segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Aproveitemos este novo amanhecer...

                                                                 

Aproveitemos este novo amanhecer...

Amanheceu...
Vejo as garras do pecado, algoz de fome insaciável. 

Mas o que é pecado? 

O que será o pecado, se não o manchar das páginas da história, em todos os âmbitos: pessoal, familiar, social, estrutural... Manchas por vezes indeléveis, tão apenas superadas e eliminadas quando se experimenta a força do amor e do perdão divinos?

O que será o pecado, se não o corromper nosso espírito,  interrompendo  e extinguindo a seiva vital do amor, da ternura e da misericórdia, de modo que ela não circule livremente por nossas veias, tornando-nos estéreis em palavras e ações?

O que será o pecado, se não aquela nódoa em nossa alma, e que anda de mãos dadas com a vergonha pelo ato cometido, até que se possa encontrar o porto seguro da reconciliação e da remoção desta, para que resplandeçamos a imagem de Deus em nós impressa?

Não será o pecado a experiência de ser mergulhar na realidade de opróbrio e desonras, por ter tomado caminhos obscuros, que poderiam ter conduzido ao abismo da morte, porque antes encalacrado na trincheira mórbida devoradora das forças para novos passos?

Não será o pecado o salpicar-se de lama, consequência dos pecados capitais (soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça), que nos seduzem, e dos quais devemos sempre romper as amarras, em permanente vigilância, para não sucumbirmos e experimentarmos o amargo e indesejável gosto do luto precoce?

Não será o pecado também o cobrir-se de luto eterno, quando não nos abrimos à misericórdia divina sempre pronta a nos perdoar, recriar, renovar e restaurar, como nos relatam as páginas do Evangelho em que Jesus nos revelou a face misericordiosa do Pai?

Pecado significa toda palavra, pensamento e ações nefandas, que nos conduziram ou poderão nos conduzir a caminhos tortuosos, e, por vezes, com retorno quase impossível, humanamente falando, mas não para Deus, que jamais desiste de nós, apesar de nossa infidelidade.

Pecado, rendimento às paixões desordenadas, avassaladoras, que nos escravizam e nos fazem render aos apetites insaciáveis, porque impuros, falsos e enganadores que nos fragilizam e nos roubam as forças da busca do horizonte do inédito que Deus tem para nós.

Pecado é putrificar-se na miséria que somos; razão de cairmos e sentarmos na indigência. Mas é preciso que nos voltemos para a misericórdia divina, que desceu e veio ao nosso encontro, para nos levantar e nos colocar a caminho, com o desejo do pão do amor, da vida e do perdão.

Pecados, os cometemos quando nos apartamos da senda das virtudes e valores que humanizam, recriam e tornam a vida mais bela, e assim deixamos de ser artífices e construtores da civilização do amor, com novas relações entre nós e com a nossa casa comum (planeta).

Pecamos quando nossos olhos cobiçam o desnecessário, porque antes cegados no coração, que vê a partir do egoísmo, da indiferença e da insensibilidade para com a dor e fome do outro.

Pecamos quando não multiplicamos as obras de misericórdia corporal e espiritual, e nos fechamos em nosso gueto da mediocridade, e assim nos tornamos misérrimos, e sentimos envenenadas até as últimas fibras de nosso ser.

Reconheçamos os nossos pecados e voltemos para o Senhor, que não nos quer ver a caminho do abismo que atrai abismo. Se há um abismo a nos entregarmos piamente, é o abismo da misericórdia divina, que nos devolve, paradoxalmente, a vida.

Reconheçamos os nossos pecados e permitamos que a graça de Deus em nós aja e não seja em vão, como não o foi na vida do Apóstolo Paulo, e de tantos ao longo da história.

Reconheçamos que somos pecadores, e ouçamos a sentença do Senhor contra o pecado e não contra o pecador, quando Se dirigiu a pecadora surpreendida em adultério: “Ninguém te condenou. Eu também não te condeno – Vá e não peques mais” (Jo 8,11).

Prostremo-nos diante do Senhor. Tenhamos boa disposição de espírito e grandeza de alma, para permitir que a mão divina nos modele, porque inacabados e imperfeitos, ainda o somos.

Experimentemos a misericórdia divina que continua a nos modelar, para que se restaure a imagem impressa em nós desde aquele dia no Jardim do Édem.

Experimentemos e comuniquemos a brandura, a doçura e a ternura divinas, somente acolhida quando fazemos o encontro de nossa miséria com a misericórdia divina, através do desejo da reconciliação e do perdão.

Reconquistemos a mansidão possivelmente perdida: puros de coração e promotores da paz sejamos.

Aproveitemos este novo amanhecer...

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG