terça-feira, 11 de março de 2025

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Nada podemos sem a Palavra do Senhor

                                                   


Nada podemos sem a Palavra do Senhor

“A Palavra de Deus é substância vital de nossa alma;
ela a alimenta, a apascenta e a governa e não há outra coisa,
fora da Palavra de Deus, que possa viver a alma do homem” (1)

Senhor, convosco aprendemos que nos momentos de tentação, só há um meio para não cair: agarrar-se firmemente à Palavra de Deus rico em misericórdia, como Vós fizestes.

Senhor, Vos pedimos que esta Palavra esteja sempre junto de nós, na nossa boca e no nosso coração, em todos os momentos, favoráveis ou adversos, iluminando nossos caminhos.

Senhor, que acreditemos incondicionalmente em Vós, que conosco estais, Ressuscitado dos mortos, e que quando invocamos o Vosso Nome, somos ouvidos e atendidos.

Senhor, somos membros do Vosso Povo, nascido de um grupo de arameus errantes, do qual o Pai Vos  pusestes à frente para conduzir até Ele, na glória da eternidade.

Senhor, cremos que jamais seremos vencidos se permanecermos unidos a Vós, videira divina do Pai, nutridos perenemente com a Seiva do Santo Espírito, a Seiva do Amor.

Senhor, convosco queremos viver a Quaresma, como tempo favorável de nossa salvação, crendo que ela não é um presente que nós a Deus fazemos; mas, antes, um presente que por amor uno e trino, Deus nos oferece. (2)

Portanto, Senhor, conduzi-nos nesta viagem espiritual da Quaresma para a Vossa Páscoa, da qual a Eucaristia é, simultaneamente, memorial e penhor. Amém.


Fonte inspiradora: Missal Dominical e Quotidiano – Ed. Paulus – Lisboa p.301.
(1)         Santo Ambrósio, Exp. Os 118, 11,29).
(2)        O Verbo Se faz carne – Raniero Cantalamessa. - Editora  Ave Maria - 2013 - p.532 – 

Em poucas palavras...

                                                  


A Oração dominical

“«A oração dominical é verdadeiramente o resumo de todo o Evangelho»(Tertuliano). «Depois de o Senhor nos ter legado esta fórmula de oração, acrescentou ‘Pedi e recebereis’ (Jo 16, 24).  Cada um pode, portanto, dirigir ao céu diversas orações segundo as suas necessidades, mas começando sempre pela oração do Senhor, que continua a ser a oração fundamental» (Tertuliano).”  (1)

 

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n.2761 - sobre a Oração do "Pai-Nosso"


No “Pai-Nosso”, tudo que precisamos, encontramos

                                                      


No “Pai-Nosso”, tudo que precisamos, encontramos

Sejamos enriquecidos por este texto da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo (Séc. V), sobre a oração do “Pai-Nosso”.

Quem diz, por exemplo: Sê glorificado em todos os povos, assim como foste glorificado em nós (Eclo 36,3) e: Sejam reconhecidos fiéis os Teus profetas (Eclo 36,15), o que diz senão: Santificado seja o Teu nome?

Quem diz: Deus dos exércitos, converte-nos e mostra Tua face e seremos salvos (Sl 79,4), o que diz senão: Venha o Teu reino?

Quem diz: Orienta meus caminhos segundo Tua palavra e nenhuma iniquidade me dominará (Sl 118,133), o que diz senão: Seja feita Tua vontade assim na terra como no céu?

Quem diz: Não me dês indigência nem riquezas (Pr 30,8) o que diz senão: O pão nosso de cada dia dá-nos hoje?

Quem diz: Lembra-Te, Senhor, de Davi e de sua mansidão (Sl 131,1) ou Senhor, se assim agi, se há iniquidade em minhas mãos, se paguei o bem com o mal (cf. Sl 7,14), o que diz senão: Perdoa nossas dívidas assim como perdoamos a nossos devedores?

Quem diz: Arrebata-me de meus inimigos, ó Deus, e dos que se levantam contra mim liberta-me (Sl 58,2), o que diz senão: Livra-nos do mal?

E se percorreres todas as palavras das santas preces, em meu parecer, nada encontrarás que não esteja contido nesta oração dominical ou que ela não encerre. Por isto cada qual ao orar é livre de dizer estas ou aquelas palavras, mas não pode sentir-se livre de dizer coisa diferente.

Sem a menor dúvida, é isso que devemos pedir na oração, por nós, pelos nossos, pelos estranhos e até pelos inimigos; uma coisa para este, outra para aquele, conforme o parentesco mais próximo ou mais afastado, segundo brote ou inspire o sentimento no coração do orante.

Sabes, agora, assim penso, não apenas como rezar, mas o que rezar; não fui eu o mestre, mas aquele que se dignou ensinar-nos a todos nós.

A vida feliz, a ela temos de tender, temos de pedi-la ao Senhor Deus. O que seja ser feliz tem sido muito e por muitos discutido. Nós, porém, para que irmos atrás de muitos e de muitas coisas?

Na Escritura de Deus, com toda a verdade e concisão, se diz: Feliz o povo que tem por Senhor o próprio Deus (Sl 143,15). Para sermos deste povo, chegar a contemplar a Deus e com ele viver sem fim, a meta do preceito é a caridade com um coração puro, consciência boa e fé sem hipocrisia (cf. 1Tm 1,5).

Nestes três objetivos, a esperança corresponde à boa consciência. Portanto a fé, a esperança e a caridade levam a Deus o orante, aquele que crê, que espera, que deseja e que presta atenção ao que pede ao Senhor na oração dominical.”

De fato, nada encontraremos que não esteja contido na oração do Senhor, o “Pai Nosso” (cf. Mt 6,7-15; Lc 11,1-4).

Portanto, devemos rezá-la sempre com amor e confiança, procurando viver o que rezamos no cotidiano, nas pequenas e grandes ações de nossas vidas.

“Pai Nosso que estais nos céus...”

Rezar o "Pai-Nosso" e deixar-se envolver pela ternura divina

                                                          

Rezar o "Pai-Nosso" e deixar-se envolver pela ternura divina

O "Pai-Nosso" deve ser rezado com toda a confiança e sinceridade, uma oração sincera, pura, dialogal, confiante e frutuosa, que nos coloca numa relação filial para com Deus e de irmãos entre nós.

Jesus, na passagem do Evangelho (Lc 11,1-4; Mt 6,7-15), ensina-nos a rezar, de modo que a Oração daquele que crê, deve ser um diálogo confiante, como uma criança em relação ao pai.

Para Jesus, a Oração é o espaço do encontro pessoal e íntimo com o Pai e o momento fundamental para o discernimento de Sua Vontade, de Seu Projeto a ser realizado.

A caminho de Jerusalém, nos ensina a força e a importância da Oração na vida dos Seus seguidores, assim como foi fundamental em todos os grandes momentos decisivos do próprio Jesus, como tão bem nos apresenta o Evangelista Lucas na Eleição dos Doze (Lc 6,12); antes do primeiro anúncio da Paixão (Lc 9,18); na Transfiguração (Lc 9,28-29); após o regresso dos discípulos da missão (Lc 10,21); na última Ceia (Lc 22,32); no Getsemani (Lc 22,40-46); na Cruz (Lc  23, 34-46).

Jesus nos ensina a Oração do Pai Nosso e nos coloca em atitude de diálogo com o Pai, como filhos, e ao mesmo tempo nos põe no caminho da realização do Seu Plano, na construção de um mundo novo, numa comunhão fraterna a ser construída cotidianamente.

Quanto ao conteúdo:

“Santificado seja o Vosso nome” – que Deus Se manifeste como Salvador aos olhos de todos, através de nossa conduta, marcada pela justiça, bondade e santidade;

“Venha o Vosso Reino” – que o mundo novo proposto por Jesus se torne uma realidade na vida da humanidade – Reino de amor, verdade, justiça e liberdade...

“O pão de cada dia” – Deus nos concede o essencial para vivermos. Oferece o pão material, mas acima de tudo o Pão espiritual. Com Deus nada nos falta. Ele nos dá o próprio Filho, o Pão da Vida que sacia a fome e a sede da humanidade: amor, alegria, perdão, comunhão, fraternidade...

“Perdão dos pecados” – sem a experiência da misericórdia divina, somos incapazes de perdoar e pedir perdão. Acolhidos pela misericórdia e por ela perdoados, para também acolher e perdoar o irmão que pecou contra nós.

“Não nos deixeis cair em tentação” – que nosso coração não seja seduzido por felicidades ilusórias e transitórias, mas que pautemos a nossa vida na busca da felicidade duradoura, eterna, a fim de que tenhamos vida plena e feliz.

A Oração do Pai Nosso, em síntese, pode ser assim apresentada:

Que Deus seja reconhecido como Deus: um Pai misericordioso e nos trata como filhos. 

É um Projeto de Amor que Deus tem para a humanidade com três pedidos fundamentais: pão para viver; perdão para amar e liberdade para ficar de pé e pôr-se sempre a caminho. 

