domingo, 30 de junho de 2024

O "Espinho na carne" e a graça do Senhor Jesus

                                                         


O "Espinho na carne" e a graça do Senhor Jesus

“... roguei três vezes ao Senhor que o afastasse de mim. 
Mas Ele disse-me: “Basta-te a minha graça, pois
 é na fraqueza que a força se manifesta””.

Reflexão à luz da passagem da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios (2 Cor 12,7-10).

O Apóstolo menciona o fato de possuir um espinho na carne, e de, por três vezes, ter suplicado ao Senhor que dele afastasse espinho, e o Senhor respondeu:

“Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força”.

O próprio Apóstolo afirma que o espinho em sua carne foi para que não fosse levado ao orgulho, o espinho era como um anjo de Satanás a esbofeteá-lo para livrá-lo da vaidade.

O que seria este espinho?

Santo Agostinho (e outros) pensava tratar-se de uma enfermidade física, particularmente dolorosa e humilhante.

Segundo São João Crisóstomo (e outros) acreditava ser as tribulações que lhe causavam as contínuas perseguições sofridas.

A partir de São Gregório Magno, optou-se por uma interpretação ascética, segundo a qual o espinho referia-se às tentações da concupiscência.

Entretanto, sejam as enfermidades físicas, as tribulações e perseguições, as tentações da concupiscência, ou quaisquer outras possibilidades, foi um espinho na carne, e favoreceu que a graça de Deus não fosse em vão à vida do Apóstolo.

Paulo confiou no Senhor e entregou-se a Ele, com suas fraquezas, debilidades, limitações, com o sentimento de finitude, entre as necessidades e possibilidades.

Também nós temos nosso “espinho”, e é preciso coragem de reconhecê-lo, nominá-lo.

E uma vez reconhecido, assumido, suplicar a graça de Deus, abrir-se a Ela, Permitindo que o Senhor venha em socorro de nossa fraqueza; confiantes de que Ele tem poder sobre nossas dores e enfermidades, não somente físicas, mas, sobretudo da alma.

Deste modo, permitamos que o Senhor “costure” as feridas de nossa alma e, com Seu bálsamo de amor, devolva-nos sempre a alegria e o sentido de viver.

Deixemos que Ele navegue nas veias de nossa história para nos conduzir ao porto desejado da eternidade, na travessia a que todos somos desafiados a fazer quotidianamente.

Concluo com saudação que o Apóstolo eternizou, e que, entre outras, repetimos nas Eucaristias que celebramos

“A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a Comunhão do Espírito Santo estejam convosco” (1 Cor 2, 3).

Contemplemos e contemos as estrelas...

                                                          

Contemplemos e contemos as estrelas...

Outrora Deus chamou Abrão para uma conversa, numa noite de verão em que as estrelas brilhavam nos céus.

Trata-se evidentemente de um imaginário diálogo entre Deus, Abraão e Paulo... 

Deus:
 “Abrão ergue os olhos para o céu e conta as estrelas, se as pode contar. Assim será tua posteridade”.
Prontamente Abrão acreditou e assim se fez: memória, fecundidade, a superação da esterilidade de Sara, terra de Canaã e descendência... E o que era impossível se realizou!

Abraão:
“Senhor, sou grato por tudo que me prometestes, mas devo confessar que jamais conseguirei contar as estrelas que me pedistes”.

Deus assim respondeu:
“Assim como não és capaz de contá-las, também não serás capaz de declinar as graças que tenho para ti e para o povo do qual serás pai da fé”.

Ainda hoje Abraão continua contando as estrelas como o Senhor lhe propusera. Missão impossível de ser concluída, pois as graças de Deus da mesma forma são infinitas.

E, também numa imaginária viagem Abraão foi ao encontro de Paulo para que este o ajudasse nesta missão tão difícil.

Paulo:
Abraão, eu o tenho como modelo exemplar de fé. Várias vezes falei de ti e de tua fé em minhas Cartas às Comunidades. Pelo respeito, consideração e gratidão que tenho por ti, ouso dar algumas primeiras respostas”.

Assim, Paulo convidou Abraão a dar uma volta pela noite. Ainda era verão... Começou a falar das tantas estrelas que Deus faz brilhar em nossas vidas.

Paulo iniciou sua resposta, que a encontramos no primeiro capítulo da Carta aos Efésios:
A primeira estrela são as bênçãos espirituais derramadas sobre nós por meio de Cristo Jesus.
Cristo é com certeza a Estrela Maior, de brilho eterno, sem começo e fim. Com brilho próprio Ele sempre há de brilhar com Ele todos que n’Ele crerem, pois n’Ele somos filhos da luz e devemos brilhar como estrelas nos céus.

