Uma Igreja
misericordiosa e missionária
“Eu quero, sê purificado” (Lc 5,13)
Reflexão à luz da passagem do Evangelho de
Lucas (Lc 5,12-16), que tem passagens paralelas nos Evangelhos de Mateus e
Marcos (Mc 1,4-45; Mt 8,1-4).
Contemplemos a ação de Deus, que Se revela pleno de Amor, bondade e
ternura, através de Sua ação que acolhe, cura, liberta e integra a todos na
vida da comunidade.
Nisto consiste a vontade de Deus: que se supere toda forma de
discriminação e marginalização, e a comunidade deve empenhar-se, com sabedoria
e coragem, para que isto se torne uma realidade.
Voltemos à passagem do Livro de Levítico (Lv 13, 1-2.44-46), que nos
apresenta “a lei da pureza”, e uma visão deturpada de Deus que leva à invenção
de mecanismos que discriminam, rejeitam e excluem em nome de Deus, numa total
marginalização.
Dentre as impurezas, a lepra era considerada a mais grave, de modo que
quem por ela fosse acometido, deveria ser segregado e afastado da convivência
diária com outras pessoas, e tal medida tinha uma intenção higiênica e também
para evitar o contágio.
Mais grave ainda, era considerado um pecador, amaldiçoado por Deus e
indigno de pertencer à comunidade do Povo de Deus e não podia ser admitido nas
assembleias em que Israel celebrava o culto na presença do Deus Santo.
Voltando à passagem do Evangelho, o leproso curado por
Jesus, inaugura um novo modo de relacionamento, destruindo o triste
mecanismo de marginalização que exclui estes do convívio social e da própria
comunidade.
Jesus, com Sua Palavra e ação, cura e integra a todos na comunidade do
Reino, sem jamais compactuar com a discriminação, exclusão, racismo ou qualquer
outra forma de marginalização.
Com a Sua ação revela a face de um Deus cheio de Amor que vem ao encontro
da nossa humanidade e da nossa condição pecadora e enferma, para nos curar e
nos redimir.
Jesus, rosto da Misericórdia de Deus, toma para Si nossas dores e
sofrimentos e nos comunica a chegada do Reino de Deus, porque completou-se o
tempo esperado: novos tempos são inaugurados pela Sua presença e ação: a cura
do leproso revela o Amor de Deus que cura, liberta, integra e impulsiona para o
testemunho:
"A voz
de Jesus, porém, é ainda mais profunda: ao decretar 'fica curado', penetra até
nas entranhas daquele homem maldito e declara-o transformado, transparente e
puro; todo o perdão de Deus está presente nesta frase.
O perdão de
Deus que Jesus ofereceu aos marginalizados da terra tem que ser agora o
fundamento da vida da Igreja... Só quando destruir todas as barreiras, só
quando congregar todos como irmãos, a Igreja será lugar de Deus na terra. Então
será satisfeita a antiga esperança messiânica da cura dos leprosos". (1)
Oportunas as palavras da Igreja, para refletirmos sobre a íntima união
da Igreja com toda a família humana:
“As
alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje,
sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as
esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há
realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu
coração.
Porque a
sua comunidade é formada por homens, que, reunidos em Cristo, são guiados pelo
Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do Reino do Pai, e receberam a
mensagem da salvação para a comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja
sente-se real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história”. (2)
Reflitamos:
- Quais são as enfermidades que ainda hoje levam à
exclusão e à marginalização?
- Até que ponto nossa ação também acolhe, liberta e
integra na comunidade e na sociedade?
- De que modo os marginalizados e excluídos se
abrem para a acolhida e integração na comunidade e na sociedade?
- Como vivemos a fidelidade ao Senhor, tendo d’Ele
mesmos pensamentos e sentimentos?
- Como expressamos em nossa vida o amor, a ternura
e a bondade de Deus para com o nosso próximo?
- Sabemos renunciar a direitos pessoais por bem
maiores em favor de outros?
Sejamos na fidelidade ao Senhor, uma Igreja verdadeiramente misericordiosa
e missionária, que viva a acolhida, o perdão, a integração de todos na vida da
comunidade, com amor e alegria que gera comunhão, solidariedade e fraternidade.
Deste modo, participaremos da missão da construção
do Reino: acolhidos, amados e curados para acolher, amar e curar num círculo
que não pode se fechar, interromper.
(1) Comentários à Bíblia Litúrgica - Gráfica de
Coimbra 2 - pág. 1076-1077
(2) Constituição Pastoral Gaudium Et Spes sobre a Igreja no mundo atual (n.1).


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