Capítulo III
À LUZ DO MESTRE
Santidade à
luz do Sermão das Bem-Aventuranças (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6,
20-23) – o “bilhete de identidade do cristão”. (n.63).
Nelas está
delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no
dia-a-dia da nossa vida. (n. 63).
«Feliz» ou
«bem-aventurado», sinônimos de «santo», porque expressa que a pessoa fiel a Deus
e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira
felicidade (n.64).
As Bem-aventuranças estão na contracorrente (n. 65).
Somente
poderemos viver se o Espírito Santo nos permear com toda a Sua força e nos
libertar da fraqueza do egoísmo, da preguiça, do orgulho (n. 65).
- «Felizes os pobres em espírito,
porque deles é o Reino do Céu» - Ser pobre no coração: isto é
santidade - (n. 67-70)
- «Felizes os mansos, porque
possuirão a terra» - reagir com humilde mansidão: isto é santidade - (n.71-74).
- «Felizes os que choram,
porque serão consolados» - Saber chorar com os outros: isto é santidade
– (n. 75-76).
- «Felizes os que têm fome e sede de
justiça, porque serão saciados» - Buscar a justiça com fome e sede:
isto é santidade – (n. 77-79).
- «Felizes os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia» - Olhar e agir com misericórdia: isto
é santidade – (n.80-82).
- «Felizes os puros de coração,
porque verão a Deus» - Manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor: isto é santidade
(n.83-86).
- «Felizes os pacificadores, porque
serão chamados filhos de Deus» - Semear a paz ao nosso redor: isto é
santidade (n. 87-89).
«Felizes os que sofrem
perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu» - Abraçar diariamente o caminho
do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade – (n.90-94).
A grande
regra de comportamento está no
Evangelho de Mateus (Mt 25,31-46):
Ser santo
não significa revirar os olhos num suposto êxtase. Dizia São João Paulo II que,
“se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-Lo
sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo Se quis identificar”. (n. 96).
A santidade
não se pode ser compreendida nem vivida sem as exigências da passagem de Mateus
- porque a misericórdia é o “coração
pulsante do Evangelho’ (n. 97).
As
ideologias que mutilam o coração do Evangelho:
-
transformar o cristianismo numa espécie de ONG,
privando-o de espiritualidade irradiante que a exemplo de São Francisco de
Assis, São Vicente de Paulo, Santa Teresa de Calcutá e muitos outros.
- o erro
das pessoas que vivem suspeitando do compromisso social dos outros,
considerando-o algo de superficial, mundano, secularizado, imanentista,
comunista, populista; ou então o relativizam como se houvesse outras coisas
mais importantes, como se interessasse apenas uma determinada ética ou um
arrazoado que eles defendem.
A defesa da vida em todos os sentidos:
“A defesa do inocente nascituro, por
exemplo, deve ser clara, firme e apaixonada, porque neste caso está em jogo a
dignidade da vida humana, sempre sagrada, e exige-o o amor por toda a pessoa,
independentemente do seu desenvolvimento. Mas igualmente sagrada é a vida dos
pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão, no
tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de
cuidados, nas novas formas de escravatura, e em todas as formas de descarte” (n. 101).
Não há santidade ignorando a injustiça:
“Não podemos propor-nos um ideal de
santidade que ignore a injustiça deste mundo, onde alguns festejam, gastam
folgadamente e reduzem a sua vida às novidades do consumo, ao mesmo tempo que
outros se limitam a olhar de fora enquanto a sua vida passa e termina
miseravelmente” (n.101).
O culto que mais agrada a Deus:
“A oração é preciosa, se alimenta
uma doação diária de amor. O nosso culto agrada a Deus, quando levamos lá os
propósitos de viver com generosidade e quando deixamos que o dom lá recebido se
manifeste na dedicação aos irmãos” (n. 104).
“O melhor modo para discernir se o
nosso caminho de oração é autêntico será ver em que medida a nossa vida se vai
transformando à luz da misericórdia... embora a misericórdia não exclua a
justiça e a verdade, ‘antes de tudo, temos de dizer que a misericórdia é a
plenitude da justiça e a manifestação mais luminosa da verdade de Deus’. A
misericórdia ‘é a chave do Céu’” (n. 105).
Santo Tomás
de Aquino: mais do que os atos de culto, são as obras de misericórdia para com
o próximo: “não praticamos o culto a
Deus com sacrifícios e com ofertas exteriores para proveito d’Ele, mas para
benefício nosso e do próximo: de fato Ele não precisa dos nossos sacrifícios,
mas quer que os ofereçamos para nossa devoção e para utilidade do próximo. Por
isso, a misericórdia, pela qual socorremos as carências alheias, ao favorecer
mais diretamente a utilidade do próximo, é o sacrifício que mais lhe agrada" (n. 106).
Santa Teresa de Calcutá: “sim, tenho muitas fraquezas
humanas, muitas misérias humanas. (...) Mas Ele abaixa-Se e serve-Se de nós, de
ti e de mim, para sermos o seu amor e a sua compaixão no mundo, apesar dos
nossos pecados, apesar das nossas misérias e defeitos. Ele depende de nós para
amar o mundo e demonstrar-lhe o muito que o ama. Se nos ocuparmos demasiado de
nós mesmos, não teremos tempo para os outros” (n. 107).
O engano do consumismo hedonista:
“O consumismo hedonista pode-nos
enganar, porque, na obsessão de divertir-nos, acabamos por estar excessivamente
concentrados em nós mesmos, nos nossos direitos e na exacerbação de ter tempo
livre para gozar a vida. Será difícil que nos comprometamos e dediquemos
energias a dar uma mão a quem está mal, se não cultivarmos uma certa
austeridade, se não lutarmos contra esta febre que a sociedade de consumo nos
impõe para nos vender coisas, acabando por nos transformar em pobres
insatisfeitos que tudo querem ter e provar. O próprio consumo de informação
superficial e as formas de comunicação rápida e virtual podem ser um fator de
estonteamento que ocupa todo o nosso tempo e nos afasta da carne sofredora dos
irmãos. No meio deste turbilhão atual, volta a ressoar o Evangelho para nos
oferecer uma vida diferente, mais saudável e mais feliz” (n. 108).
O testemunho dos santos e ler com frequência e rezar com
eles; e as Bem-Aventuranças e o julgamento final nos farão felizes:
“A força do testemunho dos santos
consiste em viver as bem-aventuranças e a regra de comportamento do juízo
final. São poucas palavras, simples, mas práticas e válidas para todos, porque
o cristianismo está feito principalmente para ser praticado e, se é também
objeto de reflexão, isso só tem valor quando nos ajuda a viver o Evangelho na
vida diária” (n.109),
PS: A Exortação Apostólica “Gaudete et exsultate” – sobre a chamada à Santidade no mundo atual, escrita pelo Papa Francisco (2018), nos orienta para que vivamos a alegria da santidade.
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