Há uma estrela que não podemos perder, a estrela da santidade a que fomos predestinados a viver e ser, como consequência de nossa filiação divina por meio de Jesus Cristo. Que estrela reluzente e transbordante!

Nós a contemplamos na Cruz, na qual Ele foi trespassado pela redenção de toda a humanidade; nela alcançamos a remissão de nossos pecados!

Tem também a estrela da sabedoria, da inteligência que nos permite conhecer o mistério de Sua vontade. Sem falar da herança maior que Deus nos concedeu também por meio de Seu Filho, o Ressuscitado: Herança do Reino de Deus.

A estrela brilhou porque, tanto Abraão como Paulo, são membros do Povo eleito, testemunha da realização da promessa messiânica.

Finalmente, Paulo fala da outra magnânima estrela: o fato de termos sido selados pelo Espírito da promessa, o Espírito Santo, garantia de nossa herança. Espírito que vem sempre em socorro de nossas fraquezas.

Depois de algum tempo...
Abraão retomou a palavra e disse:
 “Paulo, o que vislumbrei pela fé há séculos, vós podeis testemunhar e anunciar a todos os povos em todos os tempos”.

Paulo assim concluiu:
“Pai da fé, gostaria de enumerar outras tantas estrelas que Deus nos garantiu e há de sempre nos garantir... Mas a hora é avançada... continuemos amanhã nossa conversa...”

Segundo consta, Abraão e Paulo retomaram a conversa na noite seguinte e até hoje continuam contando as estrelas que são as manifestações amorosas de Deus em nossa vida. Quando Deus promete, cumpre.

Também nós somos convidados a contemplar as estrelas, contar as estrelas...
Também nós somos convidados a procurar nossas respostas...

Também nós, sem pressa, sem sermos levados pelas inquietações e emergências de cada dia, olhar contemplativo e atento às graças de Deus em nossa vida...
Ponhamo-nos sempre a contemplar estas maravilhas, ainda que não seja uma noite de verão. Não importa, porque as estrelas de Deus brilham sempre e em toda parte...

Deste modo, faremos nosso o canto do Magnificat,
Cantando-o com a Estrela Mãe, Maria:
“Minha alma glorifica o Senhor, meu espírito
exulta em Deus meu Salvador...”



PS: Propositalmente, cito Abrão e Abraão. E, para melhor compreensão, sugiro ao leitor retomar Gênesis, capítulo 12. 

Entretanto, para além dos nomes citados, importa que, em meio aos acontecimentos do dia a dia, possamos perceber a presença de Deus, reanimando  nossas forças, revigorando nossas esperanças e nossa fé, inflamando nossa caridade. Isto, verdadeiramente, é o que conta!



A vida cristã é permanente esforço

A vida cristã é permanente esforço

Acolher a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo (2 Pd 1,2), é pôr-se a caminho, esforçando por fazer as junções necessárias, como que num processo contínuo de crescimento no aperfeiçoamento da fé, para que se viva frutuosamente a vida cristã dia a dia.

E isto é possível, pois ser cristão é ter entrado na posse das mais preciosas promessas, para se tornar participante da natureza divina, como o Apóstolo nos diz (2 Pd 1,4).

Sendo assim, a vida cristã passa a ser compreendida como um todo harmônico, vital, dinâmico; voltamo-nos para Deus, que é todo vida, ação, amor (1).

Vejamos o que nos diz o Apóstolo Pedro (2 Pd 1,5-7):

Por isso mesmo, dedicai todo o esforço
em juntar à vossa fé a virtude,
à virtude o conhecimento,
ao conhecimento o autodomínio,
ao autodomínio a perseverança,
à perseverança a piedade,
à piedade o amor fraterno
e ao amor fraterno, a caridade”

Deste modo, a vinda gloriosa de Jesus deve ser “esperada”, mas ao mesmo tempo “apressada”, mediante uma vida cristã coerente, sem esmorecimentos e recuos na vida de fé.

“Embora empenhando-se com responsabilidade nas realidades da vida terrena, quem segue a Cristo espera com confiança e esperança ‘novos céus e nova terra onde habitará a justiça, sem permanecer alheio às alegrias e às esperanças dos seus contemporâneos. A esperança dos bens futuros ampara-o nas contrariedades que deve suportar pela fidelidade ao seu testemunho de fé”. (2)

Esta espera, portanto, deve ser vivida na vigilância ativa, expressa no esforço por uma conduta irrepreensível aos olhos de Deus, a fim de que tenhamos o crescimento no conhecimento de Jesus, e mais que conhecimento, comunhão, amizade e intimidade profunda com Ele, qualificando o nosso anúncio e testemunho.


1 - Missal Quotidiano – Editora Paulus – p.846
2 – Lecionário comentado – Editora Paulus – Tempo Comum volume I - Lisboa – p.432

Exigências no seguimento de Jesus (XIIIDTA)

 Exigências no seguimento de Jesus

A Liturgia do 13º Domingo do Tempo Comum (ano A) nos propõe como Leituras: 2Rs 4,8-11.14-16ª; Salmo 89 (88); Rm 6,3-4. 8-11; Mt 10,37-42.

Dois temas nos inspiram: as condições para seguirmos Jesus e a acolhida e hospitalidade.

Para bem realizamos nossos discipulado precisamos do desprendimento (liberdade de laços familiares, e até mesmo desprendimento de si mesmo, da própria vida); renúncias necessárias para carregarmos a cruz quotidiana; confiança total na graça divina e incondicional disponibilidade.

Quanto ao acolhimento também implica em renúncia, disponibilidade, gratuidade, superação de toda sombra de desconfiança e suspeita e não extinguir o sopro do Espírito que nos fala pela Igreja, e de outras tantas formas.

O senso de acolhimento constitui num dos sinais mais expressivos para que possa mensurar a verdadeira fidelidade em nossas comunidades cristãs ao Evangelho.

Quanto mais acolhedoras nossas comunidades o forem (não me restrinjo ao acolhimento na porta da Igreja, pois o acolhimento em muito a isto ultrapassa; refiro-me ao que Ele mesmo nos falou em Mateus 25), mas testemunhas da presença do Cristo Vivo e Ressuscitado serão.

Inspirados na segunda leitura, o Apóstolo Paulo nos exorta a viver o Batismo, conscientes de que somos chamados a viver a vida nova dos filhos e filhas de Deus:

- Morrer para o pecado, para o egoísmo, à carne que são expressão do homem velho que em nós habita;
- Ressurgir para uma vida nova de amor e graça, voltada para o Espírito, como expressão do homem novo.

Em resumo: morrer para o pecado e viver para Deus. No seguimento de Jesus haveremos de viver um cristianismo verdadeiramente pascal, que não é, jamais, sinônimo de facilidades e de fuga do sofrimento.

Não há cristianismo sem cruz; logo não há discipulado sem o carregar corajoso e confiante da cruz, contando sempre com a graça divina que nos é abundantemente derramada.

O discípulo de Jesus sabe que o esplendor da manhã da Páscoa é sempre precedido pelas trevas da Sexta-feira Santa. Sabe que o caminho de Jesus é uma via sacra, levando ao Calvário. Mas também sabe que este não é a última etapa do caminho. Trilha passos corajosos porque acredita que tudo culmina na glória da Ressurreição, experimentada na manhã de Páscoa.

Concluo retomando a Oração pós-Comunhão do Dia:

Ó Deus, o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, que oferecemos em sacrifício e recebemos em comunhão nos transmitam uma vida nova, para que unidos a Vós pela caridade que não passa, possamos produzir frutos que permaneçam.


Por Cristo, nosso Senhor. Amém!”

Discípulos do Amor Exigente, do pecado jamais conivente (XIIIDTCA)

Discípulos do Amor Exigente, do pecado jamais conivente

Apresento alguns aspectos no envio e acolhida do Discípulo Missionário do Reino do Senhor, como que numa espécie de “manual do missionário cristão”:

- Trilhar o caminho do amor e entrega da vida;
- Viver na graça, com constantes renúncias ao pecado;
- Abandonar as obras das trevas, comunicar a luz divina;

- Ser credível testemunha da Boa-Nova que proclama;
- Saber que Deus jamais o abandona na missão;

- Ter consciência de que é enviado como missionário do Reino, como homem de Deus. Uma vez acolhido será canal da comunicação das graças e bênçãos para aquele que acolhe. De fato, quem colabora com Deus em Sua obra não fica sem a recompensa. A responsabilidade de colaboração é de todos;

- A gratuidade na missão deve ser uma marca, seja para quem é enviado, seja para quem acolhe o enviado de Deus;

- Exigência do afeto, solidariedade e compreensão para com os servidores de Deus. São homens e mulheres com limitações próprias que se permitem modelar pela mão divina;

