sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Generosa oferta da pobre viúva no templo

 


Generosa oferta da pobre viúva no templo

Sejamos enriquecidos pela Carta n.32 de São Paulino de Nola (séc.V).

Tens algo - diz o Apóstolo - que não tenhas recebido? Portanto, amadíssimos, não sejamos avaros de nossos bens como se eles nos pertencessem, mas negociemos com eles como com um empréstimo.

Foi-nos confiada a administração e o uso temporal dos bens comuns, não a eterna posse de uma coisa privada. Se na terra a consideras tua somente temporalmente, poderás torná-la tua eternamente no céu.

Se recordares aqueles empregados do Evangelho que receberam alguns talentos de seu Senhor e o que o proprietário, ao seu regresso, deu a cada um em recompensa, reconhecerás quanto mais vantajoso é depositar o dinheiro na mesa do Senhor para fazê-lo frutificar, que conservá-lo intacto com uma fidelidade estéril; compreenderás que o dinheiro ciosamente conservado, sem o menor rendimento para o proprietário, tornou-se para o empregado negligente em um enorme desperdício e em um aumento de seu castigo.

Recordemos também aquela viúva, que se esquecendo de si mesma e preocupada unicamente pelos pobres, pensando somente no futuro, deu tudo o que tinha para viver, como o testemunha o próprio juiz.

Os outros - diz - lançaram daquilo que tinham de sobra; porém esta, mais pobre talvez do que muitos pobres - já que toda a sua fortuna se reduzia a duas moedas -, mas em seu coração mais admirável que todos os ricos, posta sua esperança somente nas riquezas da eterna recompensa e ambicionando para si somente os tesouros celestiais, renunciou a todos os bens que procedem da terra e à terra retornam.

Lançou o que tinha, para possuir os bens invisíveis. Lançou o corruptível, para adquirir o imortal. Aquela pobrezinha não menosprezou os meios previstos e estabelecidos por Deus em vista da consecução do prêmio futuro; por isso o legislador também não se esqueceu dela, e o árbitro do mundo antecipou sua sentença: no Evangelho ele elogia aquela que corará no juízo.

Negociemos, portanto, ao Senhor com os próprios dons do Senhor; nada possuímos que dele não tenhamos recebido, sem cuja vontade nem sequer existiríamos. E, sobretudo, como poderemos considerar algo nosso, nós que, em virtude de uma hipoteca importante e peculiar, não nos pertencemos, e não só porque fomos criados por Deus, mas por sermos redimidos por ele?

Congratulemo-nos por sermos comprados a grande preço, ao preço do sangue do próprio Senhor, deixando por isso mesmo de sermos pessoas vis e venais, já que a liberdade que consiste em sermos livres da justiça é mais vil que a própria escravidão.

Aquele que assim é livre, é escravo do pecado e prisioneiro da morte. Restituamos, pois, ao Senhor os seus dons; demos a Ele, que recebe na pessoa de cada pobre; demos, insisto, com alegria, para receber dele a plenitude da alegria, como Ele mesmo disse.” (1)

“Lançou o que tinha, para possuir os bens invisíveis. Lançou o corruptível, para adquirir o imortal.”. Muito temos que aprender com esta pobrezinha viúva no templo.

Peregrinando na esperança, como discípulos do Senhor, temos que confiar na divina providência, em alegre entrega do pouco que temos, para que aconteça o milagre da partilha, e sejamos cumulados de todos bens e graças, e nada nos faltará.

De fato, a generosidade da viúva, sua humilde oferta, nos questiona quanto à nossa colaboração na manutenção da ação evangelizadora em todas as suas dimensões (religiosa, missionária, social e caritativa) (cf. Doc. 106 CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

 

(1)  Lecionário Patrístico Dominical, Editora Vozes, 2013 - pp. 502-503.

PS: Passagens do Evangelho – (Mc 12,38-44; Lc 21,1-4)

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