quarta-feira, 3 de abril de 2024

Nas entrelinhas do quotidiano

Nas entrelinhas do quotidiano

“Bem-aventurados os pobres em espírito
porque deles é o Reino dos céus” (Mt 5, 3)

Um vidro, com sua fragilidade, pode conter algo que nos faça melhores, revigorados, salutares, como também pode conter algo que nos entorpeça, nos fragilize, dependendo de seu conteúdo, conscientemente tomado ou consumido.

Um vidro que pode se despedaçar em cacos, fazer perder o que talvez tivéssemos como valioso, mas que por um deslize ou um lapso, pomos tudo a perder e não há como esta situação reverter.

Um vidro e seus estilhaços, que para mais nada servem, a não ser recolhido, descartado, com os cuidados devidos sem risco para quem os manipular, e males maiores não multiplicar.

Um vidro com limpidez e transparência, ou que oculte o que nele é contido, mas cumprindo sua função: o conteúdo reter, e sem nenhuma pretensão maior possuir, com sua tampa e hermetismo desejável.

O vidro e a vida... Que relação haverá?
Cabe a cada um as respostas encontrar...

Uma vitrine de um quarto nos separa do mundo lá fora, e nos sentimos protegidos, seguros, isolados do mal que no mundo prolifera, com seus gritos, prantos, e clamores, em rostos e faces que não ocultam suas dores.

Uma vitrine de uma loja com sua sedução consumista, pelo efeito da luz, cores, decoração, falando aos nossos olhos, num fetiche devorador, criando em nós pseudo necessidades, como que uma Boa-Nova: “Bem-aventurados sereis se me comprardes e me possuírdes”
Uma vitrine virtual, que também nos convida à comodidade da aquisição, sem o encontro com o outro, num simples toque do teclado, olhar na tela, e senhas e códigos oferecidos, o bem comprado, desejo realizado e assim somos no “E-commerce” incluídos.

Uma vitrine também algo diferente pode proteger, bastando-nos apenas olhar, contemplar, e os pensamentos elevar, ou em inspirações e elevações do espírito, convidando-nos à súplicas e orações.

A vitrine e a vida... Que relação haverá?
Cabe a cada um as respostas encontrar.

Uma vidraça que separa as pessoas, como que dizendo: “Até aqui podes chegar; “Contenha-te, pois deves saber qual é o teu lugar”. Aparentemente impossível os limites romper, porque aqui ou ali não se pode entrar, pois a sociedade define qual o lugar e o não lugar em que se pode estar.

Uma vidraça que protege como uma lâmina de vidro, marcando mundos complexos e distintos, caracterizando a sociedade em que vivemos e construímos, com limites, diferenças, contrastes, que expressam a desigualdade social, por vezes absurda e insana.

Uma vidraça que também nos desperta sentimentos e reflexões, sobretudo se nosso olhar a transpassa numa noite fria, em que as gotas da chuva escorrem lentamente, como lágrimas que vertem de rostos já tão marcados, endurecidos e frios como uma  vidraça.

Uma vidraça que pode ser levantada, para que o ar penetre, a suave brisa nos envolva, e o perfume, a fragilidade e a beleza das flores do jardim invadam nossos sentidos, como que nos convidando a recriar novos espaços, expressão de um Paraíso a ser construído.

A vidraça e a vida... Que relação haverá?
Cabe a cada um as respostas encontrar.

Vidros, vitrines e vidraças fazem parte de nosso quotidiano. Vê-los, tocá-los e ler nas entrelinhas o que eles nos dizem. E na leitura destas entrelinhas, não nos perdermos em labirintos, para que tenhamos olhos fixos em tudo que nos garanta plena vida e felicidade.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG