quinta-feira, 29 de agosto de 2024

A CHAMADA À SANTIDADE (Capítulo I)


Capítulo I

A CHAMADA À SANTIDADE

Na Carta aos Hebreus, temos a menção de várias testemunhas que nos encorajam a «correr com perseverança a prova que nos é proposta» (Hb 12, 1): Abraão, Sara, Moisés, Gedeão e vários outros (Hb 11).

Há outras testemunhas: “pode ser a nossa própria mãe, uma avó ou outras pessoas próximas de nós (cf. 2 Tm 1, 5). A sua vida talvez não tenha sido sempre perfeita, mas, mesmo no meio de imperfeições e quedas, continuaram a caminhar e agradaram ao Senhor”(n.3).

Contamos com a comunhão dos santos, que já chegaram à presença de Deus e mantêm conosco laços de amor e comunhão.

“Podemos dizer que «estamos circundados, conduzidos e guiados pelos amigos de Deus. (...) Não devo carregar sozinho o que, na realidade, nunca poderia carregar sozinho. Os numerosos santos de Deus protegem-me, amparam-me e guiam-me»” (n. 4).

O que se leva em conta nos processos de beatificação e canonização:

- os sinais de heroicidade na prática das virtudes;
- o sacrifício da vida no martírio;
- os casos em que se verificou um oferecimento da própria vida pelos outros, mantido até à morte;
- esta doação manifesta uma imitação exemplar de Cristo, e é digna da admiração dos fiéis. 

Não nos salvamos sozinhos:  “...ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana: Deus quis entrar numa dinâmica popular, na dinâmica dum povo” (n. 6).

A santidade no povo paciente de Deus, uma “santidade ao pé da porta”, dos que vivem perto de nós:  “nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir...” (n. 7).

A santidade é o rosto mais belo da Igreja e também fora dela (ortodoxos, anglicanos e protestantes).

Todos somos chamados à santidade (Lumen Gentium n.11): Todos estamos chamados a ser testemunhas, mas há muitas formas existenciais de testemunho. De fato, quando o grande místico São João da Cruz escrevera o seu Cântico Espiritual, preferia evitar regras fixas para todos, explicando que os seus versos estavam escritos para que cada um os aproveitasse «a seu modo». Pois a vida divina comunica-se «a uns duma maneira e a outros doutra»” (n. 11).

Faz menção às mulheres que viveram a santidade: Santa Hildegarda de Bingen, Santa Brígida, Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Ávila ou Santa Teresa de Lisieux; tantas mulheres desconhecidas ou esquecidas que sustentaram e transformaram, cada uma a seu modo, famílias e comunidades com a força do seu testemunho (n.12).

O que é preciso para ser santo: “Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra... Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais” (n.14).

Como batizados, deixar que a graça do Batismo frutifique num caminho de santidade: “Não desanimes, porque tens a força do Espírito Santo para tornar possível a santidade e, no fundo, esta é o fruto do Espírito Santo na tua vida (cf. Gl 5, 22-23). Quando sentires a tentação de te enredares na tua fragilidade, levanta os olhos para o Crucificado e diz-Lhe: «Senhor, sou um miserável! Mas Vós podeis realizar o milagre de me tornar um pouco melhor». Na Igreja, santa e formada por pecadores, encontrarás tudo o que precisas para crescer rumo à santidade” (n. 15).

Devemos crescer em santidade a partir de pequenos gestos (n. 16).

Exemplo do Cardeal Cardeal Francisco Xavier Nguyen van Thuan, quando se encontrava na prisão, renunciou a desgastar-se com a ânsia da sua libertação - «aproveito as ocasiões que vão surgindo cada dia para realizar ações ordinárias de maneira extraordinária» (n.17).

Crescer na santidade sob o impulso da graça divina, com muitos gestos, vamos construindo aquela figura de santidade que Deus quis para nós: não como seres autossuficientes, mas «como bons administradores das várias graças de Deus» (1 Pd 4, 10) (n. 18).

Cada santo é uma missão: “é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspecto do Evangelho” (n. 19).

Santidade é viver em união com Jesus Cristo os mistérios da sua vida; associando de maneira única e pessoal à morte e Ressurreição do Senhor; morrer e ressuscitar continuamente com Ele (n.20).

Cada santo é uma mensagem que o Espírito Santo extrai da riqueza de Jesus Cristo e dá ao Seu povo (n. 21).

Perseverança não obstante nossas fraquezas – ser renovado pelo Espírito, e não haverá fracasso na missão (n. 24).

A santificação se alcança com a entrega de corpo e alma e dando o melhor de si (n.25).


Contemplação na ação: silêncio acompanhado do encontro; repouso da atividade e a oração do serviço (n. 26).

Na identificação com Jesus, falamos de espiritualidades: do catequista, do clero diocesano, do trabalho, da missão, ecológica, e da vida familiar... (n. 28).

Valorizar momentos de quietude, solidão e silêncio diante de Deus “Com efeito, as novidades contínuas dos meios tecnológicos, o fascínio de viajar, as inúmeras ofertas de consumo, às vezes, não deixam espaços vazios onde ressoe a voz de Deus. Tudo se enche de palavras, prazeres epidérmicos e rumores a uma velocidade cada vez maior; aqui não reina a alegria, mas a insatisfação de quem não sabe para que vive”

Vigilância diante dos próprios meios de distração que invadem a vida atual, para não esmorecer no serviço generoso e disponível (n. 30).

“Precisamos de um espírito de santidade que impregne tanto a solidão como o serviço, tanto a intimidade como a tarefa evangelizadora, para que cada instante seja expressão de amor doado sob o olhar do Senhor. Desta forma, todos os momentos serão degraus no nosso caminho de santificação” (n. 31). 

Não ter medo da santidade, pois cada cristão quanto mais santifica, tanto mais fecundo se torna para o mundo, e nos tornamos mais vivos e mais humanos (n. 32.33).


“Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça. No fundo, como dizia León Bloy, na vida 'existe apenas uma tristeza: a de não ser santo'”.

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