quinta-feira, 31 de julho de 2025

“Cuidemos de nossa casa comum”

 



“Cuidemos de nossa casa comum”
 
Em 2016, a Igreja no Brasil realizou a IV Campanha da Fraternidade Ecumênica, com um tema extremamente atual, complexo e desafiador: “Casa comum, nossa responsabilidade”, e o Lema: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24).
 
Retomamos a temática com a Campanha da Fraternidade deste ano (2025), com o tema - "fraternidade e Ecologia Integral", e com o lema -"Deus viu que tudo era muito bom" (cf. Gn 1,31).
 
Oportuno retomar os sete “erres” que, cada vez mais, devem fazer parte de nossa vida:
 
Repensar os nossos hábitos de consumo e comportamentos. Vejamos onde podemos economizar e evitar a produção de lixo; 

Reduzir o consumo e o uso de embalagens e produtos não recicláveis; 

Reaproveitar materiais, papéis, embalagens etc., que muitas vezes vão para o lixo, mas que poderiam continuar sendo usados ou doados para outras pes­soas; 

Reciclar, fazendo a separação/coleta seletiva do lixo; reciclá-lo ou doá-lo para quem o recicla (muitas pessoas ganham o próprio sustento e da família com este trabalho); 

Recusar produtos descartáveis como plásticos e outros produtos que prejudicam o ecossistema; 

Reparar produtos, prolongando sua vida útil; 

- Reintegrar restos de alimentos e outros materiais orgânicos à natureza, através da compostagem.

Com estas ações, que não exigem grande esforço, ao mesmo tempo em que cuidamos do Planeta, estaremos fazendo bem a nós mesmos e aos outros, e, com isto, exercitando a caridade fraterna.
 
Cuidemos do nosso Planeta, nossa Casa Comum, com a consciência de que devemos preservá-lo para as gerações que virão. Se não nos convertermos no uso das coisas, na relação com elas, estaremos comprometendo não somente o futuro, mas já também o presente, haja vista os acidentes e tragédias ambientais que vemos nos noticiários e bem perto de nós.
 


A esperança da vida plena e feliz



A esperança da vida plena e feliz

Sejamos iluminados pelo início da chamada Carta de Barnabé (Séc. II), em que nos fala da esperança da vida como o início e o fim de nossa fé.

“Saúdo-vos na paz, filhos e filhas, em nome do Senhor que nos ama.
Por serem grandes e preciosas as liberalidades que Deus vos concedeu, mais que tudo e intensamente me alegro por vos saber felizes e esclarecidos. Pois assim acolhestes a graça do dom espiritual, enxertada na alma. Por isto ainda mais me felicito com a esperança de ser salvo, ao ver realmente derramado sobre vós o Espírito vindo da copiosa fonte do Senhor.

Estou plenamente convencido e consciente de que ao falar convosco vos ensinei muitas coisas, porque o Senhor me acompanhou no caminho da justiça; e sinto-me fortemente impelido a amar-vos mais do que a minha vida, porque são grandes a fé e a caridade que existem em vós pela esperança da vida.

Tendo em consideração que, se é de meu interesse por vossa causa partilhar convosco algo do que recebi, será minha paga servir a tais pessoas. Decidi, então, escrever-vos poucas palavras, para que, junto com a fé, tenhais perfeita ciência.

São três os preceitos do Senhor: a esperança da vida, início e fim de nossa fé; a justiça, início e fim do direito; caridade alegre e jovial, testemunho das obras de justiça.

Pelos profetas, o Senhor fez-nos conhecer as coisas passadas, as presentes e deu-nos saborear as primícias das futuras. Ao vermos tudo acontecer por ordem, tal como falou, devemos nós, mais ricos e seguros, assimilar o Seu temor.

Quanto a mim, não como mestre, mas como um de vós, mostrarei alguns poucos pontos, pelos quais vos alegrareis nas circunstâncias atuais.

Nestes dias maus, Ele mostra Seu poder; empenhemo-nos, pois, de coração em perscrutar os Mandamentos do Senhor. Nossos auxiliares são o temor e a paciência; apoiam-nos a generosidade e a continência que, aos olhos do Senhor, permanecem castas, no convívio da sabedoria, inteligência, ciência e conhecimento.

