Capítulo IV
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA SANTIDADE
NO MUNDO ATUAL
NO MUNDO ATUAL
Menciona os
meios de santificação: os diferentes métodos de oração, os Sacramentos
inestimáveis da Eucaristia e da Reconciliação, a oferta de sacrifícios, as
várias formas de devoção, a direção espiritual e muitos outros (n.110).
Apresenta
as características da santidade no mundo atual, em contraposição aos riscos e
limites da cultura de hoje.
De um lado
temos: a ansiedade nervosa e violenta que os dispersa e enfraquece; o negativismo e a tristeza; a acédia cômoda,
consumista e egoísta; o individualismo e tantas formas de falsa espiritualidade
sem encontro com Deus que reinam no mercado religioso atual (n. 111).
O estilo de vida que o Senhor nos chama
é apresentado nos parágrafos seguintes:
- a
suportação; paciência e mansidão; a alegria e o sentido do humor; ousadia e
ardor; viver em comunidade; oração constante.
A suportação,
paciência e mansidão:
Permanecer
centrado, firme em Deus, que ama e sustenta. Com firmeza interior, é possível
aguentar, suportar as contrariedades, as vicissitudes da vida e também as
agressões dos outros, as suas infidelidades e defeitos: “se Deus está por nós, quem pode estar contra nós?” (Rm 8, 31) (n.112).
São Paulo
convidava os cristãos de Roma a não pagar a ninguém o mal com o mal (cf. Rm 12,
17), a não fazer-se justiça por conta própria (cf. 12, 19), nem a deixar-se
vencer pelo mal, mas vencer o mal com o bem (cf. 12, 21) (n.113).
A violência
pelos meios de comunicação e internet: “Pode
acontecer também que os cristãos façam parte de redes de violência verbal
através da internet e vários fóruns ou espaços de intercâmbio digital. Mesmo
nos media católicos,
é possível ultrapassar os limites, tolerando-se a difamação e a calúnia e
parecendo excluir qualquer ética e respeito pela fama alheia. “ (n. 115).
“É impressionante como, às vezes, pretendendo
defender outros Mandamentos, se ignora completamente o oitavo: «não levantar
falsos testemunhos» e destrói-se sem piedade a imagem alheia. Nisto se
manifesta como a língua descontrolada «é um mundo de iniquidade; (…) e,
inflamada pelo Inferno, incendeia o curso da nossa existência»” (Tg 3, 6) (n.
115).
“O santo não gasta as suas energias a
lamentar-se dos erros alheios, é capaz de guardar silêncio sobre os defeitos
dos seus irmãos e evita a violência verbal que destrói e maltrata, porque não
se julga digno de ser duro com os outros, mas considera-os superiores a si
próprio (cf. Fl 2,
3)” (n.116).
Alegria e sentido de humor:
“O santo é capaz de viver com alegria e
sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito
positivo e rico de esperança. Ser cristão é ‘alegria no Espírito Santo’ (Rm 14, 17), porque, ‘do amor de
caridade, segue-se necessariamente a alegria. Pois quem ama sempre se alegra na
união com o amado. (...) Daí que a consequência da caridade seja a alegria” (n.122).
Os profetas
(n.123) foram anunciadores de alegria e Maria (n.124) soube descobrir a novidade trazida por Jesus,
cantava: “o meu espírito se alegra” (Lc 1, 47) e o próprio Jesus ‘estremeceu
de alegria sob a ação do Espírito Santo’ (Lc 10, 21). Quando Ele
passava, “a multidão alegrava-se” (Lc 13, 17). Depois da Sua Ressurreição,
onde chegavam os discípulos, havia grande alegria (cf. At 8,
8) (n.124).
“Existem momentos difíceis, tempos de
cruz, mas nada pode destruir a alegria sobrenatural, que ‘se adapta e
transforma, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da
certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados’” (n.125).
“...às vezes a tristeza tem a ver com a
ingratidão, com estar tão fechados em nós mesmos que nos tornamos incapazes de reconhecer os dons de Deus” (n.126).
