“As
pérolas preciosas conduzem à pérola de grande valor”
Sejamos
iluminados pelo Sermão n. 10 sobre a pérola de grande valor, escrito por
Orígenes (séc.III), à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13,44-52).
“O texto que buscava pérolas preciosas podem
compará-lo com este: buscai e achareis;
e com este outro: quem busca, encontra. Por
que se diz buscai e quem busca encontra? Arrisco a ideia de que se trata ‘das’
pérolas e ‘a’ pérola, pérola que adquire o que deu tudo e aceitou perder tudo,
pérola a propósito da qual diz Paulo: Eu
perdi tudo para ganhar a Cristo. Ao dizer ‘tudo’ se refere às pérolas
preciosas; e ao referir ‘para ganhar a Cristo’ aponta para a única pérola de
grande valor.
Preciosa é a
lâmpada para aqueles que vivem nas trevas, e seu uso é necessário até que se
levante o sol; preciosa era também a glória que irradiava a face de Moisés e
penso que também a dos profetas: espetáculo tão maravilhoso que, graças a ele,
nos abrimos à possibilidade de contemplar a glória de Cristo, glória para a
qual o Pai presta testemunho, dizendo: Este
é o meu Filho amado, meu predileto.
Aquele esplendor
já não é esplendor, eclipsado por esta glória incomparável, e nós necessitamos,
em um primeiro momento, de uma glória suscetível de desaparecer para dar lugar
a uma glória mais excelente, assim como temos necessidade de um conhecimento ‘parcial’,
que será extinto quando chegar o perfeito.
Assim, toda alma
que adere à primeira infância e caminha para a perfeição necessita, até que o
tempo se cumpra, de pedagogo, tutores e curadores, para que ao chegar à idade
prefixada por seu pai, aquele que em nada se diferenciava de um escravo, sendo
senhor de tudo, receba, uma vez libertado da mão do pedagogo, dos tutores e
curadores, seus bens patrimoniais, comparáveis à pérola de grande valor e à
futura perfeição que extingue com o que é parcial, no momento em que for capaz
de aderir à excelência do conhecimento de Cristo, depois de exercitar-se
naqueles conhecimentos que, por assim dizer, estão sob o conhecimento de
Cristo.
Porém, a grande
massa, que não captou a beleza das numerosas pérolas da lei, nem o conhecimento
ainda ‘parcial’ que se encontra em todas as profecias, imaginam-se poder
encontrar – sem antes ter esclarecido e compreendido perfeitamente essas
riquezas – a única pérola de grande valor e contemplar a excelência do
conhecimento de Cristo, em comparação da qual pode-se dizer que tudo o que
precedeu a tão elevado e perfeito conhecimento, sem ser por sua própria
natureza lixo, aparece como tal, pois se pode compará-la ao esterco que o
Senhor da vinha lança ao redor da figueira, para que produza mais fruto.
Assim, tudo tem o seu tempo e ocasião, todas as
tarefas debaixo do sol: tempo de recolher
pedras, isto é, pérolas preciosas, e depois de tê-las recolhido, tempo de
encontrar a única pérola de grande valor, momento em que é preciso vender tudo
o que se possui e comprá-la.” (1)
Como discípulos
missionários do Senhor, estamos em permanente vigilância e discernimento do que
é passageiro ou eterno, do que realmente tem valor ou não.
Com a Sabedoria
do Espírito, façamos os necessários discernimentos, sobretudo em nossa ação
evangelizadora, nos consumindo tão apenas por aquilo que vale a pena, sem
esgotamentos, cansaços inúteis e estéreis.
Oremos:
“Ó Deus, sois o amparo dos que em Vós
esperam e, sem Vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de
amor para conosco, para que, conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens que
passam, que possamos abraçar os que não passam. Por nosso Senhor Jesus Cristo,
Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!” (2)
(1)
Lecionário Patrístico
Dominical, Editora Vozes – 2013 - pp. 184-185.
(2) Oração do dia da Missa do 17º Domingo do Tempo Comum
Nenhum comentário:
Postar um comentário