quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Se Te fiz chorar...

                                                     


Se Te fiz chorar...

A passagem do Evangelho (Lc 19,41-44):

“E como estivesse perto, viu a cidade e chorou sobre ela, dizendo: ah! Se neste dia também tu conhecesses a mensagem de paz! Agora, porém, isso está escondido a teus olhos. Deitarão por terra a ti e a teus filhos no meio de ti, e não deixarão de ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste o tempo em que foste visitada!” 

Uma das páginas evangélicas em que aparece mais claramente a profunda humanidade de Jesus. Ele como qualquer pessoa Se comove e chora diante de fatos que provocam sofrimento, como também  aconteceu na morte de Seu amigo Lázaro (Jo 11,35).

Jesus chora a morte de um amigo, como também podemos chorar a morte dos nossos. Chora, mas não Se curva à aparente impotência do choro de comoção e compaixão. Ele tem a Palavra de Vida Eterna, Palavra que se crida e vivida é garantia de Ressurreição.

Chora a aparente vitória da morte que inevitavelmente nos acompanha, inexoravelmente, mas se irrompida em atitude de vigilância, torna-se o começo de uma vida com dias sem ocaso, que desabrocha no tempo que não conhece o fim, porque nos introduz na plenitude da luz divina.

Lágrimas pela morte de Lázaro, lágrimas pelo recrudescimento de Jerusalém, a Cidade que mata seus mensageiros de paz, seus divinos, tenazes, intrépidos e audazes Profetas. E, diante da vinda do Verbo, como a máxima e definitiva manifestação do Amor de Deus, se fecha.
   
Jerusalém arranca lágrimas do Senhor pela sua incredulidade, impiedade,  e não se abre à Boa Notícia, pelo Filho Amado, anunciada e testemunhada.

Fecha-se em sua mediocridade, arrogância e autossuficiência,

Não acolhe a mensagem de paz trazida pela Divina Fonte, O autor e consumador da mensagem, autor e consumador da fé que oferece a plenitude de vida e paz.

Faz verter lágrimas na face humana do Verbo Divino, que um dia se fez tão frágil, um Deus Homem Menino, experimentando o desprezo, a falta de humana acolhida.

Mas, hoje também não fazemos verter lágrimas na face do Senhor?
Não multiplicamos sinais de morte, indiferença, maldita violência?
Não compactuamos com a injustiça, mazelas caducas do poder?

E agora diante de Ti, Senhor, questiono-me,
Se Te fiz chorar, Senhor, peço perdão.
Não quero mais fazê-Lo, desejo do coração.

Se Te fiz chorar, Senhor, peço perdão
Pelo Batismo não vivido, pelo compromisso não assumido,
Fermento não ter sido, luz não comunicada, sabor não oferecido.

Se Tua Palavra se tornou tão apenas uma palavra qualquer,
Se esvaziei Tua Palavra de conteúdo e densidade,
Por uma vida também esvaziada de conteúdo de santidade

Se Te fiz chorar, Senhor, peço perdão,
Se também fiz da fé uma aparência
Sem abertura sincera do coração

Se Te fiz chorar, Senhor, peço perdão,
Por promessas santas um dia feitas,
Curvado pela fragilidade, não intensamente vividas.

Se Te fiz chorar Senhor, peço perdão
Se não permiti que reinasse em meu coração
Em compromissos de amor, serviço e doação.

Se Te fiz chorar, Senhor, não apenas peço perdão,
Peço que me ajude a ser melhor,
A permanecer firme na fé, contigo que és Caminho.

Se Te fiz chorar, Senhor, não apenas suplico perdão,
Peço que me regue no chão fecundo do coração
A divina semente da esperança que somente Tu possuis.

Se Te fiz chorar, Senhor, agradeço finalmente
Por ter para comigo imensurável compaixão,
Que emana de Teu indescritível e Diviníssimo coração!
Amém.


PS: Passagem do Evangelho de Lucas  (Lc 19, 41-44) da Missa da quinta-feira da 33ª Semana do Tempo Comum.

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