domingo, 21 de abril de 2024

O Senhor nos conduz aos céus (IVDTPC)

O Senhor nos conduz aos céus

Aprofundando a Liturgia do 4º Domingo da Páscoa (ano C) e, também, da terça-feira da 4ª semana da Páscoa, apresento sete verbos, como que uma escada de sete degraus que devemos subir para alcançar o céu, o mais belo anseio que devemos nutrir.

Cremos que nosso destino é o céu, o encontro definitivo com Deus, quando O veremos face a face, como nos falou o Apóstolo João em sua Epístola (1 Jo 3,1-3). No entanto, este destino nos coloca diante de irrenunciáveis e intransferíveis compromissos sagrados, desde o dia de nosso Batismo, sobretudo porque somos ovelhas do rebanho do Senhor, Jesus Cristo, o Bom Pastor.

Estas ações exprimem a relação entre o Divino pastor e Suas ovelhas que somos, cuja segurança é garantida pelo Pai, com quem o Senhor é um – “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30).

1 -  “escutar” – O degrau da escuta da voz divina.
A vida cristã pressupõe uma atenta escuta da voz de Deus que nos fala em todos os momentos. A Sagrada Escritura nos apresenta inúmeras passagens em que somos interpelados a ouvir a voz de Deus.

A escuta atenta à Sua voz, que nos fala no mais profundo da alma, é o colocar em prática; é certeza de vida plena e feliz, e um degrau indispensável rumo à eternidade.

De outro lado, a não escuta a voz de Deus, ou mesmo a escuta de “outras vozes” que o mundo multiplica, leva-nos a perda da felicidade e do sentido da vida. Absolutamente nada prospera ou frutifica, quando não ouvimos a voz de Deus e Sua vontade, que haveremos de colocar em prática, acima de tudo.

2 – “conhecer” – O degrau da intimidade que devemos manter com Deus.
O Senhor nos conhece profundamente: conhece nossas alegrias e tristezas, forças e fragilidades, pensamentos. O Salmista bem expressou este conhecimento que Deus tem a nosso respeito. Nada sobre nós é indiferente a Ele (Sl 138). Se há algo que não podemos lamentar é a indiferença de Deus para conosco. Célebre passagem também encontramos no Livro do Êxodo (3, 1-15).

3 – “seguir” – O degrau do seguimento carregando nossa cruz de cada dia.
Seguir o Bom Pastor, porque Ele também é, ao mesmo tempo, o Caminho, a Verdade e a Vida. Não só conduz, mas Se fez o próprio Caminho. Não somente nos fala da verdade que nos liberta, mas é a própria Verdade que orienta nossos passos. Somente O seguindo é que não nos perderemos pelos caminhos e descaminhos que a vida nos oferece. Segui-Lo por amor, com fidelidade permanente, com renúncias necessárias, tomando a nossa cruz, sem vacilar na fé, esmorecer na esperança e esfriar na caridade.

4 – “doar a vida” – O degrau da doação da vida expressa em serviço; numa entrega alegre e confiante de si mesmo.

Ao contrário de mercenários, que fogem quando as ovelhas estão em apuro, ou até mesmo exploram as ovelhas (Ez 34), Jesus é o Bom Pastor que dá a vida pelo Seu rebanho, vida plena, feliz e eterna. Doa-Se amando, acolhendo, perdoando, curando, redimindo, libertando, partilhando, fazendo o que preciso for para o que o rebanho não fique fragilizado e inseguro. Doamos a vida na certeza de que o grão de trigo morre para não ficar só, mas que morrendo produz muitos frutos (Jo 12, 24).

5 – “anunciar” – É o degrau do anúncio da Palavra, que ilumina e orienta a nossa vida. Palavra que também é Pão que alimenta nossa fé.
Não tem como pertencer ao rebanho do Senhor e não sentir-se comprometido em anunciar ao mundo a Palavra deste Bom Pastor, que uma vez encontrado, muda nossa vida, dá um novo sentido e alarga nossos horizontes. Pertencentes a este rebanho, temos a graça e o dever de anunciar a Palavra de Deus, para que mais pessoas venham a pertencer a este rebanho e também subir os mesmos degraus aos quais nos propusemos (At 13,14.43-52).

6 – “Lavar”  - O degrau do corajoso testemunho da fé, da vivência de nosso batismo como profetas, sacerdotes, rei e pastor.

Na passagem do Livro do Apocalipse (Ap 9,14-17), o autor sagrado nos fala de uma visão: uma multidão vestida de branco, com palmas nas mãos diante do Cordeiro, que é o próprio Jesus.

É uma sumária e bela apresentação do céu, sem fome e sede, onde nem o sol ou o vento ardente cai sobre eles, e são conduzidos às fontes de água viva e todas as lágrimas dos olhos são enxugadas.

Esta multidão incontável, de pé (vitoriosos) diante do trono e na presença do Cordeiro, são os que vieram da grande tribulação, lavaram e branquearam suas vestes no Sangue do Cordeiro. Numa palavra: deram corajoso testemunho da fé, alguns até mesmo passando pelo ápice do testemunho: o martírio, o derramamento do sangue.

7 – “Entrar” – O degrau do céu, nosso desejo e destino: plenitude de luz, paz, amor, alegria...
Deus nos criou por amor, para vivermos em relação profunda e intensa de amor com Ele no tempo presente. Inseridos na comunhão do amor Trinitário, darmos passos silenciosos e sucessivos rumo ao encontro definitivo com Ele e com todos os que nos antecederam na glória dos céus.

É nosso último degrau, aonde alguns já chegaram e com eles estamos unidos em permanente oração, pela comunhão dos santos que cremos e rezamos.

Jamais desistamos de subir esta escada, ainda que exigente seja. Pois, tão somente assim, o amor a Deus, o primeiro na ordem dos Preceitos, andará de mãos dadas com o amor ao próximo, o primeiro como cumprimento, como tão bem expressou Santo Agostinho:

“Esses dois Preceitos devem ser sempre lembrados, meditados, conservados na memória, praticados, cumpridos. O amor de Deus ocupa o primeiro lugar na ordem dos Preceitos, mas o amor do próximo ocupa o primeiro lugar na ordem da execução. Pois, quem te deu esse duplo preceito do amor não podia ordenar-te amar primeiro ao próximo e depois a Deus, mas primeiramente a Deus e depois ao próximo”. 

Em Antioquia, pela primeira vez, os seguidores de Jesus foram chamados de cristãos (At 11,19-26). Cristãos, de fato, sejamos subindo escada que nos leva aos céus, mas que não nos exime de sagrados compromissos com a vida da humanidade e do planeta, nossa casa comum, como nos falou também o Papa Francisco em sua Encíclica “Laudato Si”.

Sejamos cristãos, de fato, com palavras e atos, sempre iluminados pela Palavra, que é Pão e Luz; que nos sacia e nos ilumina, sempre revigorados e nutridos pelo salutar Pão de Eternidade, o Pão da Eucaristia.

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