- Que o discípulo tenha consciência e corresponda dando o melhor de si para que leve o outro a descobrir o fascínio da Boa Nova e da presença de Deus. Para tanto deverá ter seu coração seduzido pelo Amor Divino, verdadeiramente configurado a Cristo Bom Pastor;

- Cristãos pelo Batismo são enxertados em Cristo para viverem no amor, na partilha, em total dom de si mesmo, rompendo com as amarras do pecado num empenho constante de vida na graça;

- Carregar a cruz – o seguimento de Jesus não é um caminho fácil e consensual, acompanhado por aplausos e encorajamentos. É um caminho radical, que muitas vezes nos leva a rupturas e opções exigentes, em posturas éticas contrastantes ao mundo que nos cerca;
- Somos anunciadores e seguidores de Jesus que jamais Se apresentou como um demagogo com promessas fáceis;

- A preocupação do discípulo missionário não fixa âncoras na quantidade, mas na qualidade, sem deixar de exercer a misericórdia, sendo exigente, sem nenhuma conivência com o pecado;

- Como homens de Deus, se assim o formos, encontraremos no coração do outro um quarto feito no terraço do coração (2Rs 4,8-11.14.16a).

Renovemos a graça de sermos autênticos Discípulos Missionários do Reino do Senhor, sinais e instrumentos de um Amor exigente, porque se funda e se nutre no Amor Trinitário, que se expressa na misericórdia, com feições de amor, testemunhado em gestos incontáveis de caridade.

Sinais e instrumentos de um Amor exigente, porque se funda e se nutre no Amor Trinitário, que se expressa na misericórdia, com feições de amor, testemunhado em gestos incontáveis de caridade.

Não sejamos discípulos de um amor conivente que nada questiona e nada muda, porque antes falam os interesses mesquinhos e egoístas próprios.

Amor Exigente, jamais com o pecado conivente!
Como seguidores do Senhor que somos,
um  só caminho é possível,
mais do que evidente.

O Caminho do amor que ama o pecador,
que elimina todo pecado, porque puro e verdadeiro.
Assim ama o Senhor!


PS: 13º Domingo do Tempo Comum - Leituras: 2Rs 4,8-11.14-16a; Salmo 89 (88); Rm 6,3-4. 8-11; Mt 10,37-42.

Rejeitados, animados ou censurados? (XIIIDTCC)

Rejeitados, animados ou censurados?

Retomemos a Liturgia da Palavra da Missa do 13º Domingo do Tempo Comum (ano C), e as palavras do Bispo Santo Agostinho em relação à passagem do Evangelho (Lc 9,51-62):

“Escutai o que Deus me inspirou sobre este capítulo do Evangelho: Nele se lê como o Senhor Se comportou distintamente com três homens.

A um que se ofereceu para segui-Lo, o rejeitou; a outro que não se atrevia, o animou a isso; por fim, a um terceiro que o retardava, o censurou”. (1)

Uma constatação para que sejamos discípulos missionários: tendo sido escolhidos e chamados pelo Senhor para participação nesta missão divina, precisamos ter a prontidão para a partilha da vida e do destino de Jesus, reconhecendo-O e aceitando-O como uma forma pessoal de vida.

Deste modo, ser cristão não é precisamente adesão a uma Doutrina, mas ao seguimento de Jesus, ligando-se plenamente, em comunhão à Sua Pessoa, em adesão total ao Seu Projeto, com novo sentido para a vida, com horizontes novos do Reino cultivados permanentemente no coração.

A adesão incondicional à Pessoa de Jesus, a obediência absoluta a Ele, torna-se, portanto, um ato libertador.

Assim afirma o Missal Dominical:
“Quem segue o Cristo é verdadeiramente homem livre, sem patrões. Um homem livre da escravidão das coisas, do poder, do dinheiro, do sexo, livre sobretudo de si mesmo.” (2)

Deus nos chama para viver na Liberdade, que consiste em viver abertos às novas potencialidades criativas, que são possibilidades de amor, partilha, doação, serviço e comunhão.

Concluindo, podemos afirmar, sem dúvida, que a vocação cristã não é propriedade pessoal, em sua origem, pois tem um Autor exterior à nossa existência:

“É o Senhor que chama, convoca, convida, encaminha e orienta a vida de um homem e de uma mulher, com uma proposta ou uma missão a cumprir”. (3)

Voltando a Santo Agostinho...
O Senhor nos chama:

- podemos ser rejeitados, porque não nos predispomos a viver na liberdade e na gratuidade;

- podemos ser animados, para que nos abramos ao desprendimento e coragem para segui-Lo;

- entretanto, precisamos de abertura às censuras divinas, para que não percamos tempo na emergência de nos colocarmos a serviço do Reino.

Rejeitados, animados ou censurados, como o Senhor Se dirige a cada um de nós? Como nos dirigimos e nos colocamos diante do Senhor, diante do Seu divino chamado?


PS: Liturgia do 13º Domingo do Tempo Comum - Ano C: 1 Rs 19,16b.19-21; Sl 15; Gl 5,1.13-18; Lc 9, 51-62

(1)  Lecionário Patrístico Doninical - Editora Vozes - 2013 - p. 669
(2) Missal Dominical - p. 1163
(3) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - 2013 p. 620

O Chamamento Divino e a resposta humana! (XIIIDTCC)

O Chamamento Divino e a resposta humana!

A Liturgia do 13.º Domingo do Tempo Comum (ano C) nos convida a refletir sobre “o chamamento divino e a resposta humana”, com Jesus colocando-Se a caminho de Jerusalém, e com Ele muito aprender, por amor a vida entregar e morrer, para com Ele também, um dia, se merecedores, ressuscitar, a glória de Deus contemplar.

A vocação é, verdadeiramente, Dom Divino, que pressupõe uma resposta humana. A vocação é Dom, iniciativa divina, graça por Deus concedida. A resposta humana deve ser dada na liberdade da pessoa.

Assim é a história das vocações bíblicas, e o que vemos ao longo de toda a História.

Deus que nos criou sem nossa participação, não quer nos salvar sem nossa colaboração.

Deus é o chamamento, nós somos a resposta sem fundamentalismos, fanatismos, superficialismos… Deus chama e nós respondemos!

Identificados com Jesus, O seguiremos na liberdade, pois foi para a liberdade que Ele nos libertou (Gl 5,1), de modo que a liberdade é fruto do Espírito de Deus oferecido a cada pessoa.

A verdadeira liberdade é viver no amor. Quanto mais amarmos mais livres seremos. A ausência do amor remete-nos ao passado da escravidão, da vida centrada em si mesmo, marcada pela falsa liberdade que se confunde com libertinagem, que se manifesta no egoísmo, no isolamento, no orgulho, na autossuficiência, no individualismo, no egocentrismo…

Somente se é livre quando se ama…

A vocação do Profeta Eliseu, na passagem da primeira leitura (1 Reis 19,16.19-21), é sinal de que o Profeta não cai do céu, não é alguém inútil, ou perdido no ócio. Não! É alguém ocupado com o seu quotidiano e chamado a dar um salto, um passo para a novidade que Deus instaura no coração daquele que Ele ama, chama e acompanha.

Assim como fizera com Elias, agora faz com Eliseu e assim fará conosco.

Na resposta do chamado de Deus, em todo tempo, exige-se a paciência e confiança em Sua Misericórdia, renúncias, radicalidade da entrega, despojamento, disponibilidade, generosidade, entusiasmo, perseverança, constância, confiança, alegria, liberdade, amor, etc.

Urge que cortemos toda e qualquer amarra que nos impeça de fazer da nossa vida doação total, entrega incondicional, expressa no amor que ama até o fim, até as últimas consequências, assim como fez Jesus que por amor Se entregou em favor de todos nós – “Tendo nos amado, amou-nos até o fim” (Jo 13, 1).

Nossas comunidades, hoje, são levadas a refletir se, de fato, são comunidades voltadas para o amor, se servem ao Reino na liberdade, com amor e alegria.

A Deus se ama e se serve sem hesitações e restrições. Urge que ponhamo-nos a caminho no bom combate da fé, como nos exorta Paulo em sua Carta a Timóteo (2 tM 4,7-8).

Colocar-se a caminho com Jesus, a serviço do Reino, eis o convite da Liturgia; sem saudades nostálgicas que fixam âncoras no passado, mas com âncoras de esperança e olhar para o futuro acreditando que um novo mundo é possível.

Se olharmos para o passado que seja para avaliar e no presente acertar, e assim o futuro possa alegria maior despertar!

Ao convite amoroso de Deus só nos resta responder na liberdade, com amor, em alegre e profunda adesão, a serviço do Reino nos colocando…

Deus nos chama no tempo presente, como alguém assim tentou expressar em palavras, tão belo e indizível Amor Divino:

“É agora que Te amo, é agora que quero encontrar-Te,
estar contigo”.

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