sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

“Rezemos com amor e confiança...”

 


“Rezemos com amor e confiança...”

Na Santa Missa, quantas vezes ouvimos o Padre dizer: “Rezemos com amor e confiança a Oração que o Senhor nos ensinou”.

Neste sentido, é fundamental o aprofundamento sobre a Oração do “Pai-Nosso”, a partir do Sermão do Bispo e Doutor da Igreja, São Pedro Crisólogo (séc. V).

“Pai nosso que estais nos céus. Quando digas isto, não penses que Deus não Se encontra na terra nem em algum lugar determinado; medita antes que você é da estirpe celeste, que tens um Pai no céu e, vivendo santamente, corresponde a um Pai tão Santo.

Santificado seja o Teu nome. Se somos de tal estirpe, também levamos o Seu nome. Portanto, este nome que em si mesmo e por si mesmo já é Santo, deve ser santificado em nós. O nome de Deus é honrado e blasfemado de acordo com as nossas ações, pois escreve o Apóstolo: o nome de Deus é blasfemado por vossa causa entre as nações.

Venha o Teu Reino. Por acaso Deus não reina? Aqui pedimos que, reinando sempre por seu lado, reine em nós de modo que possamos reinar n’Ele. Até agora imperou o diabo, o pecado, a morte, e a mortalidade foi escrava durante longo tempo. Peçamos, pois, que reinando Deus, pereça o demônio, desapareça o pecado, morra a morte, o cativeiro seja feito prisioneiro, e nós possamos reinar livres na vida eterna.

Faça-se a Tua vontade assim na terra como no céu. Este é o reinado de Deus: quando no céu e na terra impere a vontade divina; quando somente o Senhor esteja em todos os homens, então Deus vive, Deus obra, Deus reina, Deus é tudo, para que, como diz o Apóstolo, Deus seja tudo em todas as coisas.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Quem Se deu a nós como Pai, quem nos adotou por filhos, quem nos fez herdeiros, quem nos transmitiu Seu nome, Sua dignidade e Seu Reino,nos ordena pedir o alimento cotidiano.
O que busca a humana pobreza no Reino de Deus entre os dons divinos? Um Pai tão bom, tão piedoso, tão generoso, não dará o pão aos filhos se não o pedirmos? Se assim fosse, por que Ele diz: não vos preocupeis pelo alimento, a bebida ou a veste?

Manda pedir o que não deve preocupar-nos, porque como Pai celestial quer que Seus filhos celestiais busquem o Pão do céu. Eu sou o Pão vivo que desceu do céu. Ele é o Pão nascido da Virgem, fermentado na carne, confeccionado na paixão e colocado nos Altares para ministrar cada dia aos fiéis o Alimento Espiritual.

E perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoarmos aos nossos ofensores. Se tu, homem, não consegues viver sem pecado e por isso buscas ser perdoado. Já que desejas sê-lo totalmente, perdoa tudo e pensa que, perdoando aos demais, perdoas a ti mesmo.

E não nos deixeis cair em tentação. No mundo a própria vida é uma prova, pois o Senhor nos garante: a vida do homem é uma tentação. Peçamos, portanto, que Ele não nos abandone ao nosso arbítrio, mas que em todo momento nos guie com piedade paterna e nos confirme no caminho da vida com moderação celestial.

Mas livra-nos do mal. De que mal. Do diabo, de quem procede todo mal. Peçamos que nos guarde do mal, porque, caso contrário, não poderemos gozar do bem.” (1)

Esta é a Oração que o Senhor nos ensinou, quando os discípulos pediram para que Ele os ensinasse a rezar.

Talvez tenhamos aprendido, ou melhor, decorado a fórmula. Uns mais cedo outros mais tarde; com mais ou menos facilidade.

Mas isto não é o suficiente, pois importa que compreendamos o conteúdo de cada palavra que o Senhor nos comunicou e que, uma vez compreendida, não meçamos esforços para viver o que rezamos.

Não podemos rezar a oração que o Senhor ensinou como uma mera repetição, sem ressonâncias concretas em nossa vida, seja em relação a Deus, seja em relação ao próximo.

A Oração que o Senhor nos ensinou, se rezada com autenticidade e prolongada na vida, nos fará melhores, tornando todos e tudo ao nosso redor melhor, pois Deus, que tanto nos ama, merece que sejamos cada vez melhores, e somente o seremos se a Oração for, na exata medida, a sede que Deus tem de dialogar conosco, e nossa sede de dialogar com Ele, para que nossa vida seja mais conforme a Sua santa vontade, e assim seremos plenos de alegria, comprometidos com a novidade do Reino, empenhados na construção de um novo céu e uma nova terra, rumo à eternidade.


(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes, 2013 – pp.686-687.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG