Generosa
oferta da pobre viúva no templo
Sejamos
enriquecidos pela Carta n.32 de São Paulino de Nola (séc.V).
“Tens algo - diz o Apóstolo - que não tenhas recebido? Portanto,
amadíssimos, não sejamos avaros de nossos bens como se eles nos pertencessem,
mas negociemos com eles como com um empréstimo.
Foi-nos
confiada a administração e o uso temporal dos bens comuns, não a eterna posse
de uma coisa privada. Se na terra a consideras tua somente temporalmente,
poderás torná-la tua eternamente no céu.
Se
recordares aqueles empregados do Evangelho que receberam alguns talentos de seu
Senhor e o que o proprietário, ao seu regresso, deu a cada um em recompensa,
reconhecerás quanto mais vantajoso é depositar o dinheiro na mesa do Senhor
para fazê-lo frutificar, que conservá-lo intacto com uma fidelidade estéril;
compreenderás que o dinheiro ciosamente conservado, sem o menor rendimento para
o proprietário, tornou-se para o empregado negligente em um enorme desperdício
e em um aumento de seu castigo.
Recordemos
também aquela viúva, que se esquecendo de si mesma e preocupada unicamente
pelos pobres, pensando somente no futuro, deu tudo o que tinha para viver, como
o testemunha o próprio juiz.
Os outros - diz - lançaram daquilo que tinham de sobra; porém esta, mais pobre talvez do
que muitos pobres - já que toda a sua fortuna se reduzia a duas moedas -,
mas em seu coração mais admirável que todos os ricos, posta sua esperança
somente nas riquezas da eterna recompensa e ambicionando para si somente os
tesouros celestiais, renunciou a todos os bens que procedem da terra e à terra
retornam.
Lançou
o que tinha, para possuir os bens invisíveis. Lançou o corruptível, para
adquirir o imortal. Aquela pobrezinha não menosprezou os meios previstos e
estabelecidos por Deus em vista da consecução do prêmio futuro; por isso o
legislador também não se esqueceu dela, e o árbitro do mundo antecipou sua
sentença: no Evangelho ele elogia aquela que corará no juízo.
Negociemos,
portanto, ao Senhor com os próprios dons do Senhor; nada possuímos que dele não
tenhamos recebido, sem cuja vontade nem sequer existiríamos. E, sobretudo, como
poderemos considerar algo nosso, nós que, em virtude de uma hipoteca importante
e peculiar, não nos pertencemos, e não só porque fomos criados por Deus, mas
por sermos redimidos por ele?
Congratulemo-nos
por sermos comprados a grande preço, ao preço do sangue do próprio Senhor,
deixando por isso mesmo de sermos pessoas vis e venais, já que a liberdade que
consiste em sermos livres da justiça é mais vil que a própria escravidão.
Aquele
que assim é livre, é escravo do pecado e prisioneiro da morte. Restituamos,
pois, ao Senhor os seus dons; demos a Ele, que recebe na pessoa de cada pobre;
demos, insisto, com alegria, para receber dele a plenitude da alegria, como Ele
mesmo disse.” (1)
“Lançou o que tinha,
para possuir os bens invisíveis. Lançou o corruptível, para adquirir o
imortal.”. Muito
temos que aprender com esta pobrezinha viúva no templo.
Peregrinando
na esperança, como discípulos do Senhor, temos que confiar na divina
providência, em alegre entrega do pouco que temos, para que aconteça o milagre
da partilha, e sejamos cumulados de todos bens e graças, e nada nos faltará.
De fato, a generosidade da viúva, sua humilde oferta, nos
questiona quanto à nossa colaboração na manutenção da ação evangelizadora em
todas as suas dimensões (religiosa, missionária, social e caritativa) (cf. Doc.
106 CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
(1) Lecionário
Patrístico Dominical, Editora Vozes, 2013 - pp. 502-503.
PS: Passagens do Evangelho – (Mc 12,38-44; Lc 21,1-4)
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