Contemplemos
o Mistério da Encarnação do Verbo
Aprofundando
o quarto Domingo do Advento (ano A), sejamos enriquecidos pelo Sermão do
Venerável e Doutor da Igreja, São Beda (séc. VIII), em que nos fala do grande e
insondável Mistério da Encarnação do Verbo no ventre de Maria:
“Em
poucas palavras, porém cheias de realismo, o evangelista São Mateus descreve o
nascimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo pelo qual o Filho de Deus,
eterno antes do tempo, apareceu no tempo como Filho do Homem.
Conduzindo
o evangelista à sucessão genealógica, partindo de Abraão até chegar a José, o
esposo de Maria, e enumerar – conforme o modo costumeiro de narrar às gerações
humanas – a totalidade seja dos genitores como dos gerados, e dispondo-se a
falar do nascimento de Cristo, ressaltou a enorme diferença que existe entre
Ele e os demais nascimentos: os outros nascimentos ocorrem através da união
normal do homem e da mulher, enquanto que Ele, por ser o Filho de Deus, veio ao
mundo através de uma virgem. E era conveniente sob todos os aspectos que Deus,
ao decidir tornar-Se homem para salvar os homens, não nascesse senão de uma
virgem, pois era impensável que uma virgem não gerasse a nenhum outro, senão a
um que, sendo Deus, ela O gerasse como Filho.
Eis
que,
disse o profeta, a Virgem conceberá, e dará à luz um filho, e lhe
porá o nome de Emanuel (que significa ‘Deus conosco’). O nome que o profeta
dá ao Salvador, ‘Deus conosco’, indica a dupla natureza de Sua única Pessoa.
Na
verdade, Aquele que é Deus nascido do Pai antes de todos os séculos, é o mesmo
que, na plenitude dos tempos tornou-se, no seio materno, no Emanuel, isto é, em
‘Deus conosco’, porque Se dignou assumir a fragilidade de nossa natureza na
unidade de Sua Pessoa, quando a Palavra se fez carne e habitou entre nós,
quando de modo admirável começou a ser o que nós somos, sem deixar de ser o que
era, assumindo de tal forma nossa natureza que não ficasse obrigado a deixar de
ser o que Ele era.
Maria
deu à luz, pois, a Seu Filho primogênito, isto é, ao Filho de Sua própria
carne. Deu à luz Àquele que, antes da criação, nasceu Deus de Deus, e na
humanidade, na qual foi criado, superava superabundantemente a toda criatura. E
Ele lhe pôs, diz, o nome de Jesus.
Jesus
é nome do filho que nasceu da Virgem; nome que significa – conforme a
explicação angélica – que Ele salvaria o Seu povo de seus pecados. E Aquele que
salva dos pecados salvará da mesma forma das corruptelas da alma e do corpo,
que são sequelas do pecado.
A
palavra ‘Cristo’ designa a dignidade sacerdotal ou régia. Na lei, tanto os
sacerdotes como os reis eram chamados ‘cristos’ pela crisma, isto é, pela unção
com o óleo sagrado: eram um sinal de alguém que, ao manifestar-se no mundo como
verdadeiro Rei e Pontífice, foi ungido com o óleo de júbilo entre todos os
seus companheiros.
Devido
a esta unção ou crisma, é chamado Cristo; aos que participam desta unção, ou
seja, desta graça espiritual, são chamados de ‘cristãos’. Que Ele, por ser
nosso Salvador, nos salve de nossos pecados; enquanto Pontífice nos reconcilie
com Deus Pai; na Sua qualidade de Rei; digne-se conceder-nos o Reino eterno de
Seu Pai, Jesus nosso Senhor, que com o Pai e o Espírito Santo vive e reina e é
Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.” (1)
O
Sermão nos convida a contemplar e refletir sobre o grande e insondável Mistério
da Encarnação do Verbo no ventre de Maria, mas também nos convida a refletir
sobre a graça que recebemos de nos tornarmos “cristãos”.
Como
cristãos que somos, seguidores de Jesus Cristo, somos ungidos, marcados,
assinalados para a mais bela missão: a continuidade da missão de Jesus Cristo,
cujo nascimento a poucos dias celebraremos.
Seja
o Natal a Festa do Amor (o Espírito Santo), que veio ao encontro da humanidade
por meio do Amado (Jesus Cristo), comunicador do pleno e infinito amor do Pai
(o amante).
Natal
é a Festa em que nos deixamos envolver, ou mergulhamos intensa e profundamente
no amor de Deus, para deste amor sermos sinal e comunicadores.
Oremos:
Ó Deus de Amor e ternura, que por meio do Vosso Filho, nosso
Salvador, sejamos salvos de nossos pecados, remidos pelo graça e ação do Santo
Espírito.
Ó Deus de misericórdia e bondade, que por meio do Vosso Filho,
nosso divino Pontífice, nos reconcilie convosco, e assim, vivamos relações mais
humanas e fraternas.
Ó Deus onipotente e onipresente, que por
meio do Vosso Filho Rei e Senhor de todos os povos; seja-nos concedida a graça
da vinda do Vosso Reino, que é eterno e universal: Reino da verdade e da vida, Reino
da santidade e da graça, Reino de justiça, do amor e da paz. Amém.
(1)
Lecionário Comentado – Editora Vozes – 2013 0 pp.32-33
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