Capítulo I
A CHAMADA À SANTIDADE
Na Carta
aos Hebreus, temos a menção de várias testemunhas que nos encorajam a «correr
com perseverança a prova que nos é proposta» (Hb 12, 1): Abraão, Sara, Moisés,
Gedeão e vários outros (Hb 11).
Há outras testemunhas:
“pode ser a nossa própria mãe, uma avó ou
outras pessoas próximas de nós (cf. 2
Tm 1, 5). A sua vida talvez não tenha sido sempre perfeita, mas,
mesmo no meio de imperfeições e quedas, continuaram a caminhar e agradaram ao
Senhor”(n.3).
Contamos
com a comunhão dos santos, que já chegaram à presença de Deus e mantêm conosco
laços de amor e comunhão.
“Podemos dizer que «estamos
circundados, conduzidos e guiados pelos amigos de Deus. (...) Não devo carregar
sozinho o que, na realidade, nunca poderia carregar sozinho. Os numerosos
santos de Deus protegem-me, amparam-me e guiam-me»” (n. 4).
O que se
leva em conta nos processos de beatificação e canonização:
- os sinais
de heroicidade na prática das virtudes;
- o
sacrifício da vida no martírio;
- os casos
em que se verificou um oferecimento da própria vida pelos outros, mantido até à
morte;
- esta
doação manifesta uma imitação exemplar de Cristo, e é digna da admiração dos
fiéis.
Não nos salvamos sozinhos: “...ninguém
se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a
complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade
humana: Deus quis entrar numa dinâmica popular, na dinâmica dum povo” (n. 6).
A santidade
no povo paciente de Deus, uma “santidade
ao pé da porta”, dos que vivem perto de nós: “nos
pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que
trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas
que continuam a sorrir...” (n. 7).
A santidade
é o rosto mais belo da Igreja e também fora dela (ortodoxos, anglicanos e
protestantes).
Todos somos chamados à santidade (Lumen Gentium n.11): “Todos estamos chamados a ser
testemunhas, mas há muitas formas existenciais de testemunho. De fato,
quando o grande místico São João da Cruz escrevera o seu Cântico
Espiritual, preferia evitar regras fixas para todos, explicando que os seus
versos estavam escritos para que cada um os aproveitasse «a seu
modo». Pois a vida divina comunica-se «a uns duma maneira e a outros
doutra»” (n. 11).
Faz menção às
mulheres que viveram a santidade: Santa Hildegarda de Bingen, Santa Brígida,
Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Ávila ou Santa Teresa de Lisieux; tantas
mulheres desconhecidas ou esquecidas que sustentaram e transformaram, cada uma
a seu modo, famílias e comunidades com a força do seu testemunho (n.12).
O que é preciso para ser santo: “Para ser santo, não é
necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos
tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm
possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à
oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e
oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se
encontra... Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses
pessoais” (n.14).
Como
batizados, deixar que a graça do Batismo frutifique num caminho de santidade: “Não desanimes, porque tens a força do
Espírito Santo para tornar possível a santidade e, no fundo, esta é o fruto do
Espírito Santo na tua vida (cf. Gl 5,
22-23). Quando sentires a tentação de te enredares na tua fragilidade, levanta
os olhos para o Crucificado e diz-Lhe: «Senhor, sou um miserável! Mas Vós
podeis realizar o milagre de me tornar um pouco melhor». Na Igreja, santa e
formada por pecadores, encontrarás tudo o que precisas para crescer rumo à
santidade” (n. 15).
Devemos crescer
em santidade a partir de pequenos gestos (n. 16).
Exemplo do
Cardeal Cardeal Francisco Xavier Nguyen van Thuan, quando se encontrava na
prisão, renunciou a desgastar-se com a ânsia da sua libertação - «aproveito as ocasiões que vão surgindo cada
dia para realizar ações ordinárias de maneira extraordinária» (n.17).
Crescer na
santidade sob o impulso da graça divina, com muitos gestos, vamos construindo
aquela figura de santidade que Deus quis para nós: não como seres
autossuficientes, mas «como bons
administradores das várias graças de Deus» (1 Pd 4, 10) (n. 18).
Cada santo
é uma missão: “é um projeto do Pai que
visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspecto do
Evangelho” (n. 19).
Santidade é
viver em união com Jesus Cristo os mistérios da sua vida; associando de maneira
única e pessoal à morte e Ressurreição do Senhor; morrer e ressuscitar
continuamente com Ele (n.20).
Cada santo
é uma mensagem que o Espírito Santo extrai da riqueza de Jesus Cristo e dá ao Seu
povo (n. 21).
Perseverança não obstante nossas fraquezas
– ser renovado pelo Espírito, e não haverá fracasso na missão (n. 24).
A santificação se alcança com a entrega de corpo e alma e dando o melhor
de si (n.25).
Contemplação
na ação: silêncio acompanhado do encontro; repouso da atividade e a oração do
serviço (n. 26).
Na
identificação com Jesus, falamos de espiritualidades: do catequista, do clero
diocesano, do trabalho, da missão, ecológica, e da vida familiar... (n. 28).
Valorizar momentos de quietude, solidão
e silêncio diante de Deus – “Com efeito, as novidades contínuas dos meios tecnológicos, o fascínio
de viajar, as inúmeras ofertas de consumo, às vezes, não deixam espaços vazios
onde ressoe a voz de Deus. Tudo se enche de palavras, prazeres epidérmicos e
rumores a uma velocidade cada vez maior; aqui não reina a alegria, mas a
insatisfação de quem não sabe para que vive”
Vigilância
diante dos próprios meios de distração que invadem a vida atual, para não
esmorecer no serviço generoso e disponível (n. 30).
“Precisamos de um espírito de santidade
que impregne tanto a solidão como o serviço, tanto a intimidade como a tarefa
evangelizadora, para que cada instante seja expressão de amor doado sob o olhar
do Senhor. Desta forma, todos os momentos serão degraus no nosso caminho de
santificação” (n. 31).
Não ter medo da santidade, pois cada cristão quanto mais santifica, tanto
mais fecundo se torna para o mundo, e nos tornamos mais vivos e mais humanos
(n. 32.33).
“Não tenhas
medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não
tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna
menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça. No
fundo, como dizia León Bloy, na vida 'existe apenas uma tristeza: a de não ser
santo'”.
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