos, sentimos renovar em nós o ânimo, o estímulo, a coragem. Sabemos que podemos contigo contar, porque estás sempre pronta a nos ajudar; és nossa advogada, e, com solicitude, nos defenderás, nos recomendando a Deus. Suplicamos em oração tua materna proteção, com o Paráclito que vem em nosso divino auxílio, o Santo Espírito, que em ti agiu e fez maravilhas, te concebendo e fazendo de ti a mãe do Salvador.

“Esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei!”
Maria, pedimos que voltes para nós teus olhos cheios de piedade, graça e perdão; contamos com teu valioso e indispensável auxílio, pois, como Mãe, tu amparas, guardas e proteges teus filhos.

“E depois deste desterro...”
Tu que soubeste o gosto do “desterro”, da fuga necessária para salvar teu Filho no Egito, experimentaste, longe de tua pátria, a solidão, o isolamento e, melhor que ninguém, tens sabedoria para nos ensinar a confiar e a construir um novo céu e uma nova terra, como peregrinos que somos enquanto aqui vivemos.

“Mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre...”
Suplicamos a ti, ó M  ãe, ajuda-nos a fim de que nos mantenhamos firmes e corajosos, seguindo sempre os ensinamentos de teu Filho, Jesus, para que tenhamos d’Ele mesmos sentimentos (Fl 2, 5), totalmente a Ele configurados, de modo que possamos dizer: Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim.”  (Gl 2, 20).

“Ó clemente, ó piedosa, ó doce, sempre Virgem Maria!”
Tu és a pura expressão da doçura e da bondade; estás assentada no cume das virtudes; és abismos de graças, oceano de carismas, como nos falou Santo Amadeu.

“Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.” 

A ti, que és Mãe e Rainha, fazemos um último pedido: recomenda-nos  ao teu Filho, Jesus, Rei e Senhor do Universo, para que mereçamos receber um lugar no Seu Reino. Amém.

“A montanha azul”

                                                          

“A montanha azul”

Com passos firmes, subi à montanha azul, lugar que bem perto se pode encontrar.
Vencendo todo o cansaço e vozes que repetiam em coro: – “você não conseguirá”.
Mas, fôlego renovado, ao topo mais alto que se pode alcançar.

No cume da montanha, apenas o som do vento a escutar,
Ou quando muito, os passos trocados, de um lado para outro.
Olhos fixos no horizonte de um novo amanhecer,
Que não tardará por vir; ainda que as dificuldades pareçam a noite eternizar.

Páginas novas na planície serão escritas, com ousada teimosia,
Contra todos os cantos agourentos que, por vezes, parecem tornar impossíveis
Os mais belos sonhos que podemos ter; no secreto silêncio da alma sonhar.

Mas lá não se pode para sempre ficar; ainda que tentador,
É preciso pisar nos cacos de vidros da planície do cotidiano, com risco de se cortar,
Mas contar com a proteção que nos vem do alto, contra toda forma de perigo,
Pois Ele jamais se afasta daqueles que tanto ama, sendo em todo o tempo,
Nosso abrigo, refúgio, consolo, força e proteção, e jamais nos decepciona.

Cada um de nós precisa desta montanha azul, de momentos de restauração,
Em que nos colocamos despidos diante do Criador, com nossa miséria e limitação.
Envolvidos por Sua divina presença, impelidos a descer para o chão da realidade,
Para ser no mundo, para todos que precisarem, d’Ele, divino sinal,
Sua luz irradiar, no testemunho de uma fé irmanada com a esperança e caridade.


PS: passagens bíblicas - Mt 5,1-12a; Cl 3,1-5.9-11

O Reino dos céus é como uma rede lançada ao mar

                                                           

O Reino dos céus é como uma rede lançada ao mar

Na quinta-feira da 17ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13,47-53), em que Jesus nos apresenta mais uma parábola, exclusiva deste Evangelista,  sobre o Reino dos Céus: a parábola da rede lançada ao mar, e que recolhe todo tipo de peixe.

O Evangelista tinha diante de si uma comunidade imersa na monotonia, na falta de empenho, numa vivência morna da fé, logo, pouco exigente e comprometida.

Deste modo, era necessário buscar uma Palavra do Senhor, para que ela perseverasse diante das perseguições e hostilidades, enfrentando as dificuldades que vão se apresentando na caminhada da comunidade.

Nisto consiste a beleza das Parábolas: revigoram o ânimo, o entusiasmo, ajudam no discernimento e fortalecem no seguimento de Jesus.

A comunidade deve ver no Reino a grande pérola ou tesouro, pelo qual todo sacrifício deve ser feito e toda renúncia não será em vão.

É preciso rever a escala de valores que pautam nossa vida: o que nos seduz, o que consome nossas forças, nosso tempo; bem como refletir sobre a alegria que devemos ter por sermos instrumentos, colaboradores na realização do Reino.

A Parábola da rede e dos peixes leva a comunidade a refletir, mais uma vez, sobre a necessidade da paciência para ver o Reino de Deus acontecer (joio e trigo).

Deus não tem pressa de condenar e destruir. Ele não quer a morte do pecador, por isso, dá ao homem o tempo necessário e suficiente para amadurecer as suas opções e fazer suas escolhas.

Refletimos sobre a Misericórdia de Deus, que se manifesta na tolerância, paciência, sempre desejoso de que em nós aconteça a conversão e o amadurecimento.

Na conclusão da passagem do Evangelho, os discípulos são chamados a compreender e acolher o novo ensinamento proposto, num renovado compromisso e empenho.
  
Reflitamos:

- O que pedimos quando dizemos: “Venha a nós o Vosso Reino”?
- Como vivemos a paciência a serviço do Reino?

-  Como Igreja, estamos a serviço do Reino. Temos consciência desta missão?

Sentimos alegria contagiante ao trabalhar para que o Reino de Deus aconteça?

O melhor Ele já nos deu: O Espírito Santo e os sete Dons (Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus). Empenhemo-nos, decididamente, na construção do Reino, o Espírito nos assiste, a Sabedoria nos é comunicada, incessantemente. 

Como discípulos missionários do Senhor, renovemos nossa alegria de participar da realização do Reino de Deus, como herdeiros da graça em Cristo Jesus, pelo Espírito Santo, no amor do Pai.

Rezando com os Salmos - Sl 70 (71)

 


Vós sois minha esperança, ó Senhor

“–1 Eu procuro meu refúgio em Vós, Senhor:
que eu não seja envergonhado para sempre!
–2 Porque sois justo, defendei-me e libertai-me!
Escutai a minha voz, vinde salvar-me!

–3 Sede uma rocha protetora para mim,
um abrigo bem seguro que me salve!
– Porque sois a minha força e meu amparo,
o meu refúgio, proteção e segurança!

–4 Libertai-me, ó meu Deus, das mãos do ímpio,
das garras do opressor e do malvado!
–5 Porque sois, ó Senhor Deus, minha esperança,
em Vós confio desde a minha juventude!

=6 Sois meu apoio desde antes que eu nascesse,
desde o seio maternal, o meu amparo:
para Vós o meu louvor eternamente!

–7 Muita gente considera-me um prodígio,
mas sois Vós o meu auxílio poderoso!
–8 Vosso louvor é transbordante de meus lábios,
cantam eles Vossa glória o dia inteiro.

–9 Não me deixeis quando chegar minha velhice,
não me falteis quando faltarem minhas forças!
–10 Porque falam contra mim os inimigos,
fazem planos os que tramam minha morte
–11 e dizem: 'Deus o abandonou, vamos matá-lo;
agarrai-o, pois não há quem o defenda!'

–12 Não fiqueis longe de mim, ó Senhor Deus!
Apressai-Vos, ó meu Deus, em socorrer-me!
–13 Que sejam humilhados e pereçam
os que procuram destruir a minha vida!
– Sejam cobertos de infâmia e de vergonha
os que desejam a desgraça para mim!
–14 Eu, porém, sempre em Vós confiarei,
sempre mais aumentarei Vosso louvor!
–15 Minha boca anunciará todos os dias
Vossa justiça e Vossas graças incontáveis.
–16 Cantarei Vossos portentos, ó Senhor,
lembrarei Vossa justiça sem igual!

–17 Vós me ensinastes desde a minha juventude,
e até hoje canto as Vossas maravilhas.
–18 E na velhice, com os meus cabelos brancos,
eu Vos suplico, ó Senhor, não me deixeis!