Todos os profetas nos revelaram não ter Ele necessidade de sacrifícios nem de holocaustos nem de oblações, dizendo: ‘Que tenho a ver com a multidão de vossos sacrifícios? diz o Senhor. Estou farto de holocaustos, de gorduras dos cordeiros; não quero o sangue de touros e de cabritos, mesmo que venhais à minha presença. Quem exige isto de vossas mãos? Não pisareis mais em meus átrios. Trazeis oblações de farinha? Será em vão. O incenso me é abominável; vossos novilúnios e solenidades, não as suporto (cf. Is 1,11-13)”.

Como discípulos missionários do Senhor, empenhemo-nos em viver os três preceitos do Senhor que Barnabé nos apresenta:

- “a esperança da vida, início e fim de nossa fé”;
- “a justiça, início e fim do direito”;
- “a caridade alegre e jovial, testemunho das obras de justiça”.

Oremos:

Ó Deus de bondade, ajudai-nos a fazer progresso no temor de Vós, com a paciência necessária para que vejamos florir e frutificar frutos de amor e justiça no mundo em que vivemos.

Concedei-nos a generosidade e a continência, e que elas permaneçam puras, vivendo com sabedoria, inteligência, ciência e conhecimento dos Vossos desígnios, ontem, hoje e sempre.

Fortalecei a esperança da vida plena e feliz, que é o início e o fim de nossa fé, quando parecer não mais haver sinais de esperança, e não tenha a última palavra a cultura da morte.

Ajudai-nos a buscar primeiro o Vosso Reino e a justiça, e tudo o mais nos será acrescentado, fiéis à fé que professamos e à Doutrina que nos conduz.

Revigorai em nossos corações a caridade alegre e jovial, a fim de que elas sejam testemunhos credíveis das obras de justiça dentro e fora da Igreja, em todos os âmbitos, na fidelidade a Jesus e com o Santo Espírito. Amém.

“A montanha azul”

                                                          

“A montanha azul”

Com passos firmes, subi à montanha azul, lugar que bem perto se pode encontrar.
Vencendo todo o cansaço e vozes que repetiam em coro: – “você não conseguirá”.
Mas, fôlego renovado, ao topo mais alto que se pode alcançar.

No cume da montanha, apenas o som do vento a escutar,
Ou quando muito, os passos trocados, de um lado para outro.
Olhos fixos no horizonte de um novo amanhecer,
Que não tardará por vir; ainda que as dificuldades pareçam a noite eternizar.

Páginas novas na planície serão escritas, com ousada teimosia,
Contra todos os cantos agourentos que, por vezes, parecem tornar impossíveis
Os mais belos sonhos que podemos ter; no secreto silêncio da alma sonhar.

Mas lá não se pode para sempre ficar; ainda que tentador,
É preciso pisar nos cacos de vidros da planície do cotidiano, com risco de se cortar,
Mas contar com a proteção que nos vem do alto, contra toda forma de perigo,
Pois Ele jamais se afasta daqueles que tanto ama, sendo em todo o tempo,
Nosso abrigo, refúgio, consolo, força e proteção, e jamais nos decepciona.

Cada um de nós precisa desta montanha azul, de momentos de restauração,
Em que nos colocamos despidos diante do Criador, com nossa miséria e limitação.
Envolvidos por Sua divina presença, impelidos a descer para o chão da realidade,
Para ser no mundo, para todos que precisarem, d’Ele, divino sinal,
Sua luz irradiar, no testemunho de uma fé irmanada com a esperança e caridade.


PS: passagens bíblicas - Mt 5,1-12a; Cl 3,1-5.9-11

O Reino dos céus é como uma rede lançada ao mar

                                                           

O Reino dos céus é como uma rede lançada ao mar

Na quinta-feira da 17ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13,47-53), em que Jesus nos apresenta mais uma parábola, exclusiva deste Evangelista,  sobre o Reino dos Céus: a parábola da rede lançada ao mar, e que recolhe todo tipo de peixe.

O Evangelista tinha diante de si uma comunidade imersa na monotonia, na falta de empenho, numa vivência morna da fé, logo, pouco exigente e comprometida.

Deste modo, era necessário buscar uma Palavra do Senhor, para que ela perseverasse diante das perseguições e hostilidades, enfrentando as dificuldades que vão se apresentando na caminhada da comunidade.

Nisto consiste a beleza das Parábolas: revigoram o ânimo, o entusiasmo, ajudam no discernimento e fortalecem no seguimento de Jesus.

A comunidade deve ver no Reino a grande pérola ou tesouro, pelo qual todo sacrifício deve ser feito e toda renúncia não será em vão.

É preciso rever a escala de valores que pautam nossa vida: o que nos seduz, o que consome nossas forças, nosso tempo; bem como refletir sobre a alegria que devemos ter por sermos instrumentos, colaboradores na realização do Reino.

A Parábola da rede e dos peixes leva a comunidade a refletir, mais uma vez, sobre a necessidade da paciência para ver o Reino de Deus acontecer (joio e trigo).

Deus não tem pressa de condenar e destruir. Ele não quer a morte do pecador, por isso, dá ao homem o tempo necessário e suficiente para amadurecer as suas opções e fazer suas escolhas.

Refletimos sobre a Misericórdia de Deus, que se manifesta na tolerância, paciência, sempre desejoso de que em nós aconteça a conversão e o amadurecimento.

Na conclusão da passagem do Evangelho, os discípulos são chamados a compreender e acolher o novo ensinamento proposto, num renovado compromisso e empenho.
  
Reflitamos:

- O que pedimos quando dizemos: “Venha a nós o Vosso Reino”?
- Como vivemos a paciência a serviço do Reino?

-  Como Igreja, estamos a serviço do Reino. Temos consciência desta missão?

Sentimos alegria contagiante ao trabalhar para que o Reino de Deus aconteça?

O melhor Ele já nos deu: O Espírito Santo e os sete Dons (Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus). Empenhemo-nos, decididamente, na construção do Reino, o Espírito nos assiste, a Sabedoria nos é comunicada, incessantemente. 

Como discípulos missionários do Senhor, renovemos nossa alegria de participar da realização do Reino de Deus, como herdeiros da graça em Cristo Jesus, pelo Espírito Santo, no amor do Pai.

Rezando com os Salmos - Sl 70 (71)

 


Vós sois minha esperança, ó Senhor

“–1 Eu procuro meu refúgio em Vós, Senhor:
que eu não seja envergonhado para sempre!
–2 Porque sois justo, defendei-me e libertai-me!
Escutai a minha voz, vinde salvar-me!

–3 Sede uma rocha protetora para mim,
um abrigo bem seguro que me salve!
– Porque sois a minha força e meu amparo,
o meu refúgio, proteção e segurança!

–4 Libertai-me, ó meu Deus, das mãos do ímpio,
das garras do opressor e do malvado!
–5 Porque sois, ó Senhor Deus, minha esperança,
em Vós confio desde a minha juventude!

=6 Sois meu apoio desde antes que eu nascesse,
desde o seio maternal, o meu amparo:
para Vós o meu louvor eternamente!

–7 Muita gente considera-me um prodígio,
mas sois Vós o meu auxílio poderoso!
–8 Vosso louvor é transbordante de meus lábios,
cantam eles Vossa glória o dia inteiro.

–9 Não me deixeis quando chegar minha velhice,
não me falteis quando faltarem minhas forças!
–10 Porque falam contra mim os inimigos,
fazem planos os que tramam minha morte
–11 e dizem: 'Deus o abandonou, vamos matá-lo;
agarrai-o, pois não há quem o defenda!'

–12 Não fiqueis longe de mim, ó Senhor Deus!
Apressai-Vos, ó meu Deus, em socorrer-me!
–13 Que sejam humilhados e pereçam
os que procuram destruir a minha vida!
– Sejam cobertos de infâmia e de vergonha
os que desejam a desgraça para mim!
–14 Eu, porém, sempre em Vós confiarei,
sempre mais aumentarei Vosso louvor!
–15 Minha boca anunciará todos os dias
Vossa justiça e Vossas graças incontáveis.
–16 Cantarei Vossos portentos, ó Senhor,
lembrarei Vossa justiça sem igual!

–17 Vós me ensinastes desde a minha juventude,
e até hoje canto as Vossas maravilhas.
–18 E na velhice, com os meus cabelos brancos,
eu Vos suplico, ó Senhor, não me deixeis!

–19 Ó meu Deus, Vossa justiça e Vossa força
são tão grandes, vão além dos altos céus!
– Vós fizestes realmente maravilhas.
Quem, Senhor, pode convosco comparar-se?

=20 Vós permitistes que eu sofresse grandes males,
mas vireis restituir a minha vida
e tirar-me dos abismos mais profundos.
–21 Confortareis a minha idade avançada,
e de novo me havereis de consolar.

–22 Então, Vos cantarei ao som da harpa,
celebrando Vosso amor sempre fiel;
– para louvar-Vos tocarei a minha cítara,
glorificando-Vos, ó Santo de Israel! –

–23 A alegria cantará sobre meus lábios,
e a minha alma libertada exultará!
–24 Igualmente a minha língua todo o dia,
cantando, exaltará Vossa justiça!
– Pois ficaram confundidos e humilhados
todos aqueles que tramavam contra mim.”

O Salmo 70(71) é uma súplica ao Senhor, no qual se deposita toda a confiança desde a juventude, e descreve as maravilhas realizadas por Ele:

“O salmista afirma que sua vida foi um louvor contínua a Deus. Agora, velho e é perseguido, não sente abalada sua confiança em Deus, cujo poder e justiça deseja cantar à geração seguinte.” (1)

O Apóstolo Paulo, na Carta aos Romanos, exorta que sejamos alegres na esperança, fortes na tribulação e perseverantes na oração (Rm 12,12).

Concluo com as palavras de Santo Agostinho:

Ó Senhor! Sem ti, nada; contigo, tudo [...].
Sem nós, Ele pode muito ou, melhor, tudo;
nós sem Ele, nada”.

 

 

(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – p.784

Não nos curvemos diante das dificuldades...

                                                        


Não nos curvemos diante das dificuldades...

Olhando ao nosso redor, as múltiplas atividades cotidianas, as menores e maiores ações, podemos afirmar sem medo de errar que a correspondência ao amor divino é a garantia da transposição de todos os obstáculos: Quando se ama como Deus ama, são vencidas as dificuldades.

De outro lado, sem amor as mínimas dificuldades ganham novo tamanho, dimensão, e até mesmo se tornam insuperáveis e insuportáveis. 

Quão necessária é a correspondência ao Amor de Deus em perfeita união e sintonia com Seu mais profundo e imensurável Amor por nós!

Bem se expressou o Bispo Santo Agostinho:

Todas estas coisas, não obstante, parecem difíceis aos que não amam; aos que amam, pelo contrário, isso mesmo lhes parece leve. Não há padecimento, por mais cruel e insolente que seja, que o amor não torne fácil ou quase inexistente”.

A alegria deve ser mantida em meio às dificuldades sendo o sinal mais cristalino e indiscutível de que o Amor de Deus inflama e motiva nossas ações:

“Naquilo que se ama, ou não se sente a dificuldade ou ama-se a própria dificuldade [...]. Os trabalhos dos que amam nunca são penosos" (Santo Agostinho).

Esta reflexão é um convite a revermos o modo como realizamos nossas atividades cotidianas e qual a intensidade com que fazemos as coisas que nos são confiadas nos mais diversos espaços em que convivemos.

Iluminado pelas palavras do Bispo, contemplo neste momento tantas situações que são a mais pura expressão do que ele disse:

Contemplo mães/pais que amam seus filhos, embora muitas vezes incompreendidos e até mesmo convivendo com a ingratidão;

Contemplo filhos que cuidam com carinho de seus pais, mesmo quando o declínio natural se manifesta com as limitações próprias da existência;

Contemplo profissionais que cuidam da vida do outro, enfrentando realidades humanas por vezes tão desafiadoras, mas o que conta é o amor com que realizam...

Contemplo agentes de pastorais que não se curvam diante das dificuldades que vão surgindo no desenvolver dos trabalhos; que não recuam, mas avaliam, reorientam, redimensionam, relativizam em nome de um bem maior, do valor absoluto do Reino; que amam a Pastoral e a Igreja, inseparavelmente, que amam as alegrias e as tristezas; amam no êxito, amam no fracasso daquilo que poderia ter sido diferente...

Contemplo outras tantas situações, pessoas de tantos nomes... Contemplo os que não fazem por fazer; não vivem por viver. 

Continuemos esta contemplação...

Movidos pelo amor e pela oração, seremos verdadeiramente contemplativos na ação, como muito bem disse Santo Inácio de Loyola, e retomemos uma afirmação a ele atribuída:  

“Aja como se tudo dependesse de você, sabendo bem que, na realidade,  tudo depende de Deus.” (1)

Jamais nos curvemos diante das dificuldades. Amando como Deus nos ama, o que nos poderá reter, recuar, desistir? 

Concluímos com as palavras do Apóstolo Paulo “Tudo posso n’Aquele que me fortalece.” (Fl 4,13).
 


(1)  (cf. Pedro de Ribadeneira, Vida de S. Inácio de Loyola, Milão, 1998)

Em poucas palavras...

                                                            


 

Contemplemos e fixemos nosso olhar de fé em Jesus

“A contemplação é o olhar da fé, fixado em Jesus. «Eu olho para Ele e Ele olha para mim» – dizia, no tempo do seu santo Cura, um camponês d'Ars em oração diante do sacrário.  Esta atenção a Ele é renúncia ao «eu». O seu olhar purifica o coração.

 A luz do olhar de Jesus ilumina os olhos do nosso coração; ensina-nos a ver tudo à luz da sua verdade e da sua compaixão para com todos os homens. 

A contemplação dirige também o seu olhar para os Mistérios da vida de Cristo. E assim aprende «o conhecimento íntimo do Senhor» para mais O amar e seguir (Santo Inácio de Loyola).” (1)

 

(1)               Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 2715

Santa Missa: centro, fonte, cume e coração de nossa vida

 


Santa Missa: centro, fonte, cume e coração de nossa vida

“Se, com a ajuda da graça, nos esforçarmos, a Santa Missa será o centro para o qual convergirão todas as nossas práticas de piedade, os deveres familiares e sociais, o trabalho, o apostolado...;

converter‑se‑á também na fonte onde recuperaremos diariamente as forças para prosseguir a nossa caminhada;

no cume para o qual dirigiremos os nossos passos, as nossas obras, os nossos anseios apostólicos, os mais íntimos desejos da alma;

será também o coração onde aprenderemos a amar os outros, com os seus defeitos, parecidos aos nossos, e com as suas facetas menos agradáveis.” (1)

 

(1) Fonte: http://www.hablarcondios.org

Sejamos contemplativos na ação


Sejamos contemplativos na ação

Em tempos difíceis que estamos vivendo, em quarentena, devido a pandemia do novo coronavírus, muito oportuna esta reflexão do Papa Bento XVI, no Ângelus do dia 17 de junho de 2012, na Praça de São Pedro, em que reflete a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 4,26-34):

“Queridos irmãos e irmãs,
A liturgia de hoje nos oferece duas breves parábolas de Jesus: a da semente que cresce por si próprio e da semente de mostarda (cfr Mc 4,26–34). Através de imagens referentes ao mundo da agricultura, o Senhor apresenta o mistério da Palavra e do Reino de Deus, e indica as razões da nossa esperança e do nosso empenho.

Na primeira parábola, a atenção é colocada sobre o dinamismo da semeação: a semente que é lançada sobre a terra, enquanto o agricultor dorme e acorda, germina e cresce sozinha.

O homem semeia com a confiança que o seu trabalho não será infecundo. Aquilo que sustenta o agricultor nos seus afazeres cotidianos é justamente a confiança na força da semente e na bondade do terreno.

