Capítulo V
LUTA, VIGILÂNCIA E DISCERNIMENTO
A vida
cristã é luta permanente: “A vida cristã
é uma luta permanente. Requer-se força e coragem para resistir às tentações do
demônio e anunciar o Evangelho. Esta luta é magnífica, porque nos permite
cantar vitória todas as vezes que o Senhor triunfa na nossa vida” (n. 158).
A luta e a vigilância
Uma luta
contra o demônio, príncipe do mal; uma luta contra o mundo e a mentalidade
mundana, que nos engana, atordoa e torna medíocres, sem empenhamento e sem
alegria; uma luta contra a própria fragilidade e as próprias inclinações (cada
um tem a sua: para a preguiça, a luxúria, a inveja, os ciúmes, etc. (n.159).
O demônio não é um mito, uma representação, um símbolo, uma figura
ou uma ideia:
Este poder
maligno está no meio de nós, tem uma força destruidora tão grande (n 160)..
Não se pode
diminuir a vigilância:
“O demônio não precisa de nos possuir.
Envenena-nos com o ódio, a tristeza, a inveja, os vícios. E assim, enquanto
abrandamos a vigilância, ele aproveita para destruir a nossa vida, as nossas
famílias e as nossas comunidades, porque, ‘como um leão a rugir, anda a
rondar-vos, procurando a quem devorar’ (1
Pd 5, 8)” (n.161).
Despertos e confiantes:
“A Palavra
de Deus convida-nos, explicitamente, a resistir ‘contra as maquinações do diabo’
(Ef 6, 11) e a ‘apagar todas as setas incendiadas do maligno’ (Ef 6,
16)” (n.162).
Para a
luta, temos as armas poderosas que o Senhor nos dá: a fé que se expressa na
oração, a meditação da Palavra de Deus, a celebração da Missa, a adoração
eucarística, a Reconciliação sacramental, as obras de caridade, a vida
comunitária, o compromisso missionário. (n.162).
A corrupção espiritual:
“Pois, quem não se dá conta de cometer
faltas graves contra a Lei de Deus, pode deixar-se cair numa espécie de
entorpecimento ou sonolência. Como não encontra nada de grave a censurar-se,
não adverte aquela tibieza que pouco a pouco se vai apoderando da sua vida
espiritual e acaba por ficar corroído e corrompido” (n.164).
O que é a
corrupção espiritual:
“...é pior que a queda dum pecador,
porque trata-se duma cegueira cômoda e autossuficiente, em que tudo acaba por
parecer lícito: o engano, a calúnia, o egoísmo e muitas formas sutis de
autorreferencialidade, já que ‘também Satanás se disfarça em anjo de luz’ (2 Cor 11, 14). Assim acabou os
seus dias Salomão, enquanto o grande pecador David soube superar a sua miséria” (n.165)
O discernimento
“O discernimento não requer apenas uma
boa capacidade de raciocinar e sentido comum, é também um dom que é preciso
pedir. Se o pedirmos com confiança ao Espírito Santo e, ao mesmo tempo, nos
esforçarmos por cultivá-lo com a oração, a reflexão, a leitura e o bom
conselho, poderemos certamente crescer nesta capacidade espiritual”. (n.166)
Uma necessidade imperiosa:
“Hoje em dia, tornou-se particularmente
necessária a capacidade de discernimento, porque a vida atual oferece enormes
possibilidades de ação e distração, sendo-nos apresentadas pelo mundo como se
fossem todas válidas e boas. Todos, mas especialmente os jovens, estão sujeitos
a um zapping constante.
É possível navegar simultaneamente em dois ou três visores e interagir ao mesmo
tempo em diferentes cenários virtuais. Sem a sapiência do discernimento,
podemos facilmente transformar-nos em marionetes à mercê das tendências da
ocasião” . (n.167)
“...Somos
livres, com a liberdade de Jesus, mas Ele chama-nos a examinar o que há dentro
de nós – desejos, angústias, temores, expectativas – e o que acontece fora de
nós – os ‘sinais dos tempo’ –, para reconhecer os caminhos da liberdade plena: ‘examinai
tudo, guardai o que é bom’ (1 Ts 5, 21)”. (n.168)
Sempre à luz do Senhor:
O
discernimento é um instrumento de luta, para seguir
melhor o Senhor (n.169)
O discernimento é um dom sobrenatural:
Ele não
exclui as contribuições de sabedorias humanas, existenciais, psicológicas,
sociológicas ou morais; mas transcende-as – “Não bastam sequer as normas sábias da Igreja. Lembremo-nos sempre de
que o discernimento é uma graça. Embora inclua a razão e a prudência,
supera-as, porque trata-se de entrever o Mistério daquele Projeto, único e
irrepetível, que Deus tem para cada um e que se realiza no meio dos mais
variados contextos e limites”. (n.170)
O necessário
silêncio da oração prolongada para perceber melhor a linguagem, para interpretar o significado
real das inspirações que julgamos ter recebido, para acalmar ansiedades e
recompor o conjunto da própria vida à luz de Deus. (n.171).
O
discernimento requer a disposição para a escuta do que o Senhor quer nos dizer,
e somente esta disposição confere a liberdade de renunciar o ponto de vista parcial e insuficiente,
aos hábitos e os esquemas.(n.172)
Esta escuta
implica na obediência ao Evangelho como último critério, mas também ao
Magistério que o guarda, procurando encontrar no tesouro da Igreja aquilo que
pode ser mais fecundo para o hoje da salvação, com o auxílio do Espírito
(n.173).
A lógica do dom e da cruz:
O
discernimento requer o educar-se para a paciência de Deus e os seus tempos, que
nunca são os nossos: “Ele não faz descer fogo do céu sobre os incrédulos
(cf. Lc 9, 54), nem permite aos zelosos arrancar o joio que
cresce juntamente com o trigo (cf. Mt 13, 29). Além disso
requer-se generosidade, porque ‘a felicidade está mais em dar do que em receber’
(At 20, 35)” (n.174).
“Mas é
necessário pedir ao Espírito Santo que nos liberte e expulse aquele medo que
nos leva a negar-Lhe a entrada nalguns aspetos da nossa vida... Isto mostra-nos
que o discernimento não é uma autoanálise presuntuosa, uma introspeção egoísta,
mas uma verdadeira saída de nós mesmos para o Mistério de Deus, que nos ajuda a
viver a missão para a qual nos chamou a bem dos irmãos” n.175).
Antes de
finalizar apresenta Maria aquela que:
- como
ninguém viveu as Bem-Aventuranças de Jesus;
- estremecia
de júbilo na presença de Deus;
- conservava
tudo no seu coração e Se deixou atravessar pela espada;
- é a mais
abençoada dos santos entre os santos;
- nos
mostra o caminho da santidade e nos acompanha;
- quando
caímos, não aceita deixar-nos por terra e, às vezes, leva-nos nos seus braços
sem nos julgar.
“Conversar
com Ela consola-nos, liberta-nos, santifica-nos. A Mãe não necessita de muitas
palavras, não precisa que nos esforcemos demasiado para lhe explicar o que se
passa conosco. É suficiente sussurrar uma vez e outra: «Ave Maria...». (n.176)
Conclui com
o desejo de que a Exortação seja útil, para que toda a Igreja se dedique a
promover a santidade:
“Peçamos ao Espírito Santo que
infunda em nós um desejo intenso de ser santos para a maior glória de Deus; e
animemo-nos uns aos outros neste propósito. Assim, compartilharemos uma
felicidade que o mundo não poderá tirar-nos”. (n.177).
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