–19 Ó meu Deus, Vossa justiça e Vossa força
são tão grandes, vão além dos altos céus!
– Vós fizestes realmente maravilhas.
Quem, Senhor, pode convosco comparar-se?

=20 Vós permitistes que eu sofresse grandes males,
mas vireis restituir a minha vida
e tirar-me dos abismos mais profundos.
–21 Confortareis a minha idade avançada,
e de novo me havereis de consolar.

–22 Então, Vos cantarei ao som da harpa,
celebrando Vosso amor sempre fiel;
– para louvar-Vos tocarei a minha cítara,
glorificando-Vos, ó Santo de Israel! –

–23 A alegria cantará sobre meus lábios,
e a minha alma libertada exultará!
–24 Igualmente a minha língua todo o dia,
cantando, exaltará Vossa justiça!
– Pois ficaram confundidos e humilhados
todos aqueles que tramavam contra mim.”

O Salmo 70(71) é uma súplica ao Senhor, no qual se deposita toda a confiança desde a juventude, e descreve as maravilhas realizadas por Ele:

“O salmista afirma que sua vida foi um louvor contínua a Deus. Agora, velho e é perseguido, não sente abalada sua confiança em Deus, cujo poder e justiça deseja cantar à geração seguinte.” (1)

O Apóstolo Paulo, na Carta aos Romanos, exorta que sejamos alegres na esperança, fortes na tribulação e perseverantes na oração (Rm 12,12).

Concluo com as palavras de Santo Agostinho:

Ó Senhor! Sem ti, nada; contigo, tudo [...].
Sem nós, Ele pode muito ou, melhor, tudo;
nós sem Ele, nada”.

 

 

(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – p.784

Não nos curvemos diante das dificuldades...

                                                        


Não nos curvemos diante das dificuldades...

Olhando ao nosso redor, as múltiplas atividades cotidianas, as menores e maiores ações, podemos afirmar sem medo de errar que a correspondência ao amor divino é a garantia da transposição de todos os obstáculos: Quando se ama como Deus ama, são vencidas as dificuldades.

De outro lado, sem amor as mínimas dificuldades ganham novo tamanho, dimensão, e até mesmo se tornam insuperáveis e insuportáveis. 

Quão necessária é a correspondência ao Amor de Deus em perfeita união e sintonia com Seu mais profundo e imensurável Amor por nós!

Bem se expressou o Bispo Santo Agostinho:

Todas estas coisas, não obstante, parecem difíceis aos que não amam; aos que amam, pelo contrário, isso mesmo lhes parece leve. Não há padecimento, por mais cruel e insolente que seja, que o amor não torne fácil ou quase inexistente”.

A alegria deve ser mantida em meio às dificuldades sendo o sinal mais cristalino e indiscutível de que o Amor de Deus inflama e motiva nossas ações:

“Naquilo que se ama, ou não se sente a dificuldade ou ama-se a própria dificuldade [...]. Os trabalhos dos que amam nunca são penosos" (Santo Agostinho).

Esta reflexão é um convite a revermos o modo como realizamos nossas atividades cotidianas e qual a intensidade com que fazemos as coisas que nos são confiadas nos mais diversos espaços em que convivemos.

Iluminado pelas palavras do Bispo, contemplo neste momento tantas situações que são a mais pura expressão do que ele disse:

Contemplo mães/pais que amam seus filhos, embora muitas vezes incompreendidos e até mesmo convivendo com a ingratidão;

Contemplo filhos que cuidam com carinho de seus pais, mesmo quando o declínio natural se manifesta com as limitações próprias da existência;

Contemplo profissionais que cuidam da vida do outro, enfrentando realidades humanas por vezes tão desafiadoras, mas o que conta é o amor com que realizam...

Contemplo agentes de pastorais que não se curvam diante das dificuldades que vão surgindo no desenvolver dos trabalhos; que não recuam, mas avaliam, reorientam, redimensionam, relativizam em nome de um bem maior, do valor absoluto do Reino; que amam a Pastoral e a Igreja, inseparavelmente, que amam as alegrias e as tristezas; amam no êxito, amam no fracasso daquilo que poderia ter sido diferente...

Contemplo outras tantas situações, pessoas de tantos nomes... Contemplo os que não fazem por fazer; não vivem por viver. 

Continuemos esta contemplação...

Movidos pelo amor e pela oração, seremos verdadeiramente contemplativos na ação, como muito bem disse Santo Inácio de Loyola, e retomemos uma afirmação a ele atribuída:  

“Aja como se tudo dependesse de você, sabendo bem que, na realidade,  tudo depende de Deus.” (1)

Jamais nos curvemos diante das dificuldades. Amando como Deus nos ama, o que nos poderá reter, recuar, desistir? 

Concluímos com as palavras do Apóstolo Paulo “Tudo posso n’Aquele que me fortalece.” (Fl 4,13).
 


(1)  (cf. Pedro de Ribadeneira, Vida de S. Inácio de Loyola, Milão, 1998)

Paixão pelo Reino de Deus

                                                    


Paixão pelo Reino de Deus

Reflexão à luz das passagens do Evangelho de Mateus (Mt 13,44-46; Mt 13,47-53).

Com as Parábolas do tesouro escondido encontrado, da pérola preciosa procurada e da rede lançada ao mar, Jesus nos fala do Reino de Deus.

Tesouro, pérola e rede, imagens tão simples usadas por Jesus, que saem de Seus lábios e têm como destino o coração dos pobres e simples, que as compreendem e se alegram, porque aceitam o convite à conversão e ao acolhimento do Reino de Deus, que vem e está se manifestando ao mundo.

Oremos:

Ó Senhor, o que nos ofereceis possui um valor infinito, não tem preço: a alegria de participar do Vosso Reino como alegres discípulos missionários.

Renovamos nossa prontidão na renúncia a tudo pela conquista da Salvação que nos vem de Vós, como dom Vosso e compromisso nosso.

Ó Senhor, ajudai-nos na melhor decisão da acolhida do Vosso Reino, não desperdiçando as ocasiões sagradas oferecidas, em contínua conversão, para que não sejamos contados entre os maus, no fim dos tempos, quando vierdes com Vossos Anjos para o julgamento final.

Suplicamos, ó Senhor, a Vossa sabedoria para que descubramos o tesouro da Lei de Deus como guia de nossa vida, pois somente vivendo a Lei maior do Amor, temos garantidas a vida e a felicidade.

Ó Senhor, que, em tempos de perseguição e dificuldades, estejamos  prontos a deixar tudo para segui-Lo; ajudai-nos a derrotar o mal com Vosso poder, crendo na força que nos vem de Vossa Ressurreição, com a presença e efusão do Vosso Espírito, que nos acompanha, fortalece, aquece nosso coração, abre nosso olhar para o horizonte do Reino.

Iluminai e fortalecei nossos passos, dai-nos coragem para carregarmos nossa cruz cotidiana, com renúncias necessárias, confiantes em Vossa Palavra, pois tudo concorre para o bem daqueles que Vos ama.

Ó Senhor, concedei-nos a graça de, no trilhar do caminho da fé, escutar, acolher e viver a Vossa Palavra sem jamais declinar de nossos sagrados compromissos convosco e com a humanidade, para que a alegria e a vida nova do Reino possam estender suas raízes, e saborosos frutos possam ser colhidos.

Enfim, ó Senhor Jesus, intercedei junto ao Vosso Pai de Amor, fonte de sabedoria, para que nos envieis sempre o Vosso Santo Espírito para descobrirmos o tesouro escondido e a pérola preciosa do Reino.

Concedei-nos o discernimento do Espírito, para que saibamos apreciar, no meio das coisas do mundo, o valor inestimável do Vosso Reino, sempre prontos a qualquer renúncia para conquistarmos os Vossos dons, dando verdadeiro e pleno sentido ao nosso existir, somente assim mais humanos e fraternos seremos.

Predestinados a ser a Vossa imagem e semelhança, nos sintamos contemplados pelo Vosso Amor, e Vos agradeçamos por nos ter chamado para trabalhar em prol do Vosso Reino, por nos ter justificado pelo Sangue Redentor e, por Vossa morte e Ressurreição, nos alcançado a glorificação. Amém. 

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