quinta-feira, 29 de agosto de 2024

LUTA, VIGILÂNCIA E DISCERNIMENTO (Capítulo V)

Capítulo V
LUTA, VIGILÂNCIA E DISCERNIMENTO

A vida cristã é luta permanente: “A vida cristã é uma luta permanente. Requer-se força e coragem para resistir às tentações do demônio e anunciar o Evangelho. Esta luta é magnífica, porque nos permite cantar vitória todas as vezes que o Senhor triunfa na nossa vida” (n. 158).


A luta e a vigilância

Uma luta contra o demônio, príncipe do mal; uma luta contra o mundo e a mentalidade mundana, que nos engana, atordoa e torna medíocres, sem empenhamento e sem alegria; uma luta contra a própria fragilidade e as próprias inclinações (cada um tem a sua: para a preguiça, a luxúria, a inveja, os ciúmes, etc. (n.159).


O demônio não é um mito, uma representação, um símbolo, uma figura ou uma ideia:

Este poder maligno está no meio de nós, tem uma força destruidora tão grande (n 160)..

Não se pode diminuir a vigilância:

“O demônio não precisa de nos possuir. Envenena-nos com o ódio, a tristeza, a inveja, os vícios. E assim, enquanto abrandamos a vigilância, ele aproveita para destruir a nossa vida, as nossas famílias e as nossas comunidades, porque, ‘como um leão a rugir, anda a rondar-vos, procurando a quem devorar’ (1 Pd 5, 8)” (n.161).

Despertos e confiantes:

“A Palavra de Deus convida-nos, explicitamente, a resistir ‘contra as maquinações do diabo’ (Ef 6, 11) e a ‘apagar todas as setas incendiadas do maligno’ (Ef 6, 16)” (n.162).

Para a luta, temos as armas poderosas que o Senhor nos dá: a fé que se expressa na oração, a meditação da Palavra de Deus, a celebração da Missa, a adoração eucarística, a Reconciliação sacramental, as obras de caridade, a vida comunitária, o compromisso missionário. (n.162).

A corrupção espiritual:

“Pois, quem não se dá conta de cometer faltas graves contra a Lei de Deus, pode deixar-se cair numa espécie de entorpecimento ou sonolência. Como não encontra nada de grave a censurar-se, não adverte aquela tibieza que pouco a pouco se vai apoderando da sua vida espiritual e acaba por ficar corroído e corrompido” (n.164).

O que é a corrupção espiritual:

“...é pior que a queda dum pecador, porque trata-se duma cegueira cômoda e autossuficiente, em que tudo acaba por parecer lícito: o engano, a calúnia, o egoísmo e muitas formas sutis de autorreferencialidade, já que ‘também Satanás se disfarça em anjo de luz’ (2 Cor 11, 14). Assim acabou os seus dias Salomão, enquanto o grande pecador David soube superar a sua miséria” (n.165)

O discernimento

“O discernimento não requer apenas uma boa capacidade de raciocinar e sentido comum, é também um dom que é preciso pedir. Se o pedirmos com confiança ao Espírito Santo e, ao mesmo tempo, nos esforçarmos por cultivá-lo com a oração, a reflexão, a leitura e o bom conselho, poderemos certamente crescer nesta capacidade espiritual”. (n.166)

Uma necessidade imperiosa:

“Hoje em dia, tornou-se particularmente necessária a capacidade de discernimento, porque a vida atual oferece enormes possibilidades de ação e distração, sendo-nos apresentadas pelo mundo como se fossem todas válidas e boas. Todos, mas especialmente os jovens, estão sujeitos a um zapping constante. É possível navegar simultaneamente em dois ou três visores e interagir ao mesmo tempo em diferentes cenários virtuais. Sem a sapiência do discernimento, podemos facilmente transformar-nos em marionetes à mercê das tendências da ocasião . (n.167)

“...Somos livres, com a liberdade de Jesus, mas Ele chama-nos a examinar o que há dentro de nós – desejos, angústias, temores, expectativas – e o que acontece fora de nós – os ‘sinais dos tempo’ –, para reconhecer os caminhos da liberdade plena: ‘examinai tudo, guardai o que é bom’ (1 Ts 5, 21)”. (n.168)

Sempre à luz do Senhor:
O discernimento é um instrumento de luta, para seguir melhor o Senhor (n.169)

O discernimento é um dom sobrenatural:

Ele não exclui as contribuições de sabedorias humanas, existenciais, psicológicas, sociológicas ou morais; mas transcende-as – “Não bastam sequer as normas sábias da Igreja. Lembremo-nos sempre de que o discernimento é uma graça. Embora inclua a razão e a prudência, supera-as, porque trata-se de entrever o Mistério daquele Projeto, único e irrepetível, que Deus tem para cada um e que se realiza no meio dos mais variados contextos e limites”. (n.170)

O necessário silêncio da oração prolongada para perceber melhor  a linguagem, para interpretar o significado real das inspirações que julgamos ter recebido, para acalmar ansiedades e recompor o conjunto da própria vida à luz de Deus. (n.171).


O discernimento requer a disposição para a escuta do que o Senhor quer nos dizer, e somente esta disposição confere a liberdade de renunciar o  ponto de vista parcial e insuficiente, aos  hábitos e os esquemas.(n.172)

Esta escuta implica na obediência ao Evangelho como último critério, mas também ao Magistério que o guarda, procurando encontrar no tesouro da Igreja aquilo que pode ser mais fecundo para o hoje da salvação, com o auxílio do Espírito (n.173).

A lógica do dom e da cruz:

O discernimento requer o educar-se para a paciência de Deus e os seus tempos, que nunca são os nossos: “Ele não faz descer fogo do céu sobre os incrédulos (cf. Lc 9, 54), nem permite aos zelosos arrancar o joio que cresce juntamente com o trigo (cf. Mt 13, 29). Além disso requer-se generosidade, porque ‘a felicidade está mais em dar do que em receber’ (At 20, 35)” (n.174).

“Mas é necessário pedir ao Espírito Santo que nos liberte e expulse aquele medo que nos leva a negar-Lhe a entrada nalguns aspetos da nossa vida... Isto mostra-nos que o discernimento não é uma autoanálise presuntuosa, uma introspeção egoísta, mas uma verdadeira saída de nós mesmos para o Mistério de Deus, que nos ajuda a viver a missão para a qual nos chamou a bem dos irmãos” n.175).

Antes de finalizar apresenta Maria aquela que:
- como ninguém viveu as Bem-Aventuranças de Jesus;
- estremecia de júbilo na presença de Deus;
- conservava tudo no seu coração e Se deixou atravessar pela espada;
- é a mais abençoada dos santos entre os santos;
- nos mostra o caminho da santidade e nos acompanha;
- quando caímos, não aceita deixar-nos por terra e, às vezes, leva-nos nos seus braços sem nos julgar.

“Conversar com Ela consola-nos, liberta-nos, santifica-nos. A Mãe não necessita de muitas palavras, não precisa que nos esforcemos demasiado para lhe explicar o que se passa conosco. É suficiente sussurrar uma vez e outra: «Ave Maria...». (n.176)

Conclui com o desejo de que a Exortação seja útil, para que toda a Igreja se dedique a promover a santidade:

“Peçamos ao Espírito Santo que infunda em nós um desejo intenso de ser santos para a maior glória de Deus; e animemo-nos uns aos outros neste propósito. Assim, compartilharemos uma felicidade que o mundo não poderá tirar-nos”. (n.177).

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