domingo, 1 de outubro de 2023

Memórias Missionárias...

Água: ouro azul do milênio

Retomo parte de um artigo que escrevi, quando em missão na Diocese de Ji-Paraná (RO) para o Jornal da Diocese de Guarulhos, que tinha como título “Água: ouro azul do novo Milênio”, que acenava para a necessária reflexão do tema ecológico de fundamental importância para a nossa sobrevivência: a questão da água.

Na ocasião, aconteceu a 1ª Caravana das águas na Amazônia (19 a 22 de maio de 2002), um Evento promovido por vários organismos que lutam em defesa da vida dos menos favorecidos e do meio ambiente.

O objetivo era chamar a atenção de toda a sociedade para os projetos de desenvolvimento que o Governo brasileiro, atendendo ao pedido dos americanos e seu grupo, vinha implantando naquela região.

Estes projetos condenavam à morte a vida da região, não somente das espécies, fauna e flora, como também a vida dos povos que sobrevivem na Amazônia.

Também tinha como objetivo denunciar a depredação das florestas, da sua biodiversidade, a poluição dos rios feita pelas grandes empresas, em sua maioria, multinacionais instaladas naquela região, que visavam apenas o lucro fácil, sem se importarem com a vida dos que nela estão.

Estava na pauta do dia a configuração da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), que tem como objetivo principal a internacionalização da Amazônia, com a perda da soberania brasileira sobre a região amazônica, colocando-a a mercê de um pequeno grupo, que visa tão apenas o lucro obtido com as riquezas naturais.

Vários são os motivos do interesse internacional pela Amazônia. Segundo a ONU, até 2025 cerca de um terço da humanidade terá difícil acesso à água potável.

Em alguns países a água já e mais cara que o petróleo. Dois terços do planeta é agua; desses dois terços 97% é água salgada (mar/oceano) e apenas 35% de toda água do planeta é doce, servindo para consumo, e destes, 3%, grande parte é gelo (2,4%).

O Brasil tem 8% de toda a água potável do planeta, sendo que 80% está localizada na Amazônia. Pode-se afirmar que a água será em breve o bem mais precioso da terra, por isto é chamada de “Gold Blue”, ouro azul.

Só que não é a água apenas que desperta a cobiça dos americanos. A Amazônia tem a maior e mais rica biodiversidade da terra. Segundo alguns especialistas, a riqueza da Amazônia ultrapassa a casa dos 4 trilhões de dólares.

A causa da romaria era e continua sendo a mesma: que a Amazônia seja patrimônio da humanidade sim, mas que acima disto, seja um patrimônio público, sob a soberania e gerenciamento do Estado.

Sendo um bem garantido a todos, principalmente para os povos que nela vivem, não expondo a Amazônia a lei do mercado e dos interesses de grupos capitalistas que pensam somente no lucro, exploração e destruição da mesma.

O desenvolvimento da Amazônia deve ser pensado a partir dos povos que nela vivem, fora disto é impossível desenvolvê-la sem destruí-la.

Conhecer, amar e defender a Amazônia, para que, no futuro, quando for perguntado “Onde estão os arvoredos? Responderemos: Desapareceram. Nos perguntarão: Onde estão os pássaros? Responderemos: Desapareceram também. Será o final da vida ou o início de nossa sobrevivência”.

A reflexão sobre a questão da água é um tema mais do que urgente, ao lado de outras questões não menos importantes como a biodiversidade, a preservação da Amazônia, bem como de seus povos, sobretudo dos povos ribeirinhos (que vivem nos rios e suas margens) e os povos indígenas, legítimos donos destas terras e suas riquezas.

Amar e cuidar da natureza é amar, cuidar e preservar o futuro da humanidade, o futuro de nós mesmos.

Como vemos, a questão da água é gravíssima, e por isto também a Igreja do Brasil, pouco mais tarde (2004) fez a inesquecível Campanha da Fraternidade sobre a água, com o tema: Fraternidade e Água; e o lema: “Água, fonte de Vida”.

Vemos quão grave é a questão da crise hídrica, que vem nos desafiando há décadas e séculos, e não podemos ficar à margem desta questão, indiferentes e omissos. Grande é o desafio para que todos tenhamos direito a este bem indispensável e vital: água, o ouro azul do milênio.


PS: Publicado no jornal Folha Diocesana – Guarulhos – Ed. nº75. (2002)

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