“Senhor, ensina-nos a perdoar”
“Se
cada um não perdoar
a
seu irmão, o Pai não vos perdoará”
Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 18,21-35), em que o Senhor nos
convida a viver o perdão sem limites, um eterno aprendizado:
“Qualquer que seja o motivo que leva
Pedro a fazer sua pergunta uma coisa é certa; ele quer que Jesus confirme a
existência de um limite no exercício da caridade cristã.
É confortador saber quando e onde se
pode, com tranquila consciência, ignorar as injunções da caridade cristã (pois
é mais interessante saber quando cessam do que onde começam tais obrigações).
Parece de fato mais que justo que em
certo momento possamos dizer: ‘Basta! Afinal somos homens!’ Queremos ser o eco do nosso ambiente…
Jesus, porém, nos diz que devemos ser o
eco daquilo que Deus fez por nós. Ninguém é homem pelo fato de poder ‘ explodir’
mas pelo fato de poder desenvolver em si e transmitir aos outros aquilo que
Deus nos deu.
A lei do perdão é vinculante não facultativa;
é como um contrato firmado com o Sangue de Cristo. Ora, depende de mim
ratificá-lo derramando sobre os meus semelhantes aquilo que Deus me deu: ‘Eis
como meu Pai celeste agirá convosco…’ " (v.35). (1)
A segunda fonte, sobre o perdão,
afirma:
"Temos uma ideia tão elevada do
perdão que nunca a utilizamos realmente... As pessoas perdoam ou então fingem:
no máximo pensam que não querem vingar-se.
É verdade, humanamente não é possível
perdoar. O perdão é somente dom de Deus, um dom intenso. Por isso a palavra
perdão deriva duma palavra utilizada na Idade Media, per-dom, a qual significa
precisamente ‘dom profundo’... podemos e devemos perdoar porque fomos
perdoados.
Assim escreveu Graham Greene – ‘ninguém
suporta não ser perdoado: só Deus é capaz disso’. Mas perdoar é possível graças
ao dom de Deus que previne qualquer iniciativa nossa e como resposta a um amor
maior...
Só num percurso de fé podemos exercer o
perdão na vida concreta, por exemplo, para com quem não consegue considerá-lo
na sua vida de homem: o perdão não é a fraqueza de quem não sabe fazer valer as
suas razões, mas a novidade que rompe as cadeias que tornam a pessoa amarrada a
si mesma” (2)
É sempre tempo para dar e pedir perdão;
e somente é possível porque antes por Deus fomos perdoados, por um perdão e
Amor sem medida e sem méritos.
Amados e perdoados, podemos e
devemos amar e perdoar, pois sem o quê, não poderíamos
rezar a Oração que o Senhor nos ensinou, de modo que somente a prática do
perdão nos faz verdadeiramente livres, rompendo as amarras que nos reduzem
horizontes e movimentos.
O perdão é algo que não se aprende e se
vive totalmente. Sempre teremos algo a aprender na escola do perdão com o
Divino Mestre da Misericórdia que nos amou e nos perdoou. Somos, nesta escola
maravilhosa, eternos aprendizes:
“Não recuses, portanto, praticar a
misericórdia a fim de que não sejas excluído do perdão quando tu mesmo vieres a
ter necessidade dela” (Santo Astério de Amasea – séc V).
Quanto mais perdoarmos e formos
perdoados, mais livres seremos e mais semelhantes ao Divino Mestre o seremos.
Não podemos nos dizer cristãos sem a graça do perdão recebido e partilhado.
Bem sabemos o quanto difícil o é.
Haverá algo mais belo que um perdão dado e recebido, um relacionamento
restaurado?
A leveza e
a alegria do Espírito, só alcança quem vive a graça do perdão, e neste sentido, importa não recuar, pois assim é a vida de fé.
Temos muito a aprender. Não recuemos!
Avancemos, pois assim é a vida de fé.
(1) Missal Cotidiano - Editora Paulus - pág.238
(2) cf. Lecionário Comentado - Tempo da Quaresma
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