Esta parábola se refere ao mistério da criação e da redenção, da obra fecunda de Deus na história. Ele é o Senhor do Reino, o homem é seu humilde colaborador, que contempla e aprecia a ação criadora divina e espera pacientemente os frutos.

A colheita final nos faz pensar na intervenção final de Deus no fim dos tempos, quanto Ele realizara plenamente o seu Reino. O tempo presente é o tempo de semear e o crescimento da semente é assegurado pelo Senhor.

Cada cristão, então, sabe bem que pode fazer tudo aquilo que puder, mas que o resultado final depende de Deus: esta consciência é o sustenta no cansaço de cada dia, especialmente nas situações difíceis.

A tal propósito escreve Santo Inácio de Loyola: ‘Aja como se tudo dependesse de você, sabendo bem que, na realidade, tudo depende de Deus’ (cfr Pedro de Ribadeneira, Vida de S. Inácio de Loyola, Milão, 1998).

Também a segunda parábola utiliza a imagem da semente. Aqui, porém, se trata de uma semente específica, o grão de mostarda, considerada a menor de todas as sementes.

Embora tão miúda, no entanto, é plena de vida, desde sua ruptura, vem um rebento capaz de quebrar o solo, e chegar até a luz do sol e crescer até se tornar ‘maior de todas as plantas da horta’ (cfr Mc 4,32): a fragilidade é a força da semente, a ruptura é sua potência: assim é o Reino de Deus: uma realidade humanamente pequena, composta por quem é pobre de coração, por quem não confia na própria força, mas naquela do amor de Deus, por quem não é importante aos olhos do mundo; e ainda, justamente através da ruptura deles, explode a força de Cristo e transforma aquilo que é aparentemente insignificante.

A imagem da semente é particularmente querida para Jesus, porque expressa bem o mistério do Reino de Deus. Nas duas parábolas de hoje, isso representa um ‘crescimento’ e um ‘contraste’: o crescimento que vem graças a um dinamismo inserido na própria semente e o contraste que existe entre a pequenez da semente e a grandeza daquilo que produz.

A mensagem é clara: o Reino de Deus, também exige nossa colaboração, é antes de tudo, dom do Senhor, graça que precede o homem e suas obras. A nossa pequena força, aparentemente impotente diante dos problemas do mundo, se colocada naquela de Deus, não teme obstáculos, porque certa é a vitória do Senhor.

É o milagre do amor de Deus, que faz germinar e crescer cada semente de bem lançada na terra. E a experiência deste milagre de amor nos faz otimistas, apesar das dificuldades, sofrimentos e o mal que encontramos.

A semente germina e cresce, porque o que a faz crescer é o amor de Deus. A Virgem Maria, que acolheu como ‘terra boa’ a semente da Palavra divina, reforça em nós essa fé e esta esperança”.
Reflitamos sobre a graça do Reino de Deus que Jesus inaugurou, e que nos chama para sermos colaboradores e trabalhar pelo mesmo.

“...Venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade...”, assim rezamos na Oração que o Senhor nos ensinou.

O Reino cresce no silêncio e na aparente insignificância de nossos trabalhos. No entanto, são preciosos aos olhos de Deus, se feitos com amor.

Retomemos as palavras de Santo Inácio de Loyola (séc. XVI) ao longo destes dias de recolhimento e oração:

“Aja como se tudo dependesse de você, sabendo bem que, na realidade, tudo depende de Deus”.



(1) (cf. Pedro de Ribadeneira, Vida de S. Inácio de Loyola, Milão, 1998).
PS: Escrito em 23 de março de 2020


quarta-feira, 30 de julho de 2025

A Solene proclamação da Palavra e a Ceia Eucarística

                                                  

A Solene proclamação da Palavra e a Ceia Eucarística

Reflexão à luz da passagem do Livro de Neemias (Ne 8,1-4.5-6.7b-12), uma das páginas mais lembradas da história de Israel do pós-exílio.