Na Escola de Jesus aprendemos a rezar verdadeiramente, em forma e conteúdo. A Oração que Jesus ensina, transforma a vida de quem a reza e põe em prática; portanto, não podemos repetir a Sua Oração, sem saborearmos Palavra por Palavra de seu conteúdo vital e irradiador de alegria e luz, que plenifica com a Sua vida e a Sua graça, porque feita sob a ação e presença do Espírito, dirigida confiantemente ao Pai.

Uma Oração verdadeira precisa ser essencialmente Trinitária, nos inserindo nesta comunhão intensa e profunda de Amor.

Com isto, a Oração é, em sua exata medida, um diálogo intenso, profundo com a Trindade Santa, que nos envolve pela presença e ternura divinas.

A mais bela súplica: Envia, Senhor, o Teu Espírito!

                                             

 

A mais bela súplica: Envia, Senhor, o Teu Espírito!
 
Ó Espírito Santo de Deus, fonte de toda luz e amor.
Sem Ti, sucumbiríamos em nossa miséria humana,
Não suportaríamos o peso da cruz cotidiana,
e mergulharíamos em um vale de sofrimento e dor.
 
Ó Espírito Santo, que conheces nossos prantos,
e ouves nossos lamentos,
Sem Ti seriam insuportáveis nossos louvores e cantos.
e a última palavra seria a morte e sofrimentos.
 
Por isto, Te pedimos: Envia, Senhor, o Teu Espírito!
 
Porque Ele é vento que a todos assopra,
Fogo que arde e jamais se consome,
A todos aquece e ilumina!
 
Ó Espírito Santo, Vem! Teu sopro nos envie.
 
Como Igreja Sinodal reunida, a Ti, confiantes, suplicamos:
Vem até nós para nos aquecer, salvar e iluminar,
Curar, fortalecer, ensinar, aconselhar e consolar. 
 
Ó Espírito Santo de Deus, sem Ti nada somos,
nada podemos. Sem Ti não há vida.
e somos como orvalho da manhã que passa,
Como a grama que murcha ao entardecer.
 
Ó Espírito Santo de Deus, fonte de graça e todo vigor,
Para Ti, nossas mãos confiantes, estendidas se levantam, 
nosso coração se abre, caminhos novos apontam,
E nossos lábios proclamam: És de nossa vida, Senhor!
 
Ó Espírito Santo de Deus, fonte de paz e comunhão,
Contigo, os fardos são mais leves, jugos suavizados.
Contigo, morreu em nós a morte: É Ressurreição!
Contigo, com Tua morada em nós, somos divinizados. Amém.
 

“Pai-Nosso...”

                                                             

“Pai-Nosso...”

Na Oração que o Senhor nos ensinou, em atenção ao pedido dos discípulos, invocamos a Deus como “Pai-Nosso”.

Sejamos enriquecidos por este comentário:

“É belo recordar que a oração do Senhor Jesus nos é dada pela Igreja como um dom no dia do Batismo, porque, a partir desse momento, quem se tornou cristão, não ‘deve’, mas ‘pode’ dirigir-se a Deus chamando-lhe ‘Pai’.

A vida inteira não bastará para compreendermos o Mistério da ternura escondido nesta palavra. Para o descobrirmos de verdade teremos de esperar pelo abraço definitivo com Deus que nos espera além da morte”. (1)

Como é bom podermos nos dirigir a Deus como “Pai-Nosso”,Abba”, “Papaizinho”, como o próprio Jesus nos ensinou, em plena confiança, intimidade de relacionamento.

No entanto, isto implica que:

- Vivamos como irmãos e irmãs, estabelecendo vínculos de comunhão e fraternidade;

- Saibamos criar relacionamentos de partilha e solidariedade entre nós, porque sendo “Pai Nosso”, somos todos irmãos e irmãs;

- Estabeleçamos com Deus uma relação de confiança e intimidade plena, assim como nos ensinou e viveu Nosso Senhor;

- Sendo “Pai nosso”, devem ser superadas todas as formas de violência, exclusão ou quaisquer outras práticas que violem a sacralidade da vida de nosso próximo, pois somos irmãos e irmãs uns dos outros;

- Como “Pai nosso”, nos confiou a todos, sem exclusão, a Casa Comum, nosso Planeta, para que dele cuidemos, para que todos possam nele bem viver e habitar, de modo que ninguém fique excluído deste direito sagrado e inalienável de moradia;

Concluindo, cremos que um dia O veremos, tal qual Ele é, que nos espera sempre para o abraço definitivo, que só poderá acontecer com a passagem, a morte, e assim, nos envolver para sempre com Seu amor e ternura.

Por ora, rezemos, com amor e confiança, a Oração que o Senhor nos ensinou:

“Pai nosso que estais nos céus...”

(1) Lecionário Comentado – vol. Quaresma/Páscoa – Editora Paulus – Lisboa -  2011 – p.75

A Oração bem feita dá um novo sentido ao nosso existir

                                                       

A Oração bem feita dá um novo sentido ao nosso existir

Sejamos enriquecidos pelo Tratado escrito pelo Bispo e Mártir São Cipriano (séc. III):

“Os preceitos evangélicos, irmãos caríssimos, não são outra coisa que ensinamentos divinos, fundamentos para edificar a esperança, bases para consolidar a fé, alimento para revigorar o coração, guias para mostrar o caminho, garantias para obter a salvação. Enquanto instruem na terra os espíritos dóceis dos que creem, eles os conduzem para o Reino dos céus.

Outrora quis Deus falar e fazer-nos ouvir de muitas maneiras pelos Profetas, Seus servos. Mas muito mais sublime é o que nos diz o Filho, a Palavra de Deus, que já estava presente nos Profetas e agora dá testemunho pela Sua própria voz.

Ele não manda mais preparar o caminho para Aquele que há de vir, mas vem, Ele próprio, mostrar-nos e abrir-nos o caminho para que nós, outrora cegos e imprevidentes, errantes nas trevas da morte, iluminados agora pela luz da graça, sigamos o caminho da vida, sob a proteção e guia do Senhor.

Entre as exortações salutares e os preceitos divinos com que orienta Seu povo para a salvação, o Senhor ensinou o modo de orar e nos instruiu e aconselhou sobre o que havemos de pedir.

Quem nos deu a vida, também nos ensinou a orar com a mesma bondade com que Se dignou conceder-nos tantos outros benefícios, a fim de que, dirigindo-nos ao Pai com a súplica e Oração que o Filho nos ensinou, sejamos mais facilmente ouvidos.

Jesus havia predito que chegaria a hora em que os verdadeiros adoradores adorariam o Pai em espírito e em verdade. E cumpriu o que prometera. De fato, tendo nós recebido por Sua graça santificadora o Espírito e a verdade, podemos adorar a Deus verdadeira e espiritualmente segundo os Seus ensinamentos.

Pode haver, com efeito, oração mais espiritual do que aquela que nos foi ensinada por Cristo, que também nos enviou o Espírito Santo? Pode haver prece mais verdadeira aos olhos do Pai do que aquela que saiu dos lábios do próprio Filho que é a Verdade?

Assim, orar de maneira diferente da que o Senhor nos ensinou não é só ignorância, mas também culpa, pois Ele mesmo disse: Anulais o Mandamento de Deus a fim de guardar as vossas tradições (cf. Mc 7,9).

Oremos, portanto, irmãos caríssimos, como Deus, nosso Mestre, nos ensinou. A Oração agradável e querida por Deus é a que rezamos com as Suas próprias palavras, fazendo subir aos Seus ouvidos a oração de Cristo.

Reconheça o Pai as palavras de Seu Filho, quando oramos. Aquele que habita interiormente em nosso coração, esteja também em nossa voz; e já que O temos junto ao Pai como advogado por causa de nossos pecados, digamos as palavras deste nosso Advogado quando, como pecadores, suplicarmos por nossas faltas.

Se Ele disse que tudo o que pedirmos ao Pai em Seu nome nos será dado (cf. Jo 14,13), quanto mais eficaz não será a nossa súplica para obtermos o que pedimos em nome de Cristo, se pedirmos com Sua própria Oração!”

No Tempo da Quaresma, a Igreja, à luz do Evangelho de Mateus (Mt 6,1-6.16-18), nos convida à prática da Oração, do jejum e da caridade, intensificando a nossa intimidade com Deus vivenciada na autêntica oração.

Sendo a Quaresma, Tempo favorável de nossa salvação, reconciliação, conversão, urge que nos convertamos sinceramente ao Amor de Deus. 

Deste modo, é Tempo de intensificar a aprofundar nossa vida de oração, e de modo especial a Oração que o Senhor Jesus nos ensinou, a Oração do "Pai-Nosso".

Deste modo, não nos é permitido rezar o "Pai -Nosso" de qualquer modo, pois são as próprias palavras do Verbo, do Filho amado que além de, por nós, ter dado Sua divina vida, também nos ensinou a orar, para estabelecermos o mais perfeito vínculo com a Fonte da vida.

Assim rezando, nossa alma é elevada até Deus, e nos introduz nas entranhas de Sua misericórdia, fortalecendo a certeza de que não estamos sós, e que, por Ele, somos amados. E bem sabemos que é próprio do Amor de Deus nos escutar, tanto em nossos clamores e súplicas como em nossos louvores e agradecimentos. É próprio também do Seu Amor querer falar conosco...

É Tempo, portanto, de corresponder melhor a este Amor, na Oração e com a vida, pois a Oração bem feita dá um novo sentido ao nosso existir.

"Pai Nosso que estais nos céus..." 

A mais bela Oração o Senhor nos ensinou

                                                            

A mais bela Oração o Senhor nos ensinou

Refletir o Tratado sobre a Oração do Senhor, do Bispo e Mártir São Cipriano (Séc. III), muito nos enriquece, para que melhor rezemos e vivamos a Oração que o Senhor nos ensinou, o "Pai-Nosso".

“Antes do mais, o Doutor da paz e Mestre da unidade não quis que cada um orasse sozinho e em particular, como rezando para si só. De fato, não dizemos: Meu Pai que estais no céu; nem: Meu pão dai-me hoje.

Do mesmo modo, não se pede só para si o perdão da dívida de cada um ou que não caia em tentação e seja livre do mal, rogando cada um para si.

Nossa Oração é pública e universal e quando oramos não o fazemos para um só, mas para o povo todo, já que todo o povo forma uma só coisa.

O Deus da paz e Mestre da concórdia, que ensinou a unidade, quis que assim orássemos um por todos, como Ele em Si mesmo carregou a todos.

Os três jovens, lançados na fornalha ardente, observaram esta lei da Oração, harmoniosos na prece e concordes pela união dos espíritos.

A firmeza da Sagrada Escritura o declara e, narrando de que maneira eles oravam, apresenta-os como exemplo a ser imitado em nossas preces, a fim de nos tornarmos semelhantes a eles.

Então, diz ela, os três jovens, como por uma só boca, cantavam um hino e bendiziam a Deus. Falavam como se tivessem uma só boca e Cristo ainda não lhes havia ensinado a orar.

Por isto a Palavra foi favorável e eficaz para os orantes. De fato, a Oração pacífica, simples e espiritual, mereceu a graça do Senhor.

Do mesmo modo vemos orar os Apóstolos e os discípulos, depois da Ascensão do Senhor. Eram perseverantes, todos unânimes na Oração com as mulheres e Maria, a mãe de Jesus, e Seus irmãos.

Perseveravam unânimes na Oração, manifestando tanto pela persistência como pela concórdia de sua Oração, que Deus que os faz habitar unânimes na casa, só admite na eterna e divina casa aqueles cuja Oração é unânime.

De alcance prodigioso, irmãos diletíssimos, são os Mistérios da Oração dominical! Mistérios numerosos, profundos, enfeixados em poucas palavras, porém, ricas em força espiritual, encerrando tudo o que nos importa alcançar!

Rezai assim, diz Ele: Pai nosso, que estais nos céus. O homem novo, renascido e, por graça, restituído a seu Deus, diz, em primeiro lugar, Pai!, porque já começou a ser filho. Veio ao que era Seu e os Seus não O receberam.

A todos aqueles que O receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, aqueles que creem em Seu nome. Quem, portanto, crê em Seu nome e se fez filho de Deus, deve começar por aqui, isto é, por dar graças e por confessar-se filho de Deus ao declarar ser Deus o seu Pai nos céus.”

O “Pai-Nosso”, a Oração que o Senhor nos ensinou, e que em todas as Missas rezamos. E como são belas as opções de motivações proferidas pelo Sacerdote antes de rezá-lo:

- “Rezemos, com amor e confiança, a Oração que o Senhor Jesus nos ensinou: Pai nosso...”

- "Somos chamados filhos de Deus e realmente o somos, por isso, podemos rezar confiantesPai nosso..."

- “O Senhor nos comunicou o Seu Espírito. Com a confiança e a liberdade de filhos e filhas, digamos juntos: Pai nosso...”

- O banquete da Eucaristia é sinal de reconciliação e vínculo de união fraterna. Unidos como irmãos e irmãs, rezamos, juntos, como o Senhor nos ensinou: Pai nosso..."

- “Guiados pelo Espírito de Jesus e iluminados pela Sabedoria do Evangelho, ousamos dizer: Pai nosso...”

- "Guiados pelo Espírito Santo, que ora em nós e por nós, elevemos as mãos ao Pai e rezemos juntos a oração que o próprio Jesus nos ensinou: Pai nosso..."

“Obedientes à Palavra do Salvador e formados por Seu divino ensinamento, ousamos dizer: Pai nosso...”

Como vemos, a Oração do "Pai-Nosso" é pública e universal, de modo que, ao rezá-la, aprofundamos nossa relação de comunhão com Deus e com o próximo.

Sendo assim, seja a nossa Oração a Deus elevada pacífica, simples e espiritual, bem como sejamos perseverantes na Oração como eram os Apóstolos(At 2,42-47).

Todas as motivações nos levam a rezar com a alma, com o coração, com a vida, em plena comunhão com o Espírito, na fidelidade ao que o Senhor Jesus nos ensinou, para a vontade do Pai, na terra e nos céus, realizar, em tudo e acima de tudo. Amém. 

“Perdoai-nos as nossas ofensas”

           




“Perdoai-nos as nossas ofensas”

Ao rezarmos a Oração do "Pai-Nosso”, comumente, dizemos: – “... Perdoai as nossas ofensas...”.

No entanto, na fórmula que traz o Missal (Dominical e Cotidiano), temos: – “... Perdoai-nos as nossas ofensas...”.

Sobre isto, a Professora Jamilia Elias Piera, afirma que ambas as formas estão corretas, uma vez que o verbo “perdoar” contempla três argumentos: o sujeito (quem perdoa), o complemento direto (o que se perdoa) e complemento indireto (a quem se perdoa).

Deste modo, quando se diz a segunda forma, “perdoai-nos as nossas ofensas” — ambos os complementos do verbo estão presentes; tanto o complemento direto — “as nossas ofensas” como também o indireto — “nos”.

Na primeira frase — "perdoai as nossas ofensas" —  a omissão do complemento indireto é legitimada pela presença do possessivo “nossas”, que nos dá essa informação (“perdoai as nossas ofensas” = “perdoai as ofensas a nós”).

O fundamental é que não rezemos apenas repetindo as palavras, sem a devida atenção e conteúdo.

Quando pedirmos perdão, que seja de coração sincero, para que o perdão, a Deus pedido e alcançado, frutifique, em nosso coração e em nossa vida, sinais de amor, alegria, partilha, comunhão, solidariedade.

Vale ressaltar, porém, que devemos optar pela forma que o Missal nos apresenta, por tratar-se de uma ação litúrgica: – “... Perdoai-nos as nossas ofensas...”.

Conferir: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a sintaxe-do-verbo-perdoar/23746

“Rezemos com amor e confiança...”

 


“Rezemos com amor e confiança...”

Na Santa Missa, quantas vezes ouvimos o Padre dizer: “Rezemos com amor e confiança a Oração que o Senhor nos ensinou”.

Neste sentido, é fundamental o aprofundamento sobre a Oração do “Pai-Nosso”, a partir do Sermão do Bispo e Doutor da Igreja, São Pedro Crisólogo (séc. V).

“Pai nosso que estais nos céus. Quando digas isto, não penses que Deus não Se encontra na terra nem em algum lugar determinado; medita antes que você é da estirpe celeste, que tens um Pai no céu e, vivendo santamente, corresponde a um Pai tão Santo.

Santificado seja o Teu nome. Se somos de tal estirpe, também levamos o Seu nome. Portanto, este nome que em si mesmo e por si mesmo já é Santo, deve ser santificado em nós. O nome de Deus é honrado e blasfemado de acordo com as nossas ações, pois escreve o Apóstolo: o nome de Deus é blasfemado por vossa causa entre as nações.

Venha o Teu Reino. Por acaso Deus não reina? Aqui pedimos que, reinando sempre por seu lado, reine em nós de modo que possamos reinar n’Ele. Até agora imperou o diabo, o pecado, a morte, e a mortalidade foi escrava durante longo tempo. Peçamos, pois, que reinando Deus, pereça o demônio, desapareça o pecado, morra a morte, o cativeiro seja feito prisioneiro, e nós possamos reinar livres na vida eterna.

Faça-se a Tua vontade assim na terra como no céu. Este é o reinado de Deus: quando no céu e na terra impere a vontade divina; quando somente o Senhor esteja em todos os homens, então Deus vive, Deus obra, Deus reina, Deus é tudo, para que, como diz o Apóstolo, Deus seja tudo em todas as coisas.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Quem Se deu a nós como Pai, quem nos adotou por filhos, quem nos fez herdeiros, quem nos transmitiu Seu nome, Sua dignidade e Seu Reino,nos ordena pedir o alimento cotidiano.
O que busca a humana pobreza no Reino de Deus entre os dons divinos? Um Pai tão bom, tão piedoso, tão generoso, não dará o pão aos filhos se não o pedirmos? Se assim fosse, por que Ele diz: não vos preocupeis pelo alimento, a bebida ou a veste?

Manda pedir o que não deve preocupar-nos, porque como Pai celestial quer que Seus filhos celestiais busquem o Pão do céu. Eu sou o Pão vivo que desceu do céu. Ele é o Pão nascido da Virgem, fermentado na carne, confeccionado na paixão e colocado nos Altares para ministrar cada dia aos fiéis o Alimento Espiritual.

E perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoarmos aos nossos ofensores. Se tu, homem, não consegues viver sem pecado e por isso buscas ser perdoado. Já que desejas sê-lo totalmente, perdoa tudo e pensa que, perdoando aos demais, perdoas a ti mesmo.

E não nos deixeis cair em tentação. No mundo a própria vida é uma prova, pois o Senhor nos garante: a vida do homem é uma tentação. Peçamos, portanto, que Ele não nos abandone ao nosso arbítrio, mas que em todo momento nos guie com piedade paterna e nos confirme no caminho da vida com moderação celestial.

Mas livra-nos do mal. De que mal. Do diabo, de quem procede todo mal. Peçamos que nos guarde do mal, porque, caso contrário, não poderemos gozar do bem.” (1)

Esta é a Oração que o Senhor nos ensinou, quando os discípulos pediram para que Ele os ensinasse a rezar.

Talvez tenhamos aprendido, ou melhor, decorado a fórmula. Uns mais cedo outros mais tarde; com mais ou menos facilidade.

Mas isto não é o suficiente, pois importa que compreendamos o conteúdo de cada palavra que o Senhor nos comunicou e que, uma vez compreendida, não meçamos esforços para viver o que rezamos.

Não podemos rezar a oração que o Senhor ensinou como uma mera repetição, sem ressonâncias concretas em nossa vida, seja em relação a Deus, seja em relação ao próximo.

A Oração que o Senhor nos ensinou, se rezada com autenticidade e prolongada na vida, nos fará melhores, tornando todos e tudo ao nosso redor melhor, pois Deus, que tanto nos ama, merece que sejamos cada vez melhores, e somente o seremos se a Oração for, na exata medida, a sede que Deus tem de dialogar conosco, e nossa sede de dialogar com Ele, para que nossa vida seja mais conforme a Sua santa vontade, e assim seremos plenos de alegria, comprometidos com a novidade do Reino, empenhados na construção de um novo céu e uma nova terra, rumo à eternidade.


(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes, 2013 – pp.686-687.

“Pai-Nosso”: “Nossa voz entrelaça-se com a Igreja”

                                                      

“Pai-Nosso”: “Nossa voz entrelaça-se com a Igreja”

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 11,1-4; Mt 6,7-15), em que Jesus ensina Seus discípulos a rezar, atendendo ao pedido por eles feito.

Oportuna esta citação do Papa Bento XVI:

“Todas as vezes que recitamos o Pai-Nosso, a nossa voz entrelaça-se com a Igreja, porque quem reza nunca está sozinho. Cada fiel deverá procurar e poderá encontrar na verdade e na riqueza da oração cristã, ensinada pela Igreja, o próprio caminho, o seu modo de oração... portanto deixar-se-á conduzir... pelo Espírito Santo, O qual o guia, através de Cristo, para o Pai” (1)

Jamais poderemos empobrecer a Oração que o Senhor nos ensinou, reduzindo-a a um intimismo e individualismo que nos distanciaria de Deus, que é “Pai-Nosso”, e consequentemente, de nosso próximo.

“Nossa voz entrelaça-se com a Igreja” quando rezamos o "Pai- Nosso": com quantos nos unimos, quando elevamos a Deus a Oração que o Senhor nos ensinou?

Com quantos nos unimos: alegres ou tristes, angustiados ou cheios de esperança, saudáveis ou enfermos, entre nós ou na glória?

Consideremos, portanto, que esta Oração que o Senhor nos ensinou, o “Pai- Nosso”, é o Evangelho abreviado, o Evangelho em Oração, um manancial vivo do Evangelho que brota da boca d’Aquele que é o Evangelho em pessoa; é um espelho do Evangelho; é um modelo de oração, um arquétipo, um gerador e inspirador de oração, e não se pode rebaixá-lo ao nível de uma oração que rebaixe todas as outras; como afirma Raniero Cantalamessa (2).

Deste modo, não podemos recitá-lo de qualquer modo. É preciso ser rezado com todo o amor e confiança, para que as Palavras não apenas saiam de nossos lábios, mas sejam emanadas de nosso coração, e cheguem até Deus, acompanhadas de sagrados compromissos, em viver o conteúdo divino que nela se encontra.

“Pai Nosso que estais nos céus...”


(1)  Citado pelo Papa em “Um Caminho de fé antigo e sempre novo” – Pregações para o Ano Litúrgico – Ano C – p.530
(2) O Verbo Se faz Carne – Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria – 2013 - pp.684-693

“Seja feita a Vossa vontade...”

                                                         

“Seja feita a Vossa vontade...”

Aprofundemos com o Tratado de São Cipriano, bispo e mártir, as palavras de que dizemos na Oração que o Senhor nos ensinou, o "Pai-Nosso", quando dizemos "...Venha a nós o vosso Reino e seja feita a vossa vontade".

"A Oração continuaVenha a nós o Vosso ReinoPedimos que o Reino de Deus se torne presente a nós, da mesma forma que solicitamos seja em nós santificado o Seu nome.

Porque, quando é que Deus não reina? Ou quando para Ele começou o Reino que sempre existiu e nunca deixará de ser?

Pedimos a vinda de nosso Reino, prometido por Deus e adquirido pelo Sangue e Paixão de Cristo, a fim de que nós que fomos, outrora, escravos do mundo, reinemos depois, conforme Ele nos anunciou, pelo Cristo glorioso, ao dizer: Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a origem do mundo.

Pode-se igualmente, irmãos diletíssimos, entender que o próprio Cristo é o Reino de Deus, cuja vinda pedimos todos os dias. Estamos ansiosos por ver esta vinda o mais depressa possível.

Sendo Ele a Ressurreição, pois n’Ele ressurgimos, assim também se pode pensar que Ele é o Reino de Deus, pois n’Ele reinaremos.

Pedimos, é claro, o Reino de Deus, o Reino Celeste, já que há um reino terrestre. Mas quem já renunciou ao mundo está acima desse reino terrestre e de suas honrarias.

Acrescentamos aindaSeja feita a Vossa vontade assim na terra como no céuNão para que Deus faça o que quer, mas para que possamos fazer o que Deus quer.

Pois quem impedirá a Deus de fazer tudo quanto quiser? Mas porque o diabo se opõe a que nossa vontade e ações em tudo obedeçam a Deus, oramos e pedimos que se faça em nós a vontade de Deus.

Que se faça em nós é obra da vontade de Deus, isto é, resultado de Seu auxílio e proteção, porque ninguém é forte por suas próprias forças.

Com efeito, é a Indulgência e a Misericórdia de Deus que o protegem.

Finalmente, manifestando a fraqueza de homem, diz o Senhor: Pai, se possível, afaste-se de mim este cálice e, dando aos discípulos o exemplo de renunciar à própria vontade e de aceitar a de Deus, acrescentou: Contudo não o que Eu quero, mas o que Tu queres.

A vida humilde, a fidelidade inabalável, a modéstia nas palavras, a justiça nas ações, a misericórdia nas obras, a disciplina nos costumes; o não fazer injúrias; o  tolerar as recebidas; o manter a paz com os irmãos; o amar a Deus de todo o coração; o amá-Lo por ser Pai; o temê-Lo por ser Deus; o nada absolutamente antepor a Cristo, pois também Ele não antepôs coisa alguma a nós; o aderir inseparavelmente à Sua caridade; o estar ao pé de Sua Cruz com coragem e confiança, quando se tratar de luta por Seu nome e Sua honra, o mostrar firmeza ao confessá-Lo por palavras, e, no interrogatório, manter a confiança n’Aquele por quem combatemos, e, na morte, conservar a paciência que nos coroará, tudo isto é querer ser coeerdeiro de Cristo, é cumprir o preceito de Deus, é realizar a vontade do Pai”.

Quantas vezes rezamos assim no "Pai-Nosso": Venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade...”?

Tenhamos a coragem de nos perguntar: quando dizemos “seja feita a Vossa vontade...” temos consciência do que dizemos?

Procuramos, verdadeiramente, em tudo e em todo lugar realizar a vontade de Deus?

A Oração do "Pai-Nosso", por tudo que significa para nós, jamais poderá ser rezada de forma evasiva, sem ressonâncias no cotidiano, pois ao rezá-la, deve nos levar à santificação de todos nós, tão  querida por Deus.

Rezemos com a vida, não somente com a voz!



PS: Do Tratado sobre a Oração do Senhor”, de São Cipriano, Bispo e Mártir (Séc. III), conforme Liturgia das Horas – Vol. III – pág. 328-330.

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