terça-feira, 1 de outubro de 2024

Rezando com os Salmos (Sl 1)

 


Rezando com os Salmos (Sl 1)

“–1 Feliz é todo aquele que não anda
conforme os conselhos dos perversos; 
– que não entra no caminho dos malvados,
nem junto aos zombadores vai sentar-se; 
2 mas encontra seu prazer na lei de Deus
e a medita, dia e noite, sem cessar.

3 Eis que ele é semelhante a uma árvore
que à beira da torrente está plantada; 
= ela sempre dá seus frutos a seu tempo,
e jamais as suas folhas vão murchar.
Eis que tudo o que ele faz vai prosperar,

=4 mas bem outra é a sorte dos perversos.
Ao contrário, são iguais à palha seca
espalhada e dispersada pelo vento.

5 Por isso os ímpios não resistem no juízo
nem os perversos, na assembleia dos fiéis. 
6 Pois Deus vigia o caminho dos eleitos,
mas a estrada dos malvados leva à morte.”

Segundo Autor do séc. II, “felizes aqueles que, pondo toda a sua esperança na Cruz, desceram até a água do batismo”. E conforme o bispo e doutor Santo Agostinho (séc. V) – “Cristo, de fato, veio pelo caminho dos pecadores, ao nascer como os pecadores, mas não se deteve, porque não o retiveram as seduções do mundo…”.

Oremos:

Ó Deus, concedei-nos a divina Sabedoria, para trilharmos o caminho de santidade, em permanente atitude de conversão, vencendo a cada dia as tentações que nos roubem a liberdade e a verdadeira felicidade que tão somente de vós pode vir. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.

 

São Pio X e a riqueza dos Salmos

                                                          

São Pio X e a riqueza dos Salmos

“A mim me parece que os Salmos são como um espelho para quem salmodia, onde este se contempla a si e os movimentos de seu espírito, e, assim impressionado, os recita

No dia 21 de agosto, celebramos a Memória do Papa São Pio X (séc. XX), e refletimos sobre a Constituição Apostólica Divino aflatu, que ele escreveu sobre os Salmos.

“Compostos por divina inspiração, os salmos colecionados na Sagrada Escritura foram desde os inícios da Igreja empregados, como se sabe, não apenas para alimentar maravilhosamente a piedade dos fiéis que ofereciam sempre a Deus o sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que louvam seu nome (cf. Hb 13,15; Os 14,3); mas também, como já era costume na antiga Lei, para ocupar lugar eminente na sagrada liturgia e no ofício divino. Daí nasceu, na expressão de Basílio, ‘a voz da Igreja’ e a salmodia.

Salmodia que é ‘filha de sua hinodia, que sempre a Igreja canta diante do trono de Deus e do Cordeiro’, como expõe nosso predecessor Urbano VI. Assim a Igreja ensina aos homens particularmente devotados ao culto divino, conforme as palavras de Atanásio, ‘de que modo se deve louvar o Senhor e com que palavras dignamente’ confessá-lo.

A este respeito disse muito bem Agostinho: ‘Para ser bem louvado pelo homem, Deus mesmo se louvou; e, aceitando louvar-se, deu ao homem encontrar o modo de louvá-lo’.

Além disto, nos Salmos há uma maravilhosa força para despertar nos corações o desejo de todas as virtudes. Pois, ‘embora toda a nossa Escritura, tanto a antiga quanto a nova, seja inspirada por Deus e útil para a instrução, como está escrito (cf. 2Tm 3,16), o Livro dos Salmos porém, semelhante a um paraíso, que contém em si os frutos dos demais Livros, produz o canto, e, ainda mais, oferece seus próprios frutos unidos aos dos outros durante a salmodia’.

Essas palavras são novamente de Atanásio, que acrescenta: ‘A mim me parece que os Salmos são como um espelho para quem salmodia, onde este se contempla a si e os movimentos de seu espírito, e, assim impressionado, os recita’.

Também diz Agostinho nas Confissões: ‘Como chorei por causa de teus hinos e cânticos, vivamente comovido pelas suaves palavras do canto de tua Igreja! As palavras fluíam em meus ouvidos e instilava-se a verdade em meu coração, fazendo arder a piedade; corriam-me as lágrimas e sentia-me bem com elas’.

Na verdade, a quem não comovem aquelas frequentes passagens dos salmos onde se canta profundamente a imensa majestade de Deus, a onipotência, a indizível justiça, a bondade ou a clemência e todos os outros infinitos louvores?

A quem não inspiram iguais sentimentos as ações de graças pelos benefícios recebidos de Deus, ou as humildes e confiantes preces pelo que se deseja, ou os clamores do arrependimento dos pecados? A quem não inflama a cuidadosamente velada imagem do Cristo Redentor ‘cuja voz ouvia Agostinho em todos os Salmos a salmodiar, a gemer, a alegrar-se na esperança ou a suspirar pela realização?’”.

É inesgotável a riqueza da oração com os Salmos, como vemos na compreensão da Tradição da Igreja.

Quando rezamos os Salmos, sobretudo na Liturgia das Horas, temos que levar em conta ao menos quatro aspectos: o sentido literário, a dimensão cristológica, eclesiológica e escatológica.

Urge que redescubramos a beleza e riqueza dos Salmos, enriquecendo-nos em nossa espiritualidade, na fidelidade ao Senhor, como discípulos missionários seus.

Salmo: Oração do Povo de Deus

                                    

Salmo: Oração do Povo de Deus

 

Reflitamos sobre os Salmos à luz dos escritos do Bispo Santo Ambrósio (séc. IV).

 

“Embora toda a Divina Escritura exale a graça de Deus, o mais suave é o Livro dos Salmos... A história instrui, a lei ensina, a Profecia anuncia, a correção castiga, a moral persuade.

 

Ora, no Livro dos Salmos há proveito para todos e remédio para a salvação do homem. Quem o lê, tem remédio especial para as chagas das paixões.

 

Quem quiser luta como em ginásio de almas e estádio de virtudes, onde estão preparados diversos gêneros de luta, escolha para si aquele que julgar adequado para mais facilmente alcançar a coroa.

 

Se alguém quiser recordar e imitar os feitos gloriosos dos antepassados, encontrará compendiada num Salmo toda a história de nossos pais, podendo assim enriquecer o tesouro da memória numa breve leitura.

 

Se alguém perscruta a força da lei que está toda no vínculo da caridade (quem ama o próximo, cumpriu a lei), leia então, nos Salmos, com quanto amor um só se expôs aos mais graves perigos para repelir o opróbrio de todo o povo.

 

Donde se reconhece não ser a glória da caridade menor do que o triunfo da virtude. Que direi sobre o dom da profecia? Aquilo que outros anunciaram por enigmas, só a este, aparece clara e abertamente a promessa de que

 

O Senhor Jesus nasceria de sua linhagem, conforme lhe falou. Porei sobre teu trono o fruto de tuas entranhas. Por conseguinte, nos salmos não apenas nasce Jesus para nós, mas ainda aceita a salvífica Paixão de Seu corpo, adormece, ressurge, sobe aos céus, assenta-Se à direita do Pai.

 

O que homem algum ousaria dizer, só este Profeta anunciou e depois o próprio Senhor o manifestou no Seu Evangelho”. (1)

 

Santo Ambrósio se referiu a este Livro, como o mais suave Livro da Divina Escritura.

 

Os Salmos expressam nossa pequenez diante dos mistérios divinos, e se bem rezados e saboreados, trazem à alma do orante alívio e força, graça e luz...

 

Deste modo, refazem sonhos, fortalecem passos, reorientam caminhos, iluminam olhares, e a esperança renasce teimosamente; a confiança se solidifica; a temperança é, no mais profundo de nós, restabelecida.


