sexta-feira, 12 de julho de 2024

Precisa-se de Profetas! (Parte IV)

                                                            

Precisa-se de Profetas! 
O Profeta é o poeta que sonha...

Precisa-se de Profetas, que são aqueles que sabem dar a ousada e necessária resposta aos desafios de cada tempo.

E o Profeta sabe em quem confiou:
“O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei?” (Sl 27,1)

Por isto arrisca a vida contra toda incompreensão, solidão, abandono, perseguição; jamais se deixando intimidar na luta incansável contra a idolatria, empenhando-se na luta pela libertação integral da pessoa e de todas as pessoas... Jamais se deixará devorar pelas estruturas de morte que devoram a vida.

Num mundo em que muitos já não têm esperança (alguns falam em “hopelessness”), o Profeta é, por excelência, homem da esperança divina contra toda falta de esperança humana.

Pessoa humana concreta, com paixões, sentimentos, limitações... Possui uma sexualidade integrada e integradora, possibilitando que esteja bem consigo e com todos.

A conjuntura atual está sempre na mente e no coração do Profeta! Portanto, o Profeta deve buscar respostas para os desafios, não se conformando diante destes, procurando a libertação de todo mal, de toda e qualquer forma de eliminação da vida...

Diante de práticas e mentalidades de banalização e violação da vida, o Profeta não deixa perder o valor sagrado da vida diante dos avanços da biotecnologia...

Ama e defende a vida, desde a concepção até seu declínio natural. Preocupado e desejoso de um futuro promissor, o Profeta sabe o quanto é preciso investir na educação e conscientização das crianças e juventude, sendo assim, compromete-se com a juventude que se degrada e se elimina: “juventude uma opção que não podemos deixar de fazer”.

Sua missão exige dinamismo invejável para promover o cortejo da vida: caminho da esperança, ressurreição, transformação do choro de morte na alegria da vida...; em contraposição aos cortejos de morte: sem esperança, fome, analfabetos, excluídos, drogados, vazios de sentido existencial, relativismo, etc., para que sua profecia chegue à alma daquele que o ouve...

O Profeta é o poeta que sonha... Mas que não sonha só,
Porque é parte de um povo que a Deus se consagra.

Como poeta, escreve a poesia e o canto de um
Mundo Novo, onde todos possam viver
como irmãos e filhos de um mesmo Pai.

O Paraíso é possível (28/11)

O Paraíso é possível

Como se pudéssemos visitar o Paraíso nos primeiros dias da criação, e acompanhar atentamente a obra do Criador, por meio do qual tudo foi criado, na plena comunhão com o Espírito, por um momento apenas.

Veríamos os primeiros dias se sucedendo, e cada criatura, espaço, tudo criado na mais perfeita harmonia, e a obra completa, quando criado o primeiro homem, do barro e com o sopro divino, e a mulher tirada do seu lado, osso dos ossos do homem criado, ambos imagem do Criador, acompanhado da exultação do Criador vendo que tudo era muito bom.

Como se pudéssemos ainda lá permanecer, não repetiríamos o primeiro pecado de nossos pais, que quiseram ser como deuses, comendo do fruto da árvore proibida?

Não seríamos devorados de inveja como o primeiro fratricida, derramando sangue de um inocente?

Muito mais do que uma realidade plausível, as primeiras páginas do Livro Sagrado nos desafiam a reinventar a condição humana, repensar e rever as relações entre nós, para que voltemos a gozar da alegria, da harmonia, da amizade, da perfeição do início da criação.

Não fincar âncoras no passado do Paraíso, como estéril lembrança, mas lançar nosso barco em águas mais profundas, com a certeza de que o Senhor nele se encontra, para que avancemos, apesar de ventos contrários, ao encontro da alegria plena, da vida, e, por fim, da eternidade.

A melhor concepção de Paraíso que podemos ter, é como um projeto que nos desafia e que requer de nós todos empenho incansável, sem perda de tempo, dado que este é irreversível.

O Paraíso é possível quando  renovamos nossa fidelidade, amizade e intimidade com Deus Uno e Trino, que nos criou para nos amar, e deliciosamente conosco se relacionar, dialogar, e por que não, brincar, ainda que pareça estranha esta possibilidade, talvez porque vivemos num mundo marcado pela maldade, insano mal humor, que um dia há de ser varrido das páginas escritas no quotidiano.

O Paraíso é possível quando, de fato, o Senhor for nosso Caminho que nos conduz ao Pai, e que, inevitavelmente, nos conduz também ao encontro do outro, como Ele próprio expressou no maior Mandamento do Amor a Deus, sem divorciá-lo do amor ao próximo.

O Paraíso é possível quando não fugirmos por atalhos que nos distanciam de Deus, pois este distanciamento é o encontro com a própria infelicidade, a não realização; vazio absurdo, escuridão e desolação.

O Paraíso é possível quando não trocarmos a via estreita da cruz, pelas largas estradas que o mundo oferece das felicidades ilusórias, verdades transitórias, porque relativas, prazeres sem compromisso que não emanam da autêntica fonte da felicidade, do consumismo que não preenche, ao contrário, nos consome, nos esvaziando do belo, do brilho, do encantamento; das inúmeras estradas que fomentam o individualismo, arrivismo, inveja, competição, fundamentalismos, fanatismos, preconceitos, atitudes prometéicas...

O Paraíso é possível quando enveredamos não por ruas estreitas da desesperança, insalubres, funestas, violentas, manchadas de sangue, mas pelas alamedas da fé, com raízes fincadas nas entranhas de nosso coração.

Deste modo se abrirão avenidas largas da esperança com horizontes bem próximos de maior comunhão, amizade, fraternidade, sem quaisquer resquícios e sombra da maldade, que turva e polui as águas límpidas que banham a alma de quem tem fé.

Nossa esperança, nutrida pela Seiva do Espírito que conduz e ilumina a história, possibilitará que floresçam e frutifiquem saborosos frutos que nos fazem acreditar no gosto indizível do amor, que nossos pais trocaram pelo fruto proibido, da ciência, do bem e do mal, mas tão longe e vazios do mais pleno, belo e verdadeiro Amor: o Amor de Deus.

O Paraíso é possível, sem saudades estéreis, mas com renovados, sagrados e incansáveis compromissos com a Boa-Nova do Reino que o Senhor veio semear em nossos corações, chão fértil, assim o seja, abertos ao Divino Semeador e Sua Sagrada Semente: Sua Palavra.

A Sagrada Escritura, do primeiro Livro (Gênesis) até o último (Apocalipse), lida, meditada, fonte de Oração, acompanhada da contemplação, nos levará a humanas e, por que não, sagradas ações, para que o novo céu e a nova terra sejam alcançadas.

Peregrinamos reinventando o Paraíso em busca de novos céus e nova terra porque temos fé; cultivamos a esperança e tornamos tudo isto credível pelo empenho em viver a maior de todas as virtudes que jamais passará: a caridade, como nos falou o Apóstolo Paulo (1 Cor 13, 1-13).

Correspondamos à fidelidade e ao amor de Deus

 


Correspondamos à fidelidade e ao amor de Deus

Como discípulos missionários do Senhor, reflitamos sobre o batismo, o acontecimento capital de nossa vida, o grande milagre da nossa vida, que antes de ser um compromisso com a Trindade Santa, é sempre um ato de amor para com a humanidade, à luz da passagem do Livro do Êxodo (Ex 14,5-18) – “Saberão que Eu sou o Senhor, quando Eu for glorificado às custas do Faraó” (cf. Ex 15,17).

Oremos

Senhor Deus, pusestes à prova o Seu povo, que começou a sequência de infidelidades, mas jamais o abandonaste, porque é próprio de quem ama, não abandonar o amado.

Por amor, quisestes levá-lo à liberdade, mas fostes esquecido, e à infidelidade respondeste com fidelidade, pois tens uma Palavra somente, Palavra que jamais retirais, pois irrevogável.

Senhor Deus, contemplo a história do êxodo como a história de nossa libertação e de renovada escravidão; uma história de fidelidade e infidelidade, atos de obediência e rebeldia, em que esperais sempre retorno e pronto a nos acolher.

Senhor, Deus, que viveis em comunhão com Filho e o Espírito Santo, nós Vos glorificamos e damos graças, pois pelo Batismo nos concedeis a graça de nos tornarmos cristãos, membros ativos de uma Igreja verdadeiramente Sinodal, caminhando sempre juntos, a serviço do Vosso Reino. Amém.

 

 

Fonte: Missal Cotidiano -Editora Paulus – p.1046

Permaneçamos fiéis até o fim

                                                    

Permaneçamos fiéis até o fim

 “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo,
mas não podem matar a alma!”

Reflexão à luz das passagens do Evangelho de Mateus (Mt 10,16-23; Mt 10,24-33), em que Jesus envia os discípulos em missão como ovelhas para o meio de lobos.

Exorta para que sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas, acompanhado de outras exortações, concluindo com o imperativo para que os discípulos permaneçam fiéis até o fim, vencendo as provações, perseguições, e tão somente assim serão salvos.

Refletimos sobre a solicitude e o Amor de Deus para com aqueles que Ele chama e envia em missão, uma vez que a perseguição está sempre presente no horizonte dos discípulos de Jesus.

Assim aconteceu com Jeremias e tantos outros profetas (Jr 20, 10-13). O Profeta Jeremias sofreu o abandono dos amigos, o sofrimento, a solidão e a perseguição, por isto é um paradigma do Profeta sofredor, que merece ser lembrado para nos inspirar e fortalecer na caminhada de fé e no testemunho da vocação profética.

Este fez forte apelo à conversão e a fidelidade a Javé e à Aliança, num período, da história do Povo de Deus, marcado por desgraças, infidelidade e injustiça social.

Por sua veemência e fidelidade, Jeremias é chamado de o “amargo Profeta da desgraça” e é acusado de traidor. Sua missão tem um alto preço pago: o abandono e a solidão. Ele é tratado como objeto de desprezo e de irrisão e tido como um maldito, porque não é aceita e compreendida sua mensagem em nome de Javé.

Encontramos no Livro desabafos seus, expressando desilusão, amargura, queixas, confissões e frustração, mas mantém-se fiel, porque estava verdadeiramente apaixonado pela Palavra de Deus.

Apesar do abandono experimentado, até dos amigos mais íntimos, eleva hino de louvor, que expressa confiança em Deus, para além de todo o sofrimento e perseguição.

Bem sabemos que o caminho do Profeta é marcado pelo risco da incompreensão e da solidão, e precisamos de coragem para trilhar este caminho, com a certeza e confiança de que Deus jamais nos abandona.

Portanto, ontem e hoje, os discípulos missionários precisam superar toda a forma de desânimo e frustração decorrentes das perseguições, e nestes versículos assim como nos versículos sucessivos  encontramos uma espécie de “manual do missionário cristão”, que consiste no “discurso da missão” – “Para mostrar que a atividade missionária é um imperativo da vida cristã. Mateus apresenta a missão dos discípulos como a continuação da obra libertadora de Jesus” (1).

Três vezes aparece a expressão “Não temais”, assegurando a presença, ajuda e proteção divina para superação do medo que impeça a proclamação da Boa Nova; o medo da morte física; e neste medo se pode experimentar a solicitude de Deus, um cuidado que desconhece limites.

A mensagem é que a vida em plenitude é para quem enfrentar o medo, na fidelidade, até o fim. O medo não pode nos deixar acomodados.