Esta passagem é o primeiro texto em que se descreve uma grande Liturgia da Palavra com a participação de todo o povo, revelando a espiritualidade do Povo de Deus: cultivar a memória das grandes riquezas do passado, suas culpas, sofrimentos e, ao mesmo tempo, a sua esperança num futuro melhor (1).

Trata-se do tempo da reconstrução de Jerusalém, no sétimo mês do ano 445, um tempo de grandes desafios e renovados compromissos de todos.

O Governador Neemias e o Sacerdote e Escriba Esdras organizam uma festa, e nesta é proclamada a Lei do Senhor: reúne-se uma grande assembleia, não no Templo, mas em uma praça.

Alguns elementos que encontramos nesta Liturgia da Palavra celebrada: “o púlpito, do qual a Palavra é proclamada; o leitor; a presidência dos anciãos; a abertura do rolo da Torá; o pôr-se de pé; a inclinação profunda do povo e a sua resposta á Palavra: ‘Amém! Amém!” (vers. 6)” (2), o sim decisivo de fidelidade à Aliança com Deus.

Esta proclamação da Palavra de Deus se constitui num grande momento de festa, seguido de um banquete, em que mesmo os pobres podem, neste dia, banquetear-se, como convém numa ocasião solene, num serviço em favor dos mais pobres, de modo que a alegria que procede de Deus somente será verdadeira se  partilhada e não vivida individualmente (3).

Hoje também em nossas celebrações estes elementos devem se fazer presentes e merecem toda a dignidade, para que de fato a Liturgia seja fonte e ápice da vida da Igreja, como nos falou o Concílio Vaticano II: Contudo, a Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde procede toda a sua força.”

Reflexão oportuna para a avaliação de nossas Missas e Celebrações, para que tenham sua beleza e riqueza próprias, e venham nutrir a espiritualidade do Povo de Deus que delas participam, renovando os sagrados compromissos com a Boa-Nova do Reino.



(1)   Missal Cotidiano – Ed. Paulus – p. 1333
(2)   Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa - Vol. II – p. 467.
(3)   Idem p.467

A comunhão das mesas e a Mesa da Comunhão!

                                                          

A comunhão das mesas e a Mesa da Comunhão!

Jesus Ressuscitado está em perfeita comunhão com o Espírito. Cremos também piamente que depois veio juntar-se a Ele Sua querida Mãe... Poderemos ter o mesmo destino.

Ele foi o primeiro que conquistou o Reino. Com Sua morte, Jesus demonstrou que a entrada no Reino é um privilégio que não se restringe a alguns, impossibilitando que outros o tenham também.

No entanto, depende do quanto nos empenhamos em amá-Lo e segui-Lo, do quanto estamos dispostos a morrer por Ele e com Ele.

O convite se destina a todos e a passagem se deu pela Sua morte, morte de Cruz. Estreita porta da eternidade que se abriu na morte de Cruz!

Destruiu a morte abrindo-nos acesso aos céus, onde a vida não conhece o ocaso, onde o sol jamais se põe, onde o amor jamais se ausenta.

Não há outra forma de nos credenciarmos para a eternidade a não ser amar e viver como Jesus viveu!

A comunhão que criamos com o próximo no tempo presente, em mesas passageiras, é indispensável para que entremos na alegria do Reino e sejamos partícipes da Mesa do Banquete Eterno que se prefigura na Mesa da Eucaristia.

O que ora experimentamos já nos dá um sinal, uma pequena amostra do que será o Banquete dos céus.

Como não desejá-lo e não buscá-lo?

Por outro lado, como o fazemos e fazem nossas comunidades?

Concluindo:

Assim é a lógica da vida: comunhão de mesas que se voltam para a Mesa da Eucaristia, que aponta para a Mesa do Banquete Eterno.

Há mesas e Mesas!
O convite à Mesa do Banquete Eterno
tem uma única resposta:
Dar a vida a exemplo de Cristo!

Somente com Ele se assentará quem a vida por amor viver,
por amor consumir, por amor se entregar,
por amor ao próximo em gestos multiplicar. Amém.


PS: Oportuno para a reflexão da passagem do Livro de Neemias (Ne 8,2-4a.5-6.8-10)

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