Enfim, nosso coração fica purificado e cristalino como o coração de uma criança.

 

O Livro dos Salmos é por excelência o Livro da Oração do Povo de Deus, seja rezado, seja cantando; euando não puder ser cantado, com as devidas notas musicais, coloquemos neles as notas musicais e as infinitas melodias que a vida nos apresenta:
 

- O que importa é o Salmo se tornar presente em nossas orações, quer rezado, quer cantado.

- Quando a garganta não produzir as notas, a alma e a vida as produzirão!

- Quem aprendeu a rezar com os Salmos, sem dúvida, reza as mais belas Orações.

 

Os Salmos expressam alegria, gratidão, confiança, súplica, louvores, angústia, sentimento de perda e ausência divina ou Sua sublime presença.

 

Eles fazem parte da vida do Povo de Deus: Salmo 23, 91... Mas há muito mais...


Reflitamos:

 

- Quais os Livros que tenho usado para minha oração?

- Já descobri o Livro dos Salmos como o Livro de Oração dos pobres?

- Quais os Salmos que mais gosto?

- De que modo posso valorizar o Livro dos Salmos?

- Valorizo os Salmos quando rezados ou cantados na Missa?

- Já tive alguma experiência forte rezando algum Salmo da Bíblia?

- O que posso fazer para ajudar as pessoas a descobrirem a beleza e a riqueza dos Salmos?

 

Abramos a Bíblia! 

Saboreemos a suavidade dos Salmos.

Deleitemo-nos com sua beleza e esplendor!

  

(1) Liturgia das Horas - Vol. III - pág. 306-307.

Salmo: oração que eleva nossa alma

                                                               

Salmo: oração que eleva nossa alma

“Orarei com o espírito, orarei com a mente;
salmodiarei com o espírito, salmodiarei com a mente.”

Sejamos enriquecidos pelo Comentário sobre os Salmos, escrito pelo Bispo Santo Ambrósio (Séc.IV), a fim de que salmodiemos com o espírito e a mente.

“O que há de mais agradável que um Salmo? Davi já bem dizia: Louvai ao Senhor, porque é bom o Salmo; a nosso Deus, alegre e belo louvor. E é verdade!

O Salmo é a bênção para o povo, a glória de Deus, o louvor da multidão, o aplauso de todos, a palavra do universo, a voz da Igreja, a canora confissão da fé, a devoção cheia de valor, a alegria da liberdade, o clamor do regozijo, a exultação da alegria.

O Salmo abranda a ira, desfaz a preocupação, consola na tristeza. Ele é a proteção noturna, o diurno ensinamento, um escudo no temor, uma festa na santidade, a imagem da tranquilidade, o penhor de paz e de concórdia, fazendo, à semelhança da cítara, um só cântico de muitas e diferentes vozes.

Na aurora do dia, ressoa o Salmo. Repercute o Salmo ao cair da noite. Rivalizam no Salmo a doutrina e a graça: ao mesmo tempo canta-se para deleite e aprende-se para instrução. O que é que não te ocorre ao ler os Salmos?

Neles leio: Cântico para o amado e logo me inflamo de desejo da sagrada caridade. Neles encontro a graça das revelações, os testemunhos da ressurreição, os dons da promessa. Por eles aprendo a evitar o pecado, desaprendo de envergonhar-me da penitência pelas minhas faltas.

O que é o Salmo senão o instrumento das virtudes com que o venerável Profeta, tangendo-o com a palheta do Espírito Santo, faz ressoar pelo mundo a doçura da música celeste? Ao mesmo tempo em que ele, coordenando por meio de liras e cordas, isto é, das coisas mortas, a distinção dos diversos sons, dirigia o cântico do divino louvor para as realidades supremas. Ensinava com isso, em primeiro lugar, que devíamos morrer ao pecado e, em seguida, discernir em nossa vida mortal as várias obras de virtude pelas quais nossa gratidão se eleva até Deus.

Davi ensinou que devemos cantar no íntimo de nós mesmos, salmodiar no íntimo, como Paulo cantava, pois dizia:

Orarei com o espírito, orarei com a mente; salmodiarei com o espírito, salmodiarei com a mente.

Ensinou também que devíamos ordenar nossa vida e seus atos para a visão das realidades superiores, a fim de que o gosto pela doçura não excite os instintos do corpo, com os quais não se redime nossa alma, ao contrário se torna pesada. 

E, no entanto, o santo Profeta lembra-se de salmodiar para a redenção de sua alma, quando diz: Salmodiarei a Ti, ó Deus, na cítara, Santo de Israel; ao cantar a Ti jubilarão meus lábios e minha alma que remiste.”

Agradeçamos ao Senhor e cantemos salmos de louvor ao Deus Altíssimo, ao som da lira de dez cordas e da harpa, e com canto acompanhado ao som da cítara, como nos convidou o salmista.

Os Salmos são verdadeiras orações que nos acompanham, e expressam nossa vida marcada por angústias e esperança, dores e alegrias, sonhos e pesadelos, perdas e ganhos, procuras e encontros, começos e recomeços, ruínas e construções.

Notemos que os Salmos estão bem no centro da Sagrada Escritura, assim como a oração deve ocupar espaço central em nossa vida. Nada sem a oração!

Portanto, que a acolhida deste Comentário nos ajude a redescobrir cada vez mais a importância da oração feita a partir dos Salmos e com eles.

Rezando com os Salmos, nos alimentamos verdadeiramente com a genuína fonte da Sagrada Escritura, e somos revigorados para o bom combate da fé.

Os Salmos e sua riqueza espiritual

                                                  

Os Salmos e sua riqueza espiritual

Retomo os refrães dos Salmos das Missas 29ª Semana do Tempo Comum, ressaltando a beleza e, ao mesmo tempo motivando, a sua  devida valorização nas Missas e Celebrações.

“O Senhor mesmo nos fez e somos seus” (Sl 99):

De fato, somos obras do Criador; feitos e modelados por Suas mãos e à Sua imagem e semelhança, e o sopro de vida d’Ele recebemos. A Deus pertencemos e, portanto, nossa felicidade será cada vez mais autêntica se nos relacionarmos com este sentido de pertença, rompendo qualquer sombra de autossuficiência, negação d’Aquele que nos predestinou e nos criou para a santidade, no vínculo de uma amizade desejada desde as primeiras páginas da Sagrada Escritura, e consumada de modo indizível no amor do Filho, que nos chamou de amigos e não nos tratou como servos.

“Eis que venho fazer, com prazer, a Vossa vontade, Senhor” (Sl 39):

Rezamos no Pai Nosso – “seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu”. De fato a vontade de Deus deve sempre prevalecer sobre a nossa, porque ela tem horizontes mais vastos que nos levam a atitudes de comunhão, doação, partilha, justiça, solidariedade, amor e verdade. Nem sempre a nossa vontade poderá coincidir com a vontade de Deus, no entanto, sendo a vontade de Deus, que seja feita com “prazer”, com alegria, prontidão, generosidade, altruísmo, sem nada reclamarmos ou obstáculos e condições colocarmos.

“Nosso auxílio está no nome do Senhor” (Sl 123):
Portanto, devemos provar e ver sempre como o Senhor é bom e vem em socorro de nossa fraqueza, nos refaz de nossos cansaços, revigora-nos com Sua graça para que não nos atolemos e nem nos asfixiemos na lama do pecado; ao contrário, Ele nos toma pela mão e nos conduz pelos prados e campinas verdejantes, e se preciso, nos carrega no colo, como o pastor o faz com a ovelha cansada ou ferida.

“É feliz quem a Deus se confia” (Sl 1):

A confiança em Deus nos faz inabaláveis e solidifica a autêntica felicidade, não a felicidade que o mundo dá, mas aquela que o Senhor nos apresentou no Sermão da Montanha, as Bem-Aventuranças. Se pobres em espírito a felicidade somente em Deus e com Deus alcançaremos e tão apenas n’Ele e em Seu poder confiaremos, assistidos pelo Espírito Santo que nos enviou em nome do Seu Filho, Cristo Jesus.

“Ensinai-me a fazer Vossa vontade (Sl 118):

Para que façamos a vontade de Deus com “prazer”, precisamos dos dons do Espírito para discernir a vontade divina nas pequenas e grandes decisões de nossa vida, sobretudo nas mais difíceis, e naquelas em que nossa fé é provada, nossa esperança é desafiada e a prática da caridade é exigida, para que contribuamos na realização do Reino pelo Senhor inaugurado.

“Seu som ressoa e se espalha em toda a terra” (Sl 18):
O som de Deus, como suave brisa divina, se espalha em toda a terra, e nos envolve com Sua ternura e bondade. Isto também se dá pela palavra daqueles que, com coragem, se tornam discípulos missionários do Senhor, proclamam a Santa Palavra, acompanhado de gestos solidários de compaixão e solidariedade, sobretudo em relação aos que mais sofrem e precisam, porque neles se vê a verdadeira face o sofrimento do Cristo, como lemos no Evangelho de Mateus (Mt 25,32-46).

“Eu Vos amo, ó Senhor, sois minha força e Salvação” ( Sl 17):
Deus, que nos criou por amor, quer tão apenas que com Ele nos relacionemos numa resposta livre de amor; amando-O com todo o coração, de toda a alma, e de todo o entendimento, mas quer também que amemos nosso próximo como Jesus nos amou – “amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei” (Jo 13,34). Amando a Deus e ao próximo, experimentamos a força de Deus e trilhamos o caminho da Salvação.

“Nosso Deus é um Deus que salva, é um Deus libertador” (Sl 67):
Cremos que a Salvação vem tão apenas de Deus, que nos criou e por meio de Jesus nos redimiu e nos tornou livres, pois “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1); e o mesmo Espírito que O assistia na missão, também em nós repousa e nos acompanha – “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-21). E assim, podemos rezar como Ele mesmo nos ensinou -  “Venha a nós Vosso Reino, Senhor...” (Mt 6, 10).

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Missão e espiritualidade

                                                         

Missão e espiritualidade

“A missão precisa do ‘pulmão da oração’, da mística,
da espiritualidade, da vida interior”

Neste mês em que a Igreja dedica especial reflexão sobre a sua dimensão missionária, é oportuno reavivarmos a chama da fé acesa no dia do batismo, para sermos sinais de esperança e testemunhas do mandamento do amor, que nos foi confiado, assim como desejou Jesus Cristo ao enviar os discípulos pelo mundo a fora, para proclamar a Sua Boa-Nova a todos os povos (Mt 28,19-20; Mc 16, 15-20).

Disse-nos o Papa Francisco que “não servem as propostas místicas desprovidas de um vigoroso compromisso social e missionário, nem os discursos e ações sociais e pastorais sem uma espiritualidade que transforme o coração. Essas propostas parciais e desagregadoras alcançam só pequenos grupos e não têm força de ampla penetração, porque mutilam o Evangelho. É preciso cultivar sempre um espaço interior que dê sentido cristão ao compromisso e à atividade” (Evangelii Gaudium n.70).

E ressoando as palavras do Papa, no recente Documento 105, sobre a missão dos cristãos leigos e leigas, na Igreja e na sociedade, para que sejam sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14), os Bispos da Igreja do Brasil afirmam: “A missão precisa do ‘pulmão da oração’, da mística, da espiritualidade, da vida interior”.

Portanto, somente uma Igreja que ofereça momentos intensos de oração, aprofundamento da mística para os que dela participam, iluminando com a luz da Palavra de Deus abundantemente proclamada e refletida, através da prática da Leitura Orante, que tanto se tem insistido, nutridos pelo Pão Eucarístico no Banquete indispensável, a Santa Missa, é que poderemos, de fato, dar um sentido novo ao nosso viver, à nossa missão e nossas ações, fora e dentro da própria Igreja, comprometidos em construir uma nova sociedade com vida plena e feliz para todos.

Não podemos ficar indiferentes à realidade a qual estamos inseridos, mas, com coragem, sermos como o sal, que se dissolve para conservar e dar sabor ao alimento. É nossa missão conservar a vida, cuidando, sobretudo do planeta, nossa casa comum; ser luz que não se esconde, mas a todos ilumina; ter um olhar luminoso e o coração sábio para gerar luz; sabedoria para alargar novos horizontes de comunhão, partilha, fraternidade, solidariedade, misericórdia e paz.

Sendo a Igreja “perita em humanidade” não pode se omitir em sua missão de oferecer princípios e fundamentos para os que dela fazem parte, e assim não se omitam em sagrados compromissos no vasto e complicado mundo da família, da economia, da política, dos meios de comunicação, da cultura e muito mais que possa ser mencionado.

E como nos diz o Papa, em uma de suas Mensagens para o dia Mundial das Missões é preciso que sejamos uma “Igreja missionária, testemunha de misericórdia”, que não se fecha em si mesma, e se põe em atitude de permanente missão, aberta a ouvir e se solidarizar misericordiosamente com todos os que clamam por vida e dignidade, fazendo a Palavra de Deus chegar a todos os lugares, sobretudo os que tanto nos desafiam (escolas, universidades, penitenciárias, prédios, condomínios, shoppings, meios de comunicação social, migrantes etc.)

Tudo no tempo de Deus

Tudo no tempo de Deus

“Há um momento para tudo e um tempo
 para todo propósito debaixo do céu.”

Finalizando o segundo ano de missão (de três que se completaram), aos amigos da Diocese de Guarulhos, escrevi mais uma carta falando das atividades junto ao povo da Diocese de Ji-Paraná.

Inicialmente, pedi perdão pelo atraso na resposta das correspondências, e convidei-os a meditar esta passagem do Livro do Eclesiastes - “Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu. Tempo de nascer...” (Ecl 3,1-22)

Há tempo para escrever, tempo para partilhar a correria que foi o mês de setembro. Há tempo em que o tempo brinca conosco, feito criança esperta e nós correndo atrás, às vezes cansados e sem fôlego; tempo de fazer tempo para falar com o outro, ainda que por carta (parece estranho falar em carta hoje, mas naquela época era comum esta comunicação, e estamos falando de apenas quinze anos passados)

Há e haverá sempre tempo, para que possamos partilhar nossa missão e amizade!

Na carta, falei da Missão Jovem, realizada de 8 a 16 de setembro, da alegria vivida, a animação missionária,  as visitas às famílias; o entusiasmo dos mais de 70 missionários (as); a presença do Bispo no encerramento; o resgate do sonho, muitos jovens e famílias afastadas das comunidades.

E ainda um momento inesquecível: o Passeio Ecológico dos Presbíteros, realizado todos os anos por alguns padres diocesanos e religiosos.

Passávamos uma semana no meio da floresta: pescar e descansar e favorecer a amizade e a comunhão entre nós. Naquele ano, fomos para Aripuanã – Mato Grosso.

Ficamos bem próximo à reserva indígena dos zorós, acampados à beira do Rio Branco, sem contato com o mundo, sem telefone, computador, notícias...

Alguns padres bem que tentaram pescar, mas, naquela semana, “o rio não estava para peixe”. Pescou-se o suficiente para as refeições. O calor era intenso, amenizado com um gostoso banho no rio, devidamente vestido por causa do candiru (um peixe que, se penetrar no corpo, cresce e só sai com cirurgia – Ninguém queria correr este risco).

Durante o dia, dentro da barraca não dava para ficar por causa do calor, e de alguns mosquitos pequeninos.

Na rede, não dava para ficar por causa dos piuns, muriçocas, pernilongos. Repelente? Mais parecia “atraente”.

Voltei um dia antes, com a perna marcada pelas picadas. Mas, apesar de tudo, foi muito bom. De vez em quando é bom sair da rotina. No ano seguinte, pretendíamos retornar ao local do primeiro passeio, com mais peixe e menos desconforto.

Na Paróquia, em setembro, realizamos a formação Setorial para Catequistas e Animadores (as) de Grupo de Reflexão/Família: Nossa Paróquia contava com 10 setores. Com nossa Equipe Paroquial de Catequese, de 24 a 27 de setembro, passamos em todos os setores.

O encontro era realizado durante um dia inteiro, durante a semana. Fazíamos um aprofundamento sobre a realidade social, econômica e política que estamos vivendo, pela manhã. À tarde, todos faziam seu deserto, com reflexão e oração, à luz de alguns trechos bíblicos vocacionais.  Revíamos e renovávamos o chamado de Deus para a missão de evangelizador (a).

No mesmo mês, tivemos a Assembleia Diocesana. Comigo, foram mais quatro Agentes de Pastoral de nossa Paróquia. Éramos quase 130 participantes. Avaliamos nossa caminhada à luz das Diretrizes da Evangelização de nossa Diocese.

Fizemos uma revisão de nossa caminhada, a fim de renovar nossa identidade para sermos uma Igreja mais profética, servidora neste Novo Milênio.

Também, fizemos a revisão e aprovação do Novo Diretório para as  Comunidades para orientar a Organização, Sacramentos, Conselhos, Estruturas Pastorais da Diocese.

Toda a Comunidade, para caminhar em comunhão com a Diocese, deveria se orientar pelo Diretório. Foi uma das riquezas que encontrei e reaprendi com a aquela Diocese, que tinha aproximadamente 1400 Comunidades.

O que aconteceria se cada comunidade tivesse suas normas? Ou se cada Comunidade se organizasse e vivesse ao seu modo? E se cada Padre ou Religiosa fizesse de sua Paróquia o seu Mundo?

Na noite da sexta-feira, tivemos um momento de análise de conjuntura, proporcionado pelo Bispo da Diocese (Dom Antonio Possamai), à luz da Carta da CNBB, enviada a todas as comunidades: “Brasil – “Apreensões e esperanças”.

Inspirados nela, fizemos uma Carta aberta a todas as Comunidades, com linguagem simplificada e forte, denunciando a situação de miséria que o país estava vivendo (eram 50 milhões condenados à pobreza...).

Nesta Assembleia, criamos o Conselho Diocesano de Leigos, há muito necessário e desejado...

Partilhei também a visita às comunidades de Presidente Médici, em sua terceira visita do ano. As comunidades do interior tinham Missa apenas 4 vezes por ano, e em dias de semana. Apesar disto, caminhavam, assumindo os diversos ministérios, levando à frente a Evangelização.

Finalizando, escrevi sobre o Encontro de Formação para  30 Ministros do Batismo, Eucaristia e Matrimônio, no mês de outubro;  com avaliação da caminhada, aprofundamento bíblico, celebração do perdão e estudo do novo ritual diocesano para os sacramentos mencionados. Foi um excelente momento de fortalecimento espiritual para todos nós.

Como se pode ver, eram dias intensos, marcados por muitas atividades. Por isto, afirmo que o tempo de missão foi fecundo e marcante para o meu Ministério Presbiteral. Agradeço a Deus sempre pela graça destes três anos memoráveis em minha vida, com marcas de saudades e gratidão.

PS: Escrito em 2000 quando em missão na Diocesede Ji-Paraná - Rondônia

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG