sexta-feira, 24 de novembro de 2023

“Quem nos separará do amor de Cristo?”

                                                           

“Quem nos separará do amor de Cristo?”

No dia 24 de novembro, celebramos a memória do Presbítero Santo André Dug-Lac e seus companheiros mártires, e o Ofício das Leituras nos apresenta a Carta de Paulo Le Bao-Tinh aos alunos do Seminário de Ke-Vinh, de 1843, sobre a participação dos mártires na vitória de Cristo Rei.

“Eu, Paulo, preso pelo nome de Cristo, quero levar ao vosso conhecimento as minhas tribulações cotidianas que me assaltam de todos os lados, para que, inflamados pelo amor de Deus, possais louvá-lo, porque a sua misericórdia é eterna (Sl 117,1).

O meu cárcere é verdadeiramente uma imagem do fogo eterno. Aos cruéis suplícios de todo gênero, como grilhões, algemas e ferros, juntam-se ódio, vingança, calúnias, palavrões, acusações, maldades, falsos testemunhos, maldições e, finalmente, angústia e tristeza.

Mas Deus, que outrora libertou os três jovens da fornalha acesa, sempre me assiste e libertou-me dessas tribulações, que se tornaram suaves, porque a sua misericórdia é eterna!

Graças a Deus, no meio desses tormentos que continuam a apavorar os outros, sinto-me alegre e contente, pois não me julgo só, mas com Cristo. Nosso Mestre suporta todo o peso da Cruz, deixando-me apenas uma pequena e ínfima parte: não é só testemunha do meu combate, mas combatente, vencedor e consumador de toda luta. Assim, sobre Sua cabeça é que foi colocada a coroa da vitória, de cujo triunfo participam também os Seus membros.

Como, porém, Senhor, suportar tal espetáculo, ao ver diariamente os imperadores, os mandarins e seus soldados blasfemarem vosso santo nome, quando estais acima dos querubins e serafins? (cf. Sl 79,3). Eis que a Vossa Cruz é calcada pelos pagãos! Onde está a Vossa glória? Ao ver tudo isso, me inflamo por vós, preferindo morrer com os membros amputados, em testemunho do Vosso amor!

Mostrai, Senhor, o Vosso poder, salvando-me e protegendo-me. Que a força se manifeste na minha fraqueza e seja glorificada ante os gentios, pois, se eu vacilar no caminho, Vossos inimigos, cheios de orgulho, poderão levantar as cabeças.

Caríssimos irmãos, ao ouvirdes tudo isto, dai alegremente graças imortais a Deus, do qual procedem todos os bens. Bendizei comigo o Senhor, porque a Sua misericórdia é eterna! Minha alma engrandeça o Senhor e meu espírito exulte de alegria em Deus, meu Salvador; porque olhou para a humildade de Seu servo (cf. Lc 1,46-48), todas as gerações me proclamarão bendito, porque a Sua misericórdia é eterna!

Cantai louvores ao Senhor, todas as gentes, povos todos, festejai-O (Sl 116,1), porque Deus escolheu o que é fraco no mundo para confundir os fortes, e o que é vil e desprezível (1Cor 1,27-28), para confundir os nobres. Pelos meus lábios e inteligência, Deus confunde os filósofos, os discípulos dos sábios deste mundo, porque a Sua misericórdia é eterna!

Tudo isto vos escrevo, para unirdes à minha a vossa fé. No meio desta tempestade lanço a âncora, a viva esperança que trago no coração, até ao trono de Deus.

Caríssimos irmãos, correi de tal modo que possais alcançar a coroa: revesti-vos com a couraça da fé (1Ts 5,8), tomai as armas de Cristo, à direita e à esquerda, segundo os ensinamentos de São Paulo, meu patrono. É melhor para vós entrar na posse da vida comum só olho ou privados de algum membro (cf. Mt 5,29), do que serdes lançados fora com todos eles.

Vinde em meu auxílio com vossas preces, para que possa combater, segundo a lei, o bom combate, e combater até o fim, encerrando gloriosamente a minha carreira. Se já não nos podemos ver nesta vida, tal felicidade nos está reservada para o futuro, quando, junto ao trono do Cordeiro imaculado, exultantes com a alegria da vitória, cantaremos em uníssono eternamente os seus louvores. Assim seja.”

Anunciaram o Evangelho no extremo oriente da Ásia, nas regiões do Vietnã de hoje, o Evangelho já vinha sendo anunciado desde o século XVI. Contudo, de 1625 a 1886, excetuados breves períodos de paz, os governantes dessas regiões tudo fizeram para despertar o ódio contra a religião cristã e os discípulos de Cristo.

Canonizados pelo Papa São João Paulo II, no dia 19 de junho de 1988, foram inscritos 117 deles no rol dos santos mártires. Entre eles, 11 missionários dominicanos espanhóis, 10 franceses e 96 mártires vietnamitas.

Note-se que quanto mais foram perseguidos, maior se tornava o fervor cristão, tendo como resultado um elevadíssimo número de mártires: 8 bispos, 50 sacerdotes e 59 leigos, de diversas idades e condições sociais, na maioria pais e mães de família e, alguns, catequistas, seminaristas e militares.

Sejamos revigorados pelo testemunho destes mártires no bom combate da fé, no testemunho da esperança e na esforçada caridade a ser vivida.

Experimentemos também nós a força e a vitória, crendo no Senhor Jesus, que conosco está e caminha, e nada de fato nos separe d’Ele, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo (cf Rm 8,35-39).

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