Recomenda a
oração atribuída a São Tomás Moro (nota 101):
“Dai-me, Senhor, uma boa digestão e
também qualquer coisa para digerir. Dai-me a saúde do corpo, com o bom humor
necessário para o conservar. Dai-me, Senhor, uma alma santa que saiba
aproveitar o que é bom e puro, e não se assuste à vista do pecado, mas encontre
a forma de colocar as coisas de novo em ordem. Dai-me uma alma que não conheça
o tédio, as murmurações, os suspiros e os lamentos, e não permitais que sofra
excessivamente por essa realidade tão dominadora que se chama ‘eu’. Dai-me,
Senhor, o sentido do humor. Dai-me a graça de entender os gracejos, para que
conheça na vida um pouco de alegria e comunica-la aos outros. Assim seja”.
Ousadia e ardor:
Ao mesmo tempo, a santidade é parresia:
é ousadia, é impulso evangelizador que deixa uma marca neste mundo. Para isso
ser possível, o próprio Jesus vem ao nosso encontro, repetindo-nos com
serenidade e firmeza: “não temais!” (Mc 6, 50). “Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28, 20) (n.129).
Para o Beato
Paulo VI entre os obstáculos da evangelização, está a carência de parresia, “a falta de
ardor, tanto mais grave (porque) provém de dentro”
(n.130).
“Somos frágeis, mas portadores dum
tesouro que nos faz grandes e pode tornar melhores e mais felizes aqueles que o
recebem. A ousadia e a coragem apostólica são constitutivas da missão” (n.131).
“A parresia é selo do Espírito, testemunho da autenticidade do
anúncio. É uma certeza feliz que nos leva a gloriar-nos do Evangelho que
anunciamos, é confiança inquebrantável na fidelidade da Testemunha fiel, que
nos dá a certeza de que nada ‘poderá separar-nos do amor de Deus’ (Rm 8, 39)” (n.132).
“Precisamos do impulso do Espírito para
não ser paralisados pelo medo e o calculismo, para não nos habituarmos a
caminhar só dentro de confins seguros. Lembremo-nos disto: o que fica fechado
acaba cheirando a mofo e criando um ambiente doentio” (n.133).
“À semelhança do profeta Jonas, sempre
permanece latente em nós a tentação de fugir para um lugar seguro, que pode ter
muitos nomes: individualismo, espiritualismo, confinamento em mundos pequenos,
dependência, instalação, repetição de esquemas preestabelecidos, dogmatismo, nostalgia,
pessimismo, refúgio nas normas...” (n.134).
Ir para as
periferias, sem medo do novo:
“Deus é sempre novidade, que nos impele
a partir sem cessar e a mover-nos para ir mais além do conhecido, rumo às
periferias e aos confins. Leva-nos aonde se encontra a humanidade mais ferida e
aonde os seres humanos, sob a aparência da superficialidade e do conformismo,
continuam à procura de resposta para a questão do sentido da vida. Deus não tem
medo! Não tem medo! Ultrapassa sempre os nossos esquemas e não Lhe metem medo
as periferias. Ele próprio Se fez periferia (cf. Flp 2, 6-8; Jo 1,
14). Por isso, se ousarmos ir às periferias, lá O encontraremos: Ele já estará
lá. Jesus antecipa-Se-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua
vida oprimida, na sua alma sombria. Ele já está lá” (n. 135).
“Mas, pensando no ar irrespirável da
nossa autorreferencialidade, pergunto-me se às vezes Jesus não estará já dentro
de nós, batendo para que O deixemos sair” (n. 136).
“Deixemos então que o Senhor venha despertar-nos,
dar-nos um abanão na nossa sonolência, libertar-nos da inércia. Desafiemos a
habituação, abramos bem os olhos, os ouvidos e, sobretudo, o coração, para nos
deixarmos mover pelo que acontece ao nosso redor e pelo clamor da Palavra viva
e eficaz do Ressuscitado” (n. 137).
Cita o
exemplo de tantos sacerdotes, religiosas, religiosos e leigos que se dedicam a
anunciar e servir com grande fidelidade, muitas vezes arriscando a vida e, sem
dúvida, à custa da sua comodidade.
Estes
testemunhos nos lembra que a Igreja não precisa de muitos burocratas e
funcionários, mas de missionários apaixonados, devorados pelo entusiasmo de
comunicar a verdadeira vida; e assim fizeram os santos: surpreendem,
desinstalam, porque a sua vida nos chama a sair da mediocridade tranquila e
anestesiadora (n. 138).
Uma súplica
ao Senhor: “...a graça de não hesitar
quando o Espírito nos exige que demos um passo em frente; peçamos a coragem
apostólica de comunicar o Evangelho aos outros e de renunciar a fazer da nossa
vida um museu de recordações...” (n. 139).
Em comunidade: “...A sedução com que nos
bombardeiam é tal que, se estivermos demasiado sozinhos, facilmente perdemos o
sentido da realidade, a clareza interior, e sucumbimos” (n. 140).
“A santificação é um caminho comunitário,
que se deve fazer dois a dois. Reflexo disto temo-lo em algumas comunidades
santas. Em várias ocasiões, a Igreja canonizou comunidades inteiras, que
viveram heroicamente o Evangelho ou ofereceram a Deus a vida de todos os seus
membros” (n. 141).
“Partilhar a Palavra e celebrar juntos
a Eucaristia torna-nos mais irmãos e vai-nos transformando pouco a pouco em
comunidade santa e missionária...” (n. 142).
“A vida comunitária, na família, na
paróquia, na comunidade religiosa ou em qualquer outra, compõe-se de tantos
pequenos detalhes diários” (n. 143).
Jesus nos
convida para a atenção aos pequenos detalhes:
o pequeno
detalhe do vinho que estava a acabar numa festa;
o pequeno detalhe duma ovelha que faltava;
o pequeno detalhe duma ovelha que faltava;
o pequeno
detalhe da viúva que ofereceu as duas moedinhas que tinha;
o pequeno detalhe de ter azeite de reserva para as lâmpadas, caso o noivo se demore;
o pequeno detalhe de ter azeite de reserva para as lâmpadas, caso o noivo se demore;
o pequeno
detalhe de pedir aos discípulos que vissem quantos pães tinham;
o pequeno detalhe de ter a fogueira acesa e um peixe na grelha enquanto esperava os discípulos ao amanhecer (n. 144).
o pequeno detalhe de ter a fogueira acesa e um peixe na grelha enquanto esperava os discípulos ao amanhecer (n. 144).
“A comunidade, que guarda os pequenos
detalhes do amor e na qual os membros cuidam uns dos outros e formam um
espaço aberto e evangelizador, é lugar da presença do Ressuscitado que a vai
santificando segundo o projeto do Pai.” (n. 145).
Em oração constante: a santidade é feita de abertura habitual à transcendência, que se
expressa na oração e na adoração. O santo é uma pessoa com espírito orante, que
tem necessidade de comunicar com Deus... Não acredito na santidade sem oração,
embora não se trate necessariamente de longos períodos ou de sentimentos
intensos” (n. 147).
“Peço, porém, que não se entenda o
silêncio orante como uma evasão que nega o mundo que nos rodeia” (n.152).
“A oração, precisamente porque se
alimenta do dom de Deus que se derrama na nossa vida, deveria ser sempre rica
de memória. A memória das obras de Deus está na base da experiência da aliança
entre Deus e o Seu povo...” (n. 153).
A súplica:
confiança em Deus e amor ao próximo: “A
súplica é expressão do coração que confia em Deus, pois sabe que sozinho não
consegue. Na vida do povo fiel de Deus, encontramos muitas súplicas cheias de
ternura crente e de profunda confiança. Não desvalorizemos a oração de petição,
que tantas vezes nos tranquiliza o coração e ajuda a continuar a lutar com
esperança...” (n. 154).
A leitura
orante da Palavra de Deus: “«mais doce do que o mel» (Sal 119/118,
103) e «espada de dois gumes» (Heb 4, 12) - escutar o Mestre
fazendo da Sua palavra farol para os nossos passos, luz para o nosso caminho
(cf. Sl 119/118,
105) (n. 156).
A Escritura
e a Eucaristia não se separam: “O
encontro com Jesus nas Escrituras conduz-nos à Eucaristia, onde essa mesma
Palavra atinge a sua máxima eficácia, porque é presença real d’Aquele que é a
Palavra viva. Lá o único Absoluto recebe a maior adoração que se Lhe possa
tributar neste mundo, porque é o próprio Cristo que Se oferece. E, quando O
recebemos na Comunhão, renovamos a nossa aliança com Ele e consentimos-Lhe que
realize cada vez mais a Sua obra transformadora.” (n. 157).
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