A ternura, a bondade e a solicitude divina são imprescindíveis, pois fortalecem na missão. É preciso se entregar confiadamente nas mãos de Deus:

“Jesus encoraja os Seus discípulos a alargar o horizonte da vida e a avaliar os riscos vividos por Sua causa, no contexto mais amplo da vida com Deus, da vida eterna.

O cristão é chamado a viver na confiança de que o Pai não o abandona nas mãos dos perseguidores (v.28), que a sua vida, a sua salvação custou o Sangue do Filho e tem por isso, aos Seus olhos, um valor imenso (vv. 29-31).

A fidelidade e a confiança no Senhor serão recompensadas por aquele ‘reconhecimento’ que já se manifestou na Ressurreição de Cristo” (2).

No testemunho da fé, é possível a perseguição, portanto é necessária a confiança. Anunciar e testemunhar a Boa-Nova é não deixar que o medo nos paralise, pois o medo nos impede de sermos autênticos discípulos missionários:

“O cristão não é chamado a procurar o martírio como prova da sua fé, mas a viver constantemente a vida com os olhos fixos no Alto, isto é, a alargar aquele horizonte que hoje, mais do que nunca, tende a fechar-se no círculo dos benefícios desfrutáveis, aqui e agora.” (3)

Também nós precisamos ouvir a todo instante – “Não tenhais medo”. É preciso que a Palavra de Jesus ressoe em nossos ouvidos e fique entranhada no mais profundo de nosso coração:

“Impressiona a história de tantos mártires cristãos, antigos e atuais, que escolheram o caminho da coerência e da fidelidade ao Senhor a custo da própria vida.

É com eles que nos encontramos na Comunhão dos Santos, vivida, sobretudo, na Celebração Eucarística; uma companhia que a comunidade dos crentes gosta de ter ao seu redor, mesmo com as pinturas, os afrescos, os mosaicos que adornam as nossas Igrejas (hoje reduzidas muitas vezes a belas obras que se admiram em igrejas-museu) expressões artísticas surgidas para tornar humanamente visível o que vivemos na fé.” (4)

Considerando a nossa realidade existencial, marcada pela fragilidade, portanto, ela é necessitada da força e intervenção divina.

Urge que, como cristãos, levantemos o olhar para a vida a que Cristo nos chama, ou seja, “viver a força de contestação profética que viveu Jeremias, que Jesus levou perante as autoridades judaicas e romanos e conduziu os Apóstolos ao martírio.

É na relação íntima e comunitária que vivemos com  Deus, no desejo de sermos reconhecidos por Ele que se reforça a adesão a Cristo e ao seu Evangelho, com a esperança libertadora de vivermos confiando no Pai.” (5)

Oremos:

“Senhor, nosso Deus, dai-nos por toda a vida a graça de Vos amar e temer, pois nunca cessais de conduzir os que firmais no Vosso amor. Por N. S. J. C. Amém.”



(2) (3) (4) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - p. 560.
(5) Idem p. 561.

PS: Oportuno para celebrarmos a Festa de Santo Estêvão - 26 de dezembro em que se proclama a passagem do Evangelho de  Mateus (Mt 10,17-22).

“Pai, nunca mais longe de Ti”

                                                            


“Pai, nunca mais longe de Ti”

“Serei como orvalho para Israel; 
ele florescerá como o lírio e lançará raízes como plantas do Líbano. 
Seus ramos hão de estender-se; 
será seu esplendor como o da oliveira 
e seu perfume como o do Líbano” (Os 14,6-7)

Sejamos enriquecidos por este Comentário do Missal Cotidiano, sobre a passagem do Profeta Oseias (Os 14,2-10):

“Deus é o amor que previne, antecipa Sua intervenção, manifesta Seu perdão antes mesmo que os filhos Lho peçam. O que Lhe interessa é que os filhos sejam salvos, voltem a Ele, reencontrem o caminho certo...

É de se perguntar se não configuramos Deus como um juiz prestes a proferir sentença de morte e se por ventura sentimos a necessidade de nos abandonar nos braços do Pai, para lhe dizer com imenso amor: ‘Pai, nunca mais longe de Ti’”.   (1)

Oremos:

“Pai, nunca mais longe de Ti”.
Pai, nunca mais longe do Teu amor imensurável por nós.
Pai, nunca mais ídolos ocuparão Teu lugar e jamais adorá-los.
Pai, nunca mais infidelidade a Tua Aliança de Amor conosco.
Pai, nunca mais indiferença ao teu orvalho de amor sobre nós.
Pai, nunca mais a surdez à Tua Palavra, luz para nossos passos.
Pai, nunca mais crer nas forças que passam, pois só Tu tens poder.

Pai, para sempre contigo e com Teu Amado Filho e o Santo Espírito.
Pai, para sempre mergulhado no mar imenso de Teu amor.
Pai, para sempre envolvidos pela Tua imensa misericórdia.
Pai, para sempre entrelaçados e abraçados pelos laços de Tua ternura.
Pai, para sempre Te amar, nos passos do Teu Filho, com o Espírito de Amor.
Pai, para sempre no seguimento de Teu Filho, a cruz com fé carregar.
Pai, para sempre, com Teu Reino, comprometidos seremos.

Nunca mais longe do Pai.
Nunca mais longe do Filho.
Nunca mais longe do Espírito.
Nunca mais longe do Amante, Amado e Amor.
Nunca mais longe de Teu Evangelho.
Nunca mais longe dos pequeninos e pobres, Teus amados.
Nunca mais longe de Tua amada Igreja que somos. Amém.


(1) Missal Cotidiano – Editora Paulus – 1995 – p.1010

quinta-feira, 11 de julho de 2024

“Quão grande e admirável é a caridade”

“Quão grande e admirável é a caridade”

Sejamos enriquecidos pela arta aos Coríntios, escrita pelo Papa São Clemente I (séc. I):

Vede, diletos, quão grande e admirável é a caridade. A sua perfeição ultrapassa as palavras. Quem é capaz de possuí-la a não ser aquele que Deus quiser tornar digno?

Oremos, portanto, e peçamos-lhe misericórdia para sermos encontrados na caridade, sem culpa nem qualquer inclinação meramente humana. Todas as gerações, desde Adão até hoje, já passaram. Aqueles, porém, que pela graça de Deus foram consumados na caridade, alcançam o lugar dos santos e serão manifestados na parusia do Reino de Cristo.

Está escrito: Entrai nos quartos por um momento até que passe minha cólera acesa; e lembrar-me-ei dos dias bons e vos erguerei de vossos sepulcros.

Felizes de nós, diletos, se cumprirmos os preceitos do Senhor na concórdia da caridade, para que pela caridade sejam perdoados nossos pecados. Pois está escrito: Felizes aqueles cujas iniquidades foram perdoadas e cobertos os pecados. Homem feliz, a quem o Senhor não acusa de pecado nem há engano em sua boca. Esta felicidade pertence aos eleitos de Deus, mediante Jesus Cristo, Nosso Senhor, a quem a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

De tudo quanto faltamos e fizemos, seduzidos por alguns servos do adversário, peçamos-lhe perdão. Aqueles, porém, que se tornaram cabeças de sedição e discórdia, devem meditar sobre a comum esperança.

Quem vive no temor de Deus e na caridade, prefere o próprio sofrimento ao do próximo, prefere suportar injúrias a desacreditar a harmonia, que bela e justamente nos vem da tradição. É de fato melhor confessar o seu pecado do que endurecer o coração.

Quem entre vós é o generoso, quem o misericordioso, quem o cheio de caridade? Que esse diga: ‘Se por minha causa surgiu esta sedição, esta discórdia e divisão, então eu me retiro, vou para onde quiserdes e farei o que o povo decidir; contanto que o rebanho de Cristo tenha a paz com os presbíteros estabelecidos’.

Quem assim agir, alcançará grande glória em Cristo e será recebido em todo lugar. Do Senhor é a terra, e tudo o que contém. Assim fazem e farão aqueles que vivem a vida divina, da qual nunca se têm de arrepender”.

A Carta é um convite para a reflexão sobre os Preceitos do Senhor, no fortalecimento dos laços e vínculos de concórdia e da caridade na vida de comunidade.

Sete vezes a palavra caridade é mencionada nesta Carta, e bem sabemos quão necessária ela é na vida da comunidade, para que se fortaleçam os vínculos entre seus membros.

Sem ela, a missão se fragiliza, a Igreja não se rejuvenesce, e perde o ardor da missão que o Senhor confiou.

A caridade vivida nos coloca em abertura ao sopro do Espírito, que anima e conduz Sua Igreja, para que seja aberta aos sinais dos tempos e os clamores que emergem por uma solidária e corajosa resposta.

Roguemos a Deus para que nossas comunidades sejam espaços privilegiados de aprendizado e da prática da caridade, na correção fraterna, na conversão de todos ao que delas se espera, e que jamais sejamos motivos de discórdia delas participando.

“Amor exige amor. E amor fiel”

                                                     

“Amor exige amor. E amor fiel”

No comentário do Lecionário Comentado, sobre a primeira Leitura da Missa (quinta-feira da 14ª semana do Tempo Comum - ano par) - (Os 11,1-4-8.c-9), assim lemos:

“Há quem diga que, de calcar a mão sobre a bondade e misericórdia de Deus, corre-se o risco de debilitar a mensagem cristã e tornar vazia a própria vida cristã, a tal ponto é sempre possível o perdão...

Mas nossa própria experiência humana nos diz que não pode ser assim. Um perdão forte, generoso, que procura redimir, muitas vezes vence a ofensa; trará o filho ao pai, o esposo à esposa. Ainda, porém, que nunca se dê isso entre os homens (o que não é verdade), dá-se entre Deus e nós. Amor exige amor. E amor fiel.” (1)

A passagem do Livro de Oseias acima mencionada é uma das mais belas de todo o Antigo Testamento, na qual mediante uma linguagem humana cheia de experiência da intimidade familiar, Deus Se apresenta com o Coração de Pai e Mãe. Já havia Se apresentado com a imagem esponsal, e agora como Pai.

Quanto nos impressiona o Amor de Deus que é diferente do amor humano, pois o Seu ardor é totalmente consumado na misericórdia irrevogável e eterna.

Contemplamos uma das mais ternas imagens para descrever o Amor de Deus por nós, o carinho e cuidado materno e paterno que tem para conosco, Seus filhos.

De santidade infinita, o Senhor Deus é o “totalmente outro” do homem e da mulher, e assim Sua fidelidade é eterna, e Seu amor e perdão são sempre possíveis.

Deus sendo totalmente outro, é o mais belo e puro e eterno Amor, que acolhe, acompanha, perdoa, renova, recria, reconduz... Deus exige tão apenas amor, porque de fato, amor exige amor, e não amor qualquer, mas um amor fiel.

Assim é o amor de Deus, o mesmo amor a ser vivido e testemunhado pelos seus discípulos na missão na construção do Reino:

Todos os tons e vocábulos do amor (esponsal, amigável, paterno/materno) são utilizados pelo Profeta (Oseias) para exprimir o que é inexprimível, isto é, a ternura infinita do Deus enamorado loucamente do homem [...] o amor é contagioso e pede amor: e eis que o nosso programa de vida, necessariamente missionário, porque quem recebe deve dar – tem por modelo Jesus e Seu Ministério (Evangelho do dia Mt 10,7-15).” (2)

Continuemos a reflexão sobre a ternura infinita do Deus enamorado loucamente do homem, como Oseias tão bem nos apresenta...


(1) Missal Cotidiano -Editora Paulus - pp. 1005
(2) 
Lecionário Comentado - Volume I - Tempo Comum - Editora Paulus - Lisboa - pp